31/08/2013

Comunhão de pecadores

Essa é a comunhão dos santos na qual nos gloriamos. E quem não se orgulharia disso, também nos maiores males, quando crê que os bens de todos os santos são seus bens, e que seu mal é também o deles?
Pois essa imagem é a mais doce e agradável, e o apóstolo a pinta aos gálatas com a seguinte palavra: “Carregai as cargas um do outro, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gaiatas 6.2). Acaso não é bom nós estarmos aqui onde, se um membro sofre, todos os membros também sofrem, e se um é glorificado, todos os membros se alegram com ele? Por isso, quando sofro eu, já não sofro sozinho; sofrem comigo Cristo e todos os cristãos.
Assim outros carregam meu fardo, a força deles é a minha. A fé de minha igreja socorre-me na perturbação; a castidade dos outros suporia a tentação de minha libido; os jejuns dos outros são meus lucros; a oração alheia preocupa-se comigo.
Em suma, os membros preocupam-se uns com outros de tal modo que os mais honestos protegem também os desonestos, lhes servem, os honram, conforme São Paulo descreve com beleza (I Coríntios 6).

-- Bem-aventurado Martinho Lutero, Catorze consolações para os que sofrem e estão onerados (Rieth, Ricardo Willy. Martim Lutero, discípulo, testemunha, reformador: meditações. São Leopoldo: Sinodal, 2007, p. 100)

30/08/2013

Oração vespertina do Dr. Martinho Lutero

Em nome de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.

Agradeço-te, meu Pai celeste, por Jesus Cristo, teu Filho amado, que benignamente me guardaste durante este dia; e peço-te queiras perdoar-me todos os pecados e injustiças que cometi, e guarda-me misericordiosamente nesta noite. Pois me confio, a mim, meu corpo e minh’alma, e tudo, em tuas mãos. Teu santo anjo esteja comigo, para que o vil inimigo não tenha poder algum sobre mim. Amém.

“Oração” (1867), George Frederic Watts (1817-1904)

Senhor, ensina-nos a orar: orações para o lar. 23ª ed. São Leopoldo: Sinodal: 2003. p. 39.

Oração matutina do Dr. Martinho Lutero

Em nome de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.

Agradeço-te, meu Pai celeste, por Jesus Cristo, teu Filho amado, que me guardaste, durante esta noite, de todo dano e perigo, e peço-te queiras guardar-me, também neste dia, de pecados e de todo o mal, para que te agradem a minha vida e tudo que faço. Pois me confio, a mim, meu corpo e minh’alma, e tudo em tuas mãos. Teu santo anjo esteja comigo, para que o vil inimigo não tenha poder algum sobre mim. Amém.

“Crianças Cantando e Orando”, Ferdinand Georg Waldmüller (1793–1865)
Senhor, ensina-nos a orar: orações para o lar. 23ª ed. São Leopoldo: Sinodal: 2003. p. 20.

29/08/2013

Evangelho do Dia – Festa do Martírio de São João Batista

“A Festa de Herodes e a Decapitação de São João Batista, (1461-1462),
Benozzo Gozzoli (Benozzo di Lese, 1420-1497)

Evangelho segundo S. Marcos 6.14-29

6.14   O rei Herodes ouviu falar de tudo isso porque a fama de Jesus se havia espalhado por toda parte. Alguns diziam: — Esse homem é João Batista, que foi ressuscitado! Por isso esse homem tem poder para fazer milagres.
6.15   Outros diziam que ele era Elias. Mas alguns afirmavam: — Ele é profeta, como um daqueles profetas antigos.
6.16   Quando Herodes ouviu isso, disse: — Ele é João Batista! Eu mandei cortar a cabeça dele, e agora ele foi ressuscitado!
6.17   Pois tinha sido Herodes mesmo quem havia mandado prender João, amarrar as suas mãos e jogá-lo na cadeia. Ele havia feito isso por causa de Herodias, com quem havia casado, embora ela fosse esposa do seu irmão Filipe.
6.18   Por isso João tinha dito muitas vezes a Herodes: “Pela nossa Lei você é proibido de casar com a esposa do seu irmão!”
6.19   Herodias estava furiosa com João e queria matá-lo. Mas não podia
6.20   porque Herodes tinha medo dele, pois sabia que ele era um homem bom e dedicado a Deus. Por isso Herodes protegia João. E, quando o ouvia falar, ficava sem saber o que fazer, mas mesmo assim gostava de escutá-lo.
6.21   Porém no dia do aniversário de Herodes apareceu a ocasião que Herodias estava esperando. Nesse dia Herodes deu um banquete para as pessoas importantes do seu governo: altos funcionários, chefes militares e autoridades da Galileia.
6.22   Durante o banquete a filha de Herodias entrou no salão e dançou. Herodes e os seus convidados gostaram muito da dança. Então o rei disse à moça: — Peça o que quiser, e eu lhe darei.
6.23   E jurou: — Prometo que darei o que você pedir, mesmo que seja a metade do meu reino!
6.24   Ela foi perguntar à sua mãe o que devia pedir. E a mãe respondeu: — Peça a cabeça de João Batista.
6.25   No mesmo instante a moça voltou depressa aonde estava o rei e pediu: — Quero a cabeça de João Batista num prato, agora mesmo!
6.26   Herodes ficou muito triste, mas, por causa do juramento que havia feito na frente dos convidados, não pôde deixar de atender o pedido da moça.
6.27   Mandou imediatamente um soldado da guarda trazer a cabeça de João. O soldado foi à cadeia, cortou a cabeça de João,
6.28   pôs num prato e deu à moça. E ela a entregou à sua mãe.
6.29   Quando os discípulos de João souberam disso, vieram, levaram o corpo dele e o sepultaram.

Bíblia Sagrada – Nova Tradução na Linguagem de Hoje (SBB)

Festa do Martírio de São João Batista – 29 de agosto

“A Decapitação de São João Batista” (c. 1634), Massimo Stanzione (1585-1656)

Em contraste com a Natividade de São João Batista (observada em 24 de junho), esta festa comemora sua decapitação pelo tetrarca Herodes Antipas. A partir duma perspectiva terrena, este foi um infame fim para a vida de João Batista. No entanto, foi na verdade uma digna participação na cruz de Cristo, a qual foi a maior glória de todas para João. O próprio Cristo disse que não havia surgido nenhum maior que João Batista. Ele foi o último dos profetas do Antigo Testamento e também o arauto do Novo Testamento. Como o precursor de Cristo, João cumpriu a profecia de que o grande profeta Elias voltaria antes do grande e terrível Dia do Senhor. Através da sua pregação e batismo de arrependimento, João Batista converteu “o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais” (Malaquias 4.6). Nas pegadas dos profetas que o antecederam — na antecipação de Cristo cujo caminho ele preparou — este servo do Senhor manifestou a cruz pelo testemunho de sua morte.

Cor litúrgica: Vermelha

LEITURAS:

Primeira Leitura: Apocalipse 6.9-11
Salmo: Salmo 71.1-8 (antífona vers. 23 )
Epístola: Romanos 6.1-5
Santo Evangelho: S. Marcos 6.14-29

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-Poderoso Deus, tu concedeste a teu servo João Batista ser o precursor de teu Filho, Jesus Cristo, tanto na sua pregação de arrependimento quanto na sua morte inocente. Concede que nós, que morremos e ressuscitamos com Cristo no Santo Batismo, possamos nos arrepender diariamente de nossos pecados, sofrer com paciência por amor da verdade e testemunhar sem medo a tua vitória sobre a morte; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House, 2009. p. 670)

28/08/2013

Elevo a Deus a minha voz

"Batismo de Santo Agostinho", Joseph Briffa (1901-1987)

“Elevo a Deus a minha voz, e clamo, elevo a Deus a minha voz, para que me atenda”. (Salmo 77.1)

Se quer um exemplo para este versículo, leia a conversão de Santo Agostinho, no oitavo livro de suas Confissões. Aí encontra a expressa e mais clara comprovação desse salmo. Veja como Santo Agostinho está comovido, mas, mesmo assim, não fala; antes, medita e reflete em pensamentos divinos sobre a salvação dos homens, tal como está descrito aí. Quem, todavia, não tem experiência em tais tentações e pensamentos não terá uma palavra sequer para explicar esse salmo. Por isso tenho dificuldade para falar na tentação porquanto não me encontro em tentação. Pois ninguém é capaz de dizer e ouvir corretamente uma palavra escrita se não se parece com ela nos sentimentos íntimos, para que sinta por dentro o que ouve e fala de fora, e assim diga: É isso mesmo!

-- Trecho de homilia do bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja.

Imagem: "Batismo de Santo Agostinho", Joseph Briffa (1901-1987)

Amor e confiança


Ter um deus não é chamá-lo de deus exteriormente com a boca ou adorá-lo de joelhos e com gestos, mas confiar nele de coração e dele esperar todo bem, graça e estima, seja em obras ou sofrimentos, no viver ou morrer, em tristeza ou alegria.
Essa fé, fidelidade e confiança do fundo do coração, é verdadeiro cumprimento do primeiro mandamento. Sem ela não há obra alguma que possa cumpri-lo. É o primeiríssimo, supremo e melhor mandamento, do qual emanam todos os outros, nele se realizando e sendo julgados e medidos segundo ele.
Por isso Santo Agostinho afirma corretamente que as obras do primeiro mandamento são fé, esperança e amor. Tal confiança e fé trazem consigo amor e esperança.
Sim, o amor é o primeiro ou ao menos simultâneo com a fé. Não poderia confiar cm Deus sem supor que ele quer ser favorável e benigno para comigo, pelo que eu, em retorno, lhe quero bem e sou levado a confiar nele de coração e dele esperar tudo de bom.

-- Bem-aventurado Martinho Lutero, Das Boas Obras (Rieth, Ricardo Willy. Martim Lutero, discípulo, testemunha, reformador: meditações. São Leopoldo: Sinodal, 2007, p. 56)

Simultaneamente justos e pecadores

“Santo Agostinho batizado por Santo Ambrósio” (1415), Niccolò di Pietro Gerini (c. 1340–1414)

O bem-aventurado Agostinho disse muito claramente que: “o pecado (a concupiscência) é perdoado no Batismo, não de modo que já não exista, mas no sentido de que ele não é mais imputado”. E o beato Ambrósio diz: “Eu sempre peco, e por isso sempre vou comungar”.

-- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (A Epístola do Bem-aventurado Apóstolo Paulo aos Romanos, 1515-1516, OSel 8:277)

Toma e lê!

"Santo Agostinho lê a Epístola de Paulo e é convertido" (1464-65), Benozzo Gozzoli (1420-1497)

"Chorava oprimido pela mais amarga dor do meu coração. Mas eis que, de repente, ouço da casa vizinha uma voz, de menino ou menina, não sei, que cantava e repetia muitas vezes: "Toma e lê, toma e lê". E logo, mudando de semblante, comecei a buscar, com toda a atenção em minhas lembranças se porventura esta cantiga fazia parte de um jogo que as crianças costumassem cantarolar; mas não me lembrava de tê-la ouvido antes. Reprimindo o ímpeto das lágrimas, levantei-me. Uma só interpretação me ocorreu: a vontade divina mandava-me abrir o livro e ler o primeiro capitulo que encontrasse. [...] Depressa voltei para o lugar onde Alípio estava sentado, e onde eu deixara o livro do Apóstolo ao me levantar. Peguei-o, abri-o, e li em silêncio o primeiro capítulo que me caiu sob os olhos: "Não caminheis em glutonarias e embriaguez, não nos prazeres impuros do leito e em leviandades, não em contendas e rixas; mas revesti-vos de nosso Senhor Jesus Cristo, e não cuideis de satisfazer os desejos da carne". Não quis ler mais, nem era necessário. Quando cheguei ao fim da frase, uma espécie de luz de certeza se insinuou em meu coração, dissipando todas as trevas de dúvida. [...] Fomos depois à procura de minha mãe, que ao saber do sucedido, ficou radiante." -- Santo Agostinho (Confissões)

Comemoração de Santo Agostinho de Hipona, Pastor e Teólogo – 28 de agosto

“Santo Agostinho em seu gabinete de estudo” (entre 1490-94), Sandro Botticelli (1445–1510)

Agostinho foi um dos grandes pais latinos da igreja e foi de significativa influência na formação do cristianismo ocidental, incluindo o luteranismo. Nascido em 354, no Norte da África, a juventude de Agostinho foi marcada pelo excepcional progresso como professor de retórica. Em suas Confissões ele descreve sua vida antes de sua conversão ao Cristianismo, quando foi arrastado para a lassidão moral e foi pai de um filho ilegítimo. Através da devoção de sua santa mãe Mônica e da pregação de Ambrósio, bispo de Milão (339-397), Agostinho foi convertido à fé cristã. Durante as grandes controvérsias pelagianos do século V, Agostinho enfatizou a graça unilateral de Deus na salvação da humanidade. Bispo e teólogo de Hipona no norte da África a partir de 395 até sua morte em 430, Agostinho foi um homem de grande inteligência, um ferrenho defensor da fé ortodoxa, e um prolífico escritor. Além das Confissões, Cidade de Deus foi outro livro de Agostinho que exerceu um grande impacto sobre a igreja em toda a Idade Média e Renascimento.

LEITURAS:

† Salmo 87 ou 84.7-12
† Hebreus 12.22-24, 28-29
† São João 14.6-15

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Senhor Deus, luz das mentes que te conhecem, vida das almas que te amam e força dos corações que te servem, concede-nos força para seguir o exemplo de teu servo Agostinho de Hipona, de modo que, conhecendo a ti, possamos amá-lo verdadeiramente, e amando a ti, possamos servir inteiramente a ti – pois servi-lo é a perfeita liberdade; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House, 2009. p. 666)

27/08/2013

Não é possível que pereça o filho de tantas lágrimas

"A Oração de Santa Mônica" Herbert Gustave Schmalz (1856–1935)

 Agostinho, sobre as lágrimas de sua mãe Mônica pela sua conversão:

"Mas como, depois de assim falar, minha mãe [Mônica] não se aquietasse, instando com maiores rogos e mais abundantes lágrimas a que me visitasse, para discutir comigo sobre o tal assunto [a doutrina maniqueísta que seduzia Agostinho], o bispo, cansado já de sua insistência, lhe disse: "Vai-te em paz, mulher, e continua a viver assim, que não é possível que pereça o filho de tantas lágrimas" – palavras que ela recebeu como vindas do céu, segundo me recordava muitas vezes em seus colóquios comigo." (Santo Agostinho, Confissões, Livro III, 21)

Fonte: Santo AGOSTINHO. Confissões. Trad.: Frederico Ozanam Pessoa de Barros. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

Comemoração de Santa Mônica, Mãe Fiel - 27 de agosto

“Santo Agostinho e Santa Mônica” (1858), Ary Scheffer (1795–1858)
Nascida no Norte da África do Norte, Mônica (333-387) foi a devotada mãe de Santo Agostinho. Ao longo de sua vida, ela procurou o bem-estar espiritual de seus filhos, especialmente de seu brilhante filho Agostinho. Tendo ficado viúva numa idade jovem, Mônica se dedicou completamente à sua família, orando durante muitos anos pela conversão de Agostinho. Quando Agostinho deixou o Norte da África para ir à Itália, ela o seguiu até Roma e, em seguida, até Milão. Lá, ela teve a alegria de testemunhar a conversão de seu filho para a fé cristã. Enfraquecida pela suas viagens, Mônica morreu em Óstia, na Itália, na viagem que a levaria de volta para sua África natal. Em alguns calendários eclesiásticos, Mônica é lembrada em 4 de maio.

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Senhor, tu fortaleceste a tua paciente serva Monica por meio da disciplina espiritual para perseverar na oferta de seu amor, suas orações e suas lágrimas para a conversão de seu marido e de Agostinho, seu filho. Intensifica a nossa devoção para levar outros, mesmo a nossa própria família, a reconhecer Jesus Cristo como Salvador e Senhor, que contigo e o Espírito Santo vive e reina, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House, 2009. p. 663)

26/08/2013

Olha, Senhor, sou como um vaso vazio

Olha, Senhor, sou como um vaso vazio. Enche-o. Sou fraco na fé. Fortalece-a. Sou frio no amor. Permite que meu coração queime. Deixa que meu amor jorre sobre o meu próximo. Não tenho uma fé firme e forte. Às vezes, duvido e não consigo confiar completamente em ti. Senhor, ajuda-me. Aumenta a minha fé, permite que eu confie em ti. Sou pobre, tu és rico. No entanto, tu vieste para ter compaixão dos pobres. Eu sou um pecador, tu és justo. Sofro por causa do pecado. Em ti está toda a justiça. Fico contigo, pois de ti posso receber e não preciso dar.

Eterno Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Dá-me teu Espírito Santo. Manda-o despertar em mim uma fé reta e verdadeira, dominar-me, fortalecer-me e suportar-me. Filho do eterno Pai, Jesus Cristo, dá-me teu Santo Espírito. Amém.

Bem-aventurado Martinho Lutero

Rieth, Ricardo Willy. Martim Lutero, discípulo, testemunha, reformador: meditações. São Leopoldo: Sinodal, 2007, p. 9.

25/08/2013

Cristo é o nosso samaritano

“O Bom Samaritano” (c. 1676), Johann Karl Loth (1632-1698)

O nosso samaritano, Cristo, ergueu um homem semimorto, um doente seu, levou-o à hospedaria para que recebesse cuidados e começou a curá-lo depois de lhe prometer- a mais perfeita saúde na vida eterna. Ele não lhe imputa seus pecados, isto é, seus desejos cobiçosos, para a morte, mas, nesse meio tempo, na esperança da saúde prometida, ele lhe proíbe de fazer ou deixar de fazer coisas pelas quais aquela saúde poderia ser impedida e seu pecado, isto é, sua concupiscência, pudesse aumentar. Por acaso, [este homem] será completamente justo? Não, mas é simultaneamente pecador e justo; na verdade, pecador, mas justo a partir da consideração e da promessa certa de Deus de que ele o libertará do pecado até tê-lo curado por completo. E assim ele está perfeitamente são na esperança, mas, de fato, ainda é um pecador; todavia, ele possui o princípio da justiça, de sorte que continua sempre a buscá-la mais e mais, sabendo-se sempre injusto. Mas, se agora esse enfermo, amando sua fraqueza, não quiser  cura nenhuma para sua doença? Acaso ele então não morrerá? Assim acontece com aqueles que seguem seus desejos cobiçosos no mundo. Ou se alguém não se considera enfermo, mas pensa estar bem e assim rejeita o médico? Isso é o mesmo que querer ser justificado e ficar são por suas próprias obras!

-- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (A Epístola do Bem-aventurado Apóstolo Paulo aos Romanos, 1515-1516, OSel 8:276-7)

A Igreja é a estalagem na qual somos diariamente curados

“O Bom Samaritano” (1630), Rembrandt van Rijn (1606-1669)

Cabe aqui aquela parábola (Lc 10.30ss.) do samaritano. Ele aplicou óleo e vinho aquele homem semimorto e lhe atou as feridas. Mas por acaso o curou imediatamente? Não! Deixou-o sob os cuidados do hoteleiro até sua volta. Assim, a Igreja é a estalagem na qual, após recebida a graça de Deus no Batismo, somos diariamente curados dos pecados. E nossas obras são como as realizadas por pessoas que começam a convalescer, mas ainda não estão recuperadas. Daí se evidencia que são em parte doentes, em parte sãs, mas muito distantes das obras feitas por pessoas perfeitamente sãs.

-- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (Comentários sobre suas Teses Debatidas em Leipzig, OSel 1:359)

24/08/2013

São Bartolomeu, Apóstolo - 24 de agosto

“O Martírio de São Bartolomeu” (1722), Giovanni Battista Tiepolo (1696-1770)

Esta é uma festa oriental introduzida no Ocidente por volta do século VIII. A data é supostamente para recordar a remoção das relíquias do santo e comemorar a sua morte. A partir de uma comparação entre as narrativas do Evangelho é comum inferir que São Bartolomeu é a mesma pessoa que Natanael. Se isso for verdade, sua terra natal foi Caná da Galileia (João 21.2), e Natanael era o seu nome próprio e Bartolomeu um patronímico: Bar-Tolmai, filho de Tolmai, assim como São Pedro foi chamado Simão e Bar-Jona. São Jerônimo diz que Bartolomeu era o único dos Doze de nascimento nobre. Isso pode ser por causa da conjectura que se tornou uma tradição, de que o nome foi derivado de Tolmai ou Talmai, rei de Gesur, cuja filha Maaca era uma esposa de Davi e mãe de Absalão (2 Samuel 3.3). Posteriormente, foi esquecido quem era Tolmai, e supôs-se que ele devia ser Ptolomeu, rei do Egito. A partir daí ganhou forma a fábula de que Bartolomeu era de estirpe real egípcia. São João fala dele sempre como Bartolomeu, enquanto os outros evangelistas o chamam de Natanael. Diz-se que teria sido o mais instruído entre os Doze, talvez um jovem rabino, um doutor da lei judaica. Filipe apresentou-o pela primeira vez a Cristo (João 1.43-51). Ambos eram provavelmente discípulos de João Batista. Segundo o relato de São João, Bartolomeu foi um dos sete que viu o Senhor ressuscitado nas margens do Mar de Tiberíades. A tradição nos diz que ele levou o Evangelho por vários países do Oriente, incluindo a Arábia e Pérsia, e ainda a remota Índia. Diz a lenda que ele sofreu o martírio sendo esfolado vivo ou esfolado antes de ser decapitado ou crucificado. Não parece haver traço de alguma conexão entre ele e o Evangelho [São Lucas 22.24-30] apontado para a comemoração de sua vida e labor. É bem possível que a discussão da qual o santo Evangelho fala girava em torno dele, porque os outros discípulos olhavam para ele como tendo o direito de preeminência, se ele era o mais erudito e de descendência real, e se os outros lembravam que nosso Senhor disse sobre ele: “Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!” Somente de João Batista ele falara nesses termos elogiosos.

-- Fred H. Lindemann (The Sermons and The Propers III: Trinity Season - First Half. St. Louis: Concordia Publishing House, 1958. pp. 51-52)

Evangelho do Dia – Festa de São Bartolomeu (II)

Ícone do Chamado de Filipe e Natanael (Bartolomeu)

Evangelho segundo S. João 1.43-51

1.43   No dia seguinte, Jesus resolveu ir para a região da Galileia. Antes de ir, foi procurar Filipe e disse: — Venha comigo!
1.44   Filipe era de Betsaida, de onde eram também André e Pedro.
1.45   Filipe foi procurar Natanael e disse: — Achamos aquele a respeito de quem Moisés escreveu no Livro da Lei e sobre quem os profetas também escreveram. É Jesus, filho de José, da cidade de Nazaré.
1.46   Natanael perguntou: — E será que pode sair alguma coisa boa de Nazaré? — Venha ver! — respondeu Filipe.
1.47   Quando Jesus viu Natanael chegando, disse a respeito dele: — Aí está um verdadeiro israelita, um homem realmente sincero.
1.48   Então Natanael perguntou a Jesus: — De onde o senhor me conhece? Jesus respondeu: — Antes que Filipe chamasse você, eu já tinha visto você sentado debaixo daquela figueira.
1.49   Então Natanael exclamou: — Mestre, o senhor é o Filho de Deus! O senhor é o Rei de Israel!
1.50   Jesus respondeu: — Você crê em mim só porque eu disse que tinha visto você debaixo da figueira? Pois você verá coisas maiores do que esta.
1.51   Eu afirmo a vocês que isto é verdade: vocês verão o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.

Bíblia Sagrada – Nova Tradução na Linguagem de Hoje (SBB)

Evangelho do Dia – Festa de São Bartolomeu (I)

“O Martírio de São Bartolomeu” (1749), Pompeo Batoni (1708-1787)

Evangelho segundo S. Lucas 22.24-30

22.24   Os apóstolos tiveram uma forte discussão sobre qual deles deveria ser considerado o mais importante.
22.25   Então Jesus disse: — Os reis deste mundo têm poder sobre o povo, e os governadores são chamados de “Amigos do Povo”.
22.26   Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, o mais importante deve ser como o menos importante; e o que manda deve ser como o que é mandado.
22.27   Quem é o mais importante? É o que está sentado à mesa para comer ou é o que está servindo? Claro que é o que está sentado à mesa. Mas entre vocês eu sou como aquele que serve.
22.28   — Vocês têm estado sempre comigo nos meus sofrimentos.
22.29   Por isso, assim como o meu Pai me deu o direito de governar, eu também dou o mesmo direito a vocês.
22.30   Vocês vão comer e beber à minha mesa no meu Reino e sentarão em tronos para julgar as doze tribos de Israel.

Bíblia Sagrada – Nova Tradução na Linguagem de Hoje (SBB)

Festa de São Bartolomeu, Apóstolo - 24 de agosto

"São Bartolomeu" (1652), Johannes van Bronchorst (1627-1656)
Hoje, a Santa Igreja comemora o apóstolo de nosso Senhor, São Bartolomeu (que também é chamado de Natanael).

São Bartolomeu (ou Natanael, como é chamado no Evangelho de São João) foi um dos primeiros dos doze discípulos de Jesus. Sua casa ficava na cidade de Caná, na Galileia (S. João 21.2), onde Jesus realizou seu primeiro milagre. Ele foi convidado para ser um dos Doze por Filipe, que lhe disse haver encontrado o Messias na pessoa de Jesus de Nazaré (S. João 1.45). A hesitação inicial de Bartolomeu em crer, por causa da origem de Jesus de Nazaré, foi substituída rapidamente por uma declaração clara e inequívoca de fé: “Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!” (S. João 1.49). Bartolomeu esteve presente com os outros discípulos (S. João 21.1-13), quando tiveram o privilégio de ver, conversar e comer com o seu Senhor e Salvador ressuscitado. De acordo com alguns Pais da Igreja Antiga, Bartolomeu levou o Evangelho a Armênia, onde foi martirizado ao ser esfolado vivo.

Cor litúrgica: Vermelha

LEITURAS:

Antigo Testamento: Provérbios 3.1-8
Salmo: Salmo 121 (antífona vers. 8)
Epístola: 2 Coríntios 4.7-10
Santo Evangelho: S. Lucas 22.24-30 ou S. João 1.43-51

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-Poderoso Deus, teu Filho, Jesus Cristo, escolheu Bartolomeu para ser um apóstolo a pregar o bendito Evangelho. Concede que tua Igreja possa amar o que ele creu e pregar o que ele ensinou; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.


Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House, 2008. p.654)

23/08/2013

Cristo carrega os nossos pecados


Este Samaritano carrega os nossos pecados (cf. Mt 8.17) e sofre por nós. Pega no moribundo e o conduz à estalagem, ou seja, à Igreja. A Igreja está aberta a todos, não recusa o seu socorro a ninguém e todos são convidados por Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos que eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Após ter conduzido o ferido, o Samaritano não parte de imediato, mas fica todo o dia na hospedaria junto do moribundo. Trata-lhe das feridas não apenas durante o dia, mas também de noite, abraçando-o com dedicada solicitude. Verdadeiramente este guardião de almas mostrou-se mais próximo dos homens que a Lei e os profetas “dando prova de bondade” para com aquele “que tinha caído nas mãos dos salteadores” e “mostrou ser o seu próximo” mais pelos atos do que pelas palavras.

-- Orígenes de Alexandria (c. 185-253), pastor e teólogo (Homilias sobre o Evangelho de Lucas, 34, 3.7-9)

Evangelho Dominical - Décimo Terceiro Domingo após Trindade

“O Bom Samaritano” (1537), Mestre Desconhecido, Países Baixos (em atividade c. 1530)
Evangelho segundo S. Lucas 10.23–37

10.23   Então Jesus virou-se para os discípulos e disse só para eles: — Felizes são as pessoas que podem ver o que vocês estão vendo!
10.24   Eu afirmo a vocês que muitos profetas e reis gostariam de ter visto o que vocês estão vendo, mas não puderam; e gostariam de ter ouvido o que vocês estão ouvindo, mas não ouviram.
10.25   Um mestre da Lei se levantou e, querendo encontrar alguma prova contra Jesus, perguntou: — Mestre, o que devo fazer para conseguir a vida eterna?
10.26   Jesus respondeu: — O que é que as Escrituras Sagradas dizem a respeito disso? E como é que você entende o que elas dizem?
10.27   O homem respondeu: — “Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças e com toda a mente. E ame o seu próximo como você ama a você mesmo.”
10.28   — A sua resposta está certa! — disse Jesus. — Faça isso e você viverá.
10.29   Porém o mestre da Lei, querendo se desculpar, perguntou: — Mas quem é o meu próximo?
10.30   Jesus respondeu assim: — Um homem estava descendo de Jerusalém para Jericó. No caminho alguns ladrões o assaltaram, tiraram a sua roupa, bateram nele e o deixaram quase morto.
10.31   Acontece que um sacerdote estava descendo por aquele mesmo caminho. Quando viu o homem, tratou de passar pelo outro lado da estrada.
10.32   Também um levita passou por ali. Olhou e também foi embora pelo outro lado da estrada.
10.33   Mas um samaritano que estava viajando por aquele caminho chegou até ali. Quando viu o homem, ficou com muita pena dele.
10.34   Então chegou perto dele, limpou os seus ferimentos com azeite e vinho e em seguida os enfaixou. Depois disso, o samaritano colocou-o no seu próprio animal e o levou para uma pensão, onde cuidou dele.
10.35   No dia seguinte, entregou duas moedas de prata ao dono da pensão, dizendo: — Tome conta dele. Quando eu passar por aqui na volta, pagarei o que você gastar a mais com ele.
10.36   Então Jesus perguntou ao mestre da Lei: — Na sua opinião, qual desses três foi o próximo do homem assaltado?
10.37   — Aquele que o socorreu! — respondeu o mestre da Lei. E Jesus disse: — Pois vá e faça a mesma coisa.

Bíblia Sagrada - Nova Tradução na Linguagem de Hoje (SBB)

22/08/2013

Cristo fez-se o nosso próximo


O Samaritano descia. “Quem é que desceu do céu, senão aquele que subiu ao céu, o Filho do Homem, que está nos céus?” (Jo 3.13). Vendo meio morto este homem que ninguém, antes dele, tinha podido curar, veio ele até junto de si; quer dizer que, ao aceitar sofrer conosco, ele fez-se o nosso próximo e, ao compadecer-se de nós, fez-se nosso companheiro.

-- Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja (Tratado sobre o Evangelho de S. Lucas, 7,73)

Décimo Terceiro Domingo após Trindade – 25 de agosto de 2013

 “Parábola do Bom Samaritano” (1670), Jan Wynants (1630-1684)

Jesus é o nosso Bom Samaritano

A Lei não pode nos ajudar ou nos dar vida. Pelo contrário, ela confina todos sob o pecado como feridos e nus diante de Deus (Gálatas 3.15-22). É assim que duas figuras da Lei, o sacerdote e o levita, passam pelo homem ferido na beira da estrada (S. Lucas 10.23-37). Apenas a prometida Semente de Abraão pode nos resgatar e nos tornar justos diante de Deus. Apenas o samaritano, o nosso Senhor Jesus, teve compaixão de nós. Ele veio até nós em nossa realidade perdida e moribunda, derramando o azeite e o vinho dos Sacramentos. Ele nos colocou em seu próprio animal, carregando o nosso pecado e humilhação em seu corpo na cruz para nos restaurar. Jesus nos trouxe para a hospedaria, isto é, para a Igreja, e deu duas moedas ao hospedeiro, a fim de que seu duplo perdão continue a ser ministrado a nós. Desta maneira, o Senhor, por cuja Lei somos despedaçados e feridos, nos cura e reaviva pelo seu Evangelho e nos ressuscita com ele no terceiro dia, para que possamos viver diante dele (Oseias 6.1-6).

Cor litúrgica: Verde

LEITURAS:
Lecionário Anual

Antigo Testamento: 2 Crônicas 28.8–15
Salmo: Salmo 32 (antífona. v. 2)
Epístola: Gálatas 3.15–22
Santo Evangelho: S. Lucas 10.23–37

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso e eterno Deus, aumenta em nós a fé, a esperança e o amor e, para que alcancemos o que prometeste, faze-nos amar o que tu ordenas; mediante Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre, Amém.

21/08/2013

Oração pela Paz no Egito e Síria

Ícone com representação dos mártires cristãos coptas no Egito.
Ó Cristo, nossa única fonte de paz neste mundo de violência, nós oramos por paz em todo o mundo, mas especialmente no Egito e Síria. Diante dos rumores do grande mal em ação naqueles países e do grande número daqueles que morrem, tanto civis como militares, somos atraídos para ti e para a tua cruz, o único lugar no mundo onde nossas almas encontram a verdadeira paz. Guarda a espada, nós rogamos. Silencia a arma, nós rogamos. Cuida dos feridos e dos quebrantados e leva-os à fé no Príncipe da Paz. Por tua misericórdia, Senhor, ouve a nossa oração.

20/08/2013

Comemoração do Santo Profeta Samuel - 20 de agosto

“O Profeta Samuel”, Claude Vignon (1593-1670)
Samuel, o último dos juízes do Antigo Testamento e o primeiro dos profetas (depois de Moisés), viveu durante o século XI a.C. Filho de Elcana, um efraimita, e sua esposa Ana, Samuel foi consagrado desde cedo por seus pais para o serviço divino e instruído na casa do Senhor, em Siló, pelo sacerdote Eli. A autoridade de Samuel como profeta foi estabelecida por Deus (1 Samuel 3.20). Ele ungiu Saul para ser o primeiro rei de Israel (10.1). Mais tarde, como resultado da desobediência de Saul a Deus, Samuel repudiou a liderança de Saul e ungiu Davi para ser rei no lugar de Saul (16.13). A lealdade de Samuel a Deus, o seu discernimento espiritual, e sua capacidade de inspirar outras pessoas fizeram dele um dos grandes líderes do povo de Israel.

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-Poderoso Deus, em tua misericórdia tu deste a Samuel a coragem de chamar Israel ao arrependimento e renovar a sua dedicação ao Senhor. Chama-nos ao arrependimento como Natã chamou Davi ao arrependimento, e então pelo sangue de Jesus, o Filho de Davi, possamos receber o perdão de todos os nossos pecados; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House, 2009)

19/08/2013

Bernardo de Claraval: Confesso que não sou digno de mim mesmo

“São Bernardo de Claraval” (séc. XVII), segundo Philippe de Champaigne (1602–1674)
Hoje comemoramos e damos graças a Deus por seu servo fiel, Bernardo de Claraval [1090-1153]. Bernardo tem sido sempre meu pai da igreja medieval predileto, e ao que parece, estou em boa companhia, uma vez que dele é falado muito bem por muitos de nossos próprios pais luteranos. Ele é citado positivamente pelo menos cinco vezes no Livro de Concórdia, e é também freqüentemente citado positivamente pelo Doutor Lutero. Talvez ele seja mais conhecido como o autor de vários hinos famosos: Ó Jesus, Rei Admirável e Ó Fronte Ensanguentada. Ele tinha uma expressão vigorosa e um profundo amor por Cristo manifesto numa piedade ardente e vivificante que tocou muitas pessoas em vida e inúmeros outras após.

Na segunda edição do jornal do Dr. C. F. W. Walther, Der Lutheraner, ele imprimiu este pequeno artigo sobre Bernardo:

“São Bernardo, o célebre abade de Claraval, que morreu em 1153, é um exemplo notável de como o mais piedoso e o melhor daqueles que estão no papado, quando lhes sobrevieram grandes provações, rejeitaram toda a confiança em sua própria santidade humana, em suas próprias obras e serviços, e a intercessão dos santos no céu, e obtiveram conforto exclusivamente em toda a suficiente obra de Jesus Cristo para sua salvação. Mesmo que em sua vida Bernardo tivesse perseguido mais estritamente a santidade e atribuído tão alto valor para à sua posição como um monge, que ele considerava como se fosse outro batismo (Apolog. Ad Builielm. Abb.), ele confessou, no entanto, quando subitamente clamou por sua salvação por causa de um prova severa: "Confesso que não sou digno de mim mesmo nem posso receber o céu através de minha própria obra. Mas o meu Senhor Jesus Cristo tem um duplo direito pelo céu. Primeiro porque ele é, por natureza, seu herdeiro, e em seguida, porque ele o conquistou através de seu sofrimento meritório. Esse primeiro direito ele tem por si próprio, o segundo ele dá a mim. Através deste dom, o céu é meu por direito, então, eu não estou perdido."”

-- Rev. Paul T. McCain, Pastor, Editor e Diretor Executivo do Departamento Editorial da Concordia Publishing House. (cyberbrethren.com)

Ó fronte ensanguentada

“Fronte de Cristo com Coroa de Espinhos” ( 1520-25), Lucas Cranach, o Velho (1472-1553)

Bernardo de Claraval
O tradicional hino “Ó fronte ensangüentada” tem sua origem no longo poema medieval em latim “Salve mundi salutare” (Também conhecido como Rhythmica oratio). O poema foi historicamente atribuído a Bernardo de Claraval (1091-1153), pois eles são coerentes com a sua espiritualidade. No entanto, ultimamente tem-se pensado ser mais provável a autoria do poeta e monge cisterciense Arnulfo de Lovaina (c. 1200–1250).
Os sete cantos do pema "Salve Mundi Salutare” são uma meditação sobre os vários membros de Cristo pendurado na cruz: Ad Pedes, Ad Génova, Ad Manus, Ad Latus, Ad Pectus, Ad Cor, Ad Faciem (Para os pés, joelhos , mãos, lado, peito, coração, e fronte). “Ó fronte ensanguentada” é baseado apenas no sétimo canto deste poema, no “Ad Faciem”, que originalmente inicia com as palavras “Salve caput cruentatum”, exaltando a fronte de Cristo coroada de espinhos.
Paul Gerhardt

O hino, tal como se encontra no Hinário Luterano (nº 88), é uma tradução e reformulação feita em 1656 pelo hinólogo luterano Paul Gerhardt (1607-1676), do sétimo canto do poema. A versão de Gerhardt não é uma tradução do latim. Muitos detalhes são expandidos ou adaptados para sugerir uma contemplação mais pessoal de Cristo na cruz. Embora Gerhardt tenha traduzido todo o poema, é o ultimo canto que se tornou mais conhecido, sendo muitas vezes atribuído à ele por causa de sua reformulação. A versão de Gerhadt em alemão intitula-se “O Haupt voll Blut und Wunden” (Ó Fronte Ensanguentada e Ferida), das palavras iniciais do hino.

A melodia é do compositor luterano renascentista Hans Leo Hassler (1564-1612), era originalmente um madrigal, a canção amor secular “Mein G’müt ist mir verwirret” (Minha alma está transtornada pelos encantos de uma terna donzela) e apareceu pela primeira vez impressa em 1601. A música foi apropriada e ritmicamente simplificada para o hino alemão de Gerhardt em 1656 por Johann Crüger na sua “Praxis Pietatis Mélica”.

Hans Leo Hassler
A melodia do Hinário Luterano “Herzlich thut mich verlangen” (também conhecida como “Ach Herr, Mich Armen Sunder” ou “Passion Chorale”) foi associada com o texto de Gerhardt desde que foram publicadas juntos pela primeira vez em 1656. Mas a primeira associação da melodia com um texto sacro foi na sua junção em 1613 com o texto funeral de Christoph Knoll “Herzlich tut mich verlangen” (daí o nome da melodia). Ela era originalmente uma canção de cortejo publicada por por Hans Leo Hassler em seu “Lustgarten neuer teutscher Gesäng” (1601).

Johann Sebastian Bach arranjou a melodia e utilizou cinco estrofes do hino em sua “Paixão Segundo São Mateus”, a estrofe 6 em sua cantata “Sehet, wir gehn hinauf gen Jerusalem” (BWV 159). Bach também usou a melodia em palavras diferentes em seu Oratório de Natal. Franz Liszt incluiu um arranjo desse hino na sexto estação de sua “Via Crucis” (S.504a).

Vale lembrar também que os sete cantos de “Salve mundi salutare” foram usados para o texto de Dieterich Buxtehude (c. 1637-39 - 1707) sobre os diferentes partes do corpo crucificado de Cristo, intitulado “Membra Jesu nostri patientis sanctissima” (BuxWV 75). Esta obra é conhecida como o primeiro oratório luterano.

No Hinário Luterano da IELB, não temos informação de quem é o tradutor do hino sob nº 88.
Em Hinos da Igreja Evangélica (1939), o hino de nº 27 tem a tradução do Rev. Hans Muller, contendo 7 estrofes. No Hinário da IECLB de 1964 consta sob nº 51, também com 7 estrofes, mas reformulado pela comissão do hinário. Em Hinos do Povo de Deus da IECLB (de 1981) está sob o nº 53, com apenas 5 estrofes, com a primeira estrofe readaptada e as demais seguindo o hinário de 1964.

HINÁRIO LUTERANO – nº 88 

1.Ó fronte ensanguentada,
ferida pela dor,
de espinhos coroada,
marcada pelo horror!
Ó fronte, outrora ornada
de eterna glória e luz,
agora desprezada —
adoro-te, Jesus!

2.Ó rosto glorioso,
que sempre fez tremer
o mundo poderoso,
fizeram-te sofrer!
O quanto estás mudado!
O teu sublime olhar,
de tão atormentado,
não vejo mais brilhar.

3.O que tens suportado
foi minha própria dor;
eu mesmo sou culpado
de tua cruz, Senhor.
Oh! vê-me, aflito e pobre:
só ira mereci;
com tua graça encobre
o mal que cometi!

4.Pertenço ao teu rebanho,
Jesus, meu bom Pastor;
Senhor, favor tamanho
provém do eterno amor.
Do Verbo dos teus lábios
eu sempre me nutri.
Os pensamentos sábios
obtenho só de ti.

5.Momentos de alegria
e grande bem-estar,
ó meu divino Guia,
eu sinto ao meditar
no que por mim fizeste.
A fim de me redimir
a própria vida deste.
É bom a ti seguir.

6.Penhor tão precioso
me vem da tua cruz!
Por este dom gracioso
te louvo, meu Jesus.
Concede fiel me apegue
a ti, no meu final,
e nunca te renegue,
Amigo sem igual.

7.Quando eu partir um dia,
comigo vem estar.
Perfeita garantia
na morte vieste dar.
Que toda a tua angústia
me livre da aflição:
e o diabo e sua astúcia
não mais me afligirão.

8.Consola-me na morte,
lembrando a tua dor;
és meu escudo forte,
glorioso Vencedor.
Estando a contemplar-te,
confiante vou dizer,
feliz, ao abraçar-te:
Assim é bom morrer!

HINOS DOS POVOS DE DEUS – nº 53

1. Ó fronte ensanguentada,
ferida pela dor,
de espinhos coroada,
marcada pelo horror!
Ó fronte, outrora ornada
de eterna glória e luz,
agora desprezada
adoro-te, Jesus!

2. Ó rosto glorioso
que sempre fez tremer
o mundo poderoso:
Fizeram-te sofrer!
O quanto estás mudado!
O teu sublime olhar,
cruelmente atormentado,
deixou já de brilhar.

3. O que tens suportado
foi minha própria dor;
eu mesmo sou culpado
de tua cruz Senhor.
Ó vê-me, aflito e pobre:
castigo mereci;
com tua graça encobre
o mal que cometi!

4. Senhor, teu sofrimento
conforta o coração.
Por teu cruel tormento
obtenho a salvação.
Ó dá que eu permaneça
contigo, fiel Senhor!
Morrendo, eu adormeça
em ti, meu Salvador!

5. No termo desta vida,
ó não me deixes só!
Concede-me guarida,
levanta-me do pó!
E se na dor pungente
meu coração tremer,
vem tu, Jesus clemente,
lembrar-me o teu sofrer!


PAUL GERHARDT - O Haupt voll Blut und Wunden
Paul Gerhardt Gesangbuch


1 O Haupt voll Blut und Wunden,
Voll Schmerz und voller Hohn,
O Haupt, zum Spott gebunden
Mit einer Dornenkron;
O Haupt, sonst schön gezieret
Mit höchster Ehr' und Zier,
Jetzt aber höchst schimpfieret:
Gegrüßet sei'st du mir!

2. Du edles Angesichte,
davor sonst schrickt und scheut
das große Weltgewichte:
wie bist du so bespeit,
wie bist du so erbleichet!
Wer hat dein Augenlicht,
dem sonst kein Licht nicht gleichet,
so schändlich zugericht?

3. Die Farbe deiner Wangen,
der roten Lippen Pracht
ist hin und ganz vergangen;
des blassen Todes Macht
hat alles hingenommen,
hat alles hingerafft,
und daher bist du kommen
von deines Leibes Kraft.

4. Nun, was du, Herr, erduldet,
ist alles meine Last;
ich hab es selbst verschuldet,
was du getragen hast.
Schau her, hier steh ich Armer,
der Zorn verdienet hat.
Gib mir, o mein Erbarmer,
den Anblick deiner Gnad.

5. Erkenne mich, mein Hüter,
mein Hirte, nimm mich an.
Von dir, Quell aller Güter,
ist mit viel Guts getan;
dein Mund hat mich gelabet
mit Milch und süßer Kost,
dein Geist hat mich begabet
mit mancher Himmelslust.

6. Ich will hier bei dir stehen,
verachte mich doch nicht;
von dir will ich nicht gehen,
wenn dir dein Herze bricht;
wenn dein Haupt wird erblassen
im letzten Todesstoß,
alsdann will ich dich fassen
in meinen Arm und Schoß.

7. Es dient zu meinen Freuden
und tut mir herzlich wohl,
wenn ich in deinem Leiden,
mein Heil, mich finden soll.
Ach möcht ich, o mein Leben,
an deinem Kreuze hier
mein Leben von mir geben,
wie wohl geschähe mir!

8. Ich danke dir von Herzen,
o Jesu, liebster Freund,
für deines Todes Schmerzen,
da du’s so gut gemeint.
Ach gib, dass ich mich halte
zu dir und deiner Treu
und, wenn ich nun erkalte,
in dir mein Ende sei.

9. Wenn ich einmal soll scheiden,
so scheide nicht von mir,
wenn ich den Tod soll leiden,
so tritt du dann herfür;
wenn mir am allerbängsten
wird um das Herze sein,
so reiß mich aus den Ängsten
kraft deiner Angst und Pein.

10. Erscheine mir zum Schilde,
zum Trost in meinem Tod,
und lass mich sehn dein Bilde
in deiner Kreuzesnot.
Da will ich nach dir blicken,
da will ich glaubensvoll
dich fest an mein Herz drücken.
Wer so stirbt, der stirbt wohl.

TEXTO LATINO - Salve, caput cruentatum

1 Salve, caput cruentatum,
Totum spinis coronatum,
Conquassatum, vulneratum,
Arundine sic verberatum
Facie sputis illita,

2 Salve, cuius dulcis vultus,
Immutatus et incultus
Immutavit suum florem
Totus versus in pallorem
Quem coeli tremit curia.

3 Omnis vigor atque viror
Hinc recessit, non admiror,
Mors apparet in aspectu,
Totus pendens in defectu,
Attritus aegra macie.

4 Sic affectus, sic despectus
Propter me sic interfectus,
Peccatori tam indigno
Cum amoris intersigno
Appare clara facie.

5 In hac tua passione
Me agnosce, pastor bone,
Cuius sumpsi mel ex ore,
Haustum lactis ex dulcore
Prae omnibus deliciis,

6 Non me reum asperneris,
Nec indignum dedigneris
Morte tibi iam vicina
Tuum caput hic acclina,
In meis pausa brachiis.

7 Tuae sanctae passioni
Me gauderem interponi,
In hac cruce tecum mori
Praesta crucis amatori,
Sub cruce tua moriar.

8 Morti tuae iam amarae
Grates ago, Jesu care,
Qui es clemens, pie Deus,
Fac quod petit tuns reus,
Ut absque te non finiar.

9 Dum me mori est necesse,
Noli mihi tunc deesse;
In tremenda mortis hora
Veni, Jesu, absque mora,
Tuere me et libera.

10 Cum me jubes emigrare,
Jesu care, tunc appare;
O amator amplectende,
Temet ipsum tunc ostende
In cruce salutifera.

Comemoração de Bernardo de Claraval, Escritor de Hinos e Teólogo – 19 de agosto

“São Bernardo de Claraval escrevendo”, Philippe Quantin (c. 1600-1636)
Um líder na Europa cristã da primeira metade do século XI, Bernardo é honrado em sua terra natal, a França, e em todo o mundo. Nascido em uma família nobre na Borgonha em 1090, Bernardo deixou a riqueza de sua herança e entrou no mosteiro de Cister com a idade de 22 anos. Após dois anos, foi enviado para iniciar uma nova casa monástica em Claraval, onde sua obra foi abençoada de várias maneiras. O mosteiro de Claraval cresceu em missão e serviço, estabelecendo, finalmente, cerca de 68 outros mosteiros. Bernardo é lembrado por sua caridade e habilidades políticas, mas especialmente por sua pregação e composição de hinos. Os textos dos hinos “Jesus, o Rei admirável” (Jesu, rex admirabilis) e “Ó fronte ensanguentada” (Salve caput cruentatum) são parte da herança da fé deixada por São Bernardo.
Em 1153, participando de uma missão em Lorena, adoeceu. Percebendo a gravidade do seu estado, pediu para ser conduzido para o seu Mosteiro de Claraval, onde pouco tempo depois morreu, no dia 20 de agosto do mesmo ano.

LEITURAS:

† Salmo 139.1-12 ou 19.7-11
† Eclesiástico 39.1-10
† São João 15.7-11

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Deus, inflamado com o fogo do teu amor, teu servo Bernardo de Claraval tornou-se uma ardente e brilhante luz em tua Igreja. Por tua misericórdia, concede que também sejamos inflamados com o espírito de amor e disciplina e andemos sempre na tua presença como filhos da luz; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House, 2009)

18/08/2013

Décimo Segundo Domingo após Trindade - 18 de agosto de 2013

“Jesus Cristo cura o homem que era surdo e mudo”
(miniatura no fólio 86 do Codex Vindobonensis Palatinus 485 (c. séc. XV),
na Österreichische Nationalbibliothek, Áustria.
A fé vem pelo ouvir

Um homem que era surdo e, portanto, também tinha um impedimento em sua fala, foi trazido a Jesus (S. Marcos 7.31-37). Do mesmo modo, todos são, por natureza, surdos em relação a Deus e, portanto, incapazes de confessar a fé com razão. Pois “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Romanos 10.9-17). Jesus pôs os dedos nos ouvidos do homem, cuspiu e tocou-lhe a língua. Assim também no Santo Batismo, a água santificada pelas palavras da boca de Jesus é aplicada em nós. E o dedo de Deus, isto é, o Espírito Santo doador de vida (2 Coríntios 3.4-11) é posto em nossos ouvidos ao ouvirmos o Evangelho batismal. O suspiro “Efatá” de Jesus abriu os ouvidos do homem e a sua língua se soltou para falar claramente, como Isaías profetizara a respeito do Messias: “Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro” (Isaías 29.18-24) Assim, também, aquele que deu seu último suspiro e expirou na cruz por nós, tem nos dado o ouvir e crer nele e abre nossos lábios para que nossos lábios possam proclamar o seu louvor.

Cor litúrgica: Verde

LEITURAS:
Lecionário Anual

Antigo Testamento: Isaías 29.17–24
Salmo: Salmo 146 (antífona. v. 8)
Epístola: 2 Coríntios 3.4–11 ou Romanos 10.9–16
Santo Evangelho: S. Marcos 7.31–37

ORAÇÃO DO DIA:

Onipotente e misericordioso Deus, que fazes com que teu povo fiel te sirva sincera e louvavelmente, concede, te suplicamos, que te sirvamos com fidelidade nesta vida e que não deixemos de alcançar finalmente as tuas promessas celestiais; mediante Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Evangelho Dominical - Décimo Segundo Domingo após Trindade

Xilogravura de Jerónimo Nadal (1507-1580) na segunda edição (1595)
de “Adnotationes et Meditationes in Evangelia”

Evangelho segundo S. Marcos 7.31-37

7.31   Jesus saiu da região que fica perto da cidade de Tiro, passou por Sidom e pela região das Dez Cidades e chegou ao lago da Galileia.
7.32   Algumas pessoas trouxeram um homem que era surdo e quase não podia falar e pediram a Jesus que pusesse a mão sobre ele.
7.33   Jesus o tirou do meio da multidão e pôs os dedos nos ouvidos dele. Em seguida cuspiu e colocou um pouco da saliva na língua do homem.
7.34   Depois olhou para o céu, deu um suspiro profundo e disse ao homem: — “Efatá!” (Isto quer dizer: “Abra-se!”)
7.35   E naquele momento os ouvidos do homem se abriram, a sua língua se soltou, e ele começou a falar sem dificuldade.
7.36   Jesus ordenou a todos que não contassem para ninguém o que tinha acontecido; porém, quanto mais ele ordenava, mais eles falavam do que havia acontecido.
7.37   E todas as pessoas que o ouviam ficavam muito admiradas e diziam: — Tudo o que faz ele faz bem; ele até mesmo faz com que os surdos ouçam e os mudos falem!

Bíblia Sagrada - Nova Tradução na Linguagem de Hoje (SBB)

17/08/2013

Bem-aventurados os que habitam em tua casa

“Anjo mostrando a João a Nova Jerusalém com o Cordeiro de Deus no centro”,
iluminura no folio 55 do Apocalipse de Bamberg (séc. XI).

Chama-me, Senhor Jesus, para que eu possua de fato e de verdade o que procuro com inabalável esperança. Oro a ti, deixa-me estar contigo, como teus servos, e deixa-me ver a tua glória, a qual o Pai lhe deste. Deixa-me logo morar naquela mansão que tu foste preparar para mim na casa de teu Pai. Bem-aventurados os que habitam em tua casa, ó Senhor, pois eles te louvarão para todo o sempre!

-- Bem-aventurado Johann Gerhard (Meditationes sacrae XI, 1606)

Comemoração de Johann Gerhard, Teólogo - 17 de agosto


Johann Gerhard (1582-1637) foi um grande teólogo luterano na tradição de Martinho Lutero (1483-1546) e Martin Chemnitz (1522-1586) e o mais influente dos teólogos dogmáticos do século XVII. Sua obra monumental Loci Theologici (23 grandes volumes) ainda é considerado por muitos como uma declaração definitiva da ortodoxia luterana. Gerhard nasceu em Quedlinburg, Alemanha. Na idade de 15 anos, ele foi acometido de uma doença que ameaçou tirar-lhe a vida. Esta experiência, juntamente com o acompanhamento de seu pastor, Johann Arndt, marcou uma virada na sua vida. Ele dedicou o resto de sua vida à teologia. Tornou-se professor na Universidade de Jena e serviu por muitos anos como superintendente (espécie de bispo) de Heldberg. Gerhard era um homem de profunda piedade evangélica e amor por Jesus. Ele escreveu inúmeros livros sobre exegese, teologia, literatura devocional e história e controvérsias. Seus sermões continuam sendo amplamente divulgados e lidos.

LEITURAS:

† Salmo 46
† Isaías 55.6-11
† Romanos 10.5-17
† São João 15.1-11

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Deus, que pelo teu Espírito Santo concede a alguns a palavra de sabedoria, a outros a palavra de conhecimento e para outros, a palavra da fé. Nós te louvamos pelos dons da graça concedidos a teu servo Johann, e oramos para que por teu ensinamento sejamos levados a um conhecimento mais profundo da verdade que temos visto em teu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House, 2008. p. 632)

16/08/2013

Jesus, Isaque e Adão


Nesta mesma região (ou seja, na terra de Moriá) Abraão estava disposto a oferecer seu filho Isaque a Deus, o Senhor. Uma vez que Isaque era uma representação prototípica de Cristo, assim também Cristo quis oferecer-se a Deus no mesmo lugar. Sem mencionar o fato de que muitos dos Pais mantiveram a crença de que Adão estava enterrado no mesmo lugar onde Cristo foi crucificado, o Gólgota, Cristo quis oferecer-se a Deus neste mesmo lugar, a fim de mostrar que Ele, como o segundo Adão celestial, queria reconquistar novamente para nós o que tínhamos perdido pelo primeiro Adão.

-- Bem-aventurado Johann Gerhard (1582-1637), pastor e teólogo, na Homilia sobre a Quinquagesima, Postilla I:215.

[Nota: o crânio de Adão no ícone que representa a crucificação, testifica a tradição mencionada por Gerhard]

Sara se riu por causa daquele que nasceu de Maria

“Isaque” (1555), Cristofano Gherardi (1508-1556)
Devido à idade, Abraão e a sua mulher tinham ficado incapazes de dar vida; nos corpos de ambos, a juventude tinha-se apagado, mas a sua esperança em Deus continuava bem viva; não enfraquecera, era indestrutível.
Foi por isso que Abraão, contra toda a esperança, gerou Isaque, que é uma figura do Senhor. Não era natural, com efeito, que o seio já morto de Sara pudesse conceber Isaque e que ela o alimentasse com o seu leite; como também não era natural que a Virgem Maria, sem conhecer homem, concebesse o Salvador do mundo, e O desse à luz sem perder a sua integridade. [...] Diante da tenda, o anjo disse ao patriarca: “Dentro de um ano, nesta mesma época, Sara terá já um filho” (Gn 18.14). O anjo também [...] disse a Maria: “Salve ó cheia de graça hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho” (Lc 1.28; 31). Sara riu-se pensando na sua esterilidade, olhando a sua idade (v. 12); sem crer na palavra, exclamou: “Velha como estou, poderei ainda ter esta alegria, sendo também velho o meu senhor?” Maria, pensando na virgindade que queria guardar, hesitou, e disse ao anjo: “Como será isso, se eu não conheço homem?” (Lc 1.34) A promessa era, certamente, contra a natureza, mas Aquele que, contra toda esperança, deu Isaque a Sara, nasceu realmente, segundo a carne, da Virgem Maria.
Logo que Isaque viu o dia segundo a palavra de Deus, Sara e Abraão ficaram cheios de alegria. Quando Jesus veio ao mundo segundo o anúncio de Gabriel, Maria e José ficaram cheios de alegria. [...] “Quem teria dito a Abraão que Sara na sua velhice aleitaria um filho?” exclamou a estéril. “Quem teria dito ao mundo que o meu seio virginal alimentaria uma criança com o meu leite?” exclamou Maria. De fato, não foi por causa de Isaque que Sara se riu, mas sim por causa Daquele que nasceu de Maria; tal como João Batista manifestou a sua alegria estremecendo no seio da sua mãe, Sara manifestou a sua rindo-se.

-- Santo Efrém (c. 306-373), diácono na Síria e doutor da Igreja (Sobre Abraão e Isaque. Trad. Isabelle de la Source, Lire la Bible avec les Pères, Médiaspaul 1988, t. 1, p. 72)

Isaque e Rebeca: A Escritura Sagrada enaltece o amor nupcial

"Isaque e Rebeca" (1665), Gerbrand van den Eeckhout (1621-1674)
Noivados forjados devem ser considerados nulos.
Com este artigo todo o mundo concorda, pois Deus criou homem e mulher de tal forma que se unissem com alegria e prazer, espontaneamente e do fundo do coração. O amor entre noivos e o desejo de se casarem é uma coisa natural, implantada e colocada no ser humano por Deus. Por essa razão a Escritura Sagrada enaltece tanto o amor nupcial e o cita com tanta frequência como modelo para a relação de Cristo com sua cristandade. Por isso pais que obrigam seus filhos ao casamento ou a se casarem com alguém que não seja de seu agrado pecam contra Deus e a natureza. Em Gênesis, capítulo 24.58, lemos o seguinte: Quando os parentes deram a Rebeca em casamento, chamaram-na e lhe perguntaram se queria casar-se com Isaque, pois consideravam justo que antes se tivesse que buscar também o consentimento da moça. Não foi sem motivo que o Espírito Santo mandou registrar esse exemplo; assim quis confirmar o direito natural que ele próprio havia criado: que nubentes sejam unidos em matrimônio sem coação e obrigação, espontaneamente, com prazer e alegria.

-- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (Assuntos Matrimoniais, 1530, OSel 5:269-270)

Comemoração do Santo Patriarca Isaque - 16 de agosto

“Sacrifício de Isaque” (1597-99), Caravaggio (1571-1610)
Isaque, o filho prometido e tão esperada de Abraão e Sara, nasceu quando seu pai estava com 100 anos e sua mãe com 91. O anúncio de seu nascimento trouxe alegria e riso às seus pais já idosos (por isso o nome “Isaque”, que significa “riso”). Quando jovem, Isaque acompanhou seu pai ao Monte Moriá, onde Abraão, em obediência ao mandamento de Deus, o preparou para sacrificá-lo em holocausto. Mas Deus interveio, poupando a vida de Isaque e proporcionando um cordeiro como oferta substitutiva (Gn 22.1-14), apontando, assim, para o sacrifício vicário de Cristo pelos pecados do mundo. Isaque foi dado em casamento a Rebeca (24.15), e tiveram dois filhos gêmeos: Esaú e Jacó (25.19-26). Em sua velhice, Isaque, cego e fraco, queria dar a sua bênção e herança para seu filho mais velho e favorite: Esaú. Porém por meio de enganos Rebeca fez Jacó recebê-la, resultando em anos de inimizade familiar. Isaque morreu com a idade de 180 anos e foi sepultado por seus filhos, que até então já haviam se reconciliado, na sepultura da família na caverna de Macpela (35.28-29).

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-Poderoso Deus, Pai Celestial, através do patriarca Isaque tu preservaste a semente do Messias e trouxeste a nova criação. Continue a preservar a Igreja como o Israel de Deus de forma que ela manifeste a glória de teu Santo Nome, ao persistir na adoração do teu Filho, o menino de Maria; através de Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House, 2009)

15/08/2013

A Festa de Maria não é sobre Maria, mas sim sobre Jesus

Festa de Santa Maria, Mãe do Senhor
15 de Agosto Anno Domini 2013

Estudo Homilético e Devoção realizada na Capela do Seminário Concórdia (São Leopoldo/RS)

A Virgem e o Menino (1525-30), de Lucas Cranach, o Velho (* 1472, Kronach, † 1553, Weimar)

A Festa de Maria não é sobre Maria, mas sim sobre Jesus

Salmo 45.10-17; Isaías 61.7-11; Gálatas 4.4-7; Lucas 1.(39-45) 46-55

Contexto litúrgico

    A Festa de Santa Maria comemora a dormição da Virgem Maria, isto é, seu adormecer na morte e, seguramente, na fé em Cristo. A celebração do dia 15 de agosto surgiu no Oriente por volta do séc. V, confirmando uma antiga tradição da igreja. Por mais que seja uma festa em lembrança de Maria, em última instância, é uma festa cristocêntrica.

Estudos dos próprios do dia

Leituras 
  • Salmo 45.10-17: O Salmista dá conselho a uma mulher a qual chama de filha e na última estrofe afirma: “O teu nome, eu o farei celebrado de geração a geração, e, assim, os povos te louvarão para todo o sempre.
  • Gálatas 4.4-7: O Apóstolo Paulo escreve acerca da encarnação de Cristo: “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.
  • Lucas 1.(39-45) 46-55: Na perícope, temos dois relatos importantes: 1. Visita que a Bem-aventurada Maria fez a Isabel; 2. Magnificat
Próprios do dia
  • Introito: O introito é uma ação de graças pela ação de Deus, pela seu constante auxílio e amparo.
  • Coleta do dia: A coleta pede para que todos os que foram redimidos pelo Sangue de Cristo, possam ser reunidos com ela na glória eterna.
  • Gradual:  O Salmo utilizado como gradual é 45.13-14 e pinta um quadro de uma princesa que ornada é levado ao rei.
  • Verso: O verso é parte do Magnificat, onde se enfatiza o anúncio da grandeza de Deus, pois, a alma de Maria está repleta de alegria por causa do criador.
  • Prefácio próprio: Se a celebração for dentro de um culto eucarístico, o pastor tem duas possibilidades dentro do livro de liturgia [Comissão de Culto da IELB. Culto Luterano: Liturgias. Porto Alegre: Concórdia Editora, 2010. p . 27 e 46.] : 1) Prefácio próprio “Anunciação do Senhor, A visitação e Santa Maria, Mãe do Senhor"; 2) Prefácio intitulado “Dia de todos os Santos.”
Estudo do texto
[Just Jr., Arthur A. Luke 1.1-9:50 A Theological Exposition of Sacred Scripture. Saint Louis: Concordia Publishing House, 2001. p.72-87.]

    A perícope é composta de dois blocos: 1) visita de Maria e 2) O cântico de Maria. A opção é pelo texto expandido, pois, não envolve somente o cântico de Maria, o Magnificat, mas também a visita que a bem-aventurada Mãe do Senhor fez a sua prima Isabel. O Dr. Arthur Just, em seu comentário sobre Lucas, afirma que as duas partes, 39-45 e 46-55 formam uma unidade.

Visita de Maria a Isabel

    Ao ouvir a Saudação o bebê, João Batista, que estava na barriga de Isabel estremece no ventre de sua mãe. Diante do verbo encarnado, este é o primeiro responso litúrgico que temos registrado no Novo Testamento.
    A cena pintada nesta visita é cheia da presença de Cristo. Tudo o que aconteceu nesta memorável visita é fruto da presença do Deus que se fez carne: João Batista chegou a estremecer no ventre de Isabel, Isabel ficou cheia do Espírito Santo e falou para Maria belíssimas palavras. Cada detalhe é um responso à presença de Jesus. Segundo o Dr. Just, aqui temos o primeiro texto litúrgico cristão.
    Isabel proclama Jesus no ventre da bem-aventurada Maria e ela é bem-aventurada, pois carrega dentro de si a fonte de toda bem-aventurança, a fonte de toda graça. A presença de Cristo enche e permeia todo o quadro que Lucas nos desenhou neste relato.
    O versículo 45 fala que Maria é bem-aventurada porque ela creu nas promessas que lhe foram ditas: “Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor.”

Magnificat 

    O Magnificat pode ser dividido em duas estrofes: 1) 1.46b – 49 reflete ação poderosa de Deus sobre Maria e sua resposta de louvor e agradecimento; 2) 1.50-55 é o cumprimento das promessas feitas por Deus para seu povo.
    Na primeira estrofe, Maria agradece a Deus que a contemplou. E ela ser lembrada por que Deus, o todo poderoso, fez grandes coisas. Este é o real motivo que é ela é bem aventura, pois, Deus fez grandes e maravilhosas coisas: “Porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada.
    Em Lucas 11.27 temos um relato de alguém que enaltece o ventre e os seios que amamentaram Jesus. Jesus responde que abençoados são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a guardam. E Maria foi esta pessoa. Ela ouviu e guardou as promessas. Segundo Arthur Just, ela foi a primeira catecúmena. Ela foi a primeira cristã na nova aliança.
    A ênfase da segunda estrofe está no cumprimento das promessas feitas ao povo de Deus: a favor de Abraão e sua descendência. Ou seja, descreve a salvação de Deus em favor de Israel. O centro desta segunda estrofe está na palavra misericórdia. Por esta misericórdia Deus age.

Magnificat de Lutero
[Lutero, Martinho. O Magnificat. In: Obras Selecionadas – Volume 6.]

Neste texto, Lutero escreve sobre o Cântico de Maria e o dedica ao Duque João Frederico. Lutero chama atenção para três aspectos importantes:
  1. Maria como expressão de vida a partir do Espírito Santo.
  2. Como exemplo da graça de Deus
  3. Exemplo do agir de Deus na história. 
Citações do texto Magnificat de Lutero:
  1. Maria reconhece como primeira obra de Deus realizada nela o contemplar. Esta também é a obra maior, na qual se baseiam todas as demais e da qual emanam. Pois, quando Deus volta o seu rosto para alguém, para contemplá-lo, aí reina a pura graça e a bem-aventurança, e todos os dons e obras hão de seguir. (p. 44). 
  2. Portanto, quem quiser honrá-la devidamente não deve contemplá-la de forma isolada, mas deve vê-la diante de Deus e muito abaixo de Deus, despojando-a de tudo e (como ela diz) contemplando sua nulidade. Então ficarás maravilhado com a exuberante graça de Deus que contempla, recebe e abençoa ricamente e com tão grande misericórdia uma pessoa tão insignificante e nula. (p. 45)
  3. O mais nobre exemplo da graça de Deus para estimular a todo mundo a confiança, ao amor e ao louvor na graça divina. (p. 45)
  4. Ó bem aventurada virgem e mãe de Deus, que grande consolo nos revelou Deus em ti por ter contemplado tão misericordiosamente tua indignidade e nulidade. Isso nos mostra que, de agora em diante, a teu exemplo, também não desprezará a nós pobres homens nulos, mas que nos contemplará com misericórdia. (p. 45 e 46)
Bem-aventurada Maria na Bíblia

    A Bem-aventurada Maria, a mãe de Jesus, é mencionada várias vezes nos Evangelhos e no livro de Atos. Incidentes de sua vida que foram registrado: 1) noivado com José; 2)  a Anunciação do Anjo Gabriel que ela seria a Mãe do Messias; 3) visitação a Isabel, a mãe de João Batista; 4) na Natividade de Nosso Senhor;  5) as visitas dos pastores e os sábios;  6) a apresentação do Menino Jesus no templo; 7) a fuga para o Egito; 8) a visita pascal a Jerusalém, quando Jesus tinha doze anos; 9) o casamento em Caná da Galileia; 10) sua presença na crucificação, quando seu Filho a legou aos cuidados de seu discípulo João; 11) e seu encontro com  os Apóstolos no cenáculo depois da Ascensão, à espera do Espírito Santo prometido.
    Maria está presente em todos os eventos importantes da vida de seu Filho. Ela é especialmente lembrada e homenageada por sua obediência incondicional à vontade de Deus: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lc 1.38); por sua lealdade a seu filho, mesmo quando ela não podia compreendê-lo: “Então, ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser.” (Jo 2.5), e, acima de tudo, a mais excelsa honra concedida a ela por Deus, foi o fato que ela  tornou-se a mãe de Deus que se fez carne: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre!” (Lc 1.42). Segundo a tradição, Maria foi com o apóstolo João para Éfeso, onde morreu.
[Kinnaman. Scott A. (Ed.). Treasury of Daily Prayer.  Saint Louis: Concordia Publishing House, 2009. p. 625-626.]

Honra aos Santos e Artigo XXI da Apologia da Confissão de Augsburgo: “Da invocação dos Santos”

    A Apologia da Confissão, a nossa norma normata, no seu vigésimo primeiro artigo prevê a honra aos santos de Cristo em três pontos: 1) ação de graças; 2) confirmação da fé; 3) imitação, primeiro da fé, em seguida das demais virtudes.
     Aplicando estas três honras a Bem-Aventura Maria, Mãe de Jesus:

  1. A primeira honra é a ação de graças: demos graças a Deus por ter mostrado o mais nobre exemplo da graça de Deus para estimular a todo mundo a confiança, ao amor e ao louvor na graça divina. Maria é uma representação muito importante para a Igreja. Ela é uma representação de ti e de mim. Eu digo que Maria é representação, pois ela estava cheia, repleta de Cristo. A exemplo do que aconteceu com Maria, você desde o Batismo está repleto de Cristo.  Cristo está em de ti.
  2. A segunda honra é a confirmação de nossa fé: Deus é o mesmo, ontem, hoje e eternamente, por que em Deus  não pode existir variação ou sombra de mudança. O mesmo Deus que contemplou e fez grandes coisas na vida de Maria é o mesmo Deus que te contempla e faz grandes coisas em tua vida. Ele é o teu Deus, é o teu Salvador.
  3. A terceira honra é a imitação, primeiro da fé, em seguida das demais virtudes: Maria foi a primeira cristã que temos registrada no Novo Testamento. Ela ouviu e confiou. Ela esteve com Jesus nos momentos importantes de sua vida tanto antes de sua Ascensão, como depois. A Bem-aventurada Maria ouviu e confiou.
Aspectos homiléticos

Objetivo: 
  1. Demonstrar que celebrar Maria é celebrar a presença física do Deus encarnado, Jesus Cristo;
  2. Honrar a Bem-Aventurada Maria conforme as nossas confissões preveem. 
Tema: A festa de Maria não é sobre Maria, mas sim sobre Jesus

Esboço básico: 
  1. Introdução:
    a. A festa de Maria não é sobre Maria, mas sim sobre Jesus;
    b. Cada detalhe do texto é resposta à presença física de Jesus;
  2. Análise do Evangelho do dia
    a. Visita de Maria a Isabel;
    b. Cântico de Maria
         i. Ação de Deus sobre Maria;
         ii. Ação de Deus sobre o povo;
  3. Citação das três honras a favor da lembrança dos santos - 21º artigo da Apologia da Confissão. Citar as três honras aplicando-as no caso da Bem-aventurada Maria. 
Sermão

A Festa de Maria não é sobre Maria, mas sim sobre Jesus

Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o Deus que se encarnou no ventre da Bem-aventurada Maria, o amor de Deus e comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.

     Meus caros irmãos em Cristo, devo lhes dizer de meu contentamento de poder estar diante de vós e pregar no dia da Bem-aventurada Maria, a Mãe de nosso Senhor. No semestre passado preguei sobre José, o Tutor de Jesus. Neste ano, estou tendo a oportunidade de pregar sobre toda a família.
    A festa de Maria não é sobre Maria, mas sim sobre Jesus. Estamos honrando a Bem Aventurada Mãe do Senhor, sim, nós estamos. Mas, no entanto, em uma última instância estamos honrando o Cristo encarnado, o Cristo que está presente entre nós.
      O Evangelho que acabamos de ouvir está repleto de Cristo. Cristo em cada linha, em cada ponto. Nós cantamos na liturgia, “Santo, Santo, Santo Senhor dos Exércitos, céus e a terra estão cheios de sua glória.” O Evangelho é bom exemplo disto, do Cristo que preenche todo espaço, toda vida, todo coração. A Bem Aventurada Maria está repleta de Cristo, o Emanuel, o Deus conosco.
     O nosso texto é composto de dois blocos: 1º) A visita de Maria a Isabel e o 2º) Cântico de Maria. Cada detalhe, cada linha, cada vírgula é uma reação à presença física de Jesus: João Batista estremece no ventre de Isabel; Isabel, cheia do Espírito Santo, proclama Cristo e o Cântico de Maria. Repito, cada detalhe deste texto é a resposta à presença de Cristo. Aqui temos o primeiro responso litúrgico da ação de Deus. Aqui temos o primeiro texto litúrgico cristão da nova aliança.

     O primeiro ponto que quero destacar é a visita que Maria fez a Isabel. Nesta visita, Isabel, na presença de Cristo, o Deus que se encarna, o Deus conosco, diz: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre!
     Isabel proclama o Jesus que estava no ventre da bem-aventurada Maria. Sim, ela é bem aventurada, pois, carregou dentro de si a fonte de toda bem aventurança, a fonte de toda graça e de toda misericórdia.

     O segundo ponto que quero destacar é o cântico de Maria, “o Magnificat”. Podemos dividir o texto em duas estrofes: 1) Maria fala da ação de Deus sobre ela mesma; 2) Maria fala da ação de Deus sobre Israel.
     O cântico da Bem-aventurada Maria começa com um agradecimento a Deus. Maria diz: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador.” Maria tem motivos para agradecer a Deus.
     Ela engradece o Senhor “porque ele contemplou a humildade da sua serva.” Maria olha para si e vê quem ela é: “Uma mulher simples, pobre, uma humilde serva.” Ao ver quem ela era, ela pode ver com clareza quem Deus era e o que este Deus estava fazendo. Ao ter a real noção do que Deus estava fazendo ela exclama: “o Poderoso me fez grandes coisas.”
     A segunda estrofe, Maria exalta ação de Deus em favor de seu povo, a Abraão e toda a sua descendência. A chave desta ação está na misericórdia. Deus atua na história de seu povo por que “A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem.

     As nossas confissões aprovam e apontam  a honra para os santos. E fala em tríplice honra. A primeira honra é a ação de graças: demos graças a Deus por ter mostrado o mais nobre exemplo da graça de Deus para estimular a todo mundo a confiança, ao amor e ao louvor na graça divina. Maria é uma representação muito importante para a Igreja. Ela é uma representação de ti e de mim. Eu digo que Maria é representação, pois ela estava cheia, repleta de Cristo. A exemplo que aconteceu com Maria, você desde o Batismo está repleto de Cristo. Cristo está em de ti.
     A segunda honra é a confirmação de nossa fé: Deus é o mesmo, ontem, hoje e eternamente, por que em Deus  não pode existir variação ou sombra de mudança. O mesmo  Deus que contemplou e fez grandes coisas na vida de Maria é o mesmo Deus que te contempla e faz grandes coisas em tua vida. Ele é o teu Deus, é o teu Salvador.
     A terceira honra é a imitação, primeiro da fé, em seguida das demais virtudes: Maria foi a primeira cristã que temos registrada no Novo Testamento. Ela ouviu e confiou. Ela esteve com Jesus em momentos importantes de sua vida tanto antes de sua Ascensão, como depois. A Bem-Aventurada Maria, ouvi e confiou.

     Por isso meus caros irmãos, hoje nós celebramos a Festa da Bem-Aventurada Maria. No entanto, A festa de Maria não é sobre Maria, mas sim sobre Jesus, o Deus que se fez carne e habitou entre nós e em nós.
     Gostaria de concluir este sermão com as palavras de Lutero: “Ó bem-aventurada virgem e mãe de Deus, que grande consolo nos revelou Deus em ti por ter contemplado tão misericordiosamente tua indignidade e nulidade. Isso nos mostra que, de agora em diante, a teu exemplo, também não desprezará a nós pobres homens nulos, mas que nos contemplará com misericórdia.

     Que a Paz do Deus encarnado no ventre da Bem-aventurada Maria, guarde a tua mente e o teu coração para a vida eterna.

Elissandro Silva
Seminário Concórdia
São Leopoldo/RS
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Veja também a liturgia da Oração da Noite utilizada na Capela do Seminário Concórdia para a celebração desta data festiva.