Abaixo, uma exposição do Rev. Horst R. Kuchenbecker sobre o hino Komm, Heiliger Geist, Herre Gott (Hinário Luterano, 142), publicado originalmente em Göttinger Predigten im Internet.
DOMINGO DE PENTECOSTES
Santo Espírito, ó nosso Deus,
concede os dons da graça aos teus,
Enchendo-os corações de amor.
Por tua grande luz, Senhor
Vieste os homens conduzir
à fé e um povo reunir
De todas as nações aqui.
Por isso te exaltamos, Deus a ti.
Aleluia! Aleluia!
Ó Luz santa, vem avivar
em nós teu Verbo e nos guiar
A conhecer o nosso Deus,
o verdadeiro Pai dos céus.
Oh! Livra-nos de ensino vão
e faze-nos de coração
Só crer em Cristo e nele ver
o nosso Mestre e fonte de poder.
Aleluia! Aleluia!
Amor santo, ó Consolador,
ajuda-nos com teu favor
A sermos sempre a ti fiéis,
também nas horas mais cruéis.
Reveste-nos com teu poder
e fortalece o nosso ser,
A fim de combatermos bem
e a vida obtermos junto a ti no além.
Aleluia! Aleluia!
Komm, Heiliger Geist, Herre Gott. - Trad. Martinho L. Hasse
Veni, Sancte Spiritus... Assim inicia um dos hinos da Igreja antiga para o dia de Pentecostes, que Lutero traduziu, reformulou e ampliou, em 1524. É um dos nossos mais queridos hino de Pentecoste. Vamos analisá-lo para nossa edificação.
v.1. Santo Espírito, ó nosso Deus, concede os dons da graça aos teus. - O hino fala do Espírito Santo, do seu ser, de sua pessoa e de sua obra, bem como da honra divina que lhe cabe.
Conforme seu ser, o Espírito Santo não é uma simples força
espiritual que emana do Pai. Ele é, como Espírito, uma pessoa própria,
que procede do Pai e do Filho desde a eternidade. Ele é um com o Pai e o
Filho, igual a eles em poder, glória e majestade. Ele é a terceira
pessoa da Santíssima Trindade. Por isso nós o adoramos, dizendo no hino:
ó nosso Deus. Ele é chamado de santo não simplesmente por ser santo, mas por a obra da santificação ser seu principal trabalho.
Segue por isso o pedido: Concede os dons da graça aos teus. Este é o pedido dos fiéis.
O Espírito Santo atuou na criação. Espírito pairava sobre as águas. (Gn 1.2)
Ele deu dons aos artífices que prepararam os diversos objetos para o
tabernáculo do Antigo Testamento. Ele deu dons aos reis para poderem
governar, como a Salomão. Ele deu dons aos profetas. Ele conduz ao
arrependimento, à fé e a vida santificada.
No Novo Testamento sua principal função é glorificar a Cristo nos corações. Nossos pais resumiram seu trabalho da seguinte forma, na explicação do Terceiro Artigo do Credo Apostólico: Creio que por minha própria razão ou força não
posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele. Mas o Espírito
Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e
conservou na verdadeira fé. Assim também chama, congrega, ilumina e
santifica toda a cristandade na terra, e em Jesus Cristo a conserva na
verdadeira e única fé. Por isso pedimos: Concede os dons da graça aos teus. Estes dons da graça são que ele continue chamando, iluminando, santificando, congregando, conservando na única e verdadeira fé.
Este "chamar"
é um chamado poderoso, como quando Jesus chamou a Lázaro para fora da
sepultura. Este chamado deu a Lázaro a vida e a força para poder sair da
sepultura. O Espírito Santo atua pela Palavra, a palavra de Deus é
poder. O "iluminar" com seus dons consiste em fazer
compreender a Palavra de Deus e aceitá-la em arrependimento e fé, que é a
confiança no perdão de Cristo, na graça de Cristo. Esta fé se revela,
por sua vez, em verdadeiro amor a Deus e ao próximo. Isto inclui todo o
processe da vida santificada, o rejeitar as obras das trevas, resistir
ao diabo e fugir dele, vestir a couraça do Espírito, lutar, crescer na
fé e nas boas obras. Ou como o confessamos na Quarta Parte do Batismo: Significa
que o velho homem em nós, por contrição e arrependimento diários, deve
ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos, e, por sua
vez, sair e ressurgir diariamente novo homem, que vive em justiça e
pureza diante de Deus eternamente.
Tudo isso o Espírito
Santo opera pela Palavra de Deus, não fora da Palavra. A Palavra lida e
ouvida, a Palavra visível nos Sacramentos: Batismo e Santa Ceia. Fora
da Palavra não temos o Espírito Santo. Quem busca o Espírito Santo fora
da Palavra de Deus, corre o risco de ser enganado por seus próprios
pensamentos e pelo diabo. Por isso pedimos: Vem Santo Espírito habita em
nós pela Palavra, pela graça de Cristo, enche nossa alma com
pensamentos puros, com tua vontade, firma-nos na verdadeira fé e acende
em nós o verdadeiro amor a Deus e ao próximo.
Como
dissemos, a verdadeira obra do Espírito Santo é engrandecer, glorificar a
Cristo em nossos corações. Isto é, fazer-nos ver o grande amor de
Cristo que se sacrificou por nós, para que confiemos plenamente no
completo perdão de Cristo e sejamos diariamente consolados com esta
graça.
Quem ainda não experimentou este impulso do
Espírito Santo, deveria se perguntar: Será que sou cristão? Temos estes
tesouros em fé, isto é, apegados à sua palavra, muitas vezes sem ver nem
sentir.
Então o poete continua: Por
tua grande luz, Senhor, vieste os homens conduzir, à fé e um povo
reunir de todas as nações aqui. Por isso te exaltamos, Deus, a ti!
Aleluia! Aleluia! Este é o conteúdo central deste hino: Congregar os fiéis e expandir o reino de Cristo, a Igreja do Novo Testamento.
Esta Igreja não surgiu de si mesma. Ela é uma maravilhosa criação
do Espírito Santo. No dia de Pentecostes o Espírito Santo desceu sobre
os apóstolos. Ele operou maravilhosos sinais. Os discípulos, ainda
cheios de medo, atrás de portas e janelas fechadas, ficaram cheios do
Espírito Santo, jubilaram e saíram para proclamar corajosamente a boa
nova da salvação. Eles, que ainda não haviam compreendido bem a obra de
Cristo, agora a compreenderam. O Espírito Santo o clarificou em seus
corações. Eles receberam o dom de falar em outras línguas para poderem
proclamar o Evangelho, a boa nova da salvação a todos os presentes. As
pessoas ali reunidas, para a segunda maior festa do povo judaico, na
qual celebravam a entrega da lei de Deus a Moisés e a Festa da Colheita,
judeus e prosélitos de todas as partes do mundo puderam ouvir o
evangelho em sua própria língua materna.
Entre eles
estavam muitos que no dia da Sexta-feira Santa haviam gritado:
Crucifica-o! Agora, ouvindo a mensagem do apóstolo Pedro, caíram em si.
Reconheceram seus pecados. Apavorados disseram aos apóstolos: Senhores, o que faremos? E o apóstolo Pedro pôde lhes dizer: Arrependei-vos,
e cada um de vos seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão
dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. (At 2.38) A luz, o sol da graça brilhou em seus corações. O profeta Isaías havia profetizado: O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz (Is 9.2) Assim o Espírito Santo, que atua poderosamente pelo Evangelho, criou a Igreja Cristo e a mantém e expande até hoje.
O poeta sacro prossegue na segunda estrofe: Ó luz santa, vem avivar em nós teu Verbo e nos guiar a conhecer o nosso Deus, o verdadeiro Pai dos céus.
Aqui pedimos a verdadeira iluminação, para reconhecermos a verdade e adorar a Deus em espírito e verdade.
Estamos ainda em nossa carne, nossa natureza corrompida luta
contra a fé. Estamos num mundo em trevas e cheio de falsos profetas.
Pedimos que Deus Espírito Santo nos ilumine e guie para vencermos as
trevas em nós e para não sermos enganados pelo mundo e os falsos
profetas. Hoje muitos dizem: Doutrina não importa. O que importa é a
vida. Não é verdade. A vida, como uma planta, precisa de boa terra, um
bom fundamento, para se alimentar e firmar. Este bom alimento é o
Evangelho, pelo qual o Espírito Santo gerou e mantém a fé e a mantém.
Daí a importância do permanecer na verdade, como Jesus afirmou: Se
permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos;
conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (Jo 8.31,32) O poeta sacro conclui este verso com a oração: Oh!
Livra-nos de ensino vão e faze-nos de coração só crer em Cristo e nele
ver o nosso Mestre e fonte de poder. Aleluia! Aleluia!
Na terceira estrofe lemos: Amor
santo, ó Consolador, ajuda-nos com teu favor a sermos sempre a ti
fiéis, também nas horas mais cruéis. Reveste-nos com teu poder e
fortalece o nosso ser, a fim de combatermos bem e a vida obtermos junto a
ti no além. Aleluia! Aleluia!
Horas de dor e
sofrimento, em grau maior ou menor, nunca faltaram na cristandade e não
faltam na vida de cada cristão. Ora são guerras, catástrofes da
natureza, doenças, pobreza, etc. Diante das dificuldades, desesperamos
facilmente. Também o trabalho no reino de Deus envolve sacrifícios, pois
ali onde a verdade é confessada com clareza, experimentaremos o ódio do
mundo (Jo 17.14; Jo 16.33), e como Jó, temos vontade de fugir. Mas o
Espírito Santo que nos deu o amor ao trabalho, nos fortalece e nos dá
força e ânimo para continuarmos fiéis. Ele nos consola.
Sua Palavra é rica em consolo. Por ela o Espírito Santo nos anima e dá
forças para sermos perseverantes na luta. Ele nos manterá até o final,
até passarmos do crer para o ver na glória celestial. Aleluia. Amém.
Pastor Horst R. Kuchenbecker
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