14/09/2016

O Dia da Santa Cruz

Hoje a igreja celebra a Santa Cruz, o lenho do qual pendeu a salvação do mundo. Neste dia somos convidados pelo próprio Jesus a contemplar a salvação que conquistou para nós no Calvário, conforme ele diz no capítulo 3 do Evangelho de João: "E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.".
Por ocasião deste dia, publico minha tradução do artigo muito esclarecedor e edificante do Rev. Rick Stuckwisch (Emmaus Lutheran Church, em South Bend), publicado originalmente em Higher Things em 16/09/2008. Deus abençoe sua reflexão!

“Crucificação” (painel central do retábulo da Stadtkirche Sankt Peter und Paul, Weimar, 1555), por Lucas Cranach, o Jovem (1515-1586)

O Dia da Santa Cruz
Rev. Dr. Rick Stuckwisch

A Festa do Dia da Santa Cruz (14 de setembro) é um acréscimo relativamente recente no calendário da igreja para a maioria dos luteranos. A data festiva foi introduzida em 1982 na Igreja Luterana-Sínodo de Missouri com o hinário Lutheran Worship. Talvez ainda nem seja familiar para muitos luteranos em nossos dias. No entanto, o dia de Santa Cruz é realmente uma observação bastante antiga na história da Igreja Cristã e muitos luteranos mantiveram a sua observância nos séculos seguintes à Reforma.

As origens deste dia festivo são encontradas nas primeiras décadas do quarto século, quando Santa Helena, mãe do imperador Constantino, realizou uma pesquisa arqueológica no berço do cristianismo dentro da cidade de Jerusalém. Essa cidade santa havia sido reconstruída sob o Império Romano após a sua destruição no primeiro século (como nosso Senhor Jesus havia profetizado). Embora alguns dos detalhes, como a natureza e o grau de envolvimento de Santa Helena, não possam ser estabelecidos com absoluta certeza, existem várias testemunhas confiáveis sobre os fatos básicos do ocorrido. Os supostos locais de crucificação e sepultamento de nosso Senhor foram descobertos, desenterrados dos escombros da destruição e da reconstrução de Jerusalém. A tradição diz que três cruzes foram descobertas e uma delas foi considerada a cruz na qual o próprio Cristo Jesus havia sido crucificado. Isso foi em setembro de 320 d. C. Quando basílicas foram erguidas e dedicadas 15 anos mais tarde sobre estes locais sagrados, em meados de setembro de 335 d. C., os remanescentes daquela “verdadeira cruz” foram alojados dentro da Basílica do Santo Sepulcro. Nos anos subsequentes, esses remanescentes da cruz foram usados cerimonialmente na comemoração anual desses vários eventos, ou seja, a descoberta dos locais sagrados da morte e sepultamento de nosso Senhor, a descoberta da cruz e a dedicação das igrejas.

Centenas de anos mais tarde, após a cruz ter sido levada para a Pérsia e mais tarde recuperada sob o imperador Heráclio, a Festa da Exaltação da Santa Cruz, em 14 de setembro celebrava a sua restauração, bem como todos os eventos históricos anteriores. Esta data festiva era inicialmente do Oriente, mas foi adotada no Ocidente em tempo oportuno. Na prática ocidental, o Dia de Santa Cruz determinou as “Têmporas” do outono [primavera no hemisfério sul, n.d.t.], a Quarta-feira, Sexta-feira e o Sábado seguintes à festividade, ocasião em que eram oferecidas orações pelos frutos da terra. Desta forma, a Cruz de Cristo, pela qual ele redimiu sua criação da maldição do pecado e da morte, era levantada em em defesa da aproximação do inverno.

A Festa de Santa Cruz guarda semelhanças com a Sexta-feira Santa no seu foco sobre a Paixão de Cristo e sua morte pela crucificação. Porém, ao ser celebrado fora da solenidade penitencial da Semana Santa, o foco deste dia festivo é mais exuberante na sua exaltação da Cruz como o instrumento pelo qual o Senhor alcançou sua vitória sobre todos os inimigos de Deus e seu povo. Aqui ele é levantado como a insígnia das nações, pela qual ele atrai todos os povos para si (como ele declara no Santo Evangelho do dia). Um dos hinos do dia designados para esta festa, “Sing, My Tongue, the Glorious Battle” [“Canta, minha língua, o glorioso combate”] (Lutheran Service Book, 454), é também usado na Sexta-feira Santa, mas neste dia é contido pela reverente sobriedade com a qual lamentamos e deploramos profundamente os nossos pecados e iniquidades, pelos quais o Senhor da Glória foi crucificado. Aqui no Dia da Santa Cruz, o mesmo hino nos possibilita cantar o tom fundamental desta festa: Aclamamos a “cruz fiel” como “verdadeiro sinal de triunfo”. Ela é “a árvore mais nobre”, sobrepujando todos as outras em ramagem, flor e o fruto abundante de Cristo (estrofe 4). Assim é que exortamos a nós mesmos e aos outros: “diante do troféu da Cruz, proclama o nobre triunfo: a vitória conseguida pelo Redentor, vítima imolada para o mundo” (estrofe 1).

Apesar de que sempre haverá alguma desconfiança sobre as origens do Dia da Santa Cruz, esta data festiva pede um apropriado e salutar enfoque na Cruz como o meio pelo qual nosso Senhor Jesus Cristo expiou os pecados do mundo, venceu a morte e o diabo, reconciliou o mundo para Deus, obteve a nossa salvação e glorificou o nome do Pai. Apesar de sua Cruz ser um absurdo escândalo para o mundo, para nós, que estamos sendo salvos, é o poder e a sabedoria de Deus, para a salvação. Deste modo, com São Paulo, nada sabemos, senão a Cruz, nada pregamos, senão a Cruz, em nada nos gloriamos, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois é pela sua Cruz que estamos crucificados, mortos e sepultados com ele no Santo Batismo e em arrependimento diário, e da mesma cruz recebemos a absolvição ou perdão de todos os nossos pecados, pelo qual também ressuscitaremos com Cristo para a novidade de vida. Esta cruz é erguida e exaltada em nossas vidas por meio do amor abnegado para com o próximo, assim como é, antes de tudo, erguida para nós pela pregação do Evangelho, pelo qual somos atraídos a Cristo em fé e por meio dele, nosso grande Sumo Sacerdote, somos levados para o santo dos santos não feito por mãos, ao nosso Pai no céu.

O Dia da Santa Cruz é mais uma oportunidade para a Cruz de Cristo ser retratada diante de nossos olhos, pregada em nossos ouvidos, plantada em nossos corações e proclamada com os mesmos lábios que receberam o seu Corpo e seu Sangue, sacrificado por nós sobre a Cruz, dado e derramado por nós nesta Festa em que que sua santa vivificante Cruz é comemorada e pela qual este santo dia é celebrado.

O Rev. Dr. Richard D. Stuckwisch é pastor na Emmaus Lutheran Church, em South Bend (EUA). Ele e sua esposa Larena têm nove filhos. O Pastor Stuckwisch fala e escreve frequentemente para Higher Things.

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