“O
Evangelho segundo São Mateus 3. 13-17”
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!
Antigamente, quando se queria escrever ou desenhar, usava-se
os chamados pergaminhos que, na verdade, eram pedaços ou tiras de pele de
animais preparada para neles escrever. Devido a todo o trabalho que se tinha
para retirar e preparar os pergaminhos, estes eram extremamente caros. Por
isso, eles eram frequentemente reutilizados: a tinta já velha era raspadas e,
assim, algo novo poderia ser escrito por cima. No entanto, com uma boa dose de
esforço, era possível ler a fraca escrita original no pergaminho sob a nova
tinta. Desse modo, você tinha o escrito mais recente e mais vívido para a
leitura. Porém, escondido nele, você tinha também o escrito mais antigo.
Algo muito parecido acontece com o Santo Evangelho para este
Domingo que lembra o Batismo de Jesus. Este relato é o que está na superfície,
está vívido para nós e é fácil de visualizar. Entretanto, ele é um relato curto
e direto e, por isso, acaba deixando algumas perguntas. Dentre elas, a mais
atrativa e também mais importante: Por que Jesus foi batizado? Afinal, ele é o
Deus encarnado, e como verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, ele não tem pecado
e, desse modo, não necessita de arrependimento. Mesmo assim, ele vai ao
encontro de João Batista no Rio Jordão que justamente estava “batizando com água, para o arrependimento” (S.
Mateus 3.11).
O próprio João Batista, reconhecendo quem é Jesus, tenta convencê-lo
a mudar de ideia, dizendo: “eu é que preciso ser
batizado por você, e é você que vem a mim?” (S. Mateus 3.14).
A resposta de Jesus a João Batista nos ajuda a perceber que existe
algo por detrás deste episódio: “Deixe por enquanto,
pois assim nos convém cumprir toda a Justiça” (S. Mateus 3.15). Ou
seja, o Batismo de Jesus está relacionado a um cumprimento: um cumprimento que
visa toda a Justiça de Deus.
Uma boa forma de olharmos para este texto e perceber o que
está por trás ou escondido debaixo dele é verificando os grandes acontecimentos
anteriores que estão relacionados ao que está escrito no Evangelho. Por
exemplo, no Antigo Testamento há várias histórias importantes que envolvem a
água e a presença do Senhor no meio dela, o próprio Rio Jordão, e também a voz
de Deus sendo ouvida.
Uma dessas histórias está registrada no Livro de Josué 3, que relata a travessia do povo de Israel no Rio
Jordão rumo a Terra Prometida.
Após 40 anos peregrinando pelo deserto, o povo de Israel
estava diante da Terra Prometida. Porém, para entrar naquela terra havia a
necessidade de atravessar um rio, e curiosamente esse rio era o Jordão. No
entanto, era época de cheia e ele estava transbordando. Humanamente falando e,
com os recursos que se tinha, seria impossível realizar a travessia. Por isso,
o SENHOR, através de Josué, orientou o povo dizendo: “Quando
chegarem as margens das águas do Rio Jordão, parem ali... Eis que a Arca da
Aliança vai passar o Jordão na frente de vocês” (Josué 3. 8,11). Dito
de outra forma, o povo somente chegaria a Terra Prometida passando pelas águas
do Rio se Arca da Aliança fosse à frente e estivesse no meio do rio.
Diz o texto que a Arca da Aliança, carregada pelos
sacerdotes, ficou no meio do rio e as águas turbulentas foram represadas (Josué
3. 14-16). Desse modo, o povo de Deus deixa para trás o deserto da morte e
caminha para uma Terra de Vida.
As águas do Jordão eram a condenação para o povo de Israel.
Talvez muitos ao verem o rio chegaram à conclusão de que morreriam ali. Agora,
quando a Arca da Aliança está no meio das águas, a esperança surge e o que era
um sinal de condenação torna-se sinal de salvação.
Tendo esta imagem de Israel e da Arca da Aliança em nossa
mente e em nosso coração, podemos olhar com mais clareza para o Batismo de
Jesus. Ele realmente não precisava ser batizado; mas ele precisava entrar nas
águas para que, através delas nós, pobres e miseráveis pecadores, pudéssemos
deixar o seco e árido deserto da condenação e da morte e chegar à Terra Prometida
dos Céus!
Jesus foi batizado para cumprir toda a Justiça! Ou seja, para
abrir a passagem para a Terra Prometida! Como ensinou São Gregório
Nazianzeno, um dos grandes pais da Igreja: “Antes
de nós e, por nossa causa, ele que é Espírito e Carne santificou as águas do
Jordão, para assim nos iniciar nos Sacramentos mediante o Espírito e a Água”.
Sem Cristo, nossos olhos apenas conseguiriam enxergar a morte
e a condenação, assim como o povo de Israel diante do Jordão. Entretanto, “os sacerdotes que levavam a Arca da Aliança pararam firmes
no meio do rio, e todo o Israel passou a pé enxuto, atravessando o Jordão”
(Josué 3.17). Da mesma forma, pelo fato de Jesus ter entrado nas águas
batismais, agora podemos passar por elas, morrer e ressuscitar, e receber o que
Deus prometeu.
O pergaminho que relata o episódio do Batismo de Jesus possui
ainda outras histórias sob a tinta mais recente e vívida. Mas, a travessia do
Jordão, sem dúvida alguma, é muito eficaz para nos ajudar a compreender o porquê
de Jesus ter sido batizado: ele o foi para que hoje nós pudéssemos passar pelas
águas – não do Jordão, mas do Batismo que o próprio Jesus instituiu antes de
subir aos Céus – e através dele receber as Promessas que o SENHOR prometeu aos
seus: o Perdão dos pecados, a Salvação e a Vida Eterna!
Amém!
Rev. Helvécio José Batista Júnior
Paróquia Evangélica Luterana Bom Pastor
Paróquia Evangélica Luterana Bom Pastor
Cariacica/ES
O céu, que antes estava fechado, é aberto pelo
batismo de Cristo e uma janela e porta estão agora abertas para que possamos
ver através. Já não existe uma barreira entre Deus e nós, pois o próprio Deus
desce no Jordão.
(Bem-aventurado
Dr. Martinho Lutero)
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