29/09/2017

Canta BWV 19 - São Miguel e Todos os Anjos

Em 1726 J. S. Bach compôs a cantata "Es erhub sich ein Streit" (Entravou-se uma batalha), BWV 19, que foi executada no Dia de São Miguel daquele mesmo ano.



O texto da cantata é magnífico, pois traduzem uma verdade escriturística sem par:

Coro

Es erhub sich ein Streit.
Die rasende Schlange, der höllische Drache
Stürmt wider den Himmel mit wütender Rache.
Aber Michael bezwingt,
Und die Schar, die ihn umringt
Stürzt des Satans Grausamkeit.

        
Entravou-se uma batalha.
A raivosa serpente, o dragão infernal.
revolta-se contra o céu com furiosa vingança.
Pois Miguel o vence
E a multidão que o rodeia
Derruba a crueldade de Satanás.
                  
Recitativo [Baixo]

Gottlob! der Drache liegt.
Der unerschaffne Michael
Und seiner Engel
Heer Hat ihn besiegt.
Dort liegt er in der Finsternis
Mit Ketten angebunden,
Und seine Stätte wird nicht mehr
Im Himmelreich gefunden.
Wir stehen sicher und gewiss,
Und wenn uns gleich sein Brüllen schrecket,
So wird doch unser Leib und Seel
Mit Engeln zugedecket.

        
Graças a Deus! O dragão jaz.
O não gerado Miguel
e seu exército de anjos
o venceu.
Ali jaz na obscuridade
atado com correntes
e seu lugar jamais se encontrará
no reino dos céus.
Permanecemos seguros e a salvo
e se seus rugidos nos aterrorizam,
então nosso corpo e alma
são protegidos pelos anjos.
                  
Ária [Soprano]
    
Gott schickt uns Mahanaim zu;
Wir stehen oder gehen,
So können wir in sichrer Ruh
Vor unsern Feinden stehen.
Es lagert sich, so nah als fern,
Um uns der Engel unsers Herrn
Mit Feuer, Roß und Wagen.

        
Deus manda-nos a Mahanaim.
Tanto se marchamos como se ficamos,
poderemos estar na mais segura tranqüilidade
ante nossos inimigos.
descansaremos longe ou perto,
rodeados por anjos de nosso senhor
com fogo, cavalo e carro.
                  
Recitativo [Tenor]
    
Was ist der schnöde Mensch, das Erdenkind?
Ein Wurm, ein armer Sünder.
Schaut, wie ihn selbst der Herr so lieb gewinnt,
Dass er ihn nicht zu niedrig schätzet
Und ihm die Himmelskinder,
Der Seraphinen Heer,
Zu seiner Wacht und Gegenwehr,
Zu seinem Schutze setzet.

        
Que é o homem indigno, o ser humano?
Um verme, um pobre pecador.
Olhai, como o mesmo Senhor o ama,
como Ele não o põe tão baixo e o põe
com os filhos dos céus
e o exército dos serafins,
para seu cuidado e defesa,
para sua proteção.
                  
 Ária e Choral [Tenor]
    
Bleibt, ihr Engel, bleibt bei mir!
Führet mich auf beiden Seiten,
Dass mein Fuß nicht möge gleiten!
Aber lernt mich auch allhier
Euer großes Heilig singen
Und dem Höchsten Dank zu singen!

        
Fiquem anjos, Fiquem junto de mim!
Guia-me por toda parte,
que meu pé não escorregue!
Pois ensina-me também aqui
a cantar à vossa grandiosa santidade,
a cantar graças ao Altíssimo!
                  
Recitativo [Soprano]
    
Laßt uns das Angesicht
Der frommen Engel lieben
Und sie mit unsern Sünden nicht
Vertreiben oder auch betrüben.
So sein sie, wenn der Herr gebeut,
Der Welt Valet zu sagen,
Zu unsrer Seligkeit
Auch unser Himmelswagen.

        
Amemos a face
dos mansos anjos
e que com nossos pecados não
os afastemos ou os entristeçamos
que eles sejam nosso guia no céu
e nossa felicidade,
quando o senhor nos mande
dizer adeus ao mundo.
                  
Coral [S, C, T, B]
    
Laß dein' Engel mit mir fahren
Auf Elias Wagen rot
Und mein Seele wohl bewahren,
Wie Lazrum nach seinem Tod.
Laß sie ruhn in deinem Schoß,
Erfüll sie mit Freud und Trost,
Bis der Leib kommt aus der Erde
Und mit ihr vereinigt werde.

        
Que teu anjo caminhe comigo
no carro vermelho de Elias
e guarde segura a minha alma,
como Lázaro depois de sua morte.
Deixa-la descansar em teu seio,
enche-la com alegria e consolo
até que o corpo retorne a terra
e se reúna contigo.
                  
Tradução: Leonardo Santoa

Cantata BWV 149 - São Miguel e Todos os Anjos

Bach compôs a cantata "Man singet mit Freuden vom Sieg" (Vozes de júbilo cantam nas moradas dos justos), BWV 149, que foi executada pela primeira vez na Festa de São Miguel de 1729 (alguns estudiosos afirmam que foi um ano antes).

Esta monumental obra de Bach revela que a temática dos anjos e o próprio arcanjo Miguel sempre foram relevantes no Luteranismo, assim como também o eram na vida do piedoso luterano Bach.

O Coral conclusivo desta cantata é a terceira estrofe do hino luterano "Herzlich lieb hab ich dich, o Herr" (Hinário Luterano, 435: Eu te amo tanto, ó meu Senhor), composto pelo teólogo e reformador Martin Schalling em 1569. Esta estrofe também aparece no final da Paixão segundo São João e na Cantata 19. No entanto, nesta cantata o conjunto instrumental dá uma roupagem suntuosa à antiga melodia, pois aqui são as trombetas que dizem a última palavra, celebrando a vitória do arcanjo.

Segue o texto da estrofe em questão, conforme tradução de Martinho Lutero Hasse no Hinário Luterano:

Ordena aos anjos, ó Senhor,
que levem, quando eu morto for,
minha alma ao paraíso [seio de Abraão].
Na tumba aguarda o corpo meu
a tua vinda lá do céu
no dia do juízo.
Desperta-me da morte então,
que os olhos meus se alegrarão
ao ver-te, ó Filho de Deus Pai,
ó Redentor, que ao céu me atrai.
Ó Salvador,
vem me atender, vem me atender;
eu sempre te hei de bendizer.

Ach Herr, lass dein lieb Engelein
Am letzten End die Seele mein
In Abrahams Schoß tragen,
Den Leib in seim Schlafkämmerlein
Gar sanft ohn einge Qual und Pein
Ruhn bis am jüngsten Tage!
Alsdenn vom Tod erwecke mich,
Dass meine Augen sehen dich
In aller Freud, o Gottes Sohn,
Mein Heiland und Genadenthron!
Herr Jesu Christ, erhöre mich, erhöre mich,
Ich will dich preisen ewiglich!


14/09/2017

J. S. Bach - Cantata BWV 4 - Christ lag in Todesbanden

A Cantata BWV 4, Christ lag in Todes Banden (Cristo jazia sob mortalhas), é talvez uma das mais populares e conhecidas de todas as cantatas sacras de Bach. Escrita na mesma época da Cantata 106, é outro exemplo de uma cantata coral de Bach. A música coral foi escrita por Lutero e é baseada no canto medieval “Victimae paschali laudes”.

A Cantata 4 foi escrita para o Domingo de Páscoa. Pelo estilo, a obra parece ter sido escrita por volta de 1707-1708, e pode ser a composição vocal sacra mais antiga de Bach. Alguns sugerem que Bach a teria escrita como uma peça de audição para obter um posto na Blasiuskirche em Mühlhausen.



1


Sinfonia


1


Sinfonía
Violino I/II, Viola I/II e baixo contínuo
2
Versus 1 S A T B
2
Verso I: Coro [S, C, T, B]
Violino I/II, Viola I/II, trompa com sopranos, trombone I com contraltos, trombone II com tenores, trombone III com baixos e baixo contínuo
Christ lag in Todesbanden
Für unsre Sünd gegeben,
Er ist wieder erstanden
Und hat uns bracht das Leben;
Des wir sollen fröhlich sein,
Gott loben und ihm dankbar sein
Und singen halleluja,
Halleluja!
Cristo jazia sob mortalhas
Sacrificado por nossos pecados.
Ele ressuscitou
E nos trouxe a vida.
Por isso devemos nos alegrar,
Louvar a Deus e agradecer
E cantar
Aleluia!
3
Versus 2 S A
3
Verso II: Duo [Soprano e contralto]
Trompa com sopranos, trombone I com contraltos e baixo contínuo
Den Tod niemand zwingen kunnt
Bei allen Menschenkindern,
Das macht' alles unsre Sünd,
Kein Unschuld war zu finden.
Davon kam der Tod so bald
Und nahm über uns Gewalt,
Hielt uns in seinem Reich gefangen.
Halleluja!
Nada pode evitar a morte
Dos filhos dos homens.
Nossos pecados são a causa,
Não existia a inocência.
Por isso veio a morte tão rápida
E se apoderou de nós
Mantendo-nos cativos em seu reino.
Aleluia!
4
Versus 3 T
4
Verso III: Aria [Tenor]
Violino I/II e baixo contínuo
Jesus Christus, Gottes Sohn,
An unser Statt ist kommen
Und hat die Sünde weggetan,
Damit dem Tod genommen
All sein Recht und sein Gewalt,
Da bleibet nichts denn Tods Gestalt,
Den Stach'l hat er verloren.
Halleluja!
Jesus Cristo, Filho de Deus,
Veio até nos
E perdoou nossos pecados,
Retirando assim da morte
Todo o direito e o poder.
Nada mais pertence à morte,
Perdeu todo o seu Aguilhão.
Aleluia!
5
Versus 4 S A T B
5
Verso IV: Coro [S, C, T, B]
Baixo contínuo
Es war ein wunderlicher Krieg,
Da Tod und Leben rungen,
Das Leben behielt den Sieg,
Es hat den Tod verschlungen.
Die Schrift hat verkündigt das,
Wie ein Tod den andern fraß,
Ein Spott aus dem Tod ist worden.
Halleluja!
Foi uma estranha luta
Onde se combateram a morte e a vida.
A vida alcançou a vitória
Anulando a morte.
As escrituras têm proclamado
Como uma morte odiava a outra.
A morte se tornou ridícula.
Aleluia!
6
Versus 5 B
6
Verso V: Aria [Baixo]
Violino I/II, Viola I/II e baixo contínuo
Hier ist das rechte Osterlamm,
Davon Gott hat geboten,
Das ist hoch an des Kreuzes Stamm
In heißer Lieb gebraten,
Das Blut zeichnet unsre Tür,
Das hält der Glaub dem Tode für,
Der Würger kann uns nicht mehr schaden.
Halleluja!
Eis aqui o autêntico cordeiro pascal
Que deus ofereceu
E que sobe a cruz
E se enche de um ardente amor,
O sangue que marca nossas portas,
A fé que enfrenta a morte.
O inimigo não poderá conosco.
Aleluia!
7
Versus 6 S T
7
Verso VI: Duo [Soprano e tenor]
com baixo contínuo
So feiern wir das hohe Fest
Mit Herzensfreud und Wonne,
Das uns der Herre scheinen lässt,
Er ist selber die Sonne,
Der durch seiner Gnade Glanz
Erleuchtet unsre Herzen ganz,
Der Sünden Nacht ist verschwunden.
Halleluja!
Celebremos assim a grande festa,
Com alegria de coração e dos prazeres
Que o senhor nos concede
Ele mesmo é o sol
Que com o brilho de sua graça
Ilumina nosso coração.
A noite do pecado desapareceu
Aleluia!
8
Versus 7 S A T B
8
Verso VII: Coral [S, C, T, B]
Violino I/II e trompas com soprano, Viola I e trombone I com contraltos, Viola II e trombone II com tenor, Trombone III com baixo e baixo contínuo
Wir essen und leben wohl
In rechten Osterfladen,
Der alte Sauerteig nicht soll
Sein bei dem Wort der Gnaden,
Christus will die Koste sein
Und speisen die Seel allein,
Der Glaub will keins andern leben.
Halleluja!
Comamos e desfrutemos
Da devida ceia da páscoa.
A velha cerveja não deve
Estar junto da palavra de agradecimento,
Cristo será nosso alimento
E só ele saciará a nossa alma.
A fé não viverá de outro modo.
Aleluia!








Dia da Santa Cruz


Ó fronte ensanguentada! [HL 88]
  1. Ó fronte ensanguentada, / Ferida pela dor, / De espinhos coroada, / Marcada pelo horror! / Ó fronte, outrora ornada / De eterna glória e luz, / Agora desprezada / Adoro-te, Jesus! (Mc 15.16-20; Is 53.3)
  2. Ó rosto glorioso, / Que sempre fez tremer / O mundo poderoso, / Fizeram-te sofrer! / O quanto estás mudado! / O teu sublime olhar, / De tão atormentado, / Não vejo mais brilhar.
  3. O que tens suportado / Foi minha própria dor; / Eu mesmo sou culpado / De tua cruz, Senhor. / Oh! Vê-me, aflito e pobre: / Só ira mereci; / Com tua graça encobre / O mal que cometi! (Is 53.5)
  4. Pertenço ao teu rebanho, / Jesus, meu bom Pastor; / Senhor, favor tamanho / Provém do eterno amor. Do Verbo dos teus lábios / Eu sempre me nutri. / Os pensamentos sábios / Obtenho só de ti.
  5. Momentos de alegria /  E grande bem-estar, / Ó meu divino Guia, / Eu sinto ao meditar / No que por mim fizeste. / A fim de me remir / A própria vida deste. / É bom a ti seguir.
  6. Penhor tão precioso / Me vem da tua cruz! / Por este Dom gracioso / Te louvo, meu Jesus. / Concede fiel me apegue / A ti, no meu final, / E nunca te renegue, / Amigo sem igual. (Cl 1.20)
  7. Quando eu partir um dia, / Comigo vem estar. / Perfeita garantia / Na morte vieste dar. / Que toda a tua angústia / Me livre da aflição: / E o diabo e sua astúcia /Não mais me afligirão.
  8. Consola-me na morte, / Lembrando a tua dor; / És meu escudo forte, / Glorioso Vencedor. / Estando a contemplar-te, / Confiante vou dizer, / Feliz, ao abraçar-te: / Assim é bom morrer! (Ap 21.4)


O Haupt Voll Blut Und Wunden — Paul Gerhardt, 1656. Baseado no latino Salve Caput Cruentatum — Arnulf von Loewen (1200-1250). Melodia: Herzlich Tut Mich Verlangen — Hans Leo Hassler, 1601/ Sacro, Goerlitz, 1613.



06/09/2017

EU SOU O QUE SOU




Êxodo 3. 1-15



          Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!

          Moisés foi o primeiro dos grandes profetas para o povo de Israel. Nasceu no Egito em uma época de dura escravidão dos hebreus e para não ser morto pelo decreto do Faraó, sua mãe o colocou em um cestinho no rio Nilo. Foi intervenção Divina, Moisés ser encontrado pela filha do Faraó e adotado e criado como seu próprio filho. No entanto, a situação dos hebreus e a crueldade do Faraó revoltou Moisés, que chegou a assassinar um egípcio quando este maltratava um escravo. Por causa disso, se tornou um fugitivo e foi para o deserto. Novamente, por intervenção de Deus, ele é acolhido por um sacerdote midianita chamado Jetro, o qual deu sua filha a Moisés em casamento. Desse modo, Moisés inicia uma nova etapa em sua vida, passa a ser pastor de ovelhas e tem uma vida normal junto a sua família. No entanto, certo dia, quando apascentava o rebanho de seu sogro no Monte Sinai, o Monte de Deus, algo extraordinário acontece: o próprio Deus aparece para Moisés em meio a um arbusto em chamas, mas que não se consumia.

          O Anjo do SENHOR estava diante de Moisés no meio daquela sarça que não se consumia. Moisés se aproxima e então Deus fala com ele: “Moisés! Não te chegues para cá, tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (Êxodo 3. 4-5). Moisés ouve a Voz do SENHOR! Este é um detalhe que não pode passar desapercebido: assim como hoje o SENHOR vem a nós e fala conosco através de sua Palavra, lá no Monte Sinai foi a Palavra de Deus que chega até Moisés. Não é uma revelação especial que temos diante de nós aqui neste texto, mas um homem ouvindo a Palavra do SENHOR.

          Um segundo detalhe que chama a nossa atenção ao ler este texto é ver de forma clara o Anjo de SENHOR sendo identificado como o próprio Deus. Esta identificação precisa ser lida a luz de toda a Sagrada Escritura, que nos ensina que Jesus Cristo – o Filho de Deus – é a revelação do SENHOR. O Evangelho segundo São João 1.18 expressa isso de maneira direta: “Ninguém jamais viu a Deus; o Filho Unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou”. Assim, fica claro que é o Filho de Deus pré-encarnado que aqui aparece diante de Moisés e fala com ele. O Antigo Testamento não fala de um Deus ruim, enquanto que o Novo fala de um Deus mais bondoso – toda a Escritura aponta e fala de Jesus!

          Um terceiro detalhe é o fato de Deus pedir para Moisés tirar as sandálias dos pés por agora estar numa terra santa. Na cultura do Antigo Oriente Próximo, os calçados estavam associados com sujeira e impureza e naquele momento, Moisés estava em uma terra santa – não santa por si só – mas sim, por causa da presença do SENHOR. Da mesma forma, hoje precisamos ter reverência diante do Altar – aqui se dá a presença do SENHOR de forma concreta para nós, na Palavra e nos Sacramentos – aqui também é terra santa!

          Deus diz mais a Moisés: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó... Eu vi a aflição do meu povo, ouvi o seu clamor, conheço o seu sofrimento e desci a fim de libertá-los e leva-los a uma boa terra, terra que mana leite e mel” (Êxodo 3.6-8). Que doce Palavra para se ouvir, Deus não havia esquecido da sua Promessa e do seu povo, mas continuava sendo o Deus deles e agora estava preste a leva-los para a Terra Prometida.

          Para Moisés estas foram grandiosas palavras e ao mesmo tempo chocantes, pois em seguida o SENHOR disse que ele seria enviado até o Faraó para libertar o povo de Israel. Por isso, ele indaga: “Quem sou eu?” (Êxodo 3.11). Realmente, diante de tudo aquilo Moisés não era nada e nem poderia ser, porém diz o SENHOR: “Eu serei contigo!” (Êxodo 3.12). A libertação do povo hebreu não estava nas mãos de Moisés, ele era o instrumento que o próprio Deus – o autor da libertação – estava usando para cumprir sua Promessa.

          Agora chegamos ao clímax do texto, quando Moisés pergunta qual o Nome ele deveria dizer quando for perguntado, no Egito, sobre quem o enviou. A esta pergunta Deus responde: “EU SOU O QUE SOU! EU SOU me enviou!” (Êxodo 3.14). YHWH. Traduzido em nossas Bíblias por SENHOR, com todas as letras maiúsculas. Uma tradução que muito bem podemos usar, mas não deveríamos no esquecer do real Nome de Deus YHWH – pois este define quem é e sua singularidade, afinal, não há ninguém como o Deus verdadeiro.

          É nesta confiança e certeza – de que não há ninguém como Deus, nem mesmo o Faraó – que Moisés é enviado para o Egito. A Palavra de Deus, a sua Voz, criou esta confiança e certeza em Moisés e o encaminhou para o ser o instrumento que o próprio Deus usaria para libertar o seu povo. A aparição de Deus a Moisés pelo Fogo e pela Palavra foi extraordinário e de sua importância, como explica o bem-aventurado Martinho Lutero: “Sem a Palavra de Deus não podemos ter Deus” (AE 13.386).

Sem a Palavra de Deus Moisés não seria enviado, não confiaria na Promessa e não poderia ser o instrumento que foi. Assim também se aplica para nós hoje. O que era verdadeiro para Moisés é verdadeiro para nós também. Deus está presente e fala conosco através de sua Palavra; ele nos lava com água simples unida a sua Palavra; ele nos conforta através de um ministro que absolve com a sua Palavra; ele se relaciona conosco por meio de um banquete de pão e vinho, mas que pelo poder de sua Palavra, é seu Corpo e Sangue que nos concede perdão, vida e salvação. Sem a Palavra de Deus não há esperança para nós, sem a Palavra de Deus não há ação de Deus em nós ou através de nós, sem a Palavra de Deus não há salvação, promessa ou Terra prometida para nós. Portanto, lembremos e nos apeguemos ao que Jesus certa vez disse: “As Palavras que eu tenho dito são Espírito e são Vida” (São João 6.63).

Amém!



Rev. Helvécio José Batista Júnior

Ministro do SENHOR nas Igrejas Luteranas “Bom Pastor” e “Cristo Rei” em Cariacica/ES

No dia do santo profeta Moisés, 2017 AD