29/09/2015

Os seus anjos nos céus veem incessantemente a face de meu Pai celeste


Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus veem incessantemente a face de meu Pai celeste.” Mateus 18: 10.

A citação abaixo é da Hauspostille (sermonário doméstico) de Lutero, que contem sermões que ele pregou em sua própria casa para sua família e ocupantes aos domingos e dias santos quando estava impossibilitado de pregar na igreja por conta de enfermidade. O sermão é baseado em São Mateus 18.1-10 (um dos dois Evangelhos indicados no Lecionário Luterano para o dia de São Miguel e Todos os Anjos), especialmente sobre a Palavra na qual o Senhor diz que as crianças têm anjos da guarda. Lutero atem-se ao aspecto em que o Senhor valoriza de tal forma as crianças, a ponto de enviar seus “espíritos ministradores” (Hebreus 1.14) para protegê-las e guardá-las. Com isto vemos que o Senhor não somente ordena, mas nos ajuda a criar nossos filhos, algo que nenhum governo ou escola pode fazer. Estes são para proteger e defender as famílias, não para substituí-las. E nenhum pai ou mão deveria terceirizar o privilégio que o próprio Deus lhes outorgou como seus representantes na terra de educar suas crianças.

“‘Quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe’. Em outras palavras: Quem é responsável por uma criança, física e espiritualmente, a educa corretamente para que ela aprenda a conhecer a Deus, aprenda a não amaldiçoar, jurar ou roubar; Para este eu digo que está me recebendo pessoalmente, está me amando como se estivesse carregando a mim, filho de Maria, nos braços e tomando conta de mim, assim como minha mãe, Maria tomou conta de mim. Isto é pregado sempre tão docemente e atraindo-nos sempre de forma tão cativante.
Mas por que o Senhor faz isso? Apenas pela razão de que ele entende muito bem quão ávidos os jovens são para ouvir coisas obscenas e quão facilmente eles são corrompidos. Além disso, más bocas são perfeitas em auxiliar nisso e – que clamores subam a Deus no céu! - agora encontramos meninos e meninas, de dez e doze anos de idade, que são capazes de amaldiçoar e usar palavrões sobre injúrias, distúrbios físicos, depravações e tem falta de vergonha e são vulgares no modo de falar. De quem eles aprendem isso? De mais ninguém, senão daqueles que deveriam refreá-los, de pai e mãe e de vergonhosos, péssimos criados. Os jovens vieram a saber tais coisas tão rapidamente e prestam mais atenção a elas do que à oração do Pai Nosso. Isto tem as suas raízes na velha, incendiária do mal, nossa natureza pecaminosa, que gruda em nós. É por isso que Cristo prega aqui de modo tão convincente e adverte tão ternamente para cuidar dos jovens, dizendo: Quando você educa um destes pequeninos, quando eles são criados no temor e no conhecimento de Deus, na piedade e modéstia, então você me tem feito o maior serviço. Eu tenho designado meus nobres servos, os amados anjos, para servir e cuidar destes pequeninos. Lembre-se disso e faça o mesmo, não os ofenda, não os deixe ouvir maldades, e ajude-os de bom grado.”

- Bem-aventurado Martinho Lutero, sermão da Hauspostille sobre São Mateus 18.1-10 (Evangelho para o Dia de São Miguel e Todos os Anjos)

Evangelho do Dia – Festa de São Miguel e Todos os Anjos

“Anjo da Guarda Protegendo o Sonho de uma Criança”, Melchior Paul von Deschwanden (1811 – 1881)

Evangelho segundo S. Mateus 18.1-11

1  Naquela hora, aproximaram-se de Jesus os discípulos, perguntando: Quem é, porventura, o maior no reino dos céus?
 2 E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles.
 3 E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.
 4 Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus.
 5 E quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe.
 6 Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar.
 7 Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo!
 8 Portanto, se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno.
 9 Se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida com um só dos teus olhos do que, tendo dois, seres lançado no inferno de fogo.
 10 Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus veem incessantemente a face de meu Pai celeste.
 11 Porque o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido.

- Bíblia Sagrada J. F. de Almeida Revista e Atualizada (SBB)

Deus designa nossos anjos para cada um de nós

"O Anjo da Guarda" (1615), Domenichino (1581–1641)
 O bem-aventurado Johann Gerhard (1582-1637), grande Pai do Luteranismo Confessional, assim escreveu sobre os anjos:

"Qual é a atitude [dos anjos] em relação aos seres humanos? Isto o Senhor Jesus Cristo revela com uma palavra quando Ele os chama de "seus anjos", isto é, anjos dos pequeninos, os servos das crianças e todos os crentes. ... Eles prestam esse serviço a todos os cristãos de diversas maneiras. Quando somos crianças, Deus designa nossos anjos para cada um de nós, como Cristo nos diz no santo evangelho. Quando ficamos mais velhos e seguimos nosso próprio caminho, ou seja, andamos nos caminhos da nossa vocação, Deus também designa anjos para nós (Sl 91.11,12). Quando dormimos, os anjos nos assistem e protegem contra o diabo. Quando morremos, eles levam a nossa alma para o seio de Abraão (Lc 16.22). Sua proteção está sobre nós do começo ao fim da vida . ... Por que os anjos servem prontamente aos crentes visto que são muito mais nobres e superiores do que nós?

(1)    Porque eles são confirmados no bem e, por essa razão, obedecem alegremente e plenamente a vontade de Deus. A vontade e a ordem de Deus é que eles nos sirvam (Hb 1.14). As hostes dos céus — sol, a lua e as estrelas — mantém a ordem dada por Deus por causa dos seres humanos. Ainda mais as hostes celestiais dos santos anjos manterão esta ordem.

(2)    Porque a nossa natureza é ressuscitada em Cristo acima de todos os anjos e arcanjos (Ef 1.20, 21; Hb 1.4). Portanto, os anjos não se recusam a servir-nos, em honra à natureza humana assumida por Cristo. Assim como uma raça inteira é honrada por meio de um casamento, assim também as bodas do Filho de Deus com a humanidade restaurou a honra da raça humana (Mt 22.2). É de admirar, então, que os anjos nos servem, uma vez que o Filho de Deus, o Senhor dos anjos, veio para a terra para que Ele pudesse nos servir?

(3)    Porque o amor é puro e perfeito nos anjos, eles nos servem alegremente, assim como o Senhor, que é amor (1 Jo 4.8), em cuja imagem os anjos foram criados, e que declarou: "Eu me alegrarei em fazer -lhes o bem "(Jr 32.41).

(4)    Finalmente, pela razão de que nós seremos um dia com eles no céu e nos juntaremos ao seu coro de louvor a Deus, os anjos estão felizes em nos servir aqui na terra."

-- Sermão de Johan Gerhard sobre Mateus 18.1-11 (Fred H. Lindemann. The Sermon and the Propers, volume IV: Trinity Season – Second Half. St. Louis: Concordia Publishing House​, 1959. p. 72, 74-75.

Da mão do anjo subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos


Pintura no teto da Basílica de Esztergom (Hungria) ilustrando a Santíssima Trindade circundada pelos anjos

A Igreja Cristã sempre teve os anjos em alta conta e reconheceu seu status único na criação de Deus. Por isso, há um dia no calendário da Igreja que é dedicado especialmente aos anjos: 29 de setembro – São Miguel e Todos os Anjos. “Lembremos, pois, em gratidão, os anjos que, com prontidão, nos servem devotados.” (Hinário Luterano, # 510)

As Confissões Luteranas nos recordam a incessante intercessão dos anjos por nós diante do trono celeste:

“Demais, também concedemos que os anjos oram por nós. Pois há o testemunho de Zacarias 1, onde o anjo reza: "Ó Senhor dos Exércitos, até quando não terás compaixão de Jerusalém? etc.” [Zc 1.12] (Apologia da Confissão de Augsburgo, Artigo XXI)

“É verdade que os anjos no céu intercedem por nós (como também faz o próprio Cristo); da mesma forma os santos na terra ou, talvez, também os santos no céu. Disso, porém, não se segue que devamos invocar os anjos e os santos.” (Artigos de Esmalcalde, 2ª Parte, 2ª Artigo)

Festa de São Miguel e Todos os Anjos – 29 de setembro

“O Arcanjo Miguel e os Anjos Rebeldes” (c.1592–1593), Giuseppe Cesari (1568–1640)

O nome do arcanjo São Miguel significa “Quem é como Deus?” Miguel é mencionado no Livro de Daniel (12.1), bem como em Judas (v. 9) e Apocalipse (12.7). Daniel retrata Miguel como o ajudador angélico de Israel que lidera a batalha contra as forças do mal. Em Apocalipse, Miguel e seus anjos combatem e derrotam Satanás e os anjos maus, lançando-os do céu. Sua vitória é possível graças a vitória de Cristo sobre Satanás na sua morte e ressurreição, uma vitória anunciada pela voz no céu: “Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo” (Apocalipse 12.10). Miguel é muitas vezes associado com Gabriel e Rafael, os outros anjos principais ou arcanjos que circundam o trono de Deus. A tradição designa Miguel como o patrono e protetor da Igreja, o Novo Israel de Deus, especialmente como o protetor dos cristãos na hora da morte.

Cor litúrgica: Branca

LEITURAS:

† Antigo Testamento: Daniel 10.10-14; Daniel 12.1-3
† Salmo: Salmo 91 (antífona vers. 11 )
† Epístola: Apocalipse 12.7-12
† Santo Evangelho: São Mateus 18.1-11 ou São Lucas 10.17-20


ORAÇÃO DO DIA:

Deus eterno, tu ordenaste e constituíste o serviço dos anjos e dos homens numa ordem maravilhosa. Concede misericordiosamente que, assim como teus santos anjos sempre servem e adoram a ti no céu, igualmente, por tua ordem eles também possam ajudar e nos defender aqui na terra; através de teu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House​, 2008. p. 768)

21/09/2015

Evangelho do Dia – São Mateus, Apóstolo e Evangelista

“O Chamado de São Mateus” Jan van Bijlert (1597/98 - 1671), Museum Catharijneconvent, Utrecht

Evangelho segundo S. Mateus 9.9-13

9 Partindo Jesus dali, viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu.
 10 E sucedeu que, estando ele em casa, à mesa, muitos publicanos e pecadores vieram e tomaram lugares com Jesus e seus discípulos.
 11 Ora, vendo isto, os fariseus perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?
 12 Mas Jesus, ouvindo, disse: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes.
 13 Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento.

- Bíblia Sagrada J. F. de Almeida Revista e Atualizada (SBB)

Festa de São Mateus, Apóstolo e Evangelista – 21 de setembro

“São Mateus” (c. 1625), Frans Hals (1582/1583–1666)

São Mateus, também conhecido como Levi, se identifica como um cobrador de impostos sendo, portanto, considerado impuro, um pecador manifesto, excluído do povo judeu. No entanto, foi uma pessoa como esta que o Senhor Jesus chamou para deixar sua profissão e riqueza e se tornar um discípulo (Mt 9.9-13). Mateus não apenas se tornou um discípulo de Jesus, como também foi chamado e enviado como um dos doze apóstolos do Senhor (Mt 10.2-4). Com o tempo, se tornou o evangelista cujo registro inspirado do Evangelho obteve o primeiro lugar no ordenamento do Novo Testamento. Dentre os quatro Evangelhos, Mateus retrata Cristo, especialmente como o novo e maior Moisés, que graciosamente cumpre a Lei e os Profetas (Mt 5.17) e estabelece uma nova aliança de salvação em e com seu próprio sangue.

Cor litúrgica: Vermelha

LEITURAS:

† Antigo Testamento: Ezequiel 2.8 – 3.11
† Salmo: Salmo 119.33-40 (antífona vers. 35)
† Epístola: Efésios 4.7-16
† Santo Evangelho: S. Mateus 9.9-13


ORAÇÃO DO DIA:


Ó Filho de Deus, nosso bendito Salvador Jesus Cristo, tu chamaste Mateus, o cobrador de impostos para ser apóstolo e evangelista. Por meio de seu fiel e inspirado testemunho, concede que também possamos te seguir, deixando para trás todos os desejos de cobiça e amor às riquezas; pois tu vives e reinas com o Pai e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House, 2008. p. 743-44)

17/09/2015

Dia da Santa Cruz: mensagem e liturgia

No último dia 14 de setembro a cristandade, incluindo luteranos, celebrou a Festa da Santa Cruz. O bem-aventurado Martinho Lutero escreveu certa vez que "o teólogo da cruz diz as coisas como elas são". É isto que o Rev. Elissandro Ribeiro faz ao proclamar a mensagem da Cruz - escândalo para alguns, mas poder de Deus  para os que estão sendo salvos -, por ocasião da festividade, observada no dia 13/09/2015 na Congregação Evangélica Luterana Paz de Ponta Grossa, PR. Confira o estudo, sermão e liturgia do culto:

DIA DA SANTA CRUZ

Salmo 40.1-10; Números 21.4-9; I Coríntios 1.18-25; João 12.20-33

CONTEXTO LITÚRGICO

Respondendo a certa acusação, a Confissão de Augsburgo, no vigésimo quarto artigo, afirma:
“Pois a missa é retida entre nós e celebrada com máxima reverência. Também são conservadas quase todas as costumeiras cerimônias”.
A Apologia da Confissão, no vigésimo quarto artigo, também afirma:

“Devemos, inicialmente, antecipar de novo que não abolimos a missa, senão que a mantemos e defendemos escrupulosamente. Pois, entre nós realizamos missas todos os domingos e outros dias de festa, nos quais o sacramento é administrado aos que querem fazer uso dele, depois de terem sido examinados e absolvidos. E observam-se as cerimônias públicas usuais, a ordem das leituras, das orações, das vestes e outras coisas semelhantes”.
Firmados nesta linha, continuamos mantendo a celebração da missa entre nós e das datas festivas em memória dos santos de nosso Senhor Jesus Cristo. A lista destas celebrações consta os santos apóstolos, pais da igreja, alguns santos modernos, como por exemplo, no caso da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, que no dia 21 de dezembro celebra a memória de August Wilhelm Gowert, leigo pioneiro de nosso Sínodo.

No entanto, dia 14 de setembro, dia da Santa Cruz, é o único dia do calendário da igreja que não se celebra alguma pessoa, mas um objeto. O nome do dia é Dia da Santa Cruz, no entanto, no âmbito luterano e especialmente em circuitos “evangélicos”, a palavra “santa” parece ter muito mais peso do que deveria ter. Chamar o Dia da Santa Cruz é tão possível quando chamar o dia que Jesus morreu como Sexta-feira Santa. Este foi o objeto pelo qual Jesus Cristo trouxe a salvação ao mundo.

ESTUDOS DOS PRÓPRIOS DO DIA

Introdução a ser usado no culto: O Dia da Santa Cruz é uma das mais antigas celebrações anuais da Igreja sendo celebrada desde quatorze de setembro do ano 320. Esta data começou a ser celebrada, segundo a tradição, por que teria sido o dia que Helena, mãe do imperador romano Constantino, teria achado a verdadeira cruz onde Jesus, o Salvador, teria morrido. Independente de o fato ser ou não verídico, celebra-se o dia da Santa Cruz, lembrando da verdadeira cruz e especialmente daquilo que aconteceu naquela cruz. A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo aponta para a vitória de nosso Salvador.

Leituras
  • Salmo 40.1-11 (antífona verso 13): O salmo 40 é um salmo muito apropriado para celebrar o dia da Santa Cruz, pois, é um relato de alguém que foi alvo da ação de Deus. A ação de Deus pode ser bem expressada no segundo verso deste salmo: “Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos”.
  • Números 21.4-9: o povo de Deus está peregrinando do deserto em direção a Terra Prometida. E no meio do caminho eles se rebelam contra Deus e contra Moisés. Eles preferiam viver sob a escravidão do que viver sob os cuidados de Deus. Ele, o Senhor, envia o castigo; e o povo percebendo o seu pecado, suplicou a Deus o seu perdão. Deus ouviu o seu povo e envia a solução. Em João 3.14-15, Jesus conecta este evento a sua própria cruz.
  • I Coríntios 1.18-25: Neste primeiro capítulo de I Coríntios, versículos 1-10, encontra-se a descrição de um problema que a congregação de Corinto enfrentava e tal problema era a divisão. A solução está bem clara nos versículos 18-25 e tal solução é a Palavra da cruz. A solução está centrada na pregação centrada na cruz. A mensagem da cruz é o poder de Deus e esta mensagem é a sabedoria de Deus.
  • João 12.20-33: O Evangelho traz temáticas importantes para este dia que celebramos a Santa Cruz: conceito de glorificação, estilo de morte que Jesus teria e a consequência desta morte: atrair muitas pessoas.
Introito[1]: O introito, especialmente com a antífona, lança uma base, uma afirmativa sobre a salvação e sua manifestação. E no corpo do salmo, somos convidados a cantar um cântico, a exaltar a Deus por causa de sua vitória.

Coleta do Dia[2]: A Coleta do Dia apresenta temas importantes para o Dia da Santa Cruz e começa lançando o fundamento e a partir deste fundamento constrói a oração. O fundamento é: Cristo foi “levantado na cruz para que pudesse levar os pecados do mundo e atrair todas as pessoas a ti.” Com base neste fundamento, temos a petição: “concede a nós, que gloriamos na sua morte para a nossa redenção, ouçamos o convite de carregar a nossa cruz e seguir Jesus”.

Gradual[3]: O Gradual apresenta uma promessa messiânica e sua concretização. E ambos os textos falam de levantar.

Verso[4]: O verso do dia apresenta um orgulho santo, bom e salutar: “eu me orgulharei somente da cruz do nosso Senhor Jesus Cristo” (NTLH).

Prefácio Próprio da Semana Santa[5]: O Prefácio Próprio é o mesmo usado para a Semana Santa e dois temas se destacam:
  1. que no lenho da cruz deu salvação à humanidade, para que haja novamente vida onde havia morte,
  2. e para que a serpente que venceu pela árvore do jardim seja da mesma forma vencida pela árvore da cruz.
PEQUENA REFLEXÃO DO TEXTO

O texto escolhido é do Evangelho do dia, João 12.20-33. Creio que João 3.13-17 seria um texto mais adequado para este Dia da Santa Cruz, pois, a parceria promessa messiânica e seu cumprimento seria mais clara e evidente.

O Evangelho de João, segundo a Lutheran Study Bible, está dividido em seis partes: Prólogo: a Palavra tornou-se carne (1.1-1.18); Ministério de Jesus (1.19-10.42); Morte, ressurreição e incredulidade (11-12); Páscoa e Semana Santa (13-19); A ressurreição de Jesus Cristo (20) e finalmente temos o epílogo (21). Segundo esta divisão, o texto que estamos trabalhando estaria dentro da temática chamada morte, ressurreição e incredulidade. Dentro desta temática morte e ressurreição, encontra-se vários relatos ligado a estas duas palavras: Ressurreição de Lázaro (11.1-45); líderes planejam a morte de Jesus (11.47-1157); Jesus é ungido por Maria em Betânia (12.1-8); Plano para tirar a vida de Lázaro (12.9-11); entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. E finalmente, o nosso texto (12.20-33) e concluído esta temática morte, ressurreição e incredulidade, nos versículos subsequentes, 37-43, temos o relato da incredulidade e o resumo nos versículos 44-49.
  • Versículo 20: este primeiro versículo nos dá algumas informações importantes, por exemplo, a localização, o relato ocorre em Jerusalém durante uma a festa judaica chamada Páscoa, festa que celebra a libertação da escravidão egípcia. E durante estes dias de festas muitos judeus vão em direção a Cidade Santa a fim de cultuar a Deus. O texto faz referência a gregos e eles também subiam para cultuar. O comentário da Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB) e da Bíblia de Estudo Almeida afirma que estes gregos eram simpatizantes ou prosélitos.
  • Versículos 21-22: E são estes gregos que vão procurar os discípulos de Jesus para ver ser conseguem “marcar um horário” na concorrida agenda de Jesus. E os discípulos vão falar a Jesus sobre este encontro. A explicação, segundo a nota da Lutheran Study Bible, por que os gregos foram procurar Filipe é por causa dele ter nome grego e ser de procedência de uma área próxima a Decápolis.
  • Versículo 23-26: A impressão que tenho que Jesus não deu muita importância ao agendamento da entrevista com Jesus, pois, Ele responde com um discurso sobre a sua morte. E no final, nada sabemos se estes gregos chegaram a encontrar Jesus. Suponho que sim, pois, Jesus sempre estava de braços abertos para receber pecadores.
    No versículo 24, Jesus fala de sua glorificação e o seu conceito de glorificação é bem diferente do que temos. A glorificação de Jesus, seu poder, sua autoridade está naquilo que Ele, de forma livre, fez na cruz. A cruz é demonstração de seu poder sobre todos os inimigos. E Jesus continua o seu discurso e apresenta paradoxos, pois fala da vida que se multiplica na morte; glória que vem por meio da cruz.
  • Versículo 27: Este versículo é muito similar com textos de outros evangelistas descrevendo os momentos de angustia antes da Paixão de Cristo e Jesus ora por este momento, mas Ele mesmo afirma: “Mas precisamente com este propósito vim para esta hora”.
  • Versículos 28-30: Temos a continuação da suplica de Jesus e a devida resposta de Deus Pai ecoando no cenário. E finalizando, versículos 31-33, Jesus fala de sua morte. O versículo 32 faz referência à leitura do Antigo Testamento, pois, assim como a serpente de bronze foi levantada, Jesus seria levantado na cruz para a salvação de toda a humanidade, atraindo para si mesmo uma grande multidão.
A SANTA CRUZ NAS EPÍSTOLAS PAULINA

O Apóstolo São Paulo tratou da temática da cruz em vários de seus escritos. Em Gálatas, capítulo 5, ele descreve sobre viver em Cristo e viver pela Lei. E ele diz que se pregasse circuncisão estaria desfazendo o sacrifício na cruz. Em Gálatas 6.14, Paulo fala de um orgulho que é bom, pois, se devemos nos orgulhar por alguma coisa, que nos orgulhemos daquilo que Cristo fez por nós na Cruz. Em Efésios 2.16 nos é dito que Cristo derrubou o muro de inimizade entre gentios e judeus, unindo, através da cruz, um único povo. E para a última reflexão, Cristo cravou tudo o que era contrário a nós na cruz conforme Colossenses 2.14-15.

ASPECTOS HOMILÉTICOS

O sermão tem como base o Evangelho do dia, mas também vai levar em consideração o Prefácio próprio. Ao celebrarmos o Dia da Santa Cruz, concentramos no seu significado; naquilo que Cristo é (verdadeiro Deus e verdadeiro homem); e naquilo que Cristo fez no madeiro. A cruz, aquilo que aconteceu na cruz, é o centro da nossa fé. Cristo usou a cruz por nós. A cruz de Jesus Cristo é prova clara de que o pecado é levado a sério, mas também nos mostra até onde o nosso Deus vai para nos salvar e Ele foi até a cruz.

SERMÃO

Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém.

Dos textos lidos destaco o seguinte versículo: “Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora”. E o segundo versículo, “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo”.

Que o Espírito Santo guarde estas palavras em vossas mentes e corações para a vida eterna. Amém.

Oremos: “É verdadeiramente digno, justo e do nosso dever que em todos os tempos e em todos os lugares te demos graças, ó Senhor, Santo Pai, onipotente, eterno Deus, mediante Jesus Cristo Nosso Senhor, que no lenho da cruz deu salvação à humanidade, para que haja novamente vida onde havia morte, e para que a serpente que venceu pela árvore do jardim seja da mesma forma vencida pela árvore da cruz. Amém.”

Meus caros irmãos, hoje, dia 13 de setembro de 2015 faz um ano, sete meses e alguns dias que estou exercendo as minhas atividades pastorais em nossa Comunidade. E neste tempo vocês já perceberam que gosto das chamadas Festas Menores, como por exemplo, Dia de São José, Dia da Virgem Maria, Dia de São João Batista, Dia de São Lucas, e várias outras festividades que foram celebradas durante este tempo que estou aqui. E sabe por que gosto de preservar estas datas? Gosto de preservar como lembrança daquilo que o nosso Deus fez na vida de seus santos, pessoas como cada um de nós. E Deus não mudou, pois, o mesmo Deus que agiu na vida dos grandes santos, na vida dos grandes homens e mulheres da cristandade, continua agindo através de sua Palavra e dos sacramentos na tua e na minha vida.

No entanto, todas estas festas menores tratavam de pessoas, mas hoje vamos falar de um objeto, a cruz. Inicialmente está festa teve seu início em 320 com a teoria que Helena, mãe do rei Constantino, havia achado a cruz original, a mesma cruz usada na morte de nosso Senhor Jesus Cristo. Indiferente se este fato for verdadeiro ou não, celebramos este dia para revisarmos, relembrarmos o que ouvimos hoje do apóstolo Paulo e ele chama de “a palavra da Cruz”.

O relato que ouvimos no Santo Evangelho ocorreu em Jerusalém, mas especificamente durante a Páscoa Judaica, onde o povo celebrava a saída do povo da escravidão do Egito. E nesta festa vinham israelitas de várias partes, mas também vinham simpatizantes, aqueles que gostavam daquela fé, e ouvimos sobre os gregos que queriam ver Jesus Cristo. Nada sabemos com o que aconteceu com eles, se eles conseguiram ver Jesus, mas considerando o grande amor de nosso Salvador e por tudo o que Ele fez, podemos dizer sem medo de errar que eles foram atendidos e viram Jesus Cristo.

Os discípulos de Jesus veem falar dos gregos e ouvem de Jesus uma resposta diferente: “É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem”. Glorificação... Talvez pudéssemos pensar que a glorificação que Jesus estivesse falando fosse o fato de pessoas de outros povos queriam ver Jesus, também é, mas não é disto que o texto está nos apontando, pois, logo em seguida Jesus fala sobre a morte usando o exemplo do grão de trigo. Jesus fala da vida que surge a partir da morte. Ele estava falando de sua própria morte.
Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, também fala de quão angustiada estava a sua alma e pede para não passar por este momento, mas Ele mesmo afirma que se encarnou no ventre da Virgem Maria com objetivo de passar pela cruz. Jesus, a Palavra encarnada de Deus, veio para morrer a fim de nos salvar.
Aqui vemos o qual grave é o pecado e qual condenável ele é. Por que mesmo Jesus sentido imensa angustia e sofrimento, Ele prefere ficar neste mundo e ir até o final, ir até a cruz a fim de que fôssemos salvos e perdoados. Jesus prefere a cruz. E Jesus diz: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo”. Quando Jesus foi levantado na cruz, Ele comprou para Deus toda a humanidade, atraindo pela sua graça, nos tirou do reino das trevas para o reino de Deus.

Existem muitas pessoas que se chocam ao ver a cruz em nossas igrejas e o choque é maior quando veem um crucifixo. A alegação é que Jesus ressuscitou. Isto é verdade, Jesus ressuscitou e essa verdade nunca foi negada. Mas nós, luteranos, aos olharmos para a cruz de Cristo vemos além do sofrimento. A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo é sinal de poder, é sinal de vitória. O apóstolo Paulo diz: “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus”.

Em Colossenses, capítulo 2, leremos que estávamos mortos e perdidos e agora nós estamos vivos por causa de Jesus. Ele pegou tudo aquilo que era contrário a nós que nos acusava e pregou tudo isto na cruz: “E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz.

Na oração que fiz antes do sermão, dois pontos se destacam. O primeiro ponto é que Cristo no lenho da cruz deu salvação à humanidade, para que haja novamente vida onde havia morte. A oração é belíssima, a cruz, sinal de morte traz vida onde a morte reinava. Você e eu estamos vivos devido aquilo que Cristo fez na cruz.

O segundo ponto é expresso na seguinte frase “e para que a serpente que venceu pela árvore do jardim seja da mesma forma vencida pela árvore da cruz”. A serpente iludiu os nossos primeiros pais usando o uma árvore do jardim, mas Cristo, Senhor nosso, com outra árvore, a cruz, destruiu o poder da serpente, nos libertando e dando vida.

Em todos os Domingos ou em quase todos os Domingos, nós temos, no início do Culto, a entrada da Cruz, das Velas, e em cultos especiais, a entrada do Evangeliário. Isto é chamado de Processional. Nós também temos a saída e isto é chamado de Recessional. Tanto o processional, como o recessional é para nos lembrar que somos um povo que depende da salvação conquistada na cruz. Somos um povo que tem a mensagem da cruz como bandeira. A cruz entrando na igreja, nos lembra que a mensagem da cruz nos leva a Deus. E no final do nosso culto, somos lembrados que esta mensagem deve nos preceder quando saímos da igreja. Nós somos um povo que vive a sombra da cruz de Cristo.

Meus caros irmãos, irmãs, prezados amigos, hoje nós estamos lembrando o Dia da Santa Cruz, não por que ela tenha algum poder especial. Nós estamos lembrando a Cruz, por que nela Jesus entregou a sua vida para nos dar a vida. Nós lembramos a Cruz, pois, nela Jesus mostrou todo o seu poder e nos fez seu povo. Na Cruz, Jesus nos libertou do império das trevas e nos transportou para o seu reino, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados.

Que a paz de Deus excede todo entendimento humano guarde a vossa mente e o vosso coração para a vida eterna. Amém.
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1. O introito do  dia tem como base o Salmo 98.1,4, 6 sendo a antífona o verso 2 do mesmo Salmo:
 

O SENHOR fez notória a sua salvação; manifestou a sua justiça perante os olhos das nações.

Cantai ao SENHOR um cântico novo, porque ele tem feito maravilhas; a sua destra e o seu braço santo lhe alcançaram a vitória.
Celebrai com júbilo ao SENHOR, todos os confins da terra; aclamai, regozijai-vos e cantai louvores.
com trombetas e ao som de buzinas, exultai perante o SENHOR, que é rei.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito, como era no princípio, agora é, e por todo sempre há de ser. Amém.


O SENHOR fez notória a sua salvação; manifestou a sua justiça perante os olhos das nações.


2. Misericordioso Deus, teu Filho, Jesus Cristo, foi levantado na cruz para que pudesse levar os pecados do mundo e atrair todas as pessoas a ti. Concede que nós, que gloriamos na sua morte para a nossa redenção, possamos atender fielmente ao teu chamado para suportar a cruz e seguir a Ele, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.


3. O Gradual é a combinação de dois textos, sendo um do Antigo Testamento (Isaías 49.22ª) e o outro do Evangelho (João 3.14b-15):
 

Assim diz o SENHOR Deus: Eis que levantarei a mão para as nações e ante os povos arvorarei a minha bandeira
Importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.

4. O verso do dia foi retirado de Gálatas 6.14: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo".
 

5. É verdadeiramente digno, justo e do nosso dever que em todos os tempos e em todos os lugares te demos graças, ó Senhor, Santo Pai, onipotente, eterno Deus, mediante Jesus Cristo Nosso Senhor, que no lenho da cruz deu salvação à humanidade, para que haja novamente vida onde havia morte, e para que a serpente que venceu pela árvore do jardim seja da mesma forma vencida pela árvore da cruz. Portanto, com os anjos e arcanjos e com toda a companhia celeste, louvamos e magnificamos o teu glorioso nome, exaltando-te sempre, dizendo:



FOLHETO LITÚRGICO PARA O DIA DA SANTA CRUZ



Rev. Elissandro Ribeiro da Silva
Congregação Evangélica Luterana Paz - Ponta Grossa/PR

14/09/2015

Dia da Santa Cruz – 14 de setembro

“Descoberta da Verdadeira Cruz” (c. 1745), , Giovanni Battista Tiepolo (1696-1770)

Uma das mais antigas celebrações anuais da Igreja, o Dia da Santa Cruz, comemora tradicionalmente a descoberta da cruz original de Jesus em 14 de setembro de 320, em Jerusalém. A cruz foi encontrada por Helena, mãe do imperador romano Constantino, o Grande. Juntamente com a dedicação de uma basílica no local da crucificação e ressurreição de Jesus, este dia festivo foi oficializado por ordem de Constantino em 335 d. C. Helena, uma cristã devota, ajudou a localizar e autenticar muitos locais relacionados à vida, ministério, morte e ressurreição de Jesus nas terras bíblicas. O Dia da Santa Cruz permaneceu popular tanto no cristianismo oriental quanto ocidental. Muitas paróquias luteranas utilizam “Santa Cruz” como o nome de suas congregações.

Cor litúrgica: Vermelha

LEITURAS:

† Antigo Testamento: Números 21.4-9
† Salmo: Salmo 40.1-11 (antífona vers. 13 )
† Epístola: 1 Coríntios 1.18-25
† Santo Evangelho: S. João 12.20-33


ORAÇÃO DO DIA:

Misericordioso Deus, teu Filho, Jesus Cristo, foi levantado na cruz para que pudesse levar os pecados do mundo e atrair todas as pessoas a ti. Concede que nós, que gloriamos na sua morte para a nossa redenção, possamos atender fielmente ao teu chamado para suportar a cruz e seguir a Ele, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House​, 2008. p. 721-22)