Decapitação de São João Batista (c. 1275) - Montreal Museum of Arts |
Admiremos João Batista, sobretudo por causa do testemunho seguinte: “Entre os filhos das mulheres, ninguém foi maior que João Batista” [Lc 7.28], e ele mereceu ser elevado a uma tal reputação de virtude que muitas pessoas pensavam que ele era o Cristo (Lc 3.15). Mas há uma coisa ainda mais admirável: Herodes, o tetrarca, detinha poder real e podia fazê-lo morrer quando quisesse. Ora ele tinha cometido uma ação injusta e contrária à lei de Moisés ao tomar a mulher do seu irmão. João, sem ter medo dele nem fazer acepção de pessoas, sem dar importância ao poder real, sem recear a morte..., sem escamotear qualquer destes perigos, repreendeu Herodes com a liberdade dos profetas e condenou o seu casamento. Lançado na prisão por causa desta audácia, não se preocupou nem com a morte nem com um julgamento com sentença incerta mas, a partir do cárcere, os seus pensamentos iam para o Cristo que ele tinha anunciado.
Não podendo ir em pessoa ao seu encontro, envia os seus discípulos para lhe trazerem informações: “Tu és aquele que deve vir ou temos que esperar outro?” (Lc 7.15). Notem bem que, mesmo na prisão, João ensinava. Mesmo naquele lugar ele tinha discípulos; mesmo na prisão, João cumpria o seu dever de mestre e instruía os seus discípulos, conversando sobre Deus.
Nestas circunstâncias, levantou-se a questão de Jesus e João envia-lhe alguns discípulos... Os discípulos regressam e trazem ao mestre o que o Salvador lhes tinha encarregado de anunciar. Essa resposta foi para João uma arma para enfrentar o combate; morre com confiança e com grande coragem se deixa decapitar, seguro na palavra do próprio Senhor em como aquele em quem acreditava era verdadeiramente o Filho de Deus. Esta foi a liberdade de João Batista, aquela foi a loucura de Herodes que, aos seus numerosos crimes, acrescentou primeiro a prisão, depois o martírio de João Batista.
- Orígenes de Alexandria (c. 185-253), pastor e teólogo (Homilia 26, Lc 3.18-22)
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