09/08/2013

Tem piedade de mim, que sou pecador


Um fariseu e um publicano subiram até ao Templo para a oração. O fariseu começou por enunciar as suas qualidades, e proclamava: “Ó Deus, dou-te graças por não ser como o resto dos homens, que são ladrões, injustos, adúlteros; nem como este cobrador de impostos” [Lc 18.11]. Miserável, que te atreves a julgar toda a terra! Porque espezinhas o teu próximo? E ainda sentes necessidade de condenar este publicano! [...] A terra não te foi suficiente? Acusaste todos os homens, sem exceção: “por não ser como o resto dos homens [...] nem como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo quanto possuo” [Lc 18.11,12]. Infeliz! Quanta presunção nestas palavras!

Quanto ao publicano, que ouviu muito bem estas afirmações, podia ter retorquido: “Quem és tu para te atreveres a proferir tais murmurações sobre mim? Donde me conheces? Nunca viveste no meu meio, nem pertences ao grupo dos meus íntimos. Por que tamanho orgulho? Aliás, quem pode comprovar as tuas boas ações? Porque fazes dessa maneira o teu próprio elogio, e quem te incita a gloriares-te desse modo?” Mas não fez nada disso ― muito pelo contrário! Prostrou-se por terra e disse: “Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador” [Lc 18.13]. Porque fez prova de humildade, saiu justificado.

O fariseu abandonou o Templo privado de qualquer absolvição, enquanto o publicano se foi embora com o coração renovado pela justiça reencontrada. [...] E, no entanto, não havia nele ponta de humildade, no sentido em que usamos este termo quando algum nobre desce do seu status. No caso do publicano, portanto, não era de humildade que se tratava, mas de simples verdade, porque ele dizia a verdade.

- São João Crisóstomo (c. 347-407), pastor e teólogo em Constantinopla (Homilias sobre a Conversão, 2)

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