"Dia de Finados" (1888), Jakub Schikaneder (1855–1924) |
O ponto de vista luterano
No que diz respeito a Martinho Lutero e seus companheiros reformadores, a questão das orações pelos fiéis defuntos não era um grande problema. Eles presumiam que os cristãos em todos os lugares lembravam os seus entes queridos em oração.Por exemplo, Lutero em sua Confissão Sobre a Santa Ceia de Cristo resume sua fé cristã, e nesta confissão ele inclui orações pelos mortos.
O livro oficial da doutrina luterana, o Livro de Concórdia, menciona que certo herege do século IV chamado Aério disse que as orações pelos mortos eram inúteis. O Livro de Concórdia deixa claro que “nós também não defendemos Aério” (Apologia da Confissão de Augsburgo, Art. XXIV, 96).
Muitos dos grandes teólogos do período após a Reforma, como Martin Chemnitz e John Gerhard, e muitos livros de Culto Luterano oficiais a partir deste período deram aprovação às orações pelos fiéis defuntos.
Em nosso século, nos Estados Unidos, ambos os livros de culto oficiais da Igreja Luterana - Sínodo de Missouri (Lutheran Agenda, p. 84, 88, 91) e do Concílio Luterano Nacional (Service Book and Hymnal, p. 8) incluem os fiéis defuntos em suas orações. Somente em alguns livros luteranos não oficiais e semi-oficiais é que as orações pelos mortos são condenadas.
Por que devemos orar?
Há luteranos que desaprovavam as orações pelos fiéis defuntos. Talvez uma razão pela qual sentem legitimidade para fazer isso, seja o descuido do que é a oração. Não oramos, como muitos acreditam, a fim de “mudar a mente de Deus” ou para fazê-lo lembrar de alguma coisa que ele tenha esquecido. Pelo contrário, oramos para que possamos lembrar que todas as coisas vêm de Deus. E no caso da intercessão pelos mortos em particular, nós oramos a fim de que possamos lembrar que Deus tem aos seus cuidados os nossos entes queridos que partiram.Como luteranos, não oramos para os que partiram saiam do purgatório, tampouco cremos que nossas orações alterem o estado dos mortos. Ao invés disso, nossa intercessão são uma declaração de nossa fé que Deus está concedendo paz e descanso aos fiéis defuntos.
A situação atual
É verdade que muitos luteranos contemporâneos não incluem os fiéis defuntos em suas orações. Na verdade, algumas literaturas impressas sob auspício luterano têm declarado que não podemos orar pelos mortos. Mas esta opinião é em grande parte devido à influência de denominações não-luteranas na Igreja Luterana. Em geral, os reformados acreditam que as orações pelos mortos são errôneas. Através dos séculos, muitos luteranos têm copiado inadvertidamente algumas das ideias destas denominações e, eventualmente, passam a crer que tais opiniões são luteranas. Devido a tais influências externas, alguns luteranos têm sido levados a acreditar que as orações para os fiéis defuntos são errôneas. Mas o ensino oficial luterano nunca condenou as orações pelos fiéis defuntos.Talvez a melhor maneira de explicar como e por que orar pelos mortos seja parodiando o Catecismo Menor de Martinho Lutero:
Deus concede paz aos fiéis defuntos, na verdade, sem a nossa prece, “mas suplicamos, nesta petição, que nos faça saber e reconhecer isso com ações de graças”.
Que as almas dos fiéis defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz e que a perpétua luz resplandeça sobre eles. Amém.
[Este tópico integra uma série de 30 folhetos do projeto Incarnate Word Tract Series, iniciado em 1959 pela Society of the Incarnate Word, com o objetivo de promover o avivamento litúrgico e sacramental na Igreja Luterana, informar sobre práticas litúrgicas e pastorais abandonadas no início do século XX, explicar a doutrina e prática da igreja, bem como encorajar e ensinar aqueles - mesmo luteranos - que não estão familiarizados com esses tópicos. Atualmente este projeto é difundido pela Zion Evangelical-Lutheran Church de Detroit (EUA), uma congregação da Igreja Luterana – Sínodo Missouri]
Nenhum comentário:
Postar um comentário