O Evangelho de nosso Senhor segundo S. Lucas 24: 36-53
Despedidas
normalmente não são agradáveis, e muitas vezes nos entristecem e nos fazem
chorar. Mudanças repentinas, perdas, distâncias. Quando alguém amado se vai, o
coração automaticamente associa a partida com a ausência e o fim. E isso
machuca.
Agora pensem
comigo: os discípulos passaram três anos com Jesus. Viram os milagres, ouviram
as palavras de vida eterna, foram chamados de amigos. Depois, viram seu Senhor
ser preso, açoitado, crucificado. Sentiram o luto mais profundo. Mas então, ele
ressuscitou. Voltou! E, por quarenta dias, lhes apareceu vivo. Eles o viram, o
tocaram, comeram com ele. A esperança havia renascido. Mas, agora ele sobe. Ele
é elevado diante dos olhos deles. E uma nuvem o encobre.
Não seria
esse mais um momento de perda? Não seria a Ascensão o fim de sua presença entre
nós? Observe com atenção o que acontece no relato da Ascensão: Jesus não
simplesmente “vai embora”. Ele é
elevado à vista deles, e uma nuvem o encobre. E aqui há algo precioso: essa
nuvem não é um véu de ausência, mas um sinal da presença. Não é o fechamento de
uma porta, mas a abertura de uma realidade maior.
Como assim?
Ora, lembrem-se: no Antigo Testamento, a nuvem sempre foi sinal da presença do
Senhor. Era assim no deserto, quando uma coluna de nuvem guiava Israel. Era
assim no Templo, quando a nuvem enchia a Casa do Senhor. A nuvem significava:
Ele está aqui. Invisível, sim. Mas presente. Realmente presente.
Portanto,
quando Jesus é envolto pela nuvem, ele não está indo embora, no sentido de
estar deixando ou se distanciando dos seus. Ele está sendo ocultado aos nossos
olhos, mas não ao nosso coração. Pois agora, ele está presente de uma nova
maneira, mais profunda e mais acessível.
E onde ele
está? A resposta é clara: Ele está onde prometeu estar. Está em sua Palavra,
viva e eficaz. Está na Absolvição, que nos lava dos pecados. Está no Santo
Batismo, onde nos une a sua morte e ressurreição. E está de um forma sublime e
singular na Santa Ceia, onde o seu verdadeiro corpo e o seu verdadeiro sangue
nos são dados para perdão, vida e salvação.
É isso que
os olhos não podem ver, mas a fé crê com certeza: o Senhor ascendido enche
todas as coisas, e está conosco nos Meios da Graça. A Ascensão, portanto, não é
a partida do Senhor. É o seu modo glorificado de estar presente em todos os
lugares onde a sua Igreja se reúne em seu nome.
Notem o que
Lucas diz: “Eles voltaram para Jerusalém com
grande alegria.” Estranho, não? Se Jesus tivesse partido, se a
Ascensão fosse uma despedida definitiva ou um distanciamento, não seria momento
de tristeza? Mas eles se alegram. Por quê? Porque agora entendem: Jesus reina
no céu, mas age na terra. Ele está à direita do Pai, mas caminha conosco. Ele
está oculto numa nuvem, mas presente no altar. E é por isso que, inclusive, o
Evangelho termina lembrando que os discípulos, após a Ascensão, “estavam sempre no templo, louvando a Deus”.
A Ascensão
de Cristo, portanto, é uma boa notícia. Não é o fim da comunhão com ele. Cristo
subiu ao céu não para estar longe, mas para trazer o céu até nós. Agora, cada
vez que ouvimos a sua Palavra, cada vez que o seu nome é invocado, cada vez que
nos reunimos em torno de seu Sacramento – cada vez que estamos em seu templo – o
céu se aproxima.
Por isso,
olhar para o céu e elevar os corações, é simplesmente fixar os olhos na Palavra
e nos Sacramentos, e buscar de coração estar junto daquele que mesmo ascendido
ao céu, está presente entre nós através dos Meios da Graça.
E, sim, um
dia o veremos de novo, com os olhos da carne. E naquele dia, a fé dará lugar à
visão, a esperança se tornará alegria eterna, e a comunhão que hoje é
sacramental será plena e gloriosa. Mas até lá, não chore a ausência dele. Viva
a sua presença. Porque mesmo oculto, ele está aqui. Mesmo invisível, ele reina.
E mesmo sem o vermos com nossos olhos físicos, nós o recebemos e somos
recebidos por ele: em cada Palavra pregada, em cada perdão anunciado, em cada
Pão e Vinho consagrados.
Então,
alegrem-se! A nuvem não é escuridão, é glória. A ascensão não é partida, é
presença. O céu não está longe, está aqui. E o Senhor, o nosso Senhor, está
verdadeiramente conosco.
Amém.
 
Rev.
Helvécio J. Batista Jr.
A Ascensão de nosso Senhor, 2025 AD
www.instagram.com/rev_helveciojr