Dez Mandamentos - Sara Tyson (Luther's Small Catechism, CPH) |
Breve Forma dos Dez Mandamentos
Martinho Lutero
Prefácio
Não foi sem uma disposição especial de Deus que foi dada ao cristão simples, que não consegue ler a Escritura, a ordem de aprender e conhecer os Dez Mandamentos, o Credo e o Pai-Nosso. Na verdade, nessas três partes está contido, básica e sobejamente, tudo o que consta na Escritura e o que pode ser pregado, bem como tudo o que o cristão necessita saber. E o que ele precisa para a salvação está redigido com tal brevidade e facilidade que ninguém pode se queixar nem se desculpar de que é demais ou muito difícil para guardar. Pois é necessário uma pessoa saber três coisas para poder ser salva: a primeira, que ela saiba o que deve fazer e deixar de fazer. A segunda, que, vendo-se incapaz de fazê-lo e de deixar de fazê-lo por próprias forças, saiba de onde tirar, procurar e encontrar [meios] para poder fazê-lo e deixar de fazê-lo. A terceira, que saiba como procurá-lo e buscá-lo. Como a um doente, é-lhe necessário saber, primeiro, qual é a sua doença, o que pode ou não pode fazer ou deixar de fazer. Em seguida, é necessário que saiba onde se encontra o remédio que lhe ajude a fazê-lo e deixar de fazê-lo, como uma pessoa sadia. Em terceiro lugar, deve desejá-lo, procurar e buscar ou mandar trazê-lo. Dessa forma os mandamentos ensinam a pessoa a reconhecer a sua enfermidade, fazendo-a ver e perceber o que pode fazer ou não, o que pode deixar de fazer ou não, e a reconhecer-se como pecadora e pessoa má. Em seguida, o Credo lhe mostra e ensina onde deve encontrar o medicamento, a graça, que lhe ajude a tornar-se piedosa, para guardar os mandamentos. Indica-lhe Deus e a misericórdia, demonstrada e oferecida em Cristo. E, por fim, o Pai-Nosso lhe ensina como deve desejar a graça, como buscá-la e aproximá-la de si, a saber, por meio da oração regular, humilde e consoladora. Então ela lhe é dada, e desse modo a pessoa é salva através do cumprimento dos mandamentos de Deus.
Estas são as três coisas em toda a Escritura. Por isso começamos a aprender primeiro com os mandamentos e a reconhecer o nosso pecado, a nossa maldade, isto é, a nossa doença espiritual, pela qual não fazemos nem deixamos de fazer aquilo que deveríamos.
A primeira tábua de Moisés, a da direita,
compreende os três primeiros mandamentos, nos quais se ensina à pessoa o que precisa e deve fazer e deixar de fazer em relação a Deus, isto é, como deve portar-se frente a Deus.
O primeiro mandamento ensina como a pessoa deve portar-se frente a Deus interiormente, no coração, isto é, do que a toda hora deve lembrar-se, o que guardar e o que observar, a saber, que espere tudo de bom dele, como de um pai e bom amigo, com toda a fidelidade, fé e amor, com temor constante para não ofendê-lo, como uma criança em relação ao seu pai. Pois a natureza ensina que há um Deus que dá todas as coisas boas e ajuda em todos os males, como indicam os ídolos entre os pagãos. E diz assim:
Não terás outros deuses.
O segundo mandamento ensina como a pessoa deve portar-se frente a Deus exteriormente, em palavras perante as pessoas, ou também interiormente perante si mesma, a saber, que honre o nome de Deus, pois ninguém consegue mostrar Deus, nem para si mesmo nem para as pessoas, pela natureza divina, mas com o seu nome, e diz assim:
Não tomaras em vão o nome de teu Deus.
Santificarás o dia de descanso.
A segunda tábua de Moisés, a da esquerda,
contém os seguintes sete mandamentos, nos quais é ensinado à pessoa o que lhe compete fazer e deixar de fazer em relação às pessoas e ao seu próximo.
O primeiro ensina como a gente deve portar-se diante de todas as autoridades, que ocupam o lugar de Deus. Por isso vem antes dos demais, após os três primeiros, que se referem a Deus mesmo. [Entre elas] estão o pai e a mãe, as autoridades eclesiásticas e seculares, etc. E ele diz assim:
Honrarás o teu pai e a tua mãe.
O segundo ensina como a gente deve portar-se frente aos seus semelhantes ou frente ao seu próximo, em função da sua pessoa em si, não a ofendendo, mas, quando tiver necessidade, a favorecendo e auxiliando, e diz assim:
Não matarás.
O terceiro ensina como se portar frente ao maior bem que o próximo tem alem de sua própria pessoa, qual seja, o seu cônjuge matrimonial, filho ou antigo, não os fazendo passar vergonha, mas os mantendo em honra, tanto quando for possível a cada um, e diz assim:
Não adulterarás.
O quarto ensina como se portar frente aos bens temporais do próximo, não os levando nem os impedindo, mas os fomentando, e diz assim:
Não furtarás.
O quinto ensina como se portar frente à honra temporal do próximo e à sua boa fama, não a diminuindo, mas engrandecendo, protegendo e resguardando, e diz assim:
Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
Os dois últimos mandamentos ensinam quão má é a natureza e quão puros de todas as cobiças da carne e dos bens devemos ser. Mas nisso haverá luta e trabalho permanentes, enquanto aqui vivermos. Dizem assim:
Não cobiçarás a casa do teu próximo.
Não cobiçarás a sua mulher, servo, serva, gado ou o que lhe pertence.
Breve conclusão dos Dez Mandamentos
Cristo mesmo diz:
“O que quereis que as pessoas vos façam, isso fazei-lhes vós também; essa é toda a lei e todos os profetas.” (Mt 7.12.) Pois ninguém quer sofrer ingratidão pela sua boa ação ou entregar a sua boa fama a um outro. Ninguém quer que o tratem com arrogância. Ninguém quer sofrer desobediência, ira, adultério de sua mulher, roubo de seus bens, mentiras, logros, difamações, e sim receber do seu próximo amor e amizade, gratidão e auxílio, verdade e fidelidade. Ora, é isso tudo que os Dez Mandamentos ordenam.
-- Bem-aventurado Martinho Lutero, Breve Forma dos Dez Mandamentos (OSel 2:174-177)
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