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“A Última Ceia” (1876), Carl Heinrich Bloch (1834–1890) |
Cristo quer que o sacramento seja muito usado também para que nos lembremos dele e, seguindo o seu exemplo, nos exercitemos em tal comunhão. Pois se não mais fôssemos confrontados com o exemplo, também a comunhão cedo acabaria esquecida. É o que, infelizmente, vemos agora [...]. Isso é culpa dos pregadores que não pregam o Evangelho nem os sacramentos, mas suas invencionices humanas a respeito de toda espécie de obras e maneiras de viver corretamente. Outrora, porém, se praticava este sacramento tão corretamente e se ensinava o povo a entender essa comunhão tão bem, que chegavam a reunir também os alimentos e bens materiais na igreja para distribuí-los aos carentes, como escreve São Paulo em 1 Co 11.21. É daí que permaneceu na missa o termo
collecta, isto é, uma coleta comum, como quando se junta um fundo comum para dar aos pobres. Naquela época também tantos tornaram-se mártires e santos. Então havia menos missas, mas muita força ou fruto proveniente delas. Então um cristão se preocupava com o outro, um ajudava o outro, um tinha compaixão do outro, um carregava o fardo e a desgraça do outro.
Não é difícil encontrar pessoas que [...] gostam de ouvir que neste sacramento lhes é prometido e dado auxilio, comunhão e assistência de todos os santos. Elas, entretanto, não querem retribuir a comunhão, não querem ajudar o pobre, tolerar os pecadores, cuidar dos miseráveis, solidarizar-se com os que sofrem, interceder pelos outros. [...] Nós, pelo contrário, precisamos deixar que os males dos outros também sejam nossos, se queremos que Cristo e seus santos assumam os nossos males; assim a comunhão se torna plena e se faz justiça ao sacramento.
-- Trecho de homilia do bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (Um Sermão sobre o Venerabilíssimo Sacramento do Santo e Verdadeiro Corpo de Cristo e sobre as irmandades, OSel I, 433)
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