“O Evangelho segundo São Lucas 11. 1-4”
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!
O Santo Evangelho para este VII Domingo após o Pentecostes traz Jesus Cristo “orando em certo lugar” (São Lucas 11.1a). Os seus discípulos que lá estavam com ele, o esperaram terminar a sua oração e, então, lhe pediram: “Senhor, ensine-nos a orar” (São Lucas 11.1b). Este é um pedido extremamente interessante por duas razões:
Primeiramente, era comum naquela época o uso de orações fixas que caracterizavam determinado grupo. Por exemplo, os judeus tinham as suas orações que o identificavam como judeus. Assim também ocorria com os seguidores de João Batista, conforme citado neste primeiro verso. Deste modo, os discípulos de Jesus pedem por uma oração que os identifiquem como tal. Isto significa que a oração que Jesus ensina aos seus discípulos – que nós denominamos de “Oração do Pai Nosso” – não é uma oração de toda a humanidade. Pelo contrário, é uma “Oração do Discipulado Cristão” e, portanto, uma Oração da Igreja de Cristo. Historicamente, isto fica evidente no fato de que a Igreja Primitiva somente ensinava esta oração aos seus catecúmenos um dia antes do recebimento destes na Igreja. Compreendendo esta oração ensinada por Jesus desta maneira, o bem-aventurado Martinho Lutero ao ensinar sobre ela em seu Catecismo Menor, afirma: “Deus quer atrair-nos carinhosamente com estas palavras, para crermos que ele é o nosso verdadeiro Pai e nós, os seus verdadeiros filhos, para que lhe roguemos sem temor, com toda a confiança, como filhos amados ao querido Pai” (Cm III, Introdução). De fato, esta oração ensinada por Jesus é a oração de um filho para seu Pai, da Igreja para o seu Senhor!
Além disso, este pedido dos discípulos é extremamente interessante porque ele revela algo fundamental sobre a oração: A oração precisa brotar da Palavra de Deus. Afinal, orar de forma agradável ao Senhor não é simplesmente orar com sinceridade, emoção realizando algum sacrifício. Orar de forma agradável ao Senhor é orar a sua Palavra. Por isso, uma boa forma de lembrarmos o que é a Oração e até mesmo, se quisermos, iniciar nossas orações é dizer as Palavras do Salmo 51.15: “Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará o teu louvor”. Ou seja, Senhor, ensine-me a orar e coloque as suas Palavras certas em minha boca e em meu coração.
Atendendo ao pedido feito pelos seus discípulos, Jesus diz a eles: “Quando vocês orarem, digam” (São Lucas 11.2a). Observem esta Palavra de Jesus! Ele não diz “se vocês quiserem, podem orar o que segue” ou ainda “algumas vezes vocês podem orar assim”. Não! Ele diz: “Quando vocês orarem, digam”. Isto quer dizer: “Sempre que vocês orarem, orem assim”.
Em outras palavras, Jesus está ensinando aos seus discípulos – aos seus seguidores, sua Igreja – que eles sempre deveriam orar estas Palavras, ou então que, ao menos, todas as suas orações deveriam ser baseadas e inspiradas nesta que ele estava ensinando. Por que isso? Como dito anteriormente, esta é a oração que caracteriza e identifica o discípulo de Cristo, o cristão. E justamente por isso, nela se ora pelo necessário e mais importante para a vida do cristão. E ainda, só para reafirmar, ela é a pura e clara Palavra de Deus! Desse modo, orada pelo cristão em Fé genuína, ela é uma oração que agrada ao Senhor.
Esta oração, ensinada por Jesus Cristo aos seus discípulos e que nós denominamos de “Pai Nosso” é descrita aqui pelo Evangelista Lucas de forma um pouco mais breve do que é feito no Evangelho segundo São Mateus 6. 9-13. Será que Lucas esqueceu de registrar alguma coisa? Provavelmente, não. Isto quer dizer que esta pequena diferença nos dois relatos se dá pelo fato de que Jesus em mais de um momento ensinou esta oração aos seus discípulos. E por isso, as versões podem não ter ficado exatamente iguais. Por exemplo, as duas petições a mais descritas por São Mateus estão inseridas no todo aqui descrito por São Lucas.
Observe:
Quando Jesus ensina em sua oração, conforme o relato do Evangelho segundo São Mateus 6.10: “Seja feita a tua Vontade assim na terra como no céu”, ele está focando algo intimamente ligado ao pedido “Venha o teu Reino” (São Lucas 11.2b). Por que? Porque a Vontade de Deus somente é pedida, ouvida e seguida no Reino de Deus. Da mesma forma, quando é dito: “Livra-nos do Mal” (São Mateus 6.13), temos um pedido intimamente ligado à petição “e não nos deixes cair em tentação” (São Lucas 11.4). Afinal, em ambas está sendo pedido que o Pai Celestial livre o seu discípulo do Maligno, que constantemente tenta e ataca os seguidores de Jesus. Portanto, não há nenhum esquecimento ou falta no relato de São Lucas, apenas, se é que podemos dizer desta maneira, uma forma mais resumida e direta da oração que, por mais de uma vez, foi ensinada por Jesus aos seus discípulos.
Por fim, pedir ao Senhor que nos ensine a orar e, então, sempre orar as Palavras que ele nos ensinou não é algo ruim, tradicionalista ou, como infelizmente alguns acusam, fazer uso de vãs repetições. Não! Pelo contrário, ser ensinados pelo Senhor a orar e orar as suas Palavras é também uma maneira, como ensina o Apóstolo Paulo aos Colossenses, de estar em Cristo “enraizados e edificados” (Colossenses 2.7). Pois é somente a Palavra de Deus que faz com seja possível este modo de vida. Além disso, orando conforme o ensino de Jesus estaremos distante das “filosofias e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Colossenses 2.8). E ainda, orando as Palavras que Jesus ensinou testemunharemos a quem nós pertencemos e o que somos: A Igreja de Cristo onde ele é o Senhor! Afinal, nós podemos orar esta oração ensinada por Jesus por que fomos “sepultados juntamente com ele no Batismo, no qual também fomos ressuscitados por meio da Fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Colossenses 2.12). Ou seja, pertencemos ao Senhor e assim, oramos uma oração que nos identifica como tal.
Não se esqueçam do que Jesus ensinou; ore com fé, respeito e atenção as Palavras que ele deixou para vocês, pois, como disse certa vez o Dr. Martinho Lutero sobre o Pai Nosso: “Não se pode encontrar na terra oração mais nobre” (CM III 23).
Amém!
Rev. Helvécio José Batista Júnior
VII Domingo após o Pentecostes, 2019 AD