31/03/2014

Comemoração do Santo Patriarca José - 31 de março

“José e a mulher de Potifar” (1854), Antonio Maria Esquivel (1806–1857)

José era filho do patriarca Jacó (comemorado em 5 de fevereiro) e Raquel. Sendo filho favorito de seu pai, foi alvo do ciúme de seus irmãos mais velhos, que o venderam como escravo, justificaram o seu desaparecimento alegando que José havia morrido (Gênesis 37). No Egito, José tornou-se o servo chefe na casa de Potifar, um oficial de Faraó, comandante da guarda. Devido a recusa de José em cometer adultério com a esposa de Potifar, foi acusado injustamente de tentativa de estupro e lançado na prisão (Gênesis 39). Anos depois, ele interpretou os sonhos para o faraó que o libertou da prisão e o colocou no encargo de todo o país. Quando os seus irmãos vieram de Canaã para o Egito na busca de comida, eles não reconheceram José. Ele finalmente revelou sua identidade para seus irmãos, perdoando e os convidando para que eles e seu pai para que fossem morar no Egito. O Patriarca José é especialmente lembrado e honrado por sua retidão moral (Gênesis 39) e por sua disposição em perdoar os seus irmãos (Gênesis 45 e 50). —  LCMS Worship - Commemoration Biographies

ORAÇÃO DO DIA:

Deus Todo-poderoso, cercaste-nos com uma grande nuvem de testemunhas. Concede que nós, encorajados pelo bom exemplo de teu servo José, perseveremos em correr a carreira que nos está proposta, até que possamos junto com ele alcançar a tua alegria eterna; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

30/03/2014

Evangelho Dominical – Quarto Domingo na Quaresma (Ano A)


Evangelho segundo S. João 9.1-41

9.1 Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença.
9.2 E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?
9.3 Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.
9.4 É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.
9.5 Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.
9.6 Dito isso, cuspiu na terra e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego,
9.7 dizendo-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que quer dizer Enviado). Ele foi, lavou-se e voltou vendo.
9.8 Então, os vizinhos e os que dantes o conheciam de vista, como mendigo, perguntavam: Não é este o que estava assentado pedindo esmolas?
9.9 Uns diziam: É ele. Outros: Não, mas se parece com ele. Ele mesmo, porém, dizia: Sou eu.
9.10 Perguntaram-lhe, pois: Como te foram abertos os olhos?
9.11 Respondeu ele: O homem chamado Jesus fez lodo, untou-me os olhos e disse-me: Vai ao tanque de Siloé e lava-te. Então, fui, lavei-me e estou vendo.
9.12 Disseram-lhe, pois: Onde está ele? Respondeu: Não sei.
9.13 Levaram, pois, aos fariseus o que dantes fora cego.
9.14 E era sábado o dia em que Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos.
9.15 Então, os fariseus, por sua vez, lhe perguntaram como chegara a ver; ao que lhes respondeu: Aplicou lodo aos meus olhos, lavei-me e estou vendo.
9.16 Por isso, alguns dos fariseus diziam: Esse homem não é de Deus, porque não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tamanhos sinais? E houve dissensão entre eles.
9.17 De novo, perguntaram ao cego: Que dizes tu a respeito dele, visto que te abriu os olhos? Que é profeta, respondeu ele.
9.18 Não acreditaram os judeus que ele fora cego e que agora via, enquanto não lhe chamaram os pais
9.19 e os interrogaram: É este o vosso filho, de quem dizeis que nasceu cego? Como, pois, vê agora?
9.20 Então, os pais responderam: Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego;
9.21 mas não sabemos como vê agora; ou quem lhe abriu os olhos também não sabemos. Perguntai a ele, idade tem; falará de si mesmo.
9.22 Isto disseram seus pais porque estavam com medo dos judeus; pois estes já haviam assentado que, se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da sinagoga.
9.23 Por isso, é que disseram os pais: Ele idade tem, interrogai-o.
9.24 Então, chamaram, pela segunda vez, o homem que fora cego e lhe disseram: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador.
9.25 Ele retrucou: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego e agora vejo.
9.26 Perguntaram-lhe, pois: Que te fez ele? como te abriu os olhos?
9.27 Ele lhes respondeu: Já vo-lo disse, e não atendestes; por que quereis ouvir outra vez? Porventura, quereis vós também tornar-vos seus discípulos?
9.28 Então, o injuriaram e lhe disseram: Discípulo dele és tu; mas nós somos discípulos de Moisés.
9.29 Sabemos que Deus falou a Moisés; mas este nem sabemos donde é.
9.30 Respondeu-lhes o homem: Nisto é de estranhar que vós não saibais donde ele é, e, contudo, me abriu os olhos.
9.31 Sabemos que Deus não atende a pecadores; mas, pelo contrário, se alguém teme a Deus e pratica a sua vontade, a este atende.
9.32 Desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença.
9.33 Se este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito.
9.34 Mas eles retrucaram: Tu és nascido todo em pecado e nos ensinas a nós? E o expulsaram.
9.35 Ouvindo Jesus que o tinham expulsado, encontrando-o, lhe perguntou: Crês tu no Filho do Homem?
9.36 Ele respondeu e disse: Quem é, Senhor, para que eu nele creia?
9.37 E Jesus lhe disse: Já o tens visto, e é o que fala contigo.
9.38 Então, afirmou ele: Creio, Senhor; e o adorou.
9.39 Prosseguiu Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos.
9.40 Alguns dentre os fariseus que estavam perto dele perguntaram-lhe: Acaso, também nós somos cegos?
9.41 Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado.

- Bíblia Sagrada J. F. de Almeida Revista e Atualizada (SBB)

29/03/2014

O cego de nascimento


O gênero humano está representado neste cego, e esta vem pelo pecado do primeiro homem, de quem todos descendemos. É, pois, um cego de nascimento. O Senhor cuspiu na terra e com a saliva fez lama, 'porque o Verbo se fez carne' (Jo 1.14). Colocou a lama nos olhos do cego de nascimento. Teria posto a lama e ainda não enxergava, porque quando a colocou, possivelmente o fez catecúmeno. O enviou à piscina que se chama Siloé, porque foi batizado em Cristo, e foi então quando o iluminou. Tocava ao Evangelista o dar-nos a conhecer o nome  desta piscina, e por isso disse: 'Que quer dizer Enviado', porque se Aquele não houvesse sido enviado, ninguém de nós haveria sido absolvido do pecado"

-- Santo Agostinho de Hipona (354-430), pastor e teólogo, In Iohannis evangelium tractatus 44, 1,2

28/03/2014

A luz veio sem ter sido pedida

“A Cura do Homem Nascido Cego” (1307/8-11), Duccio di Buoninsegna (1255-Siena)

Aquele que “ao vir ao mundo, todo o homem ilumina” (Jo 1.9) é o verdadeiro espelho do Pai. Cristo vem ao mundo como imagem fiel do Pai (Hb 1.3) e anula a cegueira dos que não veem. Cristo, vindo dos céus, vem ao mundo para que toda a carne o veja […]; mas o cego não podia ver a Cristo, espelho do Pai […]. Cristo abriu essa prisão; descerrou as pálpebras do cego, que viu em Cristo o espelho do Pai […].
O primeiro homem havia sido criado como um ser luminoso; mas achou-se cego, depois que se afastou da serpente. Cego que veio a renascer quando passou a crer. […] O cego de nascença estava sentado […] sem pedir a nenhum médico uma pomada que lhe curasse os olhos. […] Chega o artesão do universo e reflete a imagem no espelho. Vê a miséria do cego ali sentado, a pedir esmola. Que milagre é a força de Deus! Ela cura o que vê, ilumina quem visita […].
Ele, que criou o globo terrestre, abriu agora estes globos cegos […]. O oleiro que nos modelou (Gn 2.6; Is 67.7) viu estes olhos vazios […]; tocou neles, misturando a sua saliva com um pouco de terra, e, ao aplicar essa lama, formou os olhos do cego […]. O homem é feito de argila; a pomada, de lama […]; a matéria que primeiro servira para formar os olhos, veio depois a curá-los. Que prodígio é maior: criar o globo do sol ou recriar os olhos do cego de nascença? No seu trono, o Senhor fez brilhar o sol; ao percorrer as praças públicas da Terra, permitiu ao cego a visão. A luz veio sem ter sido pedida, e sem quaisquer súplicas o cego foi libertado da sua enfermidade de nascença.

-- Homilia escrita no norte de África no séc. V ou VI, atribuída a Fulgêncio de Ruspe (468-533), PL 65, 880

27/03/2014

Quarto Domingo na Quaresma – 30 de março de 2014 (Ano A)


Através da sua Palavra do Evangelho, Jesus nos chama das trevas para a sua maravilhosa luz

O Senhor está angustiado pela cegueira espiritual de seu povo, mas em misericórdia, não os desampara. Ele refreia a sua ira e mantém a sua paz, até abrir os olhos e ouvidos do seu povo para ouvi-lo e vê-lo. “Por amor da sua própria justiça”, ele engrandece a sua Palavra e a faz gloriosa na vinda de Cristo Jesus (Is 42.21). Jesus torna “as trevas em luz perante eles” (Is 42.16), pois ele é "a luz do mundo" (João 9.5). O Filho de Deus encarnado faz as obras de seu Pai e manifesta a glória divina em sua própria carne “enquanto é dia”, até aquela noite “quando ninguém pode trabalhar” (João 9.4). Pela lavagem da água com a sua Palavra, ele abre os olhos do cego e concede repouso ao cansado. Por essa razão, ainda que “outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor” (Ef 5.8). Através de nosso batismo em Cristo, vivemos no dia eterno de sua Ressurreição, no qual ele resplandece sobre nós. Todas as vezes que caímos de volta nas trevas do pecado, ele nos chama pelo Evangelho: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos” (Ef 5.14).

Cor litúrgica: Roxo

LEITURAS:

† Antigo Testamento: Isaías 42.14-21
† Salmo: Salmo 142 (antífona v. 5)
† Epístola: Efésios 5.8-14
† Santo Evangelho: S. João 9.1-41 ou João 9.1-7, 13-17, 34-39

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso Deus, nosso Pai celestial, tuas misericórdias são novas a cada manhã; e apesar de merecermos somente punição, nos recebes como teus filhos e atendes todas as nossas necessidades, do corpo e da alma. Concede que reconheçamos de coração a tua bondade misericordiosa, dando graças por todos os teus benefícios e servindo-te de boa vontade; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

26/03/2014

Estudo dos Próprios e Homilia da Festa da Anunciação de Nosso Senhor

"Anunciação" (1472–1475), Leonardo da Vinci (1452–1519)
Contexto litúrgico

A Anunciação é uma festa cristológica de suma importância, observada em toda a sua plenitude na Quaresma, quando a Igreja se prepara para a Semana Santa. Isto nos ensina que mesmo em meio à morte, há vida. Entretanto, a Anunciação não deveria ser observada durante Semana Santa ou no Dia da Páscoa (ou também no Quinto Domingo na Quaresma na série anual).
Neste ano de 2014, a Anunciação cairá numa terça-feira da terceira semana na quaresma, portanto, a Anunciação do Senhor pode ser celebrada dentro do período quaresmal. Na Paróquia “Unidos em Cristo” de Ponta Grossa, a data será celebrada na quarta-feira, dia 26, na Congregação Cristo para Todos e na quinta-feira, dia 27, na Congregação Paz. Estes são os dias que, no período quaresmal, ocorrem os cultos quaresmais no meio da semana.

Leituras do dia

  • Salmo 45.7-17: O salmo 45 é um salmo que celebra o casamento do rei ideal com sua noiva. Os versículos 7-17 descrevem a noiva. Cristo, o rei, doou-se a fim de que ornasse a noiva, a Igreja, com a mais fina das joias, a saber, o perdão dos pecados, a vida e a salvação eterna (Notas da The Lutheran Study Bible, p. 889). O plano da salvação está em desenvolvimento desde Gênesis 3.15, mas é na anunciação que o Verbo se fez carne.
  • Isaías 7.10-14: Inicialmente a mensagem era destinada ao rei Acaz, no entanto, tal mensagem tem conteúdo messiânico e tem sido aplicado a forma sobrenatural que o Verbo de Deus entraria neste mundo. O nome desta criança seria Emanuel, que significa Deus conosco.
  • Hebreus 10.4-10: Encontramos, em Hebreus, um texto pré-encarnação. Jesus fala que Deus preparou um corpo para Ele a fim de que Ele realizasse a vontade de Deus e por seu corpo purificasse os pecados.
  • Lucas 1.26-38: O anjo Gabriel anuncia a Bem-aventurada Virgem Maria o nascimento de Jesus Cristo. E ela responde em fé, colocando-se à disposição dos santos planos de nosso Deus. 


Pontos variáveis da liturgia
(Culto Luterano  - Lecionários. Porto Alegre: Concórdia Editora, 2009, p. 320-321.)

     Introito: O introito é ação de graças e louvor por aquilo que Deus está fazendo e convite para o leitores anunciem a grandeza de Deus e o louvem.
     Coleta do dia: A coleta é uma suplica para que Deus cumpra a promessa da vida eterna, ressurreição, assim como ele prometeu que enviaria o seu Filho e na anunciação Ele a cumpriu.
     Gradual: O gradual é composto de dois versículos do Salmo 45, sendo que nestes textos nos é descrito como é o reino do Messias, do Salvador Jesus Cristo.
     Verso: São previsto dois versos, um para o tempo fora do tempo de quaresma e um para o tempo de quaresma. O verso para fora do tempo de quaresma é final da perícope, Lucas 1.38, onde consta a resposta da bem-aventurada Maria colocando-se nas mãos de Deus para que se cumpra nela a vontade de Deus; este verso é ladeado por aleluias. Quando a celebração ocorre dentro da quaresma, onde de preferência se omite os aleluias, o verso é parte do Magnificat.

Estudo do texto
   
     O Evangelho para o dia da anunciação do Senhor é uma mesa tão vasta que em cada versículo seria suficiente para fazer um sermão com o mais puro e límpido Evangelho.
     Versículo 26: o texto faz referência a seis meses, mas está referência é relacionada ao tempo de gravidez da Isabel, prima de Maria, mãe de João Batista. O texto fala que o anjo Gabriel veio da parte de Deus. Essa frase é importante, pois, ressalta a veracidade do texto. O anjo não veio trazer qualquer mensagem, mas ele veio revelar a mensagem que tem como fonte o próprio Deus. Apesar muitos considerarem tal relato indigno de confiança, nós acreditamos, pois, é a Palavra de Deus.
     Versículo 27: O anjo Gabriel, portador da mensagem que veio de Deus, tem um endereço bem definido. Ele veio anunciar a mensagem de Deus a uma jovem virgem que era prometida para um varão da casa do rei Davi.
     Versículo 28 e 29: O anjo se apresenta a Maria e lhe saúda com lindas palavras: O Senhor é contigo. Tal saudação a deixou receosa e pensativa sobre qual seria o significado de tal saudação.
     Versículo 30: Diante desta hesitação de Maria, o anjo retoma a palavra de uma forma bem direta, tanto é que o termo usado é imperativo, para de ter medo. E o anjo começa a descrever por que ela não precisa ter medo, pois, ela tem a graça de Deus pairando sobre si.
     Versículo 31-33: O anjo continua descrevendo no que consistia esta graça que ela achou diante os olhos de Deus. Ela daria luz ao Messias, ao prometido de Gênesis 3.15. O fruto do ventre de Maria é o Filho do Altíssimo, o herdeiro do trono de Davi e seu reino não terá fim.
     Versículo 34:  Maria pergunta como ela ficaria grávida, pois, ela não tinha nenhum relacionamento com nenhum homem? No versículo 35: temos a explicação de como isto aconteceria, pois, Deus Espírito Santo estaria sobre ela. Deus, na história humana, esteve sempre presente, mas desta vez estaria de uma forma muita especial. Jesus, o Verbo de Deus, fez-se carne, fez-se um de nós.
     Versículo 36-37: O anjo fala a Maria que a sua prima Isabel estava grávida, pois, para Deus não existe nada de impossível. O anjo cita o exemplo de Isabel que da mesma forma estava grávida era sobrenatural, assim seria a gravidez de Maria.
     Versículo 38: aqui temos a resposta de Maria, resposta de fé, onde ela se coloca nas mãos de Deus para fazer conforme as palavras expressadas pelo anjo Gabriel.

Aspectos homiléticos

     Lei: O texto é mais doce e puro Evangelho, mas a aspecto da Lei seria a própria condição humana que levou a Deus anunciar e levar a cabo a encarnação de Jesus Cristo, o verbo de Deus que se fez carne, conforme primeiro capítulo do Evangelho de João.
     Evangelho: O Evangelho é ação de Deus em levar a cabo seu plano que fora anunciado desde Gênesis 3.15.
     Objetivo: Demonstrar de como os textos da anunciação podem nos preparar para melhor celebrar a Páscoa de nosso Senhor Jesus Cristo, pois, este é o objetivo do período quaresmal.
     Tema: Anunciação é mais pura obra de nosso Deus

HOMILIA:

Anunciação é mais pura obra de nosso Deus

Que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e comunhão com o Espírito Santo sejam convosco.

     Meus caros irmãos, prezados amigos! Creio que alguns de vocês já devem ter ido em algum buffet, restaurante, festa e que a primeira visão foi a quantidade de coisas saborosas a tua disposição. Nestas festas, nos são apresentados tantos pratos que é impossível experimentar todos. Eu digo que os textos para o dia da anunciação são uma mesa tão vasta que não tem como abordar todos os pontos possíveis.
     No entanto, gostaria de fazer alguns destaques. Uma das coisas que gostaria de enfatizar é que em todos os textos, o nosso Deus está atuando de forma direta. A ação humana é deixada de lado, para ressaltar a obra de Deus vindo em nossa direção.
     Na leitura do Antigo Testamento vemos a profecia proferida por Isaías sobre um menino que nasceria de uma virgem. Nenhum homem foi pedir um Salvador, nenhum homem foi orientar a Deus como deveria fazer, mas Deus, na sua imensa vontade de nos salvar, fala-nos que o nascimento do Messias seria de forma surpreendente.
     Se relembrarmos a leitura de Hebreus, veremos que a encarnação de Jesus Cristo tem um objetivo específico: “E, porque Jesus Cristo fez o que Deus quis, nós somos purificados do pecado pela oferta que ele fez, uma vez por todas, do seu próprio corpo.” (Hb 10.10).
     O evangelho trata da concepção virginal de Maria, o cumprimento das promessas que Deus havia feito. Deus promete, cumpre, pois, em Deus não existe variação e sombra de mudança. O texto tem muitas verdades importantes, mas especialmente, tem uma verdade que se destaca: o ‘Deus Conosco’.
Mas como pode Maria, uma virgem, conceber um bebê? O ‘Deus Conosco’ se encarnou dentro do ventre de Maria por que o Espírito Santo desceu sobre ela. E para Deus Espírito Santo não existe nada de impossível.
     O mesmo Espírito Santo que estava no princípio da criação, esteve com Maria garantido que Jesus fosse gestado em seu ventre. Este mesmo Espírito Santo está com cada um de nós. Este mesmo Espírito Santo cria a fé em nossos corações. Este mesmo Espírito Santo nos mantém na verdadeira fé. Pois, para Ele nada é impossível.
     Como a Anunciação de Nosso Senhor pode nos ajudar na preparação para Páscoa?

  1. Jesus se encarnou com objetivo bem específico, para que com sua vida, morte, ressurreição e Ascensão nos desse vida e vida eterna.  
  2. Podemos olhar para a vida de Maria. Ela achou graça diante os olhos de Deus, mas essa graça não a isentou de sentir medo, de ficar com dúvida em relação as palavras do anjo. O anjo disse: “não temas; porque achaste graça diante de Deus.” Deus também diz as mesmas palavras para ti: “Não temas, pois, através de Jesus, tu achaste graças diante meus olhos.”
  3. Assim como Maria estava debaixo da proteção do Espírito Santo, nós também estamos. O ‘não temas’ também é para nós. Não temas, pois, desde o teu Batismo, Deus Espírito Santo está sobre ti todos os dias da tua vida. 
  4. Maria se colocou à disposição de Deus para que Ele fizesse segundo a sua vontade e querer. Que nos também tenhamos este mesmo coração da Bem-aventurada virgem Maria.

     Meus caros irmãos, irmãs, como a anunciação pode nos auxiliar a nos preparar para a Páscoa? Os textos nos apontam para a encarnação do verbo, o Deus que se fez carne a fim de com a sua morte você tenha vida e vida eterna. Confie em Jesus como teu único Salvador, pois o Senhor se encarnou, se fez carne, fez se homem com o objetivo de nos salvar. Amém.

Que a Paz de Deus excede todo humano entendimento, guarde as vossas mentes e corações para a vida eterna. Amém.


Rev. Elissandro da Silva
Paróquia “Unidos em Cristo” - Ponta Grossa/PR


25/03/2014

Anunciação de Nosso Senhor


Louvado sejas, ó Jesus, 
que encarnaste Luz de Luz, 
na mãe bendita e virginal; 
exulta o coro celestial 
Kyrieleis!

Hino 35, estrofe 1 (Hinário Luterano)
Gelobet seist du, Jesu Christ
Autor: Martinho Lutero (1524)
Tradução: Theodor Reuter
Melodia: Alemanha, séc. XV/Wittenberg (1524)

Festa da Anunciação de Nosso Senhor - 25 de março

“A Anunciação” (1859), Auguste Pichon (1805-1900)

O anjo Gabriel aparece a Maria e anuncia que Deus mostrou seu favor para com ela e vai usá-la como meio para o nascimento do Messias. Então, Maria concebe Jesus quando o anjo diz: "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra" (Lucas 1.35). Este mesmo Espírito que se movie sobre a face das águas e gerou a criação (Gênesis 1.2) agora vai mover sobre as  águas do ventre de Maria para conceber o Redentor da criação. Quando o Espírito Santo vem sobre Maria, ela concebe Jesus “através de sua audição” (como diz Martinho Lutero). Aquele que é concebido é chamado Santo, o Filho de Deus. Este é o momento da encarnação de nosso Senhor. A data da Anunciação cai em 25 de março, porque a Igreja Antiga cria que a crucificação ocorreu nessa data. Na antiguidade, as pessoas vinculavam o dia da concepção de uma pessoa com o dia de sua morte. Assim, na Anunciação, a Igreja juntou tanto a encarnação de Jesus quanto a redenção que Ele realizou.

Cor litúrgica: Branca

LEITURAS:

† Antigo Testamento: Isaías 7.10-14
† Salmo: Salmo 45.7-17 (antífona v. 6)
† Epístola: Hebreus 10.4-10
† Santo Evangelho: S. Lucas 1.26-38

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Senhor, assim como conhecemos a encarnação de teu Filho, Jesus Cristo, pela mensagem do anjo à virgem Maria, assim também pela mensagem de sua cruz e paixão, leva-nos à glória de sua ressurreição; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House, 2009)

Evangelho do Dia – Festa da Anunciação de Nosso Senhor

“Anunciação”, Matthias Stom (c.1600 - c.1652)
Evangelho segundo S. Lucas 1.26-38

1.26   No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galileia, chamada Nazaré,
1.27   a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria.
1.28   E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo.
1.29   Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação.
1.30   Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus.
1.31   Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus.
1.32   Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai;
1.33   ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.
1.34   Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?
1.35   Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.
1.36   E Isabel, tua parenta, igualmente concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o sexto mês para aquela que diziam ser estéril.
1.37   Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas.
1.38   Então, disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra. E o anjo se ausentou dela.

- Bíblia Sagrada J. F. de Almeida Revista e Atualizada (SBB)

23/03/2014

Fonte viva que jorra para a vida eterna

Ícone ortodoxo de Fotina, a mulher samaritana, encontrando Jesus ao redor do poço.
A muitos a fé cristã pareceu coisa fácil, e não poucos também a contam entre as virtudes. Fazem isso porque não a provaram por nenhuma experiência e nunca tomaram o gosto de quão grande é seu poder, visto ser impossível que escreva bem a respeito dela ou entenda bem escritos corretos sobre ela quem não tenha alguma vez provado o espírito da mesma através de tribulações urgentes. Quem, todavia, tiver provado por pouco que seja, jamais pode escrever, dizer, pensar, ouvir o suficiente a respeito dela, pois tal pessoa é uma fonte viva que jorra para a vida eterna, como Cristo a chama em Jo 4.14. Eu, porém - embora não possa gloriar-me de abundância e saiba quão pequeno é meu suprimento -, espero ter alcançado um pouco de fé, agitado que fui por grandes e várias tentações.

-- Tratado de Martinho Lutero sobre a Liberdade Cristã (1520)

Terceiro Domingo na Quaresma

Foto: Erik M. Lunsford/LCMS Communications
"Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus." (Romanos 5.1-2 ARA).

Fonte: Facebook - The Lutheran Church--Missouri Synod

Evangelho Dominical – Terceiro Domingo na Quaresma (Ano A)

“Jesus e a mulher samaritana no poço”, Carl Heinrich Bloch (1834-1890)

Evangelho segundo S. S. João 4.5–26 (27–30, 39–42)

5 Chegou, pois, a uma cidade samaritana, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José.
 6 Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta.
 7 Nisto, veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber.
 8 Pois seus discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos.
 9 Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se dão com os samaritanos)?
 10 Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.
 11 Respondeu-lhe ela: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva?
 12 És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, seus filhos, e seu gado?
 13 Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede;
 14 aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.
 15 Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la.
 16 Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e vem cá;
 17 ao que lhe respondeu a mulher: Não tenho marido. Replicou-lhe Jesus: Bem disseste, não tenho marido;
 18 porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade.
 19 Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta.
 20 Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.
 21 Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.
 22 Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus.
 23 Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores.
 24 Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.
 25 Eu sei, respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier, nos anunciará todas as coisas.
 26 Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo.
 27 Neste ponto, chegaram os seus discípulos e se admiraram de que estivesse falando com uma mulher; todavia, nenhum lhe disse: Que perguntas? Ou: Por que falas com ela?
 28 Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens:
 29 Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?!
 30 Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele.
39 Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito.
 40 Vindo, pois, os samaritanos ter com Jesus, pediam-lhe que permanecesse com eles; e ficou ali dois dias.
 41 Muitos outros creram nele, por causa da sua palavra,
 42 e diziam à mulher: Já agora não é pelo que disseste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo.

- Bíblia Sagrada J. F. de Almeida Revista e Atualizada (SBB)

22/03/2014

Ele é a rocha de onde brotou a água


Sacia-te primeiro do Antigo Testamento para em seguida beberes do Novo. Se não beberes do primeiro, não poderás saciar-te do segundo. Bebe do primeiro para atenuares a sede que tens, do segundo para a estancares por completo. […] Sacia-te da taça do Antigo e do Novo Testamento porque, em ambos os casos, é Cristo que bebes. Bebe Cristo, porque Ele é a vinha (Jo 15.1), Ele é a rocha de onde brotou a água (1Co 10.3), Ele é a fonte da vida (Sl 36.10). Bebe Cristo, porque Ele é “o rio, cujos canais alegram a cidade de Deus” (Sl 45.5), Ele é a paz (Ef 2.14) e “do seu seio correrão rios de água viva” (Jo 7.38). Bebe Cristo, para te saciares do sangue da tua redenção e do Verbo de Deus. O Antigo Testamento é a sua palavra, como o é o Novo Testamento. Bebemos e comemos a Sagrada Escritura; nessa altura, o Verbo Eterno desce às veias do espírito e penetra na vida da alma. “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Dt 8.3; Mt 4.4). Sacia-te, pois, deste Verbo, mas segundo a ordem que convém. Começa por bebê-Lo no Antigo Testamento, passando depois, sem tardar, ao Novo.
Ele próprio nos diz, como se tivesse pressa: “Povo que andas nas trevas, vê esta grande luz; tu que habitas uma terra de sombras, uma luz brilha para ti” (Is 9.2). Bebe, pois, sem demora, e uma grande luz te inundará; não será a luz quotidiana do dia, do sol ou da lua, mas a luz que afasta as sombras da morte.

-- Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja (Comentário ao Salmo, I, 33)

Oração para o Terceiro Domingo na Quaresma

 “Cristo e a mulher samaritana no poço de Jacó” (entre 1835 e 1856), Nathaniel Currier (1813-1888)
Ó Deus, cuja glória é sempre ter misericórdia, sê gracioso para todos que se desviaram dos teus caminhos e traze-os de volta com coração arrependido e fé, para que abracem e mantenham a verdade imutável da tua Palavra; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

20/03/2014

Terceiro Domingo na Quaresma – 23 de março de 2014 (Ano A)

“Moisés traz água da rocha”, Filippino Lippi (1457–1504)

Nós adoramos o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo no Espírito e Verdade do seu Evangelho

Embora o Senhor os tivesse trazido do Egito, "toda a congregação dos filhos de Israel" murmuraram contra Ele, pois "não havia ali água para o povo beber" (Êx 17.1). Apesar de sua contenda, o Senhor graciosamente os supriu. O Senhor não feriu as pessoas por seus pecados, ao invés disso, pelas mãos de Moisés, Ele feriu a rocha e trouxe água para o povo. Da mesma forma, a água viva flui do lado transpassado de Cristo "por volta da hora sexta" (S. João 4.6, 19.14), quando Ele foi levantado na cruz pelos pecados do mundo. Ele é "o dom de Deus" (S. João 4.10), o poço do qual o Espírito Santo é derramado e se torna, em seu povo, "uma fonte a jorrar para a vida eterna" (S. João 4.14). Por “esta graça na qual estamos firmes”, estando em “paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1, 2), adoramos "o Pai em espírito e em verdade" (S. João 4.23). “E gloriamo-nos na esperança da glória de Deus”, “porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm 5.2, 5).

Cor litúrgica: Roxo

LEITURAS:

† Antigo Testamento: Êxodo 17.1–7
† Salmo: Salmo 95.1-9 (antífona v. 6)
† Epístola: Romanos 5.1-8
† Santo Evangelho: S. João 4.5–26 (27–30, 39–42)

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Deus, cuja glória é sempre ter misericórdia, sê gracioso para todos que se desviaram dos teus caminhos e traze-os de volta com coração arrependido e fé, para que abracem e mantenham a verdade imutável da tua Palavra; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

19/03/2014

José, tutor de Jesus


Mateus 2.13-15,19-23

A graça de nosso Senhor Jesus, o amor de Deus e companhia do Espírito Santo sejam convosco agora e sempre. Amém.

Meus caros irmãos, irmãs, hoje é um dia festivo. Um dia especial, pois damos uma parada com a temática dos artigos do Credo para celebrarmos a vida de São José, o tutor de nosso Senhor Jesus Cristo.
Celebrar um santo... parece não soar muito luterano, no entanto, é absolutamente luterano. Eu gostaria de chamar a vossa atenção para um hino do hinário dos nossos irmãos do Sínodo de Missouri, intitulado “Por Todos Seus Santos na Batalha.”

Este hino tem três estrofes. A primeira diz o seguinte: “Por todos os seus santos na guerra,/ Por todos os santos que estão no repouso, / Seu Santo nome, ó Jesus,/ seja louvado para sempre! Por que você venceu a batalha/ para que eles possam usar a coroa/ e agora eles brilham pela glória refletida do seu trono. Nós podemos celebrar a vida de José, pois vemos através da vida dele ação misericordiosa de Deus.

Quem foi José? José pertencia à linguagem de Davi, foi assim que ele foi chamado pelo anjo do Senhor: “José, Filho de Davi”. Segundo o texto bíblico, ele era um homem justo que se dedicava ao ofício da carpintaria.

Eu quero chamar atenção para dois pontos na vida de José. Primeiro, a vida de São José foi cercada de eventos que certamente não foram fáceis e que devem ter causado sofrimento para ele.  Um exemplo foi a gravidez inesperada de Maria e todas as emoções que estavam envolvidas neste caso. Creio que não foi fácil. Um segundo exemplo vem da leitura que acabamos de ouvir: a constante insegurança que pairava sobre a família de José a ponto de ser necessário que eles fugissem para o Egito. Um país pagão, com diferentes deuses, outra língua e outra cultura. Creio que não deve ter sido fácil para ele.

Segundo ponto, a confiança de José. Diante deste quadro caótico, ele confiou na mensagem de Deus. Ele recebeu Maria e fugiu para o Egito conforme a orientação divina. Seria José um super-herói da fé? Não, ele era um homem igual a você, igual a mim, com os medos, apreensões que nós temos. E que mesmo assim foi escolhido para ser o tutor de Jesus Cristo. Pois o Deus que chamou para esta função honrosa foi o mesmo Deus que em todo tempo o sustentou e amparou.

Amparado por Deus, José, justo homem, foi o tutor de Jesus, como nos fala a segunda estrofe do hino que já mencionei: “Nós cantamos agradecendo pela vida de José,/ o guardião de nosso Senhor,/ que fielmente ensinou Jesus/ através do seu ofício, obras e palavras”.

Você, a exemplo de José, também foi chamado por Deus pelo seu batismo. A exemplo do Tutor de Cristo, você também passara por altos e baixos, por momentos de dor e sofrimento, esta é a nossa vida. No entanto, o mesmo Deus que sustentou José, que o guiou em sua vocação de tutor de Jesus, é o mesmo Deus que te ampara e te sustenta na tua vocação. É o mesmo Deus que te diz: “Não temas estou contigo, não te assombres eu sou o teu Deus”. Deus é o mesmo, Ele não muda.

Celebrar um santo... parece não soar muito luterano, no entanto, é absolutamente luterano, pois enfocamos a ação de Deus na vida do Santo que celebramos. Especialmente enfocamos que o mesmo Deus que agiu no passado é o mesmo Deus que age na tua vida. O mesmo Deus que amparou e sustentou José é o mesmo Deus que te ampara. É o mesmo Deus que te sustenta. Deus não muda. Amém.

Rev.  Elissandro Ribeiro da Silva
Igreja Luterana Unidos em Cristo - Ponta Grossa/PR

Oração da Noite realizada no dia 19 de março na Igreja Luterana Cristo de Ponta Grossa/PR:

Evangelho do Dia – Festa de São José, Tutor de Jesus

“O Sonho de São José” (c. 1642-3), Philippe de Champaigne (1602-1674)

Evangelho segundo S. Mateus 2.13-15,19-23

13 Tendo eles partido, eis que apareceu um anjo do Senhor a José, em sonho, e disse: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar.
14 Dispondo-se ele, tomou de noite o menino e sua mãe e partiu para o Egito;
15 e lá ficou até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: Do Egito chamei o meu Filho.
19 Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe:
20 Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino.
21 Dispôs-se ele, tomou o menino e sua mãe e regressou para a terra de Israel.
22 Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá; e, por divina advertência prevenido em sonho, retirou-se para as regiões da Galileia.
23 E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno.

- Bíblia Sagrada J. F. de Almeida Revista e Atualizada (SBB)

O Justo José

"A Fuga para o Egito" (1669), Jose Moreno (1642-74),  Minneapolis Institute of Arts, MN, USA
José, sendo um homem justo, imediatamente levantando-se, tomou o menino e sua mãe, de noite, e foi para o Egito, como o anjo do Senhor havia falado. 

São José fez como ordenou o anjo do Senhor

São José com o Menino Jesus por Guido Reni, 1635

Hoje nos lembramos de São José, tutor de Jesus.

“Despertado José do sono, fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu sua mulher. Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus” (S. Mateus 1.24-25 ARA).

São José, Tutor de Jesus

Devoção no Dia de São José no Concordia Theological Seminary, Fot Wayne (EUA)
19 de Março
São José, Tutor de Jesus
Mateus 2.13-15, 19-23

13 Tendo eles partido, eis que apareceu um anjo do Senhor a José, em sonho, e disse: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar. 14 Dispondo-se ele, tomou de noite o menino e sua mãe e partiu para o Egito; 15 e lá ficou até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: Do Egito chamei o meu Filho.
19 Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe: 20 Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino. 21 Dispôs-se ele, tomou o menino e sua mãe e regressou para a terra de Israel. 22 Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá; e, por divina advertência prevenido em sonho, retirou-se para as regiões da Galileia. 23 E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno.

Festa de São José, Tutor de Jesus – 19 de março

“São José e o Cristo Menino” (1640), Guido Reni (1575–1642)
Hoje é a Festa de São José, tutor de Jesus. São José tem sido honrado ao longo dos séculos por sua fiel devoção em ajudar Maria a criar Jesus. O Evangelho de São Mateus nos diz que José era um homem justo, que seguiu as instruções do anjo e tomou a já grávida Maria como sua esposa (Mateus 1.24). Nos Evangelhos, Jesus é referido como “o filho do carpinteiro” (Mateus 13.55). Isto sugere que José tinha habilidades de construtor com a qual ele sustentou sua família. Ele seguiu as instruções do anjo ao levar Maria e Jesus para o Egito a fim de escapar da trama assassina de Herodes, o Grande (Mateus 2.14). José aparece última vez nas Escrituras quando ele e Maria fielmente levaram Jesus, aos doze anos de idade, a Jerusalém para a Páscoa (Lucas 2.41-51). José, o tutor de nosso Senhor, tem sido associado com a paternidade afetiva e caridosa.

Cor litúrgica: Branca

LEITURAS:

† Antigo Testamento: 2 Samuel 7.4-16
† Salmo: Salmo 127 (antífona v. 1a)
† Epístola: Romanos 4.13-18
† Santo Evangelho: São Mateus 2.13-15,19-23

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso Deus, que da família de teu servo Davi fizeste nascer a José para ser o tutor de teu Filho encarnado e o marido de sua mãe, Maria, concede-nos a graça de seguir o exemplo deste trabalhador fiel em atender ao teu conselho e obedecer às tuas ordens; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Imagem: “São José e o Cristo Menino” (1640), Guido Reni (1575–1642)

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House, 2008. p. 1286-1287)

18/03/2014

Ele é Senhor


Se alguém quer honrar a Deus, que se prostre diante do Filho de Deus. Sem isso, o Pai não aceita ser adorado. Do alto dos céus, o Pai fez ouvir as seguintes palavras: “Este é o Meu Filho muito amado, em Quem pus a Minha complacência” (Mt 3.17). O Pai compraz-Se no Filho [...], que é chamado “Senhor” (Lc 2.11), não abusivamente, como os senhores humanos, mas porque o senhorio Lhe pertence por natureza desde toda a eternidade. [...]
Não deixando de ser quem é e mantendo verdadeiramente a glória imutável do Seu estado de Filho, Ele não deixa de Se adaptar às nossas fraquezas, como médico muito hábil e mestre compassivo. Fê-lo quando era realmente Senhor, não tendo poder por transferência, antes Lhe pertencendo por natureza a glória do senhorio. Não era Senhor à nossa maneira, mas era Senhor com toda a verdade, exercendo o senhorio com o consentimento do Pai, sobre as Suas próprias criaturas. Com efeito, nós temos domínio sobre os homens que são nossos iguais, quer em dignidade, quer em sofrimento, e muitas vezes temo-lo também sobre os que são mais velhos. Pelo contrário, em Nosso Senhor Jesus Cristo o senhorio não é deste tipo: Ele é, em primeiro lugar, Criador, e depois Senhor. Ele tudo criou segundo a vontade do Pai, e depois exerce o senhorio sobre aquilo que só por Ele existe.

-- São Cirilo de Jerusalém (313-350), Catequese Batismal 10, 2-5; PG 33, 662ss. (a partir da trad. Bouvet/Orval)

Comemoração de São Cirilo de Jerusalém, Bispo e Teólogo – 18 de março


Cirilo nasceu em Jerusalém em torno de 315, de pais cristãos, e tornou-se bispo daquela cidade por volta de 349 até a sua morte em 386.Os anos entre o Concílio de Niceia (325) e o Concílio de Constantinopla (381) foram anos difíceis, em que a Igreja, tendo comprometido-se em Niceia, sob protestos vigorosos dos arianos, pela proposição de que o Filho é “consubstancial” (homoousios) com o Pai, começou a recuar e considerar se havia alguma outra fórmula que expressasse adequadamente o Senhorio de Cristo , mas não fosse “divisionista” . A experiência com outras maneiras de afirmar o que os cristãos criam sobre o Filho e sua relação com o Pai, levou a Igreja, finalmente, a concluir que a formulação de Niceia era a única forma de salvaguardar a doutrina que Tomé verdadeiramente confessou (João 20.28), quando disse a Jesus: "Meu Senhor e meu Deus!". Mas isso não estava claro desde o início, e Cirilo estava entre aqueles que procuravam uma forma de expressar a doutrina de uma forma que fosse aceitável para todas as partes. Como resultado disso, ele foi exilado de seu bispado por três vezes, num total de 16 anos, uma vez que pelos atanasianos e duas vezes pelos arianos. Ele finalmente chegou à conclusão, assim como a maioria dos outros cristãos da época, que não havia alternativa à fórmula de Niceia e, em 381, Cirilo participou do Concílio de Constantinopla e votou pela posição ortodoxa.
Cirilo é autor das Catequeses, ou Discursos Catequéticos sobre a fé cristã. Trata-se de uma catequese introdutória, depois dezoito catequeses sobre a fé cristã para serem passados durante a Quaresma para aqueles prestes a serem batizados na Páscoa, e em seguida, cinco catequeses, chamadas mistagógicas (pois falam dos mistérios, ou seja, os sacramentos do batismo, da confirmação e da eucaristia), a serem passados depois da Páscoa para o recém-batizado.

LEITURAS:

† Salmo 122
† Eclesiástico 47.8-10 
† Hebreus 13.14-21 
† S. Lucas 24.44-48

ORAÇÃO:

Fortalece, ó Senhor, os bispos de tua igreja em sua vocação específica de serem mestres e ministros dos sacramentos, de modo que, como teu servo Cirilo de Jerusalém, possam efetivamente instruir o teu povo na fé e na prática cristã, e que nós, ensinados por eles, possamos participar mais plenamente na celebração do mistério pascal; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

17/03/2014

A Confissão de São Patrício


A Confessio (Confissão) de São Patrício é uma autobiografia que Patrício escreveu já na parte final de sua vida, por volta do ano 450 de nossa era e é também um grande testemunho cristão daquele século. A tradução aqui reproduzida do latim para o português brasileiro da Confissão de São Patrício foi feita por Dominique Vieira Coelho dos Santos. O texto foi disponibilizado originalmente e com notas do tradutor pela Royal Irish Academy no link: http://www.confessio.ie/etexts/confessio_portuguese# .

1
Eu, Patrício, um pecador, o mais rústico e o menor entre todos os fiéis, profundamente desprezível para muitos, tive por pai o diácono Calpurnius, filho de um certo, Potitus, falecido, um presbítero que foi morador de um vilarejo chamado Bannavem Taberniae; ele tinha uma pequena casa de campo bem próxima, onde eu fui capturado. Eu tinha então cerca de dezesseis anos de idade. Eu ignorava o verdadeiro Deus e junto com milhares de pessoas fui capturado e conduzido ao cativeiro na Irlanda segundo o nosso merecimento, porque nos afastamos bastante de Deus, não guardarmos os seus preceitos, nem sermos obedientes aos nossos sacerdotes, que nos exortavam a respeito da nossa salvação. E o Senhor lançou sobre nós a violência de sua cólera e nos dispersou entre vários povos até aos confins da terra, onde agora na minha pequenez, me encontro entre estrangeiros. [Referências Bíblicas: Is. 42,25 e 59,13; Gn. 26,5; Jr. 9,16; At. 13,47.]

2
E lá o Senhor abriu o entendimento de incredulidade do meu coração, afim de que, mesmo muito tarde, me recordasse dos meus pecados e me convertesse de todo coração ao Senhor meu Deus, que considerou a minha insignificância e teve misericórdia da minha mocidade e ignorância, e ele me protegeu antes que eu o conhecesse e antes que eu soubesse distinguir entre o bem e o mal e me fortificou e consolou como um pai faz ao filho. [Referências Bíblicas: Lc. 24,45; Jr. 4,19; Hb. 3,12; Jl. 2,12-13; Lc. 1,48.]

3
Por esta razão não posso me calar, nem seria isto apropriado, diante de tantas dádivas e graças que o Senhor se dignou a me conceder na terra do meu cativeiro; porquanto esta é nossa maneira de retribuir para, depois da correção ou do reconhecimento de Deus, exaltar e confessar suas maravilhas diante de todas as nações que estão debaixo do céu. [Referências Bíblicas: II Cor. 12,1; II Cor. 6,37; Is. 25,1; cf. Sl. 88,6 (89,5); At. 2,5.]

4
Porque não há outro Deus, nunca houve antes, nem haverá no futuro, além de Deus pai não gerado, sem princípio, do qual procede todo o princípio, quem tudo possui, como dizemos; e seu filho Jesus Cristo, que assim como o pai evidentemente sempre existiu, antes do começo dos tempos em espírito ao pai. Criado inefavelmente antes da origem do mundo, e por ele mesmo foram criadas todas as coisas visíveis e invisíveis. Ele foi feito homem, venceu a morte e foi recebido no céu junto do pai, e foi-lhe dado todo poder absoluto sobre todo nome no céu, na terra e no inferno para que assim toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor e Deus, em quem nós cremos e esperamos que sua vinda breve está, como juiz dos vivos e dos mortos. Este que dará para cada um segundo os seus feitos, e derramou em vós abundantemente o seu Espírito Santo, o dom e a garantia da imortalidade, que tornou os crentes e obedientes em filhos de Deus e co-herdeiros de Cristo: aquele que confessamos e adoramos, O único Deus na trindade do seu santo nome. [Referências Bíblicas: Fl. 2,9-12; At. 10,42; Rm. 2,6; Tit. 3,5-6; Rm. 8,16-17.]


5
Pois ele mesmo disse por intermédio do profeta: “Invoca-me no dia da tua tribulação e eu te libertarei e tu me glorificarás” e novamente disse: “É honroso revelar e confessar as obras de Deus”. [Referências Bíblicas: Sl. 49(50),15; Tb. 12,7.]


6
Apesar de imperfeito em muitas coisas, desejo que meus irmãos e parentes conheçam a minha natureza, para que possam perceber os desejos de minha alma.


7
Eu não ignoro o testemunho do meu Senhor, que diz no Salmo: “Tu destruirás os que proferem mentira”; e novamente: A boca mentirosa traz a morte para a alma. E igualmente o Senhor disse no Evangelho: No dia do Juízo os homens prestarão contas de cada palavra vã que disseram. [Referências Bíblicas: II Tm. 1,8; Sl. 5,7; Sb. 1,11; Mt. 12,36.]


8
Deste modo é que vigorosamente eu devia recear, com temor e tremor, a sentença daquele dia em que ninguém poderá escapar e nem se esconder, mas todos, sem exceção alguma, prestarão contas até dos menores pecados diante o tribunal do Senhor Cristo. [Referências Bíblicas: Ef. 6,5; cf. Rm. 14,12; Rm. 14,10; II Cor. 5,10.]


9
Por esta razão tenho pensado em escrever, mas até agora tenho hesitado; na verdade temi me expor na língua dos homens, porque não me instrui da mesma maneira que os outros, que têm assimilado bem tanto a lei como as Sagradas Escrituras e nunca mudaram o idioma desde a infância, mas ao contrário, sempre o tem aperfeiçoado. Na verdade, a nossa linguagem e idioma foram traduzidos para uma língua estrangeira, tal como facilmente se pode provar a partir de uma mostra dos meus escritos de que modo fui instruído e educado na oratória, porque está escrito: “O sábio será reconhecido pelo modo de falar, pelo entendimento, e pelo conhecimento da doutrina da verdade”. [Referências Bíblicas: Eclo. 4,29 (24); cf. Eclo. 28,30 (26).]


10
Mas porque me desculpar perto da verdade, especialmente com presunção, de que somente agora me aproximando da minha velhice posso obter o que não consegui na minha juventude? Porque meus pecados impediram-me de confirmar o que anteriormente tinha lido superficialmente. Mas quem acreditará em mim ainda que repita o que disse antes? Um jovenzinho, ou melhor, quase um garoto imberbe, capturado antes que soubesse o que deveria buscar ou evitar. Então, consequentemente, hoje me envergonho e ardentemente temo expor minha ignorância, porque eu não sou eloquente, assim verdadeiramente, não consigo expressar como o espírito está ávido por fazer e tanto a alma quanto o entendimento se mostram dispostos.


11
Mas se esta graça me fosse dada como foi aos outros, em gratidão eu verdadeiramente não me calaria, e se por acaso pareceu que me coloquei perante não poucos com minha ignorância e meu modo lento de falar, verdadeiramente está escrito: “As línguas balbuciantes aprendem velozmente a falar da paz”. Quanto mais devemos atingi-lo, nós que somos, como é dito, uma carta de Cristo em saudação até os confins da terra. E se esta carta não é eloquente, pelo menos... Escrita em vossos corações não com tinta, mas com o Espírito Santo do Deus vivo. E outra vez mais: O Espírito testifica que até mesmo a vida dos rústicos é criada pelo Altíssimo. [Referências Bíblicas: Sl. 112 e 118 (119); Ex. 4,10; Is. 32,4; II Cor. 3,2-3; At. 13,47; Eclo. 7,16 (15).]


12
Por isso eu, antes de tudo um simples camponês, um fugitivo, evidentemente ignorante, alguém que não é capaz de prever o futuro, mas sabe com certeza que, em todo o caso, antes de ter sido humilhado, eu era como uma pedra que jaz no lodo profundo. E aquele que tem todo o poder veio a mim e em sua misericórdia me levantou bem alto, colocou-me no topo do muro; e de lá corajosamente deveria exclamar em gratidão ao Senhor por tantos benefícios agora e por todo o sempre, benefícios tão grandes que a mente humana não pode estimar. [Referências Bíblicas: Ecl. 4,13; Sl. 118(119),67; Lc 1,49.]


13
Dessa maneira, espantem-se grandes e pequenos que temem a Deus e vós, senhores, oradores eloqüentes, ouvi, pois e examinai cuidadosamente. Aquele que me chamou, eu, um estúpido, dentre aqueles que são vistos como sábios e peritos na lei, poderosos na palavra e em qualquer situação? A mim, verdadeiramente miserável neste mundo, inspirou-me mais que os outros – contanto que – com temor e reverência e sem querela, fielmente pudesse me mostrar ao povo para quem o amor de Cristo me trouxe e me deu em minha vida, se eu for digno, para servi-los verdadeiramente com humildade e sinceridade. [Referências Bíblicas: Ap. 19,5; Lc. 24,9; Hb. 12,28.]


14
Assim, pois, na medida da minha fé na trindade, convém que eu reconheça e sem noção do perigo, proclamar o dom de Deus e a sua consolação eterna, confiantemente e sem temor difundir o nome de Deus por toda parte, afim de que mesmo depois da minha morte, eu deixe uma herança para os meus irmãos e filhos, e tantos milhares a quem eu batizei no Senhor. [Referências Bíblicas: Cf. Rm. 12,3; II Ts. 2,16.]


15
E eu não era digno, nem tão importante que o senhor concedesse ao seu pequeno servo, após provações e tantas penas, depois do cativeiro e após muitos anos, tantas graças me presenteasse com aquele povo; uma coisa que no tempo da minha juventude eu jamais esperei, nem mesmo imaginei.


16
Mas, depois que cheguei à Irlanda, passei a apascentar o rebanho cotidianamente e orava várias vezes ao dia, mais e mais o amor de Deus e o meu temor e fé por ele cresceram e o meu espírito foi tocado de tal maneira, que um dia cheguei a contar mais de cem orações e de noite quantidade semelhante, e ainda ficava nas florestas e nas montanhas, acordava antes da luz do dia para orar na neve, no gelo e na chuva, e nenhum mal eu sentia e nenhuma preguiça havia em mim, como percebo agora, porque então o espírito ardia dentro de mim.


17
E lá (naturalmente) uma noite no meu sono eu ouvi uma voz que me dizia: “Fazes bem em jejuar, pois brevemente partirás para a tua pátria” e novamente muito pouco tempo depois ouvi uma voz que me dizia: “Eis que teu barco está pronto” e não era em um lugar perto não, pelo contrário, estava a duzentas milhas de distância onde eu nunca estivera ou conhecera alguém. Então pouco tempo depois eu fugi e abandonei o homem com quem estivera durante seis anos e avancei na virtude de Deus, que dirigiu meu caminho para o bem e eu nada temi até que alcancei aquele barco.


18
E naquele mesmo dia em que cheguei o barco estava de partida, e eu disse que tinha condições de navegar com eles. O capitão se desagradou e irado respondeu rispidamente: “de modo algum tente ir conosco” tendo ouvido isto me separei deles e me dirigi a uma pequena cabana onde me hospedava, e no caminho comecei a orar e antes que terminasse a oração ouvi um deles gritando bem alto atrás de mim: “venha rapidamente, porque aqueles homens estão te chamando” e imediatamente voltei pra junto deles, que começaram a me dizer: “venha, porque de boa fé te recebemos, faça conosco amizade do modo que desejares” e naquele dia então me recusei a sugar-lhes as mamas pelo temor de Deus, mas, entretanto esperava que eles viessem a ter fé em Jesus Cristo, porque eram gentios. Por isso continuei com eles e sem demora nos colocamos ao mar.


19
E depois de três dias alcançamos a terra e caminhamos vinte e oito dias através de uma região desértica até que a comida acabou e a fome nos alcançou. No outro dia o capitão começou a me dizer: “Por que acontece isso Cristão? Tu dizes que teu Deus é grande e onipotente, porque razão tu não podes orar por nós? Pois podemos morrer de fome; é provável que jamais vejamos outro ser humano”. Eu então lhes disse confiantemente: convertam-se pela fé de todo o coração ao Senhor Deus meu, pois nada é impossível para ele e hoje mesmo ele mandará alimento para vós em vosso caminho até que se saciem, pois em toda a parte ele traz abundância. E com a graça de Deus isto realmente aconteceu: eis que uma vara de porcos apareceu no caminho diante dos nossos olhos, e mataram muitos dentre os porcos. E neste lugar permaneceram por duas noites e fartaram-se daquelas carnes dos porcos e foram revigorados da fome, porque muitos deles tinha desfalecido e tinham sido abandonados semimortos à beira do caminho. Depois disto renderam extremas graças a Deus e eu tornei-me honrado aos seus olhos, e a partir daquele dia tiveram alimento abundantemente, descobriram mel silvestre e ofereceram-me uma parte e um deles disse: é um sacrifício; Graças a Deus, deste nada provei. [Referências Bíblicas: Gn. 12,10; Jl. 2,12-13; Lc. 10,30 e 24,42; I Cor. 10,28.]


20
Na mesma noite eu estava dormindo e Satanás tentou-me violentamente, de forma que eu me lembrarei enquanto neste corpo estiver, e caiu sobre mim como um enorme rochedo e nenhum dos meus membros podia se mexer. Mas de onde me veio à idéia, ignorante de espírito que sou, de clamar por Elias? Neste meio tempo vi no céu o sol surgindo e enquanto clamava “Elias! Elias!” com toda a minha força, eis que o esplendor daquele sol imediatamente caiu sobre mim e me sacudiu livrando-me de todo o peso, creio que fui ajudado por Cristo, meu Senhor, e o espírito dele já então chamava por mim e espero que assim seja no dia da minha aflição, como diz no evangelho: Naquele dia, diz o Senhor, não sois vós que falais, mas o espírito de vosso pai que fala em vós. [Referências Bíblicas: II Pd. 1,13; Sl. 49(50),15; Mt. 10,19-20.]


21
E mais uma vez, muitos anos mais tarde fui capturado pela segunda vez. Na primeira noite, eu permaneci com eles. Ouvi, então, uma voz divina que me dizia: “permanecerás durante dois meses com eles” e assim aconteceu: na sexagésima noite o meu Senhor me libertou das mãos deles. [Referências Bíblicas: Gn. 37,21.]


22
Além disso, mesmo na viagem (Deus) nos proveu de alimento, fogo e tempo seco todos os dias, até que no décimo dia encontramos gente. Assim como sugeri mais acima, viajamos vinte e oito dias através de terras desabitadas e de fato naquela noite em que encontramos gente nada tínhamos de alimento.


23
E depois de uns poucos anos eu estava de novo na Bretanha com meus parentes, que me acolheram como um filho e me rogaram que eu, após ter passado por tantas tribulações que nunca me afastasse deles; e neste lugar (naturalmente) vi numa visão noturna um homem que vinha como que da Irlanda, cujo nome era Victoricus, com inumeráveis cartas, e me deu uma delas e logo no princípio da carta estava escrito: “A voz dos irlandeses” e enquanto eu recitava o princípio da mesma, pareceu-me naquele momento ouvir as vozes daqueles que estavam perto da floresta de Voclut que fica perto do mar ocidental, e assim exclamavam como se fosse uma só voz: “Nós te rogamos, santo jovem, venhas e caminhes novamente entre nós” e eu estava tão profundamente tocado no meu coração que nem pude ler mais e assim despertei. Graças a Deus, porque depois de muitos anos, o Senhor concedeu-lhes a sua súplica. [Referências Bíblicas: Dn. 3,51 e 7,13; At. 2,37.]


24
E em outra noite –não sei, Deus o sabe, se dentro de mim ou próximo a mim- foram pronunciadas algumas palavras bem próximo, eu as ouvi, mas não pude compreendê-las, a não ser no final: “Aquele que deu a sua vida por ti, o próprio é que fala dentro de ti.” E deste modo acordei jubiloso. [Referências Bíblicas: II Cor. 12,2-3; I Jo. 3,16.]


25
E uma outra vez, o vi orando em mim, era como que dentro do meu corpo e o ouvi acima de mim, isto é, acima do homem interior, e lá orava fortemente com gemidos, e no meio disto eu estava pasmo e admirado e pensava quem seria esse que orava dentro de mim, mas após o final da oração foi-me revelado que era o Espírito. Despertei e recordei-me das palavras do apóstolo: O Espírito nos auxilia na debilidade de nossas orações, pois não sabemos orar como convém. Mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis, que não se podem exprimir com palavras, e mais uma vez: O Senhor, nosso advogado intercede por nós. [Referências Bíblicas: Rm. 8,26; I Jo. 2,1.]


26
E quando fui posto a prova por alguns dos meus senhores, que vieram até mim e relembraram os meus pecados contra o meu árduo episcopado, aquele dia especialmente, fui fortemente abalado e poderia ter caído aqui e na eternidade; mas o Senhor me poupou, um convertido e estrangeiro, pelo amor do seu próprio nome, de forma benévola veio em minha assistência quando estava sendo esmagado. Porque eu não cai em desonra e desgraça eu oro a Deus para que não seja considerado em pecado. [Referências Bíblicas: Sl. 117 (118),13; cf. Sl. 38(39),13; Dt. 24,15; cf. II Tm. 4,16.]


27
Noutra ocasião, trinta anos depois, eles descobriram contra mim um fato que eu tinha confessado antes de ser diácono. Por causa da ansiedade e do meu espírito triste, eu contei a um amicíssimo meu o que um dia na minha meninice tinha feito, mais precisamente em um momento, porque ainda não tinha força (espiritual). Eu não sei, Deus o sabe, se eu tinha 15 anos, e não acreditava no Deus vivo, nem nunca tinha crido desde a minha infância, mas permanecia na morte e na incredulidade até que fui castigado e humilhado cotidianamente pela fome e pela nudez. [Referências Bíblicas: Dn. 6,5; II Cor. 11,27 e 12,2-3; Sl. 118 (119),75.]


28
Por outro lado, não me dirigia à Irlanda de livre vontade, estava a ponto de desistir, mas isso, no entanto foi para mim um bem, pois por isso fui repreendido pelo Senhor, e ele preparou-me para que hoje fosse o que eu ainda estava longe de ser, a fim de que eu tivesse o cuidado ou me preocupasse pela salvação dos outros, quando ao contrário, naquela época não pensava em nada além de mim mesmo.


29
Então naquele dia em que fui reprovado pelos que acima referi, eu tive uma visão à noite de um texto diante de minha face sem honra, e enquanto isso, ouvi uma voz divina que me dizia: com desgosto vimos a face do escolhido, despido de seu nome, e ele não disse: tu vistes com desgosto, mas: nós vimos com desgosto, como se ele mesmo se juntasse a si mesmo, ele então disse: Aquele que te toca é como se tocasse a menina dos meus olhos. [Referências Bíblicas: Dn. 7,13; Zc. 2,8(12).]


30
Por este motivo eu dou graças a ele que em tudo me confortou, para que eu não fosse impedido do caminho que decidi seguir e também da minha obra, para a qual fui chamado por Cristo, meu Senhor. Porém, a partir daí eu senti em mim uma grande virtude e a minha fé foi provada na presença de Deus e dos homens. [Referências Bíblicas: I Tm. 1,12; Lc 8,46; cf. Mc. 5,30.]


31
Por isso então eu digo corajosamente, que minha consciência não me reprova. Nem agora e nem no futuro: Deus é minha testemunha de que não tenho mentido nessas palavras que eu vos tenho dito. [Referências Bíblicas: At. 2,29; cf. II Cor. 1,23; Gl. 1,20.]


32
Porém eu não lamento que por causa de meu grande amigo mereçamos ouvir tal resposta. Aquele a quem confiei a alma! E descobri por um bom número de irmãos, que diante daquela defesa (que eu não estava presente, nem estava eu na Bretanha, nem fui eu que a provoquei) ele em minha ausência lutou por mim, e ainda me disse de sua própria boca: eis que tu deves ser elevado ao grau do episcopado, do qual eu não era digno. Mas porque veio, pouco depois, desonrar-me publicamente, diante de todos, bons e maus, e porque anteriormente de forma espontânea e alegre me perdoara, como o Senhor, que é o maior de todos? [Referências Bíblicas: Jo. 10,29.]


33
Já disse o suficiente. Mas ainda assim, não posso esconder o presente de Deus que nos foi dado na terra do meu cativeiro, porque então eu o busquei fortemente e lá o encontrei e ele me preservou de todas as iniqüidades (assim creio) por causa da morada do seu espírito, que operou em mim até os dias de hoje. Corajosamente de novo, mas Deus sabe, se isso tivesse sido concedido a mim por homem, eu podia ter mantido silêncio pelo próprio amor de Cristo. [Referências Bíblicas: II Cor. 6,37, etc.; Rm. 8,11; I Cor. 12,11; At. 2,29.]


34
Assim eu dou incansáveis graças ao meu Deus, que me conservou fiel no dia da minha tentação, de sorte que hoje confiantemente lhe ofereço a minha alma como sacrifício vivo ao Cristo meu Senhor, que me protegeu de todas as minhas angústias, por isso digo: quem sou eu, oh Senhor, qual é minha vocação? Tu que para mim de uma maneira tão divina apareceste, que hoje entre os gentios constantemente eu exalte e glorifique teu nome em qualquer lugar em que eu estiver, não só na bonança, mas também na tribulação, de modo que qualquer coisa que me aconteça, seja de bem seja de mal, devo aceitar igualmente e a Deus devo sempre dar graças, a Ele que me mostrou que devo indubitavelmente para sempre nele confiar e que me encoraja para que, ignorante, nos últimos dias, ouse encarregar-me de uma obra tão maravilhosa, para que eu possa imitar um daqueles que, há muito tempo, o Senhor pré-ordenou como mensageiros do seu evangelho em testemunho a todos os povos antes do fim do mundo, o que vemos assim estar acontecendo: Eis que nós somos testemunhas, porque o evangelho tem sido pregado até em lugares mais distantes onde não há ninguém. [Referências Bíblicas: Sl. 33, 7 (V.L.) e 94(95),9; Rm. 12,1; II Rs 7,18; At. 2,17; Cf. Mt. 24,14.]


35
Levaria muito tempo narrar meus labores, em detalhes, ou um por um. Vou dizer brevemente como o piedosíssimo Deus frequentemente tem me livrado da servidão, e de doze perigos pelos quais minha alma foi ameaçada, além de muitas ciladas que não sou capaz de descrever com palavras. Nem quero injuriar os leitores; mas tenho Deus criador, que conhece todas as coisas antes mesmo que elas venham a existir, como testemunha de que embora eu fosse um pobrezinho desamparado e ignorante, todavia por meio de profecias divinhas frequentemente me aconselha. [Referências Bíblicas: Cf. Dn. 13,42.]


36
De onde me veio esta sabedoria, que em mim não existia, eu que nem o número de dias sabia e nem a Deus conhecia? De onde me veio em seguida dom tão grande e tão saudável de conhecer a Deus ou amá-lo, mesmo tendo de deixar à pátria e a família? [Referências Bíblicas: Mt. 13,54; cf. Sl. 38(39),5.]


37
E muitas dádivas me foram oferecidas com choro e lágrimas e eu os ofendi, contrariamente ao desejo de um bom número dos meus senhores; mas sendo Deus o governante, não concordei nem me conformei com eles: não por minha graça, mas Deus que venceu em mim e resistiu contra todos eles, afim de que eu viesse aos povos da Irlanda pregar o evangelho e suportar as injúrias dos incrédulos, para que se possa ouvir o infortúnio da minha peregrinação e muitas perseguições e até prisões; e de maneira que possa dar minha liberdade pelo bem de outros, e se digno for, estou pronto para dar até mesmo minha vida sem hesitação e de muito boa vontade pelo nome do Senhor, e nesse lugar escolho devotar minha vida até a morte, se assim o Senhor me permitir. [Referências Bíblicas: Eclo. 29,30(23); II Tm. 2,9.]


38
Porque sou grande devedor de Deus, que tanta graça me concedeu, para que muitos povos através de mim renascessem em Deus, e como seria confirmado depois, e os clérigos seriam ordenados por eles em toda parte em favor das pessoas que recentemente viriam a acreditar, esses que o Senhor atraiu dos confins da terra, assim como já tinha prometido pelos seus profetas: “para ti virão povos dos confins da terra” e dirão: tal como nossos pais nos deixaram ídolos falsos e não há mais neles proveito; e mais: ponho-te como luz para os gentios para que tu possas levar salvação até os confins da terra. [Referências Bíblicas: At. 13,47; cf. Is. 49,6; Rm. 1,2; Jr. 16,19.]


39
Eu desejo então esperar por sua promessa, que jamais falha, assim como no evangelho está escrito: virão do oriente e do ocidente e sentar-se-ão a mesa com Abraão, Isac e Jacó, assim também como acreditamos que os crentes virão do mundo inteiro. [Referências Bíblicas: At. 1,4; Mt. 8,11.]


40
Por este motivo então, é necessário verdadeiramente pescar bem e diligentemente, assim como o Senhor previne e ensina dizendo: “Sigam-me e farei de vós pescadores de homens”; e ainda por meio dos profetas: “Eis que eu envio muitos pescadores e caçadores, diz Deus”, etc. Portanto era muito importante lançar nossa rede, para que uma imensa multidão seja apanhada para Deus e em toda parte haja clero para batizar e exortar o povo necessitado e ansioso. Assim como o Senhor disse no Evangelho, admoesta e instrui: “Ide, pois agora por todas as nações, e ensina, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar em todas as ocasiões tudo o que vos ensinei, e eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”; e ainda diz: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura, quem crer e for batizado será salvo; quem não crer verdadeiramente será condenado”. E ainda: Este evangelho do reino será pregado por todo o mundo como testemunha para todos os povos e então virá o fim; e igualmente o Senhor anunciou por meio do profeta: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que eu derramarei do meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos filhos e as vossas filhas farão profecias, vossos jovens verão visões e vossos velhos sonharão sonhos e na verdade sobre os meus servos e minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão; e em Oséias diz: Eu chamarei aqueles que não são meu povo de meu povo e aqueles que não alcançaram misericórdia eu os chamarei de misericordiosos e no lugar em que foi dito a eles, “vós não sois meu povo”, serão chamados “filhos do Deus vivo”. [Referências Bíblicas: Mt. 4,19; cf. Mc. 1,17; Jr. 16,16; cf. Lc. 5,6; 6,17; Mt. 28,19-20.]


41
Assim, tal como acontece na Irlanda onde nunca tiveram conhecimento de Deus, mas que até o presente momento, prestaram culto a ídolos e coisas impuras, de que modo recentemente estão se tornando um povo do Senhor e sendo chamados de filhos de Deus, os filhos dos Escotos e as filhas dos reis, são consideradas como monjas e virgens de Cristo?


42
E ainda havia uma abençoada irlandesa [Scota], nobre, linda e de idade adulta, que eu batizei; poucos dias depois veio a nós e nos informou que tinha recebido uma profecia de um mensageiro de Deus, que a aconselhou a ser uma virgem de Cristo e aproximar-se de Deus. Dei graças a Deus, que seis dias depois, excelentemente e avidamente ela tomou o caminho que todas as virgens de Deus tomam, mas não com o consentimento dos pais dela, mas suportando perseguições e as reprovações imerecidas por parte deles. Apesar disso o número delas aumenta (a respeito das que são de nossa raça nascidas lá desconhecemos o número) além das viúvas, e aquelas que mantêm a continência. Mas entre elas as que mais sofrem são as que são mantidas na escravidão. Além de terrores, elas suportam ameaças constantes; mas o Senhor concede graça a as suas servas, pois mesmo apesar de as proibirem elas resolutamente seguem o seu exemplo.


43
Por isso, mesmo que desejasse me separar delas a fim de ir para Bretanha – e de boa vontade estaria preparado para ir para minha pátria e meus pais, e não somente lá, mas mesmo até a Gália para visitar meus irmãos e para contemplar a face dos santos de meu Senhor: (Deus sabe o quanto eu desejei isso), porém eu estava atado ao Espírito que me avisou que se fizesse isso, seria designado como culpado. E eu temo perder o trabalho que comecei, e não eu, mas Cristo o Senhor, que me ordenou que viesse estar com eles o resto dos meus dias, se o Senhor desejou isso e me protegeu de todo mau caminho, de modo a não pecar contra ele. [Referências Bíblicas: At. 20,22-23.]


44
Espero ter merecido isto, mas não confio em mim, enquanto estiver neste corpo mortal, porque é forte aquele que cotidianamente se esforça para me desviar da fé e da verdadeira santidade de uma religião não fingida a qual aspiro guardar até o fim da vida minha por Cristo meu Senhor, mas a carne inimiga sempre arrasta para a morte, isto é, para as coisas ilícitas. E eu sei em parte que não levo uma vida perfeita assim como outros crentes, mas confesso meu Senhor, e não me envergonho em sua presença, porque não minto: desde que vim a conhecê-lo em minha juventude cresceu em mim o amor de Deus e o temor a ele, e até agora pela graça de Deus, tenho mantido a fé. [Referências Bíblicas: II Pd. 1,13; cf. Rm. 7,24; I Cor. 13,9; II Tm. 4,7.]


45
Que ria e me insulte quem assim o desejar, eu não me calarei e nem escondo os sinais e maravilhas que foram mostrados a mim pelo Senhor de muitos anos antes que acontecessem, ele que sabe todas as coisas antes mesmo do começo dos tempos. [Referências Bíblicas: Dn. 6,27; II Tm. 1,9.]


46
Deste modo, devia incessantemente dar graças a Deus, que frequentemente perdoou minha insensatez e negligência, em mais de uma ocasião para não se irar violentamente comigo, que fui colocado como ministro, e não concordei prontamente com o que me foi revelado, segundo o que o Espírito me sugeria, e o Senhor teve misericórdia de mim em milhares de vezes, porque viu que eu estava preparado, mas que eu não sabia o que fazer nessas circunstâncias, porque muitos tentavam impedir a minha missão, eles estavam falando entre si nas minhas costas dizendo: Porque razão este homem se atira ao perigo no meio de inimigos que não conhecem a Deus? Não por malícia, mas não sabia, como eu próprio posso testemunhar, ser entendido por eles, por causa da minha rusticidade, e eu não estava pronto para reconhecer a graça que então estava em mim; agora eu sei que deveria tê-lo feito bem antes. [Referências Bíblicas: Jo. 14,26; cf. Ex. 20,6.]


47
Agora, pois, declarei aos meus irmãos e companheiros de servidão, que acreditaram em mim por causa do que proferi e ainda profiro para fortificar e reforçar vossa fé. Queira Deus que façam maiores e melhores obras! Isto será minha glória, porque o filho sábio é a glória do pai. [Referências Bíblicas: II Cor. 13,2; Pr. 10,1 e cf. 17,6.]


48
Vós sabeis, e Deus sabe, como me empenhei no meio de vós desde a minha juventude na fé da verdade e na sinceridade de coração. Assim aos povos entre os quais vivo eu mostrei e ainda mostro a fé. Deus sabe que não defraudei a nenhum deles, nem considero isso, pelo próprio Deus e sua Igreja, para que não despertasse perseguição contra eles e contra nós todos e para que o nome do Senhor não seja blasfemado por minha causa. Porque está escrito: Ai do homem pelo qual o nome do Senhor for blasfemado. [Referências Bíblicas: At. 20,18; II Cor. 7,2; Mt. 18,7; Rm. 2,24.]


49
Pois embora eu seja ignorante em todas as coisas, ainda assim me esforcei para me conservar e ainda aos meus irmãos cristãos e as virgens de Cristo e às mulheres religiosas, que me davam espontaneamente alguns pequenos presentes e costumavam jogar ao altar seus adornos. Eu os devolvia e se escandalizavam comigo por causa disso e me perguntavam por que eu agia assim; mas eu, na esperança da eternidade, para me proteger de todas as coisas, de forma que não pudessem lesar-me no meu ministério alegando qualquer desonestidade e que nem mesmo esse mínimo detalhe desse qualquer margem para difamação ou depreciação por parte dos incrédulos. [Referências Bíblicas: II Cor. 11,6.]


50
Por acaso quando batizei tantos milhares de pessoas esperava mesmo nem que fosse metade de qualquer coisa deles? Se assim foi, digam-me e eu vos restituirei. E quando o Senhor ordenou clérigos em todas as partes por intermédio da minha humilde pessoa eu lhes conferi o ministério gratuitamente, se pedi de alguém qualquer recompensa, ou um valor que seja de um par de sapatos, digam-me na minha frente e os restituirei. [Referências Bíblicas: I Rs 12,3 (V.L).]


51
Além disso, eu fiz todos os esforços por vós para que me recebessem, e andava no meio de vós, e em todo lugar, por vossa causa, em muitos perigos mesmo nas regiões mais remotas onde não havia ninguém e ninguém havia vindo antes para batizar, ordenar clérigos ou confirmar pessoas. Tudo fiz, pela graça de Deus, para vossa salvação. [Referências Bíblicas: II Cor. 12,15.]


52
De vez em quando, dei presentes aos reis e também dei recompensas aos seus filhos que viajavam comigo; todavia me prenderam com meus companheiros e naquele dia desejavam com muita avidez matar-me, mas minha hora ainda não havia chegado, e tudo que puderam encontrar conosco eles saquearam e me prenderam a ferros; e no décimo quarto dia o Senhor me libertou do poder deles e tudo o que era nosso nos foi devolvido por Deus e por conta dos amigos imprescindíveis que antes fizemos. [Referências Bíblicas: Cf. Jo. 7,6; cf. At. 10,24.]


53
Vós sabeis por experiência própria o quanto eu gastava com aqueles que proferiam sentenças por todas as regiões que eu mais frequentemente visitava. Penso que verdadeiramente distribui a eles nada menos que o preço de quinze homens, afim de que pudessem desfrutar da minha companhia e eu pudesse usufruir da vossa sempre, em Deus. Não me arrependo e nem considero o bastante: ainda pago e pagarei ainda mais; poderoso é o Senhor para conceder que logo eu possa pagar o meu próprio ser pelas vossas almas. [Referências Bíblicas: II Cor. 12,15; cf. II Cor. 1,23 e Gl. 1,20.]


54
Eis que invoco Deus por testemunha sobre minha alma como prova de que não estou mentindo: nem escreveria a vós para dar ocasião de lisonja ou avareza, nem esperaria honra de qualquer de vós; suficiente na verdade é a honra que não é vista, mas na qual o coração confia; fiel é o que promete; ele nunca mente. [Referências Bíblicas: II Cor. 1,23; cf. Gl. 1,20 e I Ts. 2,5; cf. Rm. 10,10; Hb. 10,23; Tt 1,2.]


55
Mas vejo que aqui mesmo tenho sido exaltado sobremodo pelo Senhor, e eu não era digno de que ele me concedesse isso, porquanto eu sei com certeza que a pobreza e a calamidade se adequariam melhor a mim do que a riqueza e o deleite (mas Cristo o Senhor se fez pobre por nós, eu realmente sou miserável e infeliz sou e mesmo que quisesse a riqueza não tenho, nem é este meu próprio juízo;) porque cotidianamente espero ser morto, traído ou reduzido à servidão se a ocasião surgir, mas nada disso temo por causa das promessas celestiais, porque me lancei nas mãos de Deus onipotente, que reina para todo o sempre, assim como diz o profeta: “lança a tua carga sobre Deus e ele te sustentará”. [Referências Bíblicas: Gl. 1,4; I Cor. 4,3; II Cor. 8,9; At. 20,24; Sl. 54,23 (55,22).]


56
Eis que agora encomendo minha alma ao meu fidelíssimo Deus, por quem cumpro a minha missão apesar da minha insignificância, mas porque ele não faz acepção de pessoas e me escolheu para esta obra para que eu fosse um dos menores de seus ministros. [Referências Bíblicas: I Pd. 4,19; Ef. 6,20; Mt. 25,40.]


57
Por esta razão eu devo retribuir-lhe por tudo que ele me tem retribuído. Mas o que deveria dizer ou prometer ao meu Senhor, só tenho aquilo que ele próprio me concedeu? Mas deixe que ele sonde meu coração e minhas entranhas porque almejo muito por isso, demasiadamente até, e estou pronto para que ele me conceda beber do seu cálice, assim como concedeu a outros que o amaram. [Referências Bíblicas: Sl. 7,10 e 115(116),12; Mt. 20,22.]


58
Por isso, pela vontade do meu Deus que eu jamais seja separado do seu povo, que ele conseguiu nos lugares mais remotos da terra. Eu oro a Deus para que ele me dê perseverança e que ele se digne a que eu me torne dele desde agora até o tempo da minha passagem por causa do meu Deus. [Referências Bíblicas: Is. 43,21.]


59
E se em qualquer momento fiz algo bom por amor ao meu Deus, a quem amo, imploro que ele me conceda derramar meu sangue pelo seu nome, junto com os convertidos e cativos, seja mesmo eu insepulto ou meu cadáver miserável seja repartido membro a membro pelos cães ou pelas feras selvagens, ou ainda devorado pelos pássaros do céu. Certamente penso que se isso ocorresse a mim, eu ganharia como recompensa minha alma com o meu corpo, porque além de qualquer dúvida naquele dia ressuscitaremos na claridade do sol, isto é, na glória de Cristo nosso redentor, como filhos do Deus vivo e co-herdeiros de Cristo, e conforme sua imagem, porque através dele, por ele e nele reinaremos. [Referências Bíblicas: Lc. 8,5; I Cor. 15,43; Rm. 8,16-17.29 e 11, 36.]


60
Pois o sol que vemos nasce todos os dias para nós sob seu comando, mas nunca governará e nem irá durar o seu esplendor, mas antes todos os que o adoram irão desgraçadamente a punição; mas nós que acreditamos e adoramos o verdadeiro sol, Cristo, que nunca morrerá, nem aquele que fizer a sua vontade, mas permanecerá para sempre exatamente como Cristo permanece eternamente, que reina com Deus pai todo poderoso e com o Espírito Santo antes do começo dos tempos e agora e para sempre. Amém. [Referências Bíblicas: I Jo. 2, 17 (V.L.).]


61
Eis que de novo relatarei brevemente as palavras da minha confissão. Eu testifico na verdade e na exultação do meu coração perante Deus e seus santos anjos que tive apenas um motivo, o Evangelho e suas promessas, para voltar àquela nação, da qual havia anteriormente escapado com dificuldade. [Referências Bíblicas: Cf. I Tm. 5,21 e II Tm. 4,1.]

62
Mas eu imploro aos que creem e temem a Deus, quem quer que se dignar a examinar, bem como receber este texto composto pelo pecador Patrício, indouto, escrito na Irlanda, que ninguém jamais atribua a minha ignorância, qualquer coisa insignificante que eu possa ter feito ou mostrado segundo agrado de Deus, mas considerai verdadeiramente e acredite que isso foi um dom de Deus. Esta é a minha confissão antes de morrer.