27/05/2013

O Sinal da Cruz

Domingo foi a Festa da Santíssima Trindade e, uma das formas que nos lembra da indivisível Santíssima Trindade é o Sinal da Cruz. Fazer o Sinal da Cruz é uma lembrança perpétua de nosso batismo – em que o Sinal da Cruz foi marcado na fronte e no peito –, e de que o santo batismo tem um significado contínuo todos os dias de nossa vida.

O ato de fazer o sinal da cruz já era praticado pelos cristãos dos primeiros séculos e chegou até nós dos tempos apostólicos. Era um costume comum diário fazer o sinal da cruz, conforme registro de Tertuliano (160-220 d.C.) em De Corona Militis, escrito cerca de 201 d. C.: “Em todas as nossas ocupações – quando entramos num lugar ou ao deixá-lo, antes de nos vestir; antes de nos banhar; quando fazemos nossas refeições, quando acendemos as lâmpadas à noite; antes de repousar durante a noite; quando nos sentamos para ler; antes de cada nova tarefa – marcamos o sinal da cruz em nossas testas”. Santo Agostinho (354-430 d.C.) fala deste costume cristão em muitos de seus sermões e cartas.

O Sinal da Cruz é um dos costumes mais tradicionais conservados por Lutero e pela Igreja Luterana na Reforma do século XIV. Lutero o recomenda no seu Catecismo Menor, sob o título “Como o chefe de família deve ensinar a orar de manhã e de noite em sua casa”. Ele diz: “De manhã, quando te levantas (À noite, quando te recolhes), benzer-te-ás, dizendo: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém” (Livro de Concórdia 379.1,4). Em seu Catecismo Maior, recomenda que os pais devam ensinar os filhos a fazer o Sinal da Cruz com o propósito de recordar o seu protetor divino em momentos de perigo, assombro e tentação. Assim, o Sinal da Cruz acompanha o cristão em todo o tempo e lugar: ao deitar e ao levantar, ao sair à rua e ao entrar na igreja, à mesa quando dá graças ao Senhor pelo alimento, antes e após as refeições.

O sinal da cruz é feito tocando-se a fronte, o peito e os ombros direito e esquerdo, com os dedos da mão direita, dizendo as palavras: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.” O sinal da cruz, pode também ser feito a partir do ombro direito para o esquerdo. Esta é a forma mais antiga, ainda mantida na igreja oriental.

Ao fazer isso, nós professamos a nossa fé no Deus Uno e Trino e na nossa redenção através de Cristo crucificado. No entanto, é mais do que uma profissão de fé, é uma oração de ação de graças ou uma oração pela bênção de Deus, o Pai, no Espírito Santo, por meio de nosso único mediador, Jesus Cristo.

Na igreja, é um hábito louvável fazer o sinal da cruz no início e no final de todas as celebrações, bem como nos seguintes momentos do culto:
  • Durante as palavras iniciais: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”;
  • ao final da Absolvição;
  • no início do Introito;
  • no final do Gloria em Excelsis;
  • quando o Evangelho é anunciado (Persignar-se traçando três cruzes pequenas na testa, nos lábios e no peito, significam e expressam a oração a fim de que possamos reter o Evangelho em nossas mentes, proclamá-lo com nossos lábios e recebê-lo em nossos corações);
  • no final do Credo;
  • durante o Sanctus, nas palavras: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor”;
  • após a consagração, nas palavras “A paz do Senhor seja convosco para sempre”;
  • quando recebemos o santo corpo e o precioso sangue de Cristo;
  • quando o pastor diz “Ide em paz” na despedida dos comungantes;
  • e no final da Bênção.
A santa cruz é o símbolo de nossa salvação. Fomos marcados com ela quando fomos batizados. É o sinal pelo qual a igreja abençoa pessoas e coisas. Ao usá-la nos tornamos parte da maravilhosa história de nossa fé e parceiros na companhia dos santos. É certo que devemos fazer o sinal da cruz com frequência e gloriar nela, dizendo com São Paulo: “longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gálatas 6.14).

Referência:

LANG, Paul H. D. Ceremony and Celebration. Saint Louis: Concordia Publishing House, 1965. p. 14, 70, 71 e 72.

25/05/2013

A Trindade e o Batismo na Igreja Antiga (II)

Os que são batizados por nós são levados para um lugar onde haja água e são regenerados da mesma forma como nós o fomos. É em nome do Pai de todos e Senhor Deus, e de Nosso Senhor Jesus Cristo, e do Espírito Santo que recebem a loção na água. Este rito foi-nos entregue pelos apóstolos. -- Justino Mártir, ano 151, I Apologia 13,1.3-6).

“Adoração da Santíssima Trindade” (1647-49), de Johann Heinrich Schönfeld

A Trindade e o Batismo na Igreja Antiga (I)

No que diz respeito ao Batismo, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água corrente. Se não houver água corrente, batizai em outra água; se não puder batizar em água fria, façai com água quente. Na falta de uma ou outra, derramai três vezes água sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. -- Didaqué 7,1-3 (90 AD)

“Adoração da Trindade” (1791-92), de Vicente López Y Portaña (1772-1850)

A Trindade e os Pais da Igreja (V)

Já temos mostrado que o Verbo, isto é, o Filho esteve sempre com o Pai. Mas também a Sabedoria, o Espírito estava igualmente junto dele antes de toda a criação. -- Ireneu de Lião, Contra as Heresias IV,20,4 (189 AD)

“A Trindade” (1577), de El Greco (1541-1614)

A Trindade e os Pais da Igreja (IV)

Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra recebeu dos apóstolos e seus discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um só Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para nossa salvação; e no Espírito Santo que, pelos profetas, anunciou a economia de Deus... -- Teófilo de Antioquia, Segundo Livro a Autólico 15,3 (181 AD)

“Os Quatro Evangelistas e a Santíssima Trindade com os Santos”, de Francesco Guardi (1712-1793)

A Trindade e os Pais da Igreja (III)

Eu te louvo, Deus da Verdade, te bendigo, te glorifico por teu Filho Jesus Cristo, nosso eterno e Sumo Sacerdote no céu; por Ele, com Ele e o Espírito Santo, glória seja dada a ti, agora e nos séculos futuros! Amém. -- Policarpo, Martírio de Policarpo 14,1-3 (156 AD)

“Santíssima Trindade” de Pieter Coecke Van Aelst (1502-1550)

A Trindade e os Pais da Igreja (II)

Vós sois as pedras do templo do Pai, elevado para o alto pelo guindaste de Jesus Cristo, que é a sua cruz, com o Espírito Santo como corda. -- Inácio de Antioquia, Carta aos Efésios 9,1 (107 AD)

"Santíssima Trindade" de Lucas Cranach, o Velho (1472-1553)

A Trindade e os Pais da Igreja (1)

Um Deus, um Cristo, um Espírito de graça ... Como Deus vive, assim vive o Senhor e o Espírito Santo. -- Clemente de Roma, Carta aos Coríntios 58,2 (96 AD)

"Santíssima Trindade" de Lucas Cranach, o Velho (1472-1553)

Credo Atanasiano

O Credo Atanasiano, também conhecido como Quicumque vult (das palavras iniciais em latim), é um dos três grandes credos ecumênicos da igreja cristã. Lutero o considerou "a maior produção da igreja desde os tempos dos apóstolos". Seu valor está em apresentar claramente os atributos divinos de cada uma das pessoas da Santíssima Trindade e testemunhar a fé na perfeita igualdade das três pessoas. É apropriado como Confissão de Fé para a Festa da Santíssima Trindade, tradição esta que vem desde o século IX.

1. Aquele que quiser ser salvo, antes de tudo deverá ter a verdadeira fé cristã*.
2. Aquele que não a conservar em sua totalidade e pureza, sem dúvida perecerá eternamente.
3. E a verdadeira fé cristã* é esta,
4. que honremos um único Deus na Trindade e a Trindade na Unidade, não confundido as pessoas nem dividindo a sustância divina.
5. Pois uma é a pessoa do pessoa do Pai, outra a do Filho e outra a do Espírito Santo;
6. mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um único Deus, iguais em glória e majestade eterna.
7. Qual o Pai, tal o Filho, tal o Espírito Santo.
8. O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado.
9. O Pai é incomensurável, o Filho é incomensurável, o Espírito Santo é incomensurável.
10. O Pai é eterno, O Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.
11. Contudo, não são três Eternos, mas um único Eterno.
12. Do mesmo modo, não três Incriados, nem três Incomensuráveis, mas um único Incriado e um único incomensurável.
13. Da mesma maneira, o Pai é todo-poderoso, o Filho é todo-poderoso, o Espírito Santo é todo-poderoso;
14. contudo, não são três Todo-poderosos, mas um único Todo-poderoso.
15. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus;
16. todavia, não são três Deuses, mas um único Deus.
17. Deste modo, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor;
18. entretanto, não são três Senhores, mas um único Senhor.
19. Visto que, segundo a verdade cristã, nos importa confessar cada pessoa por sua vez como sendo Deus e Senhor, é-nos proibido pela fé cristã* dizer que há três Deus e três Senhores.
20. O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem gerado.
21. O Filho provém apenas do Pai, não foi feito, nem criado, mas gerado.
22. O Espírito Santo não foi feito,nem criado, nem gerado pelo Pai pelo Filho, mas deles procede.
23. Logo, é um único Pai, não são três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos.
24. E nesta Trindade nenhuma pessoa é anterior ou posterior, nenhuma maior ou menor.
25. mas todas as três pessoas são coeterna e iguais entre si; de modo que, como foi dito, em tudo seja honrada a Trindade na Unidade e a Unidade na Trindade.
26. Portanto, quem quiser ser salvo, deverá pensar assim da Trindade.
27. Entretanto, é necessário para a salvação eterna crer também fielmente na humanação de nosso Senhor Jesus Cristo.
28. Esta é, portanto, a fé verdadeira: crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e Homem.
29. É Deus da substância do Pai, gerado antes dos tempos, e Homem da substância de sua mãe, nascido no tempo;
30. Deus perfeito e Homem perfeito, subsistindo em alma racional e carne humana.
31. Igual ao Pai segundo a divindade e menor do que o Pai segundo a sua humanidade.
32. Ainda que é Deus e Homem, nem por isso são dois, mas um único Cristo.
33. Um só, não pela transformação da divindade em humanidade, mas mediante a recepção da humanidade na divindade.
34. É, de fato, um só, não pela fusão das duas substâncias, mas por unidade de pessoa.
35. Pois, assim como corpo e alma racional constituem um único homem, Deus e homem é um único Cristo,
36. o qual padeceu pela nossa salvação, desceu ao inferno, no terceiro dia ressuscitou dos mortos.
37. Subiu ao céu, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
38. E quando vier, todos os homens hão de ressuscitar com os seus corpos e dar contas de seus próprios atos,
39. e aqueles que fizeram o bem irão para a vida eterna, mas aqueles que fizeram o mal, para o fogo eterno.
40. Esta é a verdadeira fé cristã*. Aquele que não crer com firmeza e fidelidade, não poderá ser salvo.

* Cristã: o texto antigo diz “católica”, que significa toda a Igreja que confessa a totalidade da doutrina cristã.

Comemoração de Beda, o Venerável - 25 de maio

"Beda, o Venerável, traduzindo o Evangelho de São João" (1902), de James Doyle Penrose (1862-1932)


São Beda (673-735) foi o último dos pais da igreja primitiva e o primeiro a compilar a história da igreja Inglesa. Nascido na Nortúmbria (na atual Inglaterra), Beda foi enviado por seus pais a um mosteiro no norte da Inglaterra, com a idade de sete anos. Sendo o homem mais erudito de seu tempo, foi também um prolífico escritor de história, cujo cuidadoso uso de fontes proporcionou um modelo para os historiadores da Idade Média. Mais conhecido por seu livro Historia ecclesiastica gentis Anglorum (A História Eclesiástica do Povo Inglês), também foi um profundo intérprete da Escritura; seus comentários ainda estão vívidos hoje. Seu mais famoso discípulo, Cutberto, narra que Beda estava trabalhando em uma tradução do Evangelho de São João para o inglês, quando a morte chegou, e que ele morreu com as palavras do Gloria Patri em seus lábios. Ele recebeu o título de “Venerável” no curso de duas gerações após sua morte e foi sepultado na Catedral de Durham como um dos grandes santos da Inglaterra.

ORAÇÃO DO DIA:

Pai Celestial, que chamaste teu servo Beda ainda criança, para devotar a vida a teu serviço nas disciplinas de religião e da erudição, concede que, assim como ele labutou no Espírito para trazer as riquezas da tua verdade à sua geração, também nós, em nossas várias vocações, possamos nos empenhar para torná-lo conhecido em todo o mundo; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.

24/05/2013

Santo! Santo! Santo! Deus onipotente




1.Santo! Santo! Santo! Deus onipotente,
cedo de manhã, cantaremos teu louvor.
Santo! Santo! Santo! Trino Deus, clemente,
és um só Deus, excelso Criador!

2.Santo! Santo! Santo! Clamam os remidos,
entoando salmos diante do Senhor.
Honra, glória e bênção rendem reunidos
ao Deus de eterno, infindo e grande amor.

3.Santo! Santo! Santo! Deus, que és majestoso,
reinas com poder sobre a terra, céus e mar.
Desde todo o sempre foste, ó Deus glorioso;
tua grandeza nunca irá findar.

4.Santo! Santo! Santo! Deus que és sempre vivo,
tuas obras louvam teu nome com fervor.
Santo! Santo! Santo! justo e compassivo,
és um só Deus, supremo Criador!

Reginald Heber (1783-1826), sacerdote da Igreja da Inglaterra compôs Holy, Holy, Holy! Lord God Almighty! para o Domingo da Santíssima Trindade. O texto é uma paráfrase do Profeta Isaías 6.1-5.
Em 1861, outro clérigo inglês, John Bacchus Dykes (1823-1876), compôs a melodia Nicaea para este hino, uma homenagem ao Concílio de Niceia, que formalizou a doutrina da Trindade, em 325 AD.
A versão Santo! Santo! Santo! Deus onipotente do Hinário Luterano (nº 146), está adequadamente agrupada entre os cânticos da Trindade e foi traduzida pelo Rev. Rodolfo Hasse (1890-1968).

O Sanctus composto por Martinho Lutero

"O Profesta Isaías" (1726-29), de Giovanni Battista Tiepolo (1696-1770)
O Sanctus, composto pelo bem-aventurado Martinho Lutero, é especialmente apropriado para o Domingo da Santíssima Trindade, pois reflete as palavras do Profeta Isaías na leitura indicada para este dia no Lecionário Anual.

No templo, a Isaías sucedeu
ver numa aparição o Criador
resplandecer no excelso trono seu,
enchendo os céus de eterno resplendor.
Viu serafins louvor a Deus cantar,
também cada um seis asas viu mover.
Com duas viu seus rostos ocultar,
seus pés com outras duas esconder,
e, com mais duas, seu voar veloz.
Clamavam um ao outro em grande voz:
É santo o nosso Deus, Senhor Jeová!
É santo o nosso Deus, Senhor Jeová!
É santo o nosso Deus, Senhor Jeová!
De sua glória a terra cheia está!
Umbrais e porta sua voz moveu;
de incenso toda a casa então se encheu.


O Sanctus Alemão

O hino foi publicado pela primeira vez na "Missa Alemã", de 1526, tendo como título "O Sanctus alemão". Por sua localização é óbvio chegarmos à conclusão de que Lutero pretendia que ele substituísse o Sanctus latino. O texto baseia-se em Isaías 6.1-14, reproduzindo, no entanto, apenas a visão de Isaías. Logo foi assumido por diversos hinários e passou a ser cantado pelas comunidades evangélicas nas celebrações eucarísticas. A melodia é do próprio Lutero. (OSel 7, 538)

O hino acima encontra-se no Hinário Luterano, nº 234, com tradução de Rodolfo Hasse (1890-1968).


FonteMartin Luther Gesangbuch (Kirchengemeinde Höchstenbach)

Tradução disponível em OSel 7, 539-538:

A Isaías, o profeta, aconteceu 
que viu no espírito o Senhor sentado 
sobre um alto trono em luminoso brilho, 
a orla de sua veste enchia todo o coro. 
Dois serafins estavam postados a seu lado. 
Viu que cada um tinha seis asas: 
com duas cobriam seus claros semblantes, 
com duas encobriam totalmente os pés, 
c com as outras duas voavam livremente, 
e bradavam um para o outro em alta voz: 
Santo é Deus, o Senhor Zebaote. 
Santo é Deus, o Senhor Zebaote. 
Santo é Deus, o Senhor Zebaote. 
Sua glória encheu o mundo inteiro. 
Desse brado estremeceram as vigas e as traves, 
o prédio também estava tomado de fumaça de névoa.

No vídeo abaixo, o Sanctus de Lutero, na versão inglesa (Isaiah, Mighty Seer in Days of Old), é cantado após as Palavras da Instituição da Eucaristia, celebrada pelo Rev. William C. Weedon, atualmente diretor de Culto e capelão do Centro Internacional da Igreja Luterana – Sínodo Missouri.


Nós cremos todos num só Deus

1. Nós cremos todos num só Deus,
Criador de céu e terra.
Nós todos somos filhos seus;
nele todo o amor se encerra.
Quer saciar-nos com carinho,
alma e corpo preservar-nos;
tira o mal que há no caminho;
perdição não há de alcançar-nos.
Protege-nos com seu amor.
Tudo está nas mãos do Senhor.

2. Nós cremos todos em Jesus,
Filho seu e Deus glorioso,
eterno, como o Pai na luz,
Deus igual e poderoso.
Foi nascido de Maria,
pelo Espírito gerado;
trouxe a nova da alegria,
em favor do homem condenado.
Na cruz foi morto, mas por Deus
ressurgiu e retornou aos céus.

3. Nós cremos todos com fervor
em o Espírito Sagrado,
dos míseros Consolador,
com seus dons os tem dotado.
Guarda toda a cristandade
e a conserva sempre unida;
perdoando a iniquidade,
nos concede a eterna vida.
Após a luta, o Senhor
há de nos levar ao seu fulgor.


É provável que Lutero tenha composto o presente hino para o Domingo da Trindade. Antes que Lutero publicasse a "Missa Alemã", ele passou a ser cantado em cultos evangélicos. Em 1526, o próprio Lutero passou a adotar este costume em Wittenberg. Como hino de confissão de fé, passou a ser cantado também fora do culto, em sepultamentos. Em 1542, Lutero incluiu-o entre os hinos a serem cantados por ocasião de sepultamentos. Para estudar o conteúdo teológico do hino, é importante consultar os Catecismos do reformador. Na melodia, Lutero manteve o velho modo gregoriano dos credos latinos cantados. O hino deve ter sido composto em 1524. (OSel 7, 530-531)
O hino encontra-se em Hinos do Povo de Deus, nº 88 e no Hinário Luterano, nº 233, com tradução de Martinho Lutero Hasse (31/03/1919 - 04/04/2004).



FonteMartin Luther Gesangbuch (Kirchengemeinde Höchstenbach)


Tradução disponível em OSel 7, 531-532:

1. Nós cremos todos num só Deus,
criador do céu e da terra,
que se fez Pai,
para que nos tornemos seus filhos.
Ele quer alimentar-nos sempre
e também preservar o corpo e a alma;
quer impedir toda a desgraça,
que nenhum mal nos aconteça.
Ele cuida de nós, guarda e vigia,
tudo depende de seu poder.

2. Cremos também em Jesus Cristo,
seu Filho e nosso Senhor,
que está eternamente junto ao Pai,
Deus igual, em poder e glória.
De Maria, a virgem,
nasceu verdadeiro ser humano
por meio do Espírito Santo na fé.
Por nós, que estávamos perdidos,
morreu na cruz, e da morte
ressuscitou por intermédio de Deus.

3. Nós cremos no Espírito Santo,
Deus com o Pai e o Filho,
Consolador de todos os desalentados,
que os dota maravilhosamente com seus dons.
A cristandade inteira sobre a terra
ele mantém em concórdia;
aqui todos os pecados são perdoados,
a carne também há de voltar a viver.
Depois deste exílio espera-nos
uma vida em eternidade.

"Wir glauben all' an einen Gott" do hinário de 1524 de Martinho Lutero e Johann Walter (Bavarian State Library)

Santíssima Trindade no Antigo Testamento



Este ícone de um iconógrafo desconhecido, em atividade entre 1690-1710, no norte da Rússia, representa a Santíssima Trindade. Encontra-se no Ikonen-Museum em Recklinghausen, na Alemanha.

Numa fase primeva da iconografia, uma imagem que representava a Trindade na Igreja Oriental foi uma representação simbólica que ficou conhecida como philoxenia (hospitalidade) de Abraão, baseada na visita, descrita em Gênesis 18, de três homens ou anjos a Abraão e Sara. Abraão deu um novilho e entreteu os convidados, que, em seguida, prometeram-lhe que sua esposa Sara daria à luz ao ansiado filho. Esta história do Antigo Testamento já havia sido interpretada pelos Pais da Igreja como a primeira revelação das três Pessoas da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo).

Neste ícone três anjos estão sentados a uma mesa ricamente adornada, em que podem ser vistos três cálices, facas, um jarro, pãezinhos e outros objetos. Ao invés da habitação de Abraão, aparece uma cidade ricamente detalhada, colorida, enquanto à direita assomam três picos de uma montanha em que crescem as árvores estilizadas.

Uma Interpretação Iconográfica do Dogma Trinitário

"A Trindade" (c. 1411), de Andrei Rublev (c. 1360-1430), Moscou, Galeria Tretiakov

O ícone "da Trindade", às vezes também nomeado de “o ícone dos três Anjos", é do iconógrafo Russo André Rublev, e é um dos ícones mais famosos de toda as épocas. É também chamado de ícone “da hospitalidade de Abrão”. Desde os primeiros séculos do Cristianismo, a narração bíblica da visita dos três estranhos a Abrão e Sara (Gn 18, 1-22) foi interpretada como uma manifestação da Santíssima Trindade. Já pelo IV século o historiador da igreja Euzébio de Cesárea escreveu que desde os tempos antigos existiu um quadro da Santíssima Trindade, na forma de três anjos, onde três estranhos apareceram à Abrão. Os Santos Padres entenderam este evento como uma demonstração, até mesmo indireta, da Trindade, ou como uma demonstração do Filho de Deus, acompanhado por dois anjos. Muito antes de Rublev, existiram muitos iconógrafos que fizeram essa representação iconográfica desta cena, incluindo Abrão e Sara que servem os anjos e freqüentemente um criado que mata um cordeiro para a refeição. Mais ninguém teve a iluminação e a ousadia de Rublev.  (Michel Fares Breidi - Uma Interpretação Iconográfica do Dogma Trinitário)

Cantatas de J. S. Bach para o Domingo da Santíssima Trindade

Johann Sebastian Bach compôs quatro Cantatas para o Domingo da Santíssima Trindade (Trinitatis), cujas leituras são da Epístola aos Romanos 11.33-36 e do Evangelho de São João 3.1-15:

  • O heilges Geist und Wasserbad (BWV 165), composta em 1715 e executada pela primeira vez no dia 16 de junho daquele ano, em Weimar.
  • Er ist ein trotzig und verzagt Ding (BWV 176), composta em 1725 e executada pela primeira vez no dia 27 de maio daquele ano, em Leipzig.
  • Höchsterwünschtes Freudenfest (BWV 194), composta em 1723, em Leipzig, e executada pela primeira vez no dia 2 de novembro daquele ano, em Störmthal.
  • Gelobet sei der Herr, mein Gott (BWV 129), composta em 1726 e executada pela primeira vez no dia 16 de junho de 1726, em Leipzig.

Gelobet sei der Herr, mein Gott (Louvado seja o Senhor, meu Deus), BWV 129, é um louvor à Santíssima Trindade - Deus, o Criador, o Salvador e Consolador -, sem referência a uma leitura específica do Evangelho, podendo ser usada em outras ocasiões, como o Dia da Reforma. Abaixo, o vídeo e texto da cantata em alemão, com tradução em português:



Cantata BWV 129 - Gelobet sei der Herr, mein Gott

1. Coro [S, A, T, B]
Tromba I-III, Timpani, Flauto traverso, Oboe I/II, Violino I/II, Viola, Continuo

Gelobet sei der Herr,
Mein Gott, mein Licht, mein Leben,
Mein Schöpfer, der mir hat
Mein Leib und Seel gegeben,
Mein Vater, der mich schützt
Von Mutterleibe an,
Der alle Augenblick
Viel Guts an mir getan.

Louvado seja o Senhor,
Meu Deus, minha luz, minha vida,
Meu criador, que me deu
Meu corpo e minha alma,
Meu pai, que me protege
Desde o ventre materno,
Que, em cada instante,
Muitos atos de bondade fez por mim.

2. Ária [Baixo]
 Continuo

Gelobet sei der Herr,
Mein Gott, mein Heil, mein Leben,
Des Vaters liebster Sohn,
Der sich für mich gegeben,
Der mich erlöset hat
Mit seinem teuren Blut,
Der mir im Glauben schenkt
Sich selbst, das höchste Gut.

Louvado seja o senhor,
Meu Deus, minha salvação, minha vida,
O filho dileto do Pai
Que Se deu a Si mesmo por mim,
Que me redimiu
Com Seu precioso sangue,
Que, em Sua fé, dedicou-me
A Si mesmo, ato supremo de bondade.

3. Ária [Soprano]
Flauto traverso, Violino solo, Continuo

Gelobet sei der Herr,
Mein Gott, mein Trost, mein Leben,
Des Vaters werter Geist,
Den mir der Sohn gegeben,
Der mir mein Herz erquickt,
Der mir gibt neue Kraft,
Der mir in aller Not
Rat, Trost und Hülfe schafft.

Louvado seja o Senhor,
Meu Deus, meu consolo, minha vida,
O espírito valioso do Pai
Que me deu Seu filho,
Que refresca meu coração,
Que revigora minhas forças,
Que, na necessidade,
Providencia conselho, consolo e auxílio.

4. Ária [Alto]
Oboe d'amore, Continuo

Gelobet sei der Herr,
Mein Gott, der ewig lebet,
Den alles lobet, was
In allen Lüften schwebet;
Gelobet sei der Herr,
Des Name heilig heißt,
Gott Vater, Gott der Sohn
Und Gott der Heilge Geist.

Louvado seja o Senhor,
Meu Deus, que vive para sempre,
Louvado por tudo o que
Voa nos ares.
Louvado seja o Senhor,
Cujo nome é sagrado.
Deus Pai, Deus Filho
E Deus Espírito Santo.

5. Coral [S, A, T, B]
Tromba I-III, Timpani, Flauto traverso, Oboe I/II, Violino I/II, Viola, Continuo

Dem wir das Heilig itzt
Mit Freuden lassen klingen
Und mit der Engel Schar
Das Heilig, Heilig singen,
Den herzlich lobt und preist
Die ganze Christenheit:
Gelobet sei mein Gott
In alle Ewigkeit!

Para Ele agora "sagrado"
Entoamos com alegria
E, com a hoste de anjos,
"Sagrado", "sagrado" cantamos
Para aquele que é louvado e prezado de coração.
Por toda a cristandade:
Louvado seja meu Deus
Por toda a eternidade!

Tradução: Rodrigo Maffei Libonati

Introito para a Festa da Santíssima Trindade


Bendita seja a Santíssima Trindade e a indivisível Unidade: demos glória a ele, porque há usado de misericórdia para conosco.

Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade.
Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força.
Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres E o filho do homem, que o visites?
Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora é, e para sempre será – de eternidade a eternidade. Amém.

Bendita seja a Santíssima Trindade e a indivisível Unidade: demos glória a ele, porque há usado de misericórdia para conosco.

(Salmo 8.1–2a, 3-5; antífona: Texto litúrgico)

 “Adoração da Santíssima Trindade” (1511), de Albrecht Dürer (1471-1528)

Festa da Santíssima Trindade



Cor litúrgica: Branca

LEITURAS:
Lecionário Anual

Antigo Testamento: Isaías 6.1–7
Salmo: Salmo 29 (antífona. v. 2)
Epístola: Romanos 11.33–36
Santo Evangelho: S. João 3.1–15(16–17)

A Santíssima Trindade se revela a pecadores

Quando Isaías viu a glória do Senhor, ele gritou: “ai de mim!” Pois o pecador não pode ficar na presença de um Deus santo e vivo (Isaías 6.1-7). Mas Deus Pai levantou o seu Filho Jesus por nós na cruz, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Esta vida eterna de Cristo nos é dada de acordo com a boa vontade do Espírito Santo no Batismo. “Quem não nascer [de novo] da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (São João 3.5). Para pecadores com medo da morte, os mensageiros de Deus colocam em nossos lábios o vivo corpo e sangue de Cristo e falam suas palavras de absolvição: “a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado” (Isaías 6.7). Tendo recebido o perdão e a vida do Pai, através do Filho, pelo Espírito Santo, nos juntamos aos anjos em louvor à Santíssima Trindade: “Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos!” (Isaías 6.3). “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11.33-36).

COLETA:

Onipotente e eterno Deus, que deste a nós, teus servos, a graça de reconhecermos a glória da eterna Trindade, na confissão da verdadeira fé, e no poder da Majestade Divina adorarmos a Unidade, suplicamos-te que nos conserves firmes nesta fé e sempre nos defendas de todas as adversidades, tu que vives e reinas, um só Deus, pelos séculos sem fim. Amém.

Comemoração de Ester - 24 de maio

"Ester diante de Assuero" (1630), de Giovanni Andrea Sirani (1610-1670)

Nesta Oitava de Pentecostes comemoramos Ester, com alegria pelos constantes livramentos do Senhor.

Ester é a heroína do livro bíblico que leva seu nome. Seu nome hebraico era Hadassa, que significa “mirta”. Sua beleza, charme e coragem lhe foram úteis como rainha do rei Assuero. Nesse papel, ela conseguiu salvar o seu povo do extermínio em massa que Haman, principal conselheiro do rei, tinha planejado (2.19 - 4.17). Os esforços de Ester para descobrir a trama resultaram no enforcamento de Hamã na mesma forca que ele havia construído para Mordecai, seu tio e tutor. Então o rei nomeou Mordecai ministro de estado no lugar de Hamã. Esta história é um exemplo de como Deus intervém em favor de seu povo para livrá-los do mal, assim como através de Ester ele preservou o povo do Antigo Testamento, por meio do qual o Messias viria.
Ainda que não mencione o nome do Senhor (YHWH), o livro de Estar está incluso no cânon das Escrituras pois mostra a proteção providencial de Deus de seu povo, assim como também mostra como Ele preservou a linhagem do Messias.

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Deus, que agraciaste tua serva Rainha Ester, não apenas com beleza e elegância, mas também com fé e sabedoria. Concede-nos, também, pode usar as qualidades que generosamente nos concedeste para a glória do teu poderoso nome e para o bem do teu povo, para que através da tua obra em nós, possamos ser protetores dos oprimidos e defensores dos fracos, preservando a nossa fé no grande Sumo Sacerdote que intercede em nosso favor, Jesus Cristo, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

21/05/2013

Comemoração de Constantino, Imperador, e Helena, sua Mãe - 21 de maio



Flavius Valerius Aurelius Constantinus serviu como o imperador romano de 306-337 AD. Seu pai, apesar de pagão, protegia os cristãos, pois percebeu que eram cidadãos fiéis e honestos. Durante o seu reinado a perseguição aos cristãos foi proibida pelo Edito de Milão, em 312, e, finalmente, a fé ganhou o completo apoio imperial. Constantino teve um interesse ativo na vida e nos ensinamentos da Igreja e convocou o Concílio de Nicéia, em 325 em que o cristianismo ortodoxo foi definido e defendido. Sua mãe, Flavia Iulia Helena (c. 255-329), exerceu forte influência sobre Constantino. Graças a ela o filho foi benevolente ao cristianismo. Seu grande interesse em localizar os locais sagrados da fé cristã, levou Helena a se tornar uma das primeiras peregrinas cristãs à Terra Santa. Sua pesquisa levou à identificação de locais bíblicos em Jerusalém, Belém e outros, que ainda hoje são mantidos como locais de culto.

LEITURAS:

† 1 Timóteo 3.14-16
† Salmo 111
† Lucas 23.50-55


ORAMOS:

† Pelas mulheres abandonadas por seus esposos;
† Pelas famílias cristãs;
† Pelos governantes das nações;
† Pala paz na Terra Santa.

COLETAS:

Ó Senhor, nosso Deus, Rei do Universo, que levanta governantes terrenos para operar sua vontade nesta vida, Tu chamaste Constantino ao trono imperial e terminaste a perseguição generalizada da Igreja de teu Filho; concede que, assim como ele serviu, cumprindo sua vocação, continuemos a receber de ti governantes que permitam a Igreja proclamar o Evangelho salvador de teu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Todo-poderoso Deus, que chamaste tua serva Helena a uma posição de autoridade terrena para que ela pudesse avançar o seu reino celestial, enchendo-a com zelo por tua Igreja e com amor pelo teu povo, concede que possamos ser fecundos em boas obras e firmes em nossa fé no teu Filho e, finalmente, por tua misericórdia, alcançar a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Bach e a Terça-feira de Pentecostes


A Terça-feira de Pentecostes celebra o terceiro dia de Pentecostes. No tempo de Bach era era um dia festivo na igreja luterana da Alemanha. Naquela época todas as principais festas cristãs era comemoradas por três dias. Na Dinamarca era feriado neste dia até 1770, mas em algumas cidades como Svendborg são preservadas festividades relacionadas a este dia. Na Suécia também era feriado na Terça-feira de Pentecostes até o ano de 1772, quando foram abolidos vários feriados religiosos.

Johann Sebastian Bach compôs duas belas cantatas para a Terça-feira de Pentecostes, baseadas nas leituras previstas para este dia festivo de Atos dos Apóstolos, o Espírito Santo em Samaria (Atos 8.14-17) e do Evangelho de São João, o Bom Pastor (João 10.1-10).


- Er rufet seinen Schafen mit Namen (Ele chama suas ovelhas pelo nome), BWV 175, composta em Leipzig e apresentada pela primeira vez em 22 de maio de 1725.
A cantata é baseada nos textos da poetisa e escritora alemã Christiane Mariane von Ziegler (1695-1760) . O último movimento é o texto da nona estrofe do hino "O Gottes Geist, mein Trost und Ruh" do poeta sacro Johann von Rist (1607-1667).

Cantata executada na Evangelische Kirche in Trogen (Suíça) pelo Coral e Orquestra da Fundação J. S. Bach, com a regência do maestro Rudolf Lutz (1951- ):




Cantata executada pelo Knabenchor Hannover (Heinz Hennig), Collegium Vocale Gent (Philippe Herreweghe) e Leonhardt-Consort (Gustav Leonhardt):




- Erwünschtes Freudenlicht (Anelada luz de alegria), BWV 184, composta em Leipzig e apresentada pela primeira vez em 30 de maio de 1724.

O poeta que adaptou um texto à composição de Bach é desconhecido. Ele utilizou a leitura do Evangelho de João 10.1-10, prescrita para o dia, que apresenta Jesus como o Bom Pastor. O texto do penúltimo movimento da cantata é a última estrofe do hino "O Herre Gott, dein göttlichs Wort" (1526) do hinólogo e reformador da Saxônia Anarg Heinrich zu Wildenfels (c. 1490 – 1539).

Cantata executada na Evangelische Kirche in Trogen (Suíça) pelo Coral e Orquestra da Fundação J. S. Bach, com a regência do maestro Rudolf Lutz (1951- ):


Terça-feira de Pentecostes (Lecionário Histórico)



Cor litúrgica: Vermelha

INTROITO:
Salmo 78.1, 70, 71b–72; antífona. 2 Esdras 2.36b, 37b

Recebam a alegria da sua glória, agradecendo a Deus. Aleluia.
Que os chamou para o seu reino celestial. Aleluia.
Escutai, povo meu, a minha lei; prestai ouvidos às palavras da minha boca.
Também escolheu a Davi, seu servo, e o tomou dos redis das ovelhas; para ser o pastor de Jacó, seu povo, e de Israel, sua herança.
E ele os apascentou consoante a integridade do seu coração e os dirigiu com mãos precavidas.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora é, e para sempre será – de eternidade a eternidade. Amém.
Recebam a alegria da sua glória, agradecendo a Deus. Aleluia.
Que os chamou para o seu reino celestial. Aleluia.

LEITURAS:
Lecionário Anual

Antigo Testamento: Isaías 32.14–20
Salmo: Salmo 85 (antífona. v. 10)
Epístola: Atos 8.14–17
Santo Evangelho: S. João 10.1–10

COLETA:

Deus Todo-poderoso e sempre vivo, que cumpriste tua promessa ao enviar o dom do Espírito Santo para congregar os discípulos de todas as nações na cruz e ressurreição de teu Filho Jesus Cristo, propaga este dom por todos os cantos da terra pela pregação do Evangelho; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

20/05/2013

Segunda-feira de Pentecostes - São João 3.16


Se, entretanto, não consegues crer, deves pedir a Deus por isto, como dissemos acima, pois também o crer está exclusivamente nas mãos de Deus, e ele também o dará, ora abertamente, ora ocultamente, como dissemos a respeito do sofrimento. Mas tu podes animar-te para isso: em primeiro lugar não deves mais contemplar o sofrimento de Cristo (pois agora este já efetuou sua obra e te assustou); deves ir em frente e contemplar seu amável coração, considerando quanto amor ele tem para contigo, amor que o obriga a carregar o fardo tão pesado de tua consciência e teu pecado. Assim teu coração ficará doce para com ele e a confiança da fé será fortalecida. Continuando, passa então pelo coração de Cristo para chegar ao coração de Deus, e vê que Cristo não poderia ter te demonstrado esse amor caso Deus, a quem Cristo obedece com seu amor para contigo, não o tivesse querido em amor eterno. Assim acharás o coração paterno divino e bom e, como Cristo diz, dessa maneira serás atraído por Cristo para o Pai. Então passarás a entender as palavras de Cristo: “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito", etc. É isto o que significa reconhecer a Deus de forma apropriada: apreendê-lo não pelo seu poder ou por sua sabedoria (que são assustadores), mas pela bondade e pelo amor. Então a fé e a confiança podem subsistir e então a pessoa é verdadeiramente renascida em Deus.

-- Bem-aventurado Martinho Lutero no Sermão sobre a Contemplação do Santo Sofrimento de Cristo, de 1519 (OSel I, 254, 255)

Ich liebe den Höchsten von ganzem Gemüte - Cantata de Bach para a Segunda-feira de Pentecostes

Ich liebe den Höchsten von ganzem Gemüte (Eu amo o Altíssimo com todo meu Ânimo), BWV 174, é uma cantata sacra de Johann Sebastian Bach que ele compôs em Leipzig para o segundo dia de Pentecostes (Pfingstmontag) e foi executada pela primeira vez neste dia festivo em 6 de junho de 1729.

As leituras bíblicas para a Segunda-feira de Pentecostes são de Atos 10.42-48 (sermão de Pedro ao centurião Cornélio) e do Evangelho de João 3.16-21 (encontro de Jesus e Nicodemos).

O texto da cantata faz referência estrita ao Evangelho do dia festivo e foi escrito por Picander (Christian Friedrich Henrici) e publicado em 1728 no seu volume completo de poemas sacros para todos Domingos e Festas do Ano Eclesiástico, em cujo prefácio expressou que almejava que "a falta de elegância poética fosse compensada pela doçura do incomparável Kapellmeister Bach, e que essas canções sejam Lieder entoadas nas principais igrejas da piedosa Leipzig". O texto final do Coral é a primeira estrofe do hino "Herzlich lieb hab ich dich, o Herr", composto por Martin Schalling em 1569.

Foi durante o período de seu ciclo Picander que Bach assumiu o comando do Collegium musicum, que provocou uma melhoria visível nas apresentações, favorecendo também suas composições sacras. Isso pode ser visto claramente na pontuação fantástica da Cantata BWV 174, que Bach compôs pouco depois de assumir o Collegium musicum.

A cantata que pode ser ouvida abaixo é executada pelo coro Tölzer Knabenchor, fundado e regido por Gerhard Schmidt-Gaden (1937 - ) e orquestra Concentus musicus Wien, fundada e regida por Nikolaus Harnoncourt (1929 -2016).




1. Sinfonia

2. Ária

Ich liebe den Höchsten von ganzem Gemüte,
Er hat mich auch am höchsten lieb.
Gott allein
Soll der Schatz der Seelen sein,
Da hab ich die ewige Quelle der Güte.

Eu amo o Altíssimo com todo meu Ânimo,
A mim ele ama com alto amor.
Deus apenas
Deve ser o Tesouro da Alma,
Onde tenho uma eterna fonte do Bem.

3. Recitativo

O Liebe, welcher keine gleich!
O unschätzbares Lösegeld!
Der Vater hat des Kindes Leben
Vor Sünder in den Tod gegeben
Und alle, die das Himmelreich
Verscherzet und verloren,
Zur Seligkeit erkoren.
Also hat Gott die Welt geliebt!
Mein Herz, das merke dir
Und stärke dich mit diesen Worten;
Vor diesem mächtigen Panier
Erzittern selbst die Höllenpforten.

Ó Amor sem igual!
Ó inestimável resgate!
O Pai deu a vida de sua Criança
Pela morte dos Pecadores
E todos, que do reino celestial
Se desgarraram e se perderam,
Para a felicidade são destinados.
Assim Deus ao Mundo amou!
Meu Coração, considera contigo
E te fortaleça com essas Palavras:
Diante desses poderosos Estandartes
Tremem mesmo os Portões do Inferno.


4. Aria

Greifet zu,
Fasst das Heil, ihr Glaubenshände!
Jesus gibt sein Himmelreich
Und verlangt nur das von euch:
Gläubt getreu bis an das Ende!

Agarrai,
Abraçai a Salvação, vós mãos da fé!
Jesus dá o seu reino celestial
E de vós deseja apenas:
Crede fielmente até o fim!

5. Choral

Herzlich lieb hab ich dich, o Herr.
Ich bitt, wollst sein von mir nicht fern
Mit deiner Hülf und Gnaden.
Die ganze Welt erfreut mich nicht,
Nach Himml und Erden frag ich nicht,
Wenn ich dich nur kann haben.
Und wenn mir gleich mein Herz zerbricht,
So bist du doch mein Zuversicht,
Mein Heil und meines Herzens Trost,
Der mich durch sein Blut hat erlöst.
Herr Jesu Christ,
Mein Gott und Herr, mein Gott und Herr,
In Schanden lass mich nimmermehr!

Amor de coração tenho por ti, ó Senhor.
Peço, não te afastes de mim
Com teu Socorro e tua graça.
O mundo inteiro não me alegra,
Do céu e da terra nada peço,
O que de ti posso obter.
E quando meu coração se partir,
Serás ainda minha confiança,
Meu salvador e amparo de meu coração,
Que para mim por seu sangue foi redimido.
Senhor Jesus Cristo,
Meu Deus e meu Senhor, meu Deus e meu Senhor,
No opróbrio não me deixes nunca mais.

Tradução de Martinho Lutero Hasse (1919-2004) da primeira estrofe do hino "Herzlich lieb hab ich dich, o Herr", conforme se encontra no Hinário Luterano (435):

Eu te amo tanto, ó meu Senhor.
Vem com tua graça e teu amor
em mim estar presente.
O mundo não me dá prazer;
nem céus nem terra quero ter,
senão a ti somente.
Ao se angustiar meu coração,
serás a minha proteção;
conforto encontrarei em ti,
por cujo sangue me remi.
Ó Salvador,
Senhor meu Deus, Senhor meu Deus,
dá forças aos fracos braços meus. 

Fonte:

Also hat Gott die Welt geliebt - Cantata de Bach para a Segunda-feira de Pentecostes

Also hat Gott die Welt geliebt, BWV 68 (Tanto amou Deus ao mundo) é uma cantata sacra que Johann Sebastian Bach compôs para a Segunda-feira de Pentecostes e foi executada pela primeira vez nesta data festiva em 21 de maio de 1725, em seu segundo ano como Thomaskantor em Leipzig (cargo que ocupou até 1750).

O texto da cantata é de Christiana Mariana von Ziegler (1695-1760), poeta e escritora alemã. A poeta iniciou a cantata com a primeira estrofe do hino "Also hat Gott die Welt geliebt" (1675) do pastor e hinólogo Salomo Liscow (1640-1689). No movimento final Ziegler citou João 3.18.

A cantata que pode ser ouvida abaixo é executada pelo coro Tölzer Knabenchor, fundado e regido por Gerhard Schmidt-Gaden (1937 - ) e orquestra Concentus musicus Wien, fundada e regida por Nikolaus Harnoncourt (1929 -2016).



Also hat Gott die Welt geliebt - BWV 68

Tradução: Henrique Garcia

1. Coro

Also hat Gott die Welt geliebt,
Dass er uns seinen Sohn gegeben.
Wer sich im Glauben ihm ergibt,
Der soll dort ewig bei ihm leben.
Wer glaubt, dass Jesus ihm geboren,
Der bleibet ewig unverloren,
Und ist kein Leid, das den betrübt,
Den Gott und auch sein Jesus liebt.


Tanto amou Deus ao mundo
Que o seu Filho nos enviou.
Quem a ele em fé se entregar
Viverá com ele eternamente.
Quem crer que Jesus nasceu por meio Dele
Nunca estará perdido,
E nenhuma pena poderá afligir
Aquele a quem o próprio Deus e o seu Jesus amam.


2. Ária

Mein gläubiges Herze,
Frohlocke, sing, scherze,
Dein Jesus ist da!
Weg Jammer, weg Klagen,
Ich will euch nur sagen:
Mein Jesus ist nah.

Meu fiel coração,
Rogozija-te, canta, alegra-te,
Teu Jesus breve virá!
Fora tristeza, fora lamento,
Só vos digo isto:
Meu Jesus perto está.


3. Recitativo

Ich bin mit Petro nicht vermessen,
Was mich getrost und freudig macht,
Dass mich mein Jesus nicht vergessen.
Er kam nicht nur, die Welt zu richten,
Nein, nein, er wollte Sünd und Schuld
Als Mittler zwischen Gott und Mensch vor diesmal schlichten.

Como Pedro não sou arrojado;
O que me consola e me enche de alegria
É que de mim não se esqueceu Jesus.
Não só veio ele a julgar o mundo,
Senão que quis também abolir o pecado e a culpa
Como mediadores entre Deus e o homem.


4. Ária

Du bist geboren mir zugute,
Das glaub ich, mir ist wohl zumute,
Weil du vor mich genung getan.
Das Rund der Erden mag gleich brechen,
Will mir der Satan widersprechen,
So bet ich dich, mein Heiland, an.

Para o meu bem foi que tu nasceste,
Acredito nisto, e sinto-me feliz:
Porque tens feito muito por mim.
Ainda que a esfera terrestre se rompa,
Ainda que Satanás se volte contra mim,
Adorar-te-ei, meu Salvador.

5. Coro

Wer an ihn gläubet, der wird nicht gerichtet;
wer aber nicht gläubet, der ist schon gerichtet;
denn er gläubet nicht an den Namen des eingebornen Sohnes Gottes.

Quem crer Nele não será condenado,
Porém quem não crer já o foi:
Pois se negou a crer no nome
Do Filho de Deus.

Fonte: Cantatas de Bach em Português

Bach e a Segunda-feira de Pentecostes

A Segunda-feira de Pentecostes é um dia festivo muito importante. Comemoramos o segundo dia de Pentecostes. O Pentecostes, uma das três grandes festas da Igreja Cristã se tornou também um dos três períodos de batismo, quando os batizados usam roupas brancas. Na Alemanha, hoje é o feriado de Pfingstmontag, mas, infelizmente, lá e em todas as partes do mundo, a Segunda feira de Pentecostes tem sido negligenciada e totalmente esquecida entre os cristãos, mesmo luteranos. No entanto, nem sempre foi assim. Durante a Era de Confessionalismo, Johann Sebastian Bach compôs lindas cantatas para a Segunda-feira de Pentecostes, baseadas nas leituras previstas para este dia festivo, do Sermão de São Pedro a Cornélio (Atos 10.42-48) e do encontro de Jesus com Nicodemos, no Evangelho de São João, quando Jesus diz: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (São João 3.16-21).

- Erhöhtes Fleisch und Blut (Excelsa carne e sangue ), BWV 173, composta por Bach em Leipzig e apresentada pela primeira vez em 29 de maio de 1724.



- Ich liebe den Höchsten von ganzem Gemüte (Eu amo o Todo-Poderoso com todo meu ser), BWV 174, composta por Bach em Leipzig e apresentada pela primeira vez em 6 de junho de 1729.



- Also hat Gott die Welt geliebt (Tanto amou Deus ao mundo), BWV 68, composta em Leipzig e apresentada pela primeira vez em 21 de maio de 1725.

Segunda-feira de Pentecostes (Lecionário Histórico)

"O Batismo de um Centurião", de Michel Corneille, o Velho (c. 1601-1664)

Cor litúrgica: Vermelha

INTROITO:
Salmo 81.1, 7a, 10a, 14; antífona. Salmo 81.16)

Eu o sustentaria com o trigo mais fino, diz o Senhor. Aleluia. E o saciaria com o mel que escorre da rocha. Aleluia.
Cantai de júbilo a Deus, força nossa; celebrai o Deus de Jacó.
Clamaste na angústia, e te livrei. Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito. 
Eu, de pronto, lhe abateria o inimigo e deitaria mão contra os seus adversários. 
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora é, e para sempre será – de eternidade a eternidade. Amém.
Eu o sustentaria com o trigo mais fino, diz o Senhor. Aleluia. E o saciaria com o mel que escorre da rocha. Aleluia.

LEITURAS:
Lecionário Anual

Antigo Testamento: Isaías 57.15–21
Salmo: Salmo 43 (antífona. v. 3)
Epístola: Atos 10.34a, 42–48
Santo Evangelho: S. João 3.16–21

O Espírito Santo vem a todos os povos

São Pedro foi o primeiro a falar aos gentios as insondáveis riquezas de Cristo, ao pregar a Cornélio e sua família o mesmo dom do Espírito Santo que Deus havia concedido aos santos Apóstolos e a bem-aventurada Maria no dia de Pentecostes, purificando-lhes os corações pela fé. Na sua pregação na casa de Cornélio o santo apóstolo reconhece “que Deus não faz acepção de pessoas”(Atos 10.34), de forma que quando Pedro ainda falava “caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo” (Atos 10.44,45). O resultado é que aqueles estrangeiros também foram batizados e contados no povo de Deus. A ação do Espírito Santo testemunha que todos estão salvos através da obra redentora de Jesus Cristo, o Filho unigênito de Deus (São João 3.16-18). — LCMS Lectionary Summaries


COLETA:

Ó Deus, que deste teu Espírito Santo aos apóstolos, concede-nos este mesmo Espírito para que possamos viver em fé e permanecer em paz; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

18/05/2013

Pentecostes – O Espírito Santo nos conforta e fortalece

"O Pentecoste", de Fernando Gallego (1440-1507) 


Em tudo isso, porém, devemos exercer o bom senso e a sabedoria, entendendo que uma que pessoa recebe o Espírito Santo não é ao mesmo tempo perfeita, insensível à lei e ao pecado, pura em todos os aspectos. Por isso não pregamos, concernente ao Espírito Santo e seu ofício, que ele completou e concluiu sua obra, mas que ele apenas a começou e agora está constantemente engajado nela, e que está incessantemente progredindo e, consequentemente, você não irá encontrar uma pessoa sem pecado e sem dor, plena de justiça e de alegria, e tão perfeita que nunca se preocupa com nada desnecessariamente e que serve a todos livremente. As Escrituras nos dizem que na verdade a função do Espírito Santo é redimir do pecado e temor, mas isso não quer dizer que é completamente consumado.

Portanto, o cristão deve, por vezes, sentir o seu pecado e o medo da morte, e se preocupar com tudo que incomoda um pecador. Os descrentes podem se afundar tão profundamente em seus pecados que não os sentirão, mas os crentes os sentem, contudo possuem um auxiliador, o Espírito Santo, que os conforta e fortalece. No entanto, se ele tivesse finalizado e encerrado seu ofício, não iriam experimentar nenhum desses medos.

-- Homilia do bem-aventurado Martinho Lutero sobre São João 14.23-31 para o Domingo de Pentecostes, publicado em sua Postila da Igreja de 1523 (The Sermons of Martin Luther III: 280-281 (Baker Book House, 1983)

17/05/2013

Pentecostes - O Dom do Espírito Santo

"A Descida do Espirito Santo" (1618-1620), de Antoon van Dyck (1599 - 1641)


Observe aqui, o Espírito Santo desce e enche os corações dos discípulos que estavam reunidos em meio a temor e tristeza. Ele torna as suas línguas ardentes e soltas e inflama-os com amor até ousarem na pregação de Cristo - até a enunciação livre e destemida. Obviamente, então, não é ofício do Espírito escrever livros ou instituir leis. Ele escreve nos corações dos homens, criando um novo coração, para que o homem possa se alegrar diante de Deus, plenos de amor por ele e, consequentemente, prontos para servir seus semelhantes com gratidão.
Quais meios e processos o Espírito emprega para mudar e renovar o coração? Por meio da pregação de Jesus Cristo, o Senhor, como o próprio Cristo diz (São João 15.26): “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim”. Como temos ouvido muitas vezes, o Evangelho é a mensagem que Deus teria pregado no mundo inteiro, declarando a cada indivíduo que, uma vez que ninguém pode, através da Lei ser justo, mas deve antes tornar-se mais injusto, Deus enviou seu próprio Filho para derramar o seu sangue e morrer pelos nossos pecados, dos quais não poderíamos ser libertados por nosso próprio esforço.

-- Homilia do bem-aventurado Martinho Lutero sobre Atos 2.1-13 para o Domingo de Pentecostes, publicado em sua Postila da Igreja de 1523 (The Sermons of Martin Luther VII:332-333 (Baker Book House, 1983)

A Festa de Pentecostes (III)



"A Descida do Espírito Santo", de Guido Reni (1575-1642)

Na Igreja cristã antiga, o Pentecostes estava em pé de igualdade com a Páscoa como um momento para o Batismo. As igrejas do hemisfério norte, particularmente, têm preferido Pentecostes à Páscoa como o dia do Batismo por motivos climáticos, e esta festa se tornou, mais tarde, a sua Dominica in albis. Os candidatos ao batismo eram, obviamente, vestidos de branco.
O Pentecostes é uma das duas primeiras festas da Igreja. O dia original caiu sobre uma antiga festa judaica, a Festa das Semanas. “Também guardarás a Festa das Semanas, que é a das primícias da sega do trigo, e a Festa da Colheita no fim do ano” (Êxodo 34.22). “Sete semanas contarás; quando a foice começar na seara, entrarás a contar as sete semanas. E celebrarás a Festa das Semanas ao Senhor, teu Deus, com ofertas voluntárias da tua mão, segundo o Senhor, teu Deus, te houver abençoado. Alegrar-te-ás perante o SENHOR, teu Deus” (Deuteronômio 16.9-11). Esta Festa também foi chamada de Pentecostes nos tempos pré-cristão. Acontecia exatamente sete semanas depois da Páscoa. Ela marcava a entrega da Lei no Monte Sinai, portanto, a instituição da Igreja judaica. Mas era observada mais como uma festa de ação de graças pelo término da colheita, ocasião em que dois pães, feitos a partir do dos primeiros feixes de trigo colhidos, eram oferecidos ao Senhor. Os Pais não deixaram de fazer uso do paralelo proporcionado pela fundação da Igreja judaica e da Igreja Cristã neste dia. Obviamente, a observância cristã comemora a descida do Consolador prometido, como indicado pela Epístola e pelo Introito.

-- Fred H. Lindemann (The Sermons and The Propers II. St. Louis: Concordia Publishing House, 1958. pp. 233-234)

A Festa de Pentecostes (II)


"Descida do Espírito Santo", de Pieter Coecke Van Aelst (1502-1550)

Aproximamos-nos desta grande festa com extraordinária alegria. Em nenhuma outra Festa vamos cantar como no Prefácio deste dia, “pelo qual a terra toda se alegra com grande alegria”, e como no Introito: “Os justos, porém, se regozijam, exultam na presença de Deus e folgam de alegria”. Observamos esta Festa com uma forte e firme fé na presença e poder do Espírito Santo na Igreja e na alma. Mas, visto que a Igreja e nossa alma ainda não é perfeita, devemos orar fervorosamente como no Gradual: “Vem, Espírito Santo, enche os corações dos fiéis”. Para celebrar o Pentecostes corretamente, devemos estar convencidos de que hoje o milagre do primeiro Pentecostes é repetido misticamente, como afirma o prefácio, “derramou neste dia o prometido Espírito Santo”. O nome "Pentecostes" entrou para o uso cristão a partir dos círculos judaicos. A Septuaginta deu o nome à festa judaica que coincidia com a comemoração cristã. Preferiu-se o termo Pentecostes ao latim Quinquagesima para evitar confusão, pois este também é o nome de um dos domingos do período pré-Quaresma. Nos escritos dos primeiros Pais o nome “Pentecostes” é usado num sentido geral para todo o período de cinquenta dias e em sentido restrito como denotando o dia em que termina este período.

-- Fred H. Lindemann (The Sermons and The Propers II. St. Louis: Concordia Publishing House, 1958. pp. 233-234)

A festa de Pentecostes (I)

“Pentecoste”, de Louis Galloche (1670-1761)


Esta última das três grandes festas fecha a Quinquagésima que segue a Páscoa. O período de cinquenta dias é totalmente festivo. Em tempos antigos jogos e brincadeiras eram proibidos. Não eram prescritos jejuns. Todos os elementos de alegria eram restaurados e enfatizados nos cultos. As orações eram ditas em pé e não ajoelhados. O Pentecostes não é uma festa independente, mas sim o término e conclusão da Páscoa. Cinquenta dias atrás, ressuscitamos com Cristo para uma nova vida. Cinquenta é sete vezes sete mais um. Sete aponta para a completude e plenitude. Sete vezes sete é a completude levada à perfeição, plenitude completa. Cinquenta dias atrás, fomos restauradas para a vida em Deus e nascemos de novo como filhos de Deus. Como crianças recém-nascidas que ansiavam pelo leite espiritual puro. Crescemos na família da Igreja de Cristo, despreocupados e felizes, como verdadeiros filhos fazem. À medida que crescemos, a Igreja nos preparou para o momento em que devemos perceber que a infância serena é uma coisa passageira, que somos estrangeiros e peregrinos, que devemos sofrer. Esta preparação começou já no Quarto Domingo de Páscoa (3º após Páscoa). Agora, no Dia de Pentecostes é declarada nossa maioridade.

-- Fred H. Lindemann (The Sermons and The Propers II. St. Louis: Concordia Publishing House, 1958. pp. 233-234)