21/11/2022

AS PRIMÍCIAS

 


Deuteronômio 26. 1-11

 

            Olhando para estas palavras escritas por Moisés, em Deuteronômio 26, podemos achar que elas se restringem a apenas mais um texto para se falar sobre ofertas. Bom, o texto realmente fala sobre ofertas. Porém, ele é muito mais profundo e nos ajuda a perceber o porquê de nossas ofertas e de onde elas vêm.

 

Por isso, a primeira palavra que se destaca no texto é “herança” – “Ao entrar na terra que o SENHOR, seu Deus, lhe dá por herança” (Deuteronômio 26.1a). Ao contrário do que as vezes pensamos e até dizemos, o povo de Israel não conquistou a Terra Prometida, eles a ganharam, por herança, do próprio SENHOR. Desse modo, apesar de a terra de Canaã ser chamada de “a Terra de Israel”, ela não foi adquirida por Israel, mas foi graciosamente dada pelo SENHOR ao seu povo como “herança”. Por causa disso, continua o texto bíblico: “ao possuí-la e morar nela, você deve pegar as primícias de todos os frutos que colheu na terra que o SENHOR, seu Deus, lhe deu, colocá-las num cesto e ir ao lugar que o SENHOR, seu Deus, escolher para ali fazer habitar o seu Nome” (Deuteronômio 26. 1b-2).

 

Que lugar é este onde habita o Nome do SENHOR? O Tabernáculo, o Templo, a Igreja! Como fica claro, mais adiante, quando Salomão constrói o Templo e lembra a Palavra de Deus a Davi: “Você fez bem quando resolveu em seu coração edificar um Templo ao meu Nome” (1Reis 8.18).

 

            E como se realiza as ofertas das primícias neste lugar onde habita o Nome do SENHOR? “Você chegará ao sacerdote que estiver de serviço naqueles dias e lhe dirá: ‘Hoje declaro ao SENHOR, seu Deus, que entrei na terra que o SENHOR, sob juramento, prometeu dar aos nossos pais’. O sacerdote pegará o cesto e o colocará diante do Altar do SENHOR, seu Deus” (Deuteronômio 26. 3-4).

 

Observe que não existe uma troca de favores, barganha, compra de bênçãos ou algo assim. A oferta do povo de Deus no lugar onde habita o Nome do SENHOR é puramente uma oferta de gratidão, em reconhecimento pelo fato de que Deus e não o povo, conquistou a Terra Prometida.

 

            Isto se torna visível e audível na breve descrição da história de Israel que segue no texto como um Credo usado pelo povo: “Meu pai foi um arameu prestes a perecer. Ele foi para o Egito, e ali viveu como estrangeiro com pouca gente; e ali veio a ser uma nação grande, forte e numerosa. Mas os egípcios nos maltrataram, nos oprimiram e nos impuseram dura servidão. Clamamos ao SENHOR, Deus de nossos pais; e o SENHOR ouviu a nossa voz e viu a nossa angústia, o nosso trabalho e a nossa opressão. E o SENHOR nos tirou do Egito com mão poderosa, com braço estendido, com grande espanto, com sinais e milagres. Ele nos trouxe a este lugar e nos deu esta terra, terra que mana leite e mel. Eis que, agora, trago as primícias dos frutos da terra que tu, ó SENHOR, me deste” (Deuteronômio 26. 5-10).

 

            Ao ofertarem as primícias da terra, os israelitas se lembram dos seus ancestrais, que não possuíram terra e sofreram inúmeras dificuldades no Egito, antes que o SENHOR finalmente os libertasse. Estas palavras de Deuteronômio 26. 5-10, revelam que esta oferta das primícias não é algo que o povo em si está fazendo para Deus, na verdade, elas confessam que esta oferta das primícias é um Dom do próprio Deus!

 

            A partir desta definição percebe-se que o “alegrar-se” e o “lembrar-se” sempre acompanhavam as ofertas do povo de Deus. Afinal, o povo estava alegre em ofertar daquilo que o SENHOR havia concedido a eles, e durante suas ofertas, eles se lembravam de como o SENHOR foi gracioso para com eles, e somente por isso, agora eles podem, em gratidão a este Deus, trazer as suas ofertas. 

 

            Hoje, as nossas ofertas continuam sendo ofertas de gratidão ao SENHOR por tudo o que ele tem feito por nós e em nossas vidas. Afinal, tudo o que nós somos, tudo o que nós temos e tudo o que nós fazemos vêm do SENHOR.

 

Alguém poderia questionar isso e dizer: eu trabalho duro para conseguir dinheiro, bens, etc. Eu conquisto o que eu tenho! Bom, olhemos para a nossa história: Se trabalhamos é porque temos forças e saúde para tal, e de onde vem isso? Nós conseguimos produzir saúde e força? Não! De novo, tudo o que somos, temos e fazemos vêm do SENHOR.

 

            O nosso ofertar não é uma obrigação da Fé, ele é um fruto da Fé, pois todo aquele que foi liberto da escravidão do pecado e fortalecido pelo SENHOR, deseja alegremente ofertar, pois é grato a Deus e se lembra de tudo o que o SENHOR tem feito em sua vida.

           

            O povo de Israel lembrou-se que fora libertado da Escravidão do Egito através das águas, e fortalecido na caminhada pelo deserto através do pão que desce dos céus até chegar a Terra Prometida. Por causa disso, ele é grato ao SENHOR e oferta as suas primícias. Da mesma forma, hoje, nós nos lembramos que também fomos libertos da Escravidão do pecado através das águas do Batismo, e fortalecidos durante toda a nossa vida nos desertos deste mundo pelo Pão que desce dos Céus e vem a nós na Ceia do Senhor, até chegarmos a Terra Prometida e Eterna conquistada por Cristo e dada de presente, por herança, a cada um de nós que fazemos parte do seu povo. Por causa disso, nós também somos gratos ao SENHOR e ofertamos nossas primícias.

 

            Para concluir, Moisés, no texto de Deuteronômio, lembra que por causa da Graça do SENHOR, você que oferta, em gratidão, “se alegrará por todo o bem que o SENHOR, seu Deus, tem dado a você e à sua casa” (Deuteronômio 26.11).

 

            No tempo de Moisés, hoje e até o fim dos dias, ofertar não é um requisito para se conquistar algo, mas é fruto da Fé, é um reconhecimento e lembrança de tudo o que o SENHOR tem feito, e por isso, é um ato de alegria, pois está acompanhado de imensa gratidão pelo fato do nosso SENHOR ser bom e sua misericórdia durar para todo o sempre!

 

 Amém!

Rev. Helvécio José Batista Júnior
Ministro do Senhor na Igreja Luterana em Naviraí/MS
Novembro, 2022 AD

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