02/11/2016

Orar pelos mortos?

"Dia de Finados" (1888), Jakub Schikaneder (1855–1924)
“Pastor, luteranos oram pelos mortos?” Se perguntássemos a muitos luteranos, eles responderiam com um simples e singelo “Não!” Além disso, creem firmemente que estão certos. Mas o fato é   que essa resposta está incorreta. Luteranos oram pelos mortos.

O ponto de vista luterano

No que diz respeito a Martinho Lutero e   seus companheiros reformadores, a questão das orações pelos fiéis defuntos   não era um grande problema. Eles presumiam que os cristãos em todos os   lugares lembravam os seus entes queridos em oração.
Por exemplo, Lutero em sua Confissão Sobre   a Santa Ceia de Cristo resume sua fé cristã, e nesta confissão ele inclui   orações pelos mortos.
O livro oficial da doutrina luterana, o   Livro de Concórdia, menciona que certo herege do século IV chamado Aério  disse que as orações pelos mortos eram inúteis. O Livro de Concórdia deixa   claro que “nós também não defendemos Aério” (Apologia da Confissão de   Augsburgo, Art. XXIV, 96).
Muitos dos grandes teólogos do período após a Reforma, como Martin Chemnitz e John Gerhard, e muitos livros de   Culto Luterano oficiais a partir deste período deram aprovação às orações pelos   fiéis defuntos.
Em nosso século, nos Estados Unidos, ambos   os livros de culto oficiais da Igreja Luterana - Sínodo de Missouri (Lutheran   Agenda, p. 84, 88, 91) e do Concílio Luterano Nacional (Service Book and Hymnal, p. 8) incluem os fiéis defuntos em suas orações. Somente em alguns livros   luteranos não oficiais e semi-oficiais é que as orações pelos mortos são   condenadas.  

Por que devemos orar?  

Há luteranos que desaprovavam as orações   pelos fiéis defuntos. Talvez uma razão pela qual sentem   legitimidade para fazer isso, seja o descuido do que é a oração. Não   oramos, como muitos acreditam, a fim de “mudar a mente de Deus” ou para fazê-lo   lembrar de alguma coisa que ele tenha esquecido. Pelo contrário, oramos para   que possamos lembrar que todas as coisas vêm de Deus. E no caso da  intercessão pelos mortos em particular, nós oramos a fim de que possamos   lembrar que Deus tem aos seus cuidados os nossos entes queridos que partiram.
Como luteranos, não oramos para os que   partiram saiam do purgatório, tampouco cremos que nossas orações alterem o   estado dos mortos. Ao invés disso, nossa intercessão são uma declaração de   nossa fé que Deus está concedendo paz e descanso aos fiéis defuntos.

A situação atual  

É verdade que muitos luteranos contemporâneos   não incluem os fiéis defuntos em suas orações. Na verdade, algumas literaturas   impressas sob auspício luterano têm declarado que não podemos orar pelos   mortos. Mas esta opinião é em grande parte devido à influência de   denominações não-luteranas na Igreja Luterana. Em geral, os reformados   acreditam que as orações pelos mortos são errôneas. Através dos séculos, muitos   luteranos têm copiado inadvertidamente algumas das ideias destas denominações   e, eventualmente, passam a crer que tais opiniões são luteranas. Devido a tais   influências externas, alguns luteranos têm sido levados a acreditar que as   orações para os fiéis defuntos são errôneas. Mas o ensino oficial   luterano nunca condenou as orações pelos fiéis defuntos.
Talvez a melhor maneira de explicar   como e por que orar pelos mortos seja parodiando o Catecismo Menor de   Martinho Lutero:  
Deus concede paz aos fiéis defuntos, na   verdade, sem a nossa prece, “mas suplicamos, nesta petição, que nos faça saber   e reconhecer isso com ações de graças”.  
Que as almas dos fiéis defuntos, pela   misericórdia de Deus, descansem em paz e que a perpétua luz resplandeça sobre   eles. Amém.

[Este tópico integra uma série de 30   folhetos do projeto Incarnate Word Tract Series, iniciado em 1959 pela Society   of the Incarnate Word, com o objetivo de promover o avivamento litúrgico e   sacramental na Igreja Luterana, informar sobre práticas litúrgicas e   pastorais abandonadas no início do século XX, explicar a doutrina e prática   da igreja, bem como encorajar e ensinar aqueles - mesmo luteranos - que não   estão familiarizados com esses tópicos. Atualmente este projeto é difundido pela Zion Evangelical-Lutheran Church de Detroit (EUA), uma congregação da   Igreja Luterana – Sínodo Missouri]

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