31/03/2021

31 de março - José, Patriarca

José se revela a seus irmãos (1816), por Peter von Cornelius (1783–1867)

José era filho de Raquel com o patriarca Jacó (comemorado em 5 de fevereiro). Por ser o filho favorito de seu pai, foi alvo do ciúme dos irmãos mais velhos, que o venderam como escravo e justificaram o seu desaparecimento alegando que José havia morrido (Gn 37). No Egito, José se tornou mordomo na casa de Potifar, um oficial e comandante da guarda de Faraó. Devido sua recusa em cometer adultério com a esposa de Potifar, José foi acusado injustamente de tentativa de estupro e lançado na prisão (Gn 39). Anos depois, José interpretou os sonhos do Faraó, que o libertou da prisão e o colocou no comando de todo o país. Os irmãos de José não o reconheceram quando vieram de Canaã em busca de comida no Egito. Depois José revelou sua identidade a seus irmãos, perdoando-lhes e convidando para que eles e seu pai morassem no Egito. O Patriarca José é especialmente lembrado e honrado por sua retidão moral (Gn 39) e por sua disposição em perdoar os seus irmãos (Gn 45 e 50).

ORAÇÃO DO DIA:

Senhor Deus, Pai celestial, no reino do Egito, o povo necessitado e sofredor foi instruído a ir até José e fazer tudo o que ele lhes dissesse. Concede que o povo necessitado e sofredor no reino da tua Igreja sejam agora sustentadas por aqueles que seguem o exemplo de José ao amarem seu próximo como a si mesmo; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House, 2008. pág. 1288)

29/03/2021

DOMINGO DE RAMOS

 


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 DOMINGO DE RAMOS

O Evangelho de nosso Senhor segundo S. Mateus 21: 1-9 

A Graça de nosso Senhor T Jesus Cristo e o Amor do Pai e a Comunhão do Espírito Santo sejam com todos!

       Você já parou para refletir no fato de que Deus raramente age da maneira como nós esperamos? Observe o Evangelho para este Domingo de Ramos que retrata a entrada de Jesus Cristo na cidade de Jerusalém:

Se nós escrevêssemos este roteiro talvez pensaríamos em uma grandiosa procissão de bandeiras, carros de guerra e cavalos, com Jesus entrando na cidade santa de uma maneira triunfal e esplendorosa que faria príncipes, governadores, reis e imperadores caírem de joelhos diante de tanta pompa e beleza. Afinal, é o Filho de Deus que está chegando!

 As Sagradas Escrituras, entretanto, ensinam que não foi assim que a entrada de Jesus em Jerusalém ocorreu. Até houve uma procissão e muitas pessoas se ajoelharam diante dele e o aclamaram. Porém, sua entrada não foi tão esplendorosa como poderíamos imaginar, na verdade, foi até um pouco decepcionante e humilhante aos nossos olhos. Afinal, ele não entrou montado em um cavalo de guerra, mas em um burrinho, um burrinho emprestado e dócil; as bandeiras erguidas eram ramos de palmeira, e não havia príncipes, governadores, reis ou imperadores o saudando, mas simplesmente o povo comum da cidade.    

A Entrada de Jesus em Jerusalém também nos ajuda a perceber que o que Jesus vem realizar neste mundo pode não ser o que a nossa vontade deseja ou o que nós esperamos que Deus precisa fazer. Afinal, Jesus não entrou em Jerusalém para concertar todas as coisas que lá estavam erradas, ele não está ali para fazer uma revolução social, e muito menos seu objetivo é listar todos os anseios da população e reportá-los ao Pai. É provável que o povo em Jerusalém tenha esperado tudo isso dele, mas esta não era a sua missão. Não foi para realizar as vontades do ser humano que o Filho de Deus veio a este mundo, mas sim, para cumprir a Obra de Deus!

O Domingo de Ramos, portanto, nos lembra e nos ensina que Jesus entrou em Jerusalém para fazer algo inesperado e até impensável para nós. No entanto, totalmente planejado por Deus: Jesus entrou em Jerusalém não para se dirigir ao palácio, mas ao Calvário; não para assentar no trono do governador, mas para ser levantado na Cruz!

Como foi lembrado no início: Deus raramente parece agir da maneira como nós esperamos que ele aja. E é muito bom que seja assim. Pois unicamente através desta forma diferenciada de Deus agir é que os nossos pecados são perdoados, a Salvação é conquistada para nós, e nossa vida tornada eterna! Por causa disso: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!” (S. Mateus 21:9)

         Amém!

         Rev. Helvécio J. Batista Jr.
Igreja Luterana em Naviraí/MS
Domingo de Ramos - 28 de Março, 2021 AD


28/03/2021

Ano da Igreja: a Semana Santa


A semana antes da Páscoa é chamada de Semana Santa e encerra o tempo de preparação da Quaresma. Esta semana começa no Domingo de Ramos e termina no Sábado Santo. Durante esses dias, voltamos nossa atenção para os eventos da vida de Jesus, desde a sua entrada em Jerusalém até a sua gloriosa ressurreição dentre os mortos.

O Domingo de Ramos, o primeiro dia da Semana Santa, comemora a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Mateus 21.9). Como o relato completo da Paixão do Senhor em Mateus, Marcos ou Lucas é frequentemente lido, este domingo também é chamado de Domingo da Paixão.

Na Quinta-feira Santa, a Igreja dá graças a Jesus pela instituição da Ceia do Senhor. O culto da Quinta-feira Santa termina com o desnudamento do altar enquanto o Salmo 22 — uma profecia da crucificação — é lido ou cantado. Isso nos lembra de como nosso Senhor se despiu até a cintura para lavar os pés de seus discípulos — e como ele foi despido e espancado antes de sua crucificação.

A Sexta-feira Santa é o mais solene de todos os dias da Igreja Cristã, mas ainda permanece uma nota de alegria, conforme indica o título do dia. Na Sexta-feira Santa, ao lembrarmos que por causa do nosso pecado o Senhor foi crucificado e morreu, rendemos graças a Deus com júbilo, pois todo o pecado e ira de Deus sobre o pecado recaiu sobre Jesus e não sobre nós e pela sua graça recebemos o benefício deste grande ato sacrificial.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House, 2008. pág. 11)

27/03/2021

Domingo de Ramos - Domingo da Paixão (Ano B)

 




Zacarias 9.9-12
Filipenses 2.5-11
Marcos 14.1—15.47 ou Marcos 15.1–47 ou João 12.20–43


O Filho de Davi sobe ao seu trono e reina em amor por meio da sua cruz

O Filho de Davi vem em humildade gentil, "montado em um filho de jumenta", mas também vem "em nome do Senhor" como o Rei de Israel (Jo 12.13-15). Ele vem para ser levantado em glória na cruz, a fim de expulsar "o príncipe deste mundo" e atrair todos a si mesmo (Jo 12.23-32). Portanto, o convite para a Igreja é: “Alegra-te muito”, pois o seu Rei vem com salvação e "anunciará paz às nações" (Zc 9.9-10). Assim como ele é ungido antecipadamente "para a sepultura" (Mc 14.8), assim também, por meio de sua Paixão, ele sobe ao seu trono real como "o Rei dos Judeus" (Mc 15.2, 17-19, 26). “O Filho do Homem vai partir, como está previsto nas Escrituras a respeito dele” e o veremos "assentado à direita do poder de Deus" (Mc 14.21, 62). A glória de Deus é o amor, demonstrado na obediência humilde e no sacrifício voluntário do Filho de Deus para a salvação dos pecadores. Por isso, Deus o Pai "o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome" (Fp 2.9), para que ele pudesse reinar sobre nós em amor com o perdão da sua cruz.

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso e eterno Deus, que enviaste teu Filho, nosso Salvador Jesus Cristo, para tomar sobre si nossa natureza pecaminosa e sofrer a morte sobre a cruz, concede que possamos seguir o exemplo de sua grande humilhação e paciência e sermos feitos participantes de sua ressurreição; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano – Lecionários (Editora Concórdia).

Procissão de Ramos no Domingo da Paixão


É costume nas igrejas luteranas iniciar a Semana Santa lembrando a Paixão de Nosso Senhor e a sua entrada triunfal em Jerusalém, juntando assim, no mesmo dia, tradições de duas vertentes do cristianismo. Na igreja grega era costume realizar a procissão de ramos enquanto que na igreja latina era costume recordar as narrativas da Paixão.

Desta forma, o culto do Domingo da Paixão com Procissão de Ramos tem o objetivo de ressaltar a reação do povo de Jerusalém, que mudou da aclamação “Hosana!" para o grito furioso de “Crucifica-o!”.

Também é um costume antigo guardar os ramos utilizados no culto para que na Quarta-feira de Cinzas do próximo ano sejam transformados em cinzas.

Um roteiro para a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão de Nosso Senhor está disponível no link: http://www.bit.ly/palmarum (arquivo PDF).

 

26/03/2021

A Anunciação de Nosso Senhor e a concepção da vida

A Anunciação (1540), por Girolamo da Santacroce (1480-1556)


“Tradicionalmente, os luteranos dão preferência ao traducianismo, a visão formulada por Tertuliano e sustentada por Agostinho e Lutero, de que a alma é derivada dos pais junto com a concepção do corpo. Num único ato, uma pessoa é concebida de corpo e alma como uma totalidade, sendo assim uma posição mais adequada para contrapor ao aborto e para a compreensão da encarnação de Cristo. Num único ato, Deus assumiu não apenas um corpo humano, mas uma alma humana de sua mãe. Foi uma encarnação completa, não parcial. No momento da concepção, Maria foi inteiramente theotokos, a mãe de Jesus, o qual é tanto Deus e homem com corpo e alma (Lucas 1.43). Sua alma não foi acrescentada depois. Divergências nesta questão não são motivos para nos dividirmos na oposição ao aborto, mas nossa oposição ao aborto é uma oportunidade para refletir sobre a natureza de se tornar um ser humano na encarnação. O Filho de Deus se tornou um ser humano em sua concepção, não em seu nascimento. Teológica e liturgicamente, a Anunciação (25 de março), que celebra a concepção do Filho de Deus, tem precedência sobre o Natal (25 de dezembro), que é a comemoração de seu nascimento.”

- Dr. David Scaer, professor de Teologia Bíblica e Sistemática no Concordia Theological Seminary de Fort Wayne (EUA)

Fonte: David P. Scaer. Abortion, Incarnation, and the Place of Children in the Church: All One Cloth. In: Concordia Theological Quarterly, Volume 77:3-4. Jul.-Out. 2013. p. 224.

25/03/2021

A Anunciação de Nosso Senhor – 25 de março

A Anunciação celebra o anúncio do anjo Gabriel à Virgem Maria de que ela se tornaria a mãe do Salvador, bem como a submissão voluntária de Maria à vontade de Deus. Com a concepção do Salvador, um novo tempo começou. Por isso, até o século XVIII, este dia era considerado o início do ano em muitos lugares. Também era considerado em alguns lugares o dia em que o mundo foi criado, juntando num único dia a primeira criação e a nova criação (criação e redenção).

A Festa da Anunciação parece ter sua origem no Oriente no século V, onde é chamada de Boa Nova (Evangelismos, em grego) e foi introduzida no Ocidente durante os séculos VI e VII, sendo universalmente celebrada na época do Décimo Sínodo de Toledo em 656. A data de 25 de março, precisamente nove meses antes do Natal, é praticamente universal, mas algumas igrejas na Espanha retiveram a comemoração durante o Advento, em 18 de dezembro.

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Senhor, assim como conhecemos a encarnação de teu Filho Jesus Cristo, pela mensagem do anjo à virgem Maria, assim também pela mensagem de sua cruz e paixão, leva-nos para a glória da tua ressurreição; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Philip H. PFATTEICHER. New Book of Festivals and Commemorations: A Proposed Common Calendar of Saints. Minneapolis: Fortress Press, 2008.

25 de Março ~ A ANUNCIAÇÃO DE NOSSO SENHOR

 


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 A ANUNCIAÇÃO DE NOSSO SENHOR

O Evangelho segundo São Lucas 1. 26-45

 

A Graça de nosso Senhor T Jesus Cristo e o Amor do Pai e a Comunhão do Espírito Santo sejam com todos!

Salve, agraciada! O Senhor está com você!” (S. Lucas 1:28). Com estas palavras, o anjo Gabriel se aproxima de uma simples moça da cidade de Nazaré.

A jovem, chamada Maria, como não poderia ser diferente, ficou espantada com a aparição do anjo, e ele espantado com a notícia que veio trazer para aquela moça! Afinal, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a terra para lhe dizer: “Não tenha medo, Maria; porque você foi abençoada por Deus. Você ficará grávida e dará à luz um filho, a quem chamará pelo nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo” (S. Lucas 1: 30-32).

Aqui está a surpresa e o espanto que a notícia traz. A criança que será concebida no ventre daquela moça e logo se alimentará de seu peito é o Filho de Deus – através de quem aquele anjo, Maria e tudo o que existe foram feitos. Em outras palavras, aquela simples moça, como a sua prima Isabel mais adiante irá reconhecer e testificar, será a “mãe do Senhor” (S: Lucas 1.43). Qual Senhor? O único e verdadeiro Senhor, aquele que nós adoramos e louvamos eternamente.

Maria, também perplexa com as palavras do anjo, se lembra de algo crucial e pergunta: “Como será isto, se eu nunca tive relações com homem algum?” (S. Lucas 1:34). E o anjo Gabriel lhe responde: “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (S. Lucas 1:35).

Maravilha das maravilhas! A Promessa Graciosa do Reino de Deus está sendo cumprida! Afinal, aquela criança que Maria carregará em seu ventre e que repousará em seus braços e por ela será cuidada, alimentada e criada, é quem “reinará para sempre” (S. Lucas 1:33), destruirá a morte, e cobrirá, expiará, perdoará todo o pecado.

Este sublime e grandioso episódio da Anunciação de nosso Senhor termina com a Virgem Maria se inclinando e dizendo ao anjo: “Aqui está a serva do Senhor; que aconteça comigo o que você falou” (S. Lucas 1:38).

O anjo, então, vai embora na certeza de que esse encontro acontecerá novamente. Pois, por causa daquela criança gerada no ventre daquela moça, os anjos, Maria, e todos aqueles que confiam neste Menino Deus, também estarão, um dia, inclinados diante dele, o adorando e o louvando na vida que não tem fim, na Bem-aventurança Eterna.

Por fim, é importantíssimo lembrar que Maria não estava carregando em seu ventre uma parte da divindade, Maria não estava gerando um tipo de semideus. Não! Aquele Menino que nasceu do seu ventre, pelo poder do Espírito Santo, é o Senhor dela e o nosso Senhor, é o Salvador dela e o nosso Salvador, é o Deus dela e o nosso Deus! Pela Graça Divina e não pelos seus méritos, Maria teve a honra e o privilégio de ser Mãe de Deus! Por isso, “bendita é ela entre as mulheres”, mas acima de tudo “bendito é o Fruto do seu ventre” (S. Lucas 1:42).

 Amém!

Rev. Helvécio J. Batista Jr.
Igreja Luterana em Naviraí/MS
Dia da Anunciação de nosso Senhor, 2021 AD

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21/03/2021

Quinto Domingo na Quaresma – Ano B (21 de março de 2021)

 


Jeremias 31.31-34
Hebreus 5.1-10
Marcos 10.(32-34) 35-45


Partilhamos a glória da Cruz de Cristo nos Santos Sacramentos

Jesus catequiza seus discípulos no caminho da cruz, revelando que ele será condenado e morto e “depois de três dias, ressuscitará” (Mc 10.33-34), mas os Doze não entendem. Em vez disso, eles discutem entre si sobre quem será o maior e Tiago e João ainda pedem lugares de honra, um à direita e outro à esquerda de Jesus na sua glória. No entanto, Jesus veio mesmo para tornar-se “escravo de todos” e “dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10.43-45). Jesus compartilha a verdadeira glória da sua cruz com todos os que são batizados com seu batismo e bebem seu cálice da salvação, o Novo Testamento no seu sangue (Mc 10.39). Através destes Santos Sacramentos, o Senhor se torna conhecido de todo o seu povo, perdoando os seus pecados, “desde o menor até o maior” de seus filhos e filhas (Jr 31.33-34). Apesar de Jesus ser o próprio Filho de Deus, ele “aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” e assim se tornou nosso grande sumo sacerdote, para que possamos entrar em sua glória por meio de seu sacrifício (Hb 5.8-10).

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso Deus, pela tua enorme bondade e misericórdia olha para o teu povo, a fim de sermos sempre governados e preservados em corpo e alma; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano – Lecionários (Editora Concórdia).

19/03/2021

São José, Tutor de Nosso Senhor

Menino Jesus no colo de São José, Giovanni Battista Gaulli, chamado Il Baciccio (1639-1709)


O Prof. John T. Pless pregou este sermão em 2013 no Concordia Theological Seminary, Fort Wayne, EUA.

Texto: Mateus 2.13-15, 19-23

Hoje, já nos últimos dias da Quaresma, fazemos um retorno ao Natal. A teologia da cruz não é um mero adendo à história do Natal, não é invenção de um ex-monge alemão excessivamente pessimista que era obcecado pelo sofrimento e pela morte. Na realidade, a theologia crucis deixa sua marca em toda a Sagrada Escritura.

No texto de hoje, podemos constatar que é verdadeira a observação de Martin Kahler de que os Evangelhos são narrativas da paixão com introduções minuciosas. A paixão de Jesus não começa com sua traição e prisão na noite da Quinta-feira Santa, mas já vem desde a sua infância. Jesus veio a um mundo onde não foi tratado com indiferença ou esquecido por um frio ceticismo. Pelo contrário, a sua vinda ao universo feito por ele provocou uma furiosa rejeição. Ele veio ao seu próprio povo, mas eles não o receberam, diz o apóstolo João. E Simeão profetiza a Maria que seu filho foi “posto para queda e para elevação de muitos em Israel, e como um sinal de contradição” (Lc 2.34). Vemos essa contradição acontecer em nosso texto de Mateus 2. Este pequeno Jesus “tão doce, tão meigo” é alvo da fúria do tirano rei Herodes que quer eliminá-lo para não deixar nenhum concorrente ao seu trono. Então, Herodes massacrou os meninos - os santos inocentes - em Belém e arredores. Até a fragilidade da infância é uma ameaça para gente como Herodes, que se vê como o autor de sua própria existência.

Herodes morre assim como todos os monarcas finalmente devem morrer. Em sua providência, o Pai que deu seu Filho para ser filho de Maria trabalhou para preservar este indefeso e recém-nascido Redentor para outro dia e para outra morte. Assim como um anjo apareceu em um sonho para José avisando-o para levar Maria e seu Filho ao Egito, onde ele encontraria um refúgio da insanidade despótica de Herodes, agora o anjo do Senhor vem em outro sonho, direcionando-os de volta a Israel, para a cidade de Nazaré na Galileia. Em tudo isso, um script divino é executado. Do Egito, Deus chama seu Filho - aquele que será para Israel um Salvador maior do que Moisés, pois ele redimirá não uma nação de escravos hebreus, mas o mundo inteiro, libertando-os através do derramamento de seu sangue.

Mas até que chegasse o tempo determinado em que o Pai entregaria seu Filho para morrer, o pequeno e frágil Filho precisava de proteção. O Pai fez por seu Filho o memo que que faz por você: “protege-me contra todos os perigos e me guarda de todo o mal”, confessa o Catecismo. Deus defende, guarda e protege. Mas nesta obra de defesa, guarda e proteção, Deus usa suas máscaras, seus instrumentos. Ele usa mães e pais. O corpo da mãe está ali para nutrir e abrigar seu filho, não para aniquilá-lo como um parasita indesejado. E o pai está ali para proteger e lutar por sua esposa e filho, não para travar uma guerra abusiva contra eles.

A José é dada uma atenção muito peculiar na história. A anunciação, o anúncio do anjo feito a ele é menos dramático do que o feito a Maria. Maria responde o anjo com uma canção que a Igreja canta até hoje, o Magnificat. José fica calado, mas também é fiel e obediente em sua vocação de marido e pai. Ele faz o que o anjo lhe diz para fazer. Ele leva Maria e o menino Jesus para o Egito, fazendo o que bons maridos e pais fazem por suas famílias - sustentando-os, cuidando deles e protegendo-os. E quando a ameaça de Herodes passa, ele escuta o anjo e leva Maria e Jesus de volta para casa em Nazaré na Galileia e vive seus dias como marido e pai. José não desempenha um papel central no Novo Testamento e só tem um dia festivo no calendário litúrgico, que é ofuscado pelo grande dia de Maria, a Anunciação em 25 de março, e ainda mais ofuscado pela Sexta-feira Santa e pela Páscoa que já despontam no horizonte. Mas é uma boa coisa lembrar de José, Tutor de nosso Senhor. Ele não era o pai biológico de Jesus; Jesus não tinha seu DNA, mas ele era pai de Jesus e cuidava de seu Filho, protegendo-o e mantendo-o com os olhos fitos naquele que era Pai para ambos, o seu Pai Celestial. E é deste Pai, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que toda paternidade recebe seu nome. O bebezinho cuidado por José em Belém, no Egito e em Nazaré, é aquele que nos torna filhos de Deus pela fé em seu sacrifício expiatório, cujos frutos comemos e bebemos hoje neste altar, no novo testamento de seu corpo e sangue. Amém.

O Prof. John T. Pless leciona Teologia Pastoral no Concordia Theological Seminary, Fort Wayne, EUA.

Tradução do sermão publicado originalmente no site da revista teológica LOGIA em 19/03/2014.



17/03/2021

Couraça de São Patrício


 
Hino atribuído a São Patrício, chamado de “Couraça de São Patrício

1. Recebo em mim, agora aqui,
O nome eterno da Trindade,
Ao invocar em oração
A poderosa divindade!

2. Recebo em mim, agora e sempre,
Ao proclamar a Fé em Jesus,
A Encarnação e o seu Batismo,
A Salvação que vem da Cruz.
A Madrugada pascoal,
O santo dia da Ascensão,
A vinda do Consolador
Me tornam grato o coração.

3. Recebo em mim o grande amor
Dos exultantes Querubins,
O som das últimas trombetas,
As orações dos Serafins,
Dos patriarcas a grandeza,
Dos confessores a constância,
Das almas virgens a pureza.

4. Cristo em mim constantemente
Seja o dom da redenção!
Junto a mim, diariamente,
Concedendo proteção!
Tua paz e a eterna bênção
Permaneçam sempre em mim,
Elas sempre recompensam
Os que vão contigo ao fim!

5. Recebo em mim, agora aqui,
O nome eterno da Trindade,
Ao invocar em oração
A poderosa divindade,
Por quem a natureza é feita:
Ó Trino Deus, a ti o louvor!
- A salvação vem só de Cristo,
Jesus, o Cristo, o Salvador!

Hinário Episcopal, nº 101.
Letra: atribuída a São Patrício (372-466)
Tradução: Jaci Correia Maraschin (1929–2009)
Música: LORICA e DEIRDRE, trad. irlandesas, arr. Charles Villiers Stanford (1852-1924)

O hino consta nos hinários luteranos (Lutheran Service Book # 604; Lutheran Worship # 172; Evangelical Lutheran Worship‎ # 450) com a tradução de Cecil Frances Alexander, 1818-1895.

Patrício, Missionário da Irlanda


Hoje o Calendário Luterano comemora Patrício, Missionário da Irlanda. É um dia para agradecer a Deus pelo ministério de um vigoroso confessor da fé!

Patrício nasceu por volta de 389 na atual Grã-Bretanha. Ainda jovem foi levado como escravo para a Irlanda. Tornou-se um missionário depois de escapar do cativeiro, mas acabou retornando para a terra de seu cativeiro para pregar o Deus que ele veio a conhecer e confessar em suas tribulações. Reflita nestas palavras de sua famosa Confissão:

“Por esta razão não posso me calar, nem seria isto apropriado, diante de tantas dádivas e graças que o Senhor se dignou a me conceder na terra do meu cativeiro; porquanto esta é nossa maneira de retribuir para, depois da correção ou do reconhecimento de Deus, exaltar e confessar suas maravilhas diante de todas as nações que estão debaixo do céu.

Porque não há outro Deus, nunca houve antes, nem haverá no futuro, além de Deus pai não gerado, sem princípio, do qual procede todo o princípio, quem tudo possui, como dizemos; e seu filho Jesus Cristo, que assim como o pai evidentemente sempre existiu, antes do começo dos tempos em espírito ao pai. Criado inefavelmente antes da origem do mundo, e por ele mesmo foram criadas todas as coisas visíveis e invisíveis. Ele foi feito homem, venceu a morte e foi recebido no céu junto do pai, e foi-lhe dado todo poder absoluto sobre todo nome no céu, na terra e no inferno para que assim toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor e Deus, em quem nós cremos e esperamos que sua vinda breve está, como juiz dos vivos e dos mortos. Este que dará para cada um segundo os seus feitos, e derramou em vós abundantemente o seu Espírito Santo, o dom e a garantia da imortalidade, que tornou os crentes e obedientes em filhos de Deus e co-herdeiros de Cristo: aquele que confessamos e adoramos, O único Deus na trindade do seu santo nome.”

Louvamos a ti, Trindade Santíssima, por teu servo fiel Patrício e todos os missionários que proclamam ao mundo o verdadeiro Deus e chamam todos a se deleitarem gratuitamente na salvação que está em Cristo Jesus. Amém.

Batismo do Rei de Cashel por São Patrício (c. 1780), por James Barry (1741-1806)

16/03/2021

O brasão de Philipp Melanchthon


 
Nós conhecemos o selo ou brasão de Lutero, a rosa branca sobre um fundo azul envolto por um círculo dourado, com um coração e uma cruz ao centro. E o brasão de Philipp Melanchthon, reformador e amigo de Lutero?
 

Neste Quarto Domingo na Quaresma, a cena de uma serpente de bronze que Deus mandou Moisés pendurar numa haste (Nm 21.4-9) é retomada tipologicamente por Jesus Cristo na sua conversa com Nicodemos (Jo 3.14s).

Esta tipologia foi retomada mais tarde na arte medieval e amplamente utilizada nos tempos modernos. Os símbolos do Antigo e do Novo Testamento se fundem melhor quando a haste à qual a serpente de bronze está fixada é representada como uma cruz, geralmente em forma de T.
 
É nesta forma que aparece no brasão de Melanchthon. Assim, o símbolo que Melanchthon usou desde 1519 é uma confissão do Cristo crucifixado. Ao mesmo tempo, a serpente era considerada um símbolo de sabedoria no Oriente Próximo e Grécia antiga, e isso aponta para a grande importância que Melanchthon deu à harmonia da fé e do conhecimento.
 
 
O brasão aparece em diversas publicações do tempo da Reforma, às vezes junto ao brasão de Lutero, outras vezes também junto aoa brasões de Bugenhaghen, Justus Jonas e Caspar Cruciger.
 
 
Na Melanchthonhaus, museu edificado no local de nascimento de Melanchthon em Bretten, o brasão do reformador aparece na fachada do edifício e também no mosaico do altar de mármore da capela ali existente.
 


 
O brasão também compôs o selo postal do 500º aniversário de Melanchthon (1997).
 


14/03/2021

Lutero: Cristo, a imagem da vida e da graça

Detalhe da Alegoria da Lei e Graça (c. 1529), de Lucas Cranach, o Velho (1472–1553)

Não deves mirar ou contemplar a morte em si mesma, nem em ti ou em tua natureza, nem naqueles que foram mortos pela ira de Deus e que foram vencidos pela morte. Se o fizeres, estás perdido e és vencido juntamente com eles. Deves, pelo contrário, desviar vigorosamente dessa imagem teus olhos, os pensamentos de teu coração e todos os teus sentidos, e encarar a morte com intensidade e diligência apenas naqueles que morreram na graça de Deus e que venceram a morte, sobretudo em Cristo, a seguir em todos os seus santos. Eis que nestas imagens a morte não te parecerá horrível e aterradora, mas sim desprezada e morta, sufocada na vida e vencida. Pois Cristo nada mais é do que pura vida, e seus santos também. Quanto mais profunda e intensamente gravares essa imagem e a mirares, tanto mais mirrará a imagem da morte e desaparecerá por si mesma, sem luta e sem briga. E assim teu coração encontrará paz e poderá morrer tranquilamente com Cristo e em Cristo, como está escrito em Ap 14.13: “Bem-aventurados são os que morrem no Senhor Cristo.” É para isso que aponta Números 21.6s.: quando mordidos pelas serpentes abrasadoras, os filhos de Israel não precisavam combatê-las, mas tinham que olhar para a serpente morta de bronze; então as serpentes vivas caíam por si mesmas e pereciam. Da mesma forma, deves preocupar-te com a morte de Cristo tão-somente; então encontrarás a vida. No entanto, se miras a morte em outro lugar, ela te mata com grande inquietude e tormento. É por isso que Cristo diz: “No mundo (isto significa também em nós mesmos) vocês terão inquietação. Em mim, porém, terão a paz” [Jo 16.33.]

Da mesma forma, não deves contemplar o pecado nos pecadores, nem em tua consciência, nem naqueles que permaneceram definitivamente em pecados e foram condenados, senão ficarás para trás e serás vencido. Deves, isto sim, desviar teus pensamentos disso e não contemplar o pecado senão na imagem da graça. Deves gravar esta imagem com todas as forças e tê-la diante dos olhos. A imagem da graça não é outra coisa que Cristo na cruz e todos os seus queridos santos.

Como se deve entender isso? Que Cristo tira de ti o teu pecado na cruz, o carrega por ti e o afoga — isso é graça e misericórdia. Crer firmemente nisso, tê-lo diante dos olhos e não duvidar disso — é isto que significa atentar na imagem da graça e gravá-la. Da mesma forma, todos os santos, em seu sofrer e morrer, também carregam sobre si os teus pecados, sofrendo e trabalhando por ti, conforme está escrito: “Que cada um carregue a carga do outro; assim vocês cumprem o mandamento de Cristo.” [GI 6.2.] Da mesma forma, ele mesmo diz em Mt 11.28: “Venham a mim todos vocês que estão sobrecarregados e se afadigam; eu quero ajudá-los.” Vê, assim tu podes encarar o teu pecado com segurança, fora de tua consciência. Vê, aí pecados não são mais pecados. Estão vencidos e devorados em Cristo. Pois assim como ele toma sobre si a tua morte e a afoga, para que ela não mais te faça mal, se crês que ele faz isso por ti e se vês a tua morte nele, não em ti mesmo, da mesma maneira ele também toma sobre si os teus pecados e os vence para ti em sua justiça, por pura graça. Se creres nisso, eles não mais te farão mal. Assim Cristo, a imagem da vida e da graça, é nosso consolo contra a imagem da morte e do pecado. É isso o que Paulo afirma em 1 Co 15.57: “Louvor e graças a Deus por nos ter dado, em Cristo, vitória sobre o pecado e a morte.”

— Bem-aventurado Martinho Lutero (1483–1546), doutor e reformador da igreja (Um sermão sobre a preparação para a morte, 1519)

Fonte: LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas: Os Primórdios: Escritos de 1517 a 1519. Vol. 1. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1987. pág. 390–391.

Quarto Domingo na Quaresma – Ano B (14 de março de 2021)



Números 21.4-9
Efésios 2.1-10
João 3.14-21

Jesus foi levantado na Cruz para vivermos ao olharmos para ele

O povo pecou ao falar “contra Deus e contra Moisés”, e o Senhor os chamou ao arrependimento enviando “cobras venenosas, que mordiam o povo; e morreram muitos do povo de Israel” (Nm 21.4-6). Quando o povo confessou seus pecados, o Senhor providenciou um meio de resgate da morte. Ele instruiu Moisés a fazer uma serpente de bronze e colocá-la sobre uma haste, de modo que “quando alguém era mordido por alguma cobra, se olhava para a serpente de bronze, ficava curado” (Nm 21.8–9). Assim também, Deus enviou seu Filho ao mundo, em semelhança de nosso pecado e morte, e o ergueu na haste da cruz, para que todo aquele que olhar para ele com fé “tenha a vida eterna” (Jo 3.14-16) Por meio da sua cruz, “a luz veio ao mundo”, não para condenação, “mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3.17–19). Quando nós estávamos mortos em nossas “transgressões e pecados”, nos quais andávamos “noutro tempo” (Ef 2.1), Deus nos amou com grande amor, chamando-nos ao arrependimento e ressuscitando-nos com Cristo para viver com ele “nas regiões celestiais” (Ef 2.4-6).

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso Deus, nosso Pai celestial, tuas misericórdias são novas a cada manhã; e apesar de merecermos somente punição, nos recebes como teus filhos e atendes todas as nossas necessidades, do corpo e da alma. Concede que reconheçamos de coração a tua bondade misericordiosa, dando graças por todos os teus benefícios e servindo-te de boa vontade; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano – Lecionários (Editora Concórdia).

06/03/2021

Terceiro Domingo na Quaresma – Ano B (7 de março de 2021)


Êxodo 20.1-17
1 Coríntios 1.18-31
João 2.13-22 (23-25)


O verdadeiro templo do Senhor é o corpo crucificado e ressurreto de Jesus

O Senhor resgatou seu povo Israel que ele “fez sair do Egito, da terra da escravidão” (Êx 20.2), e ainda fez sua graciosa aliança com eles, definida pelos Dez Mandamentos. Visto que o Senhor se tornou o Deus deles por intermédio de sua graça, eles deveriam ser o seu povo, não tendo “outros deuses” diante dele (Êx 20.3). Ele é um “Deus zeloso” para com eles, assim como um marido é zeloso para com sua esposa e um pai é zeloso para com os seus filhos. O Senhor nomeou o seu povo com o seu Nome e lhes chamou para descansar nele (Êx 20.5-9). Jesus Cristo, o Filho encarnado, é igualmente zeloso para com a casa de seu Pai, pois esta deve ser um lugar da graça divina e descanso sabático para seu povo, e não uma “casa de negócio” (Jo 2.16-17). Seu zelo o consumiu de modo que entregou “o templo do seu corpo” para ser destruído na cruz, mas em três dias ele o levantou novamente para ser o verdadeiro templo para todo o sempre (Jo 2.17-21). Mediante sua crucificação ele purificou toda a família, e mediante sua ressurreição ele se tornou “sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Co 1.30).

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Deus, cuja glória é sempre ter misericórdia, sê gracioso para todos que se desviaram dos teus caminhos e traze-os de volta com coração arrependido e fé, para que abracem e mantenham a verdade imutável da tua Palavra; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano – Lecionários (Editora Concórdia).

01/03/2021

Lutero sobre a vida na morte e a morte na vida

Franz Timmermann, Queda e Redenção (Sündenfall und Erlösung), 1540. Wallraf-Richartz-Museum, Cologne.

Os antigos e santos pais e teólogos contrastaram o madeiro vivo [a árvore no jardim do Éden, Gn 2.17] com o madeiro morto [o lenho da cruz no Gólgota] e alegorizaram esse contraste da seguinte maneira: Do madeiro vivo vieram pecado e morte; do madeiro morto, a justiça e vida. Eles concluem: não coma daquela árvore viva senão você morrerá, mas coma desta árvore morta. Se não fizer isso, você permanecerá na morte.

Você realmente deseja comer e desfrutar [do fruto] de alguma árvore. Vou direcioná-lo para uma árvore tão carregada que você nunca poderá comê-la até acabar. Mas, assim como foi difícil ficar longe daquela árvore viva, também é difícil comer da árvore morta. A primeira era a imagem da vida, júbilo e bondade, enquanto a outra é a imagem da morte, sofrimento e dor porque uma árvore está viva e a outra morta. Existe no coração do homem o desejo profundamente enraizado de buscar a vida onde a morte é certa e de fugir da morte onde se tem a fonte certa da vida.

Tomar a cruz é por natureza algo que causa dor. Isso não deve ser uma autoimposição. Tomar a cruz é uma coisa que é colocada sobre uma pessoa.

[...] Conceda Deus, quer creiamos ou não, que ele ainda defenda a sua palavra e certamente nos ajude. Isso demanda muito esforço e cuidado para que, em primeiro lugar, afastemos os olhos do poder [deste mundo] e, em segundo lugar, nos agarremos firmemente à palavra. O olho desconsidera a palavra e confiam no que é visível, mas o cristão, ao contrário, desconsidera o que pode ser visto e mantém a palavra. Os ímpios não fazem isso, mas confiam no imperador para sustentá-los neste mundo, e por negligenciarem a palavra se perderão para a eternidade.

— Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (Que um cristão deve carregar sua cruz com paciência, 1530 - LW 43,183-6)