19/06/2021

I CONCÍLIO DE NICEIA, 325 AD

 


O Evangelho de nosso Senhor segundo S. João 5: 19-26

O nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo acabara de curar um paralítico no sábado e, obviamente, isto veio a causar revolta nos líderes judeus que ficaram sabendo do ocorrido. Afinal, quem é este que transgride a Lei e faz com que outros transgridam também? A resposta de Jesus é curta e direta: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (S. João 5:17).

Blasfêmia! O que este nazareno está dizendo? Os judeu explodem em raiva e decidem que Jesus deve morrer. Mas, por quê? O que de tão grave há na resposta que Jesus havia dado? Ora, ele havia dito “que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (S. João 5:18).

Esta resposta de Jesus aos judeus traz em si três pontos fundamentais que nos ensinam quem é Jesus e qual é a sua Missão. Observe:

1)  Quando Jesus se refere a Deus como seu Pai, ele está ensinando que é o próprio Filho de Deus.

2)  Porém, sua filiação é única, pois ele mostra, ao curar o paralítico no sábado, que tem autoridade para fazer coisas que as outras pessoas não podem.

3)  Por fim, ao justificar que seu trabalho acontece porque o Pai trabalha, ele dá a entender que possui as mesmas prerrogativas de Deus.

Como estes destaques estão evidenciados no texto? Na primeira parte do verso 19 do Evangelho segundo S. João 5, Jesus afirma: “O Filho nada pode fazer por si mesmo, senão somente aquilo que vê o Pai fazer”. Ou seja, há uma subordinação do Filho em relação ao Pai. Entretanto ela é definida de forma peculiar, pois mesmo sendo Jesus o Filho, ele não constitui um segundo núcleo divino, mas de maneira única ele é o mesmo Deus com o Pai. Portanto, a subordinação que existe é, na verdade, uma subordinação funcional.

E como nós podemos ter certeza disso? Olhando a maneira como o texto segue, Jesus mesmo vai explicar esta questão, utilizando-se de 4 “porquês”. Veja:

1)  Ainda no verso 19 Jesus já deixa bem claro que sua subordinação como Filho do Pai é peculiar e única “porque tudo o que o Pai fizer, o Filho também faz” (S. João 5:19b).

2)  No verso 20, Jesus afirma: “porque o Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que faz” (S. João 5:20a). Isto é, o Filho tem a onisciência do Pai e, portanto, ele pode fazer o mesmo que o Pai.

3)  Nessa linha de raciocínio, no verso 21, Jesus revela que a maior obra do Pai é, do mesmo modo, realizada pelo Filho: “porque assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivificas aqueles a quem quer” (S. João 5:21). Ou seja, se somente Deus tem o poder da Vida e da Ressurreição como atestam as Sagradas Escrituras, e Jesus está afirmando – e mostrando em seus atos – que tem esse poder, isto significa que mesmo ele sendo o Filho, ele é o mesmo Deus juntamente com o Pai.

4)  Por fim, no verso 22 Jesus revela: “porque o Pai não julga ninguém, mas confiou todo julgamento ao Filho” (S. João 5:22). Em outras palavras, o destino da vida, que é algo próprio do Pai, está nas mãos do Filho.

Por tudo isso, conclui Jesus: “Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou” (S. João 5:23). Desse modo, não há como crer no Pai como Deus, e não crer no Filho; não há como ser uma testemunha do Pai e não o ser do Filho; e também não há como ver o Pai como o Deus supremo e o Filho como inferior ou ainda um semideus. Jesus, o Filho, como confessamos no Credo Niceno, é “Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus”. E nada menos do que isso.

Há alguma dúvida com o que confessamos? Jesus tira todas elas, pois na continuidade do seu discurso, conforme descrito pelo Apóstolo João, ele diz: “quem ouve a minha Palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna” (S. João 5:24), pois estas coisas foram algo único, ouvir Jesus e crer no Pai, não há como fazer uma separação. Além disso, prossegue Jesus: “assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo” (S. João 5:26), e isto revela que a mesma vida do Pai é a vida do Filho, e essa conceção de vida é eterna, pois como o próprio Evangelho segundo S. João afirma em seu início, “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por ele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele” (S. João 1: 1-4a). Ou seja, um relacionamento eterno, de eternidade a eternidade, uma conceção eterna.

No ano 325, os cristãos foram questionados: Jesus realmente é Deus? Qual a sua relação com o Pai? Duas propostas foram colocadas em debate pelos mais de 300 bispos reunidos em Nicéia:

1)  Jesus não teve começo e foi gerado pelo Pai a partir do seu próprio Ser, portanto é eterno e Deus verdadeiro juntamente com o Pai.

2)  Jesus teve início e é a primeira e maior criação.

Graças a Deus que, pelo poder e inspiração do Espírito Santo, estes servos do Altíssimo fincaram o pé nas Escrituras e, com base no Evangelho segundo S. João e em outros textos bíblicos, afirmaram: Jesus Cristo, o Verbo de Deus, é Deus, “gerado, não criado, de uma só substância com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas; o qual por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu e se encarnou pelo Espírito Santo na virgem Maria e foi feito homem” (Credo Niceno).

Continuemos em nossos dias, a crer, ensinar e confessar do modo como o próprio Jesus ensinou, como os santos apóstolos proclamaram e como os Pais assim defenderam e reafirmaram. Afinal, Jesus Cristo é o Senhor!

Amém!

Rev. Helvécio J. Batista Jr.
Igreja Luterana em Naviraí/MS
Concílio de Niceia I, 325 AD – 19 de Junho, 2021 AD

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