Martinho Lutero, Doutor e Reformador da Igreja – 18 de fevereiro
“Há alguns que, tendo lido uma ou duas páginas, ou ouvido uma prédica, querem logo fazer mesa limpa, avançam às cegas e não fazem mais do que difamar os outros de que não são evangélicos, sem considerarem que às vezes se trata de pessoas simples e ingênuas, que certamente entenderiam a verdade se ela lhes fosse dita. Isso não ensinei a ninguém, e S. Paulo o proibiu expressamente. Só o fazem sob o pretexto de saberem algo mais e serem considerados bons luteranos. Mas abusam do Sagrado Evangelho para seu proveito. Com isso jamais se colocará o Evangelho no coração das pessoas. Antes, você as choca e será responsabilizado por tê-las desviado da verdade. Não faça isso, seu tolo; escute e aceite!
Em primeiro lugar, peço omitir meu nome e não se chamar de luterano, mas cristão. Que é Lutero? A doutrina não é minha. Tampouco fui crucificado em favor de alguém. Em 1 Co 3.4-5 Paulo não quer que os cristãos se chamassem de paulinos ou petrinos, mas cristãos. Que pretensão seria essa de um miserável e fedorento saco de vermes como eu se quisesse que os filhos de Cristo fossem chamados por seu desastrado nome? Que não seja assim, amigo. Vamos extirpar as siglas partidárias e nos chamar de cristãos, de quem temos a doutrina... De minha parte, não sou nem quero ser mestre de ninguém. Junto com a comunidade, comungo da única universal doutrina de Cristo, que é nosso Mestre exclusivo, Mt 23.8.
Por outro lado, se quiser praticar o Evangelho de forma cristã, leve em conta a pessoa com que fala. Há dois tipos: uns são empedernidos, não querem ouvir e ainda tentam seduzir e envenenar outros com sua língua mentirosa... Com esses você não deve lidar, mas seguir a palavra de Cristo em Mt 7.6: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisoteiem, e os cães voltem para vos dilacerar”...
Por outro lado, há aqueles que jamais tinham ouvido essas coisas e gostariam de aprendê-las, se lhes fosse ensinado; ou então, são tão fracos que não as entendem facilmente. Esses não devem ser atropelados nem surpreendidos, mas ensinados amigável e calmamente, explicando causa e motivo. E se não o entenderem logo, cabe dar tempo e ter paciência com eles...
Deus permita que vivamos corno ensinamos, e transformemos as palavras em ações. Há muitos entre nós que dizem: “Senhor, Senhor” [Mt 7.21], e enaltecem a doutrina, mas a prática e a obediência estão difíceis.”
- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (Uma Sincera Exortação de Martinho Lutero a Todos os Cristãos para se Precaverem de Convulsão e Rebeldia, 1522, OSel 6 480-83)
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