14/01/2020

O BATISMO DE NOSSO SENHOR



O Evangelho segundo São Mateus 3. 13-17


Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!

Antigamente, quando se queria escrever ou desenhar, usava-se os chamados pergaminhos que, na verdade, eram pedaços ou tiras de pele de animais preparada para neles escrever. Devido a todo o trabalho que se tinha para retirar e preparar os pergaminhos, estes eram extremamente caros. Por isso, eles eram frequentemente reutilizados: a tinta já velha era raspadas e, assim, algo novo poderia ser escrito por cima. No entanto, com uma boa dose de esforço, era possível ler a fraca escrita original no pergaminho sob a nova tinta. Desse modo, você tinha o escrito mais recente e mais vívido para a leitura. Porém, escondido nele, você tinha também o escrito mais antigo.

Algo muito parecido acontece com o Santo Evangelho para este Domingo que lembra o Batismo de Jesus. Este relato é o que está na superfície, está vívido para nós e é fácil de visualizar. Entretanto, ele é um relato curto e direto e, por isso, acaba deixando algumas perguntas. Dentre elas, a mais atrativa e também mais importante: Por que Jesus foi batizado? Afinal, ele é o Deus encarnado, e como verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, ele não tem pecado e, desse modo, não necessita de arrependimento. Mesmo assim, ele vai ao encontro de João Batista no Rio Jordão que justamente estava “batizando com água, para o arrependimento” (S. Mateus 3.11).

O próprio João Batista, reconhecendo quem é Jesus, tenta convencê-lo a mudar de ideia, dizendo: “eu é que preciso ser batizado por você, e é você que vem a mim?” (S. Mateus 3.14).

A resposta de Jesus a João Batista nos ajuda a perceber que existe algo por detrás deste episódio: “Deixe por enquanto, pois assim nos convém cumprir toda a Justiça” (S. Mateus 3.15). Ou seja, o Batismo de Jesus está relacionado a um cumprimento: um cumprimento que visa toda a Justiça de Deus.

Uma boa forma de olharmos para este texto e perceber o que está por trás ou escondido debaixo dele é verificando os grandes acontecimentos anteriores que estão relacionados ao que está escrito no Evangelho. Por exemplo, no Antigo Testamento há várias histórias importantes que envolvem a água e a presença do Senhor no meio dela, o próprio Rio Jordão, e também a voz de Deus sendo ouvida.

Uma dessas histórias está registrada no Livro de Josué 3, que relata a travessia do povo de Israel no Rio Jordão rumo a Terra Prometida.

Após 40 anos peregrinando pelo deserto, o povo de Israel estava diante da Terra Prometida. Porém, para entrar naquela terra havia a necessidade de atravessar um rio, e curiosamente esse rio era o Jordão. No entanto, era época de cheia e ele estava transbordando. Humanamente falando e, com os recursos que se tinha, seria impossível realizar a travessia. Por isso, o SENHOR, através de Josué, orientou o povo dizendo: “Quando chegarem as margens das águas do Rio Jordão, parem ali... Eis que a Arca da Aliança vai passar o Jordão na frente de vocês” (Josué 3. 8,11). Dito de outra forma, o povo somente chegaria a Terra Prometida passando pelas águas do Rio se Arca da Aliança fosse à frente e estivesse no meio do rio.

Diz o texto que a Arca da Aliança, carregada pelos sacerdotes, ficou no meio do rio e as águas turbulentas foram represadas (Josué 3. 14-16). Desse modo, o povo de Deus deixa para trás o deserto da morte e caminha para uma Terra de Vida.

As águas do Jordão eram a condenação para o povo de Israel. Talvez muitos ao verem o rio chegaram à conclusão de que morreriam ali. Agora, quando a Arca da Aliança está no meio das águas, a esperança surge e o que era um sinal de condenação torna-se sinal de salvação.

Tendo esta imagem de Israel e da Arca da Aliança em nossa mente e em nosso coração, podemos olhar com mais clareza para o Batismo de Jesus. Ele realmente não precisava ser batizado; mas ele precisava entrar nas águas para que, através delas nós, pobres e miseráveis pecadores, pudéssemos deixar o seco e árido deserto da condenação e da morte e chegar à Terra Prometida dos Céus!

          Jesus foi batizado para cumprir toda a Justiça! Ou seja, para abrir a passagem para a Terra Prometida! Como ensinou São Gregório Nazianzeno, um dos grandes pais da Igreja: “Antes de nós e, por nossa causa, ele que é Espírito e Carne santificou as águas do Jordão, para assim nos iniciar nos Sacramentos mediante o Espírito e a Água”.

          Sem Cristo, nossos olhos apenas conseguiriam enxergar a morte e a condenação, assim como o povo de Israel diante do Jordão. Entretanto, “os sacerdotes que levavam a Arca da Aliança pararam firmes no meio do rio, e todo o Israel passou a pé enxuto, atravessando o Jordão” (Josué 3.17). Da mesma forma, pelo fato de Jesus ter entrado nas águas batismais, agora podemos passar por elas, morrer e ressuscitar, e receber o que Deus prometeu.

          O pergaminho que relata o episódio do Batismo de Jesus possui ainda outras histórias sob a tinta mais recente e vívida. Mas, a travessia do Jordão, sem dúvida alguma, é muito eficaz para nos ajudar a compreender o porquê de Jesus ter sido batizado: ele o foi para que hoje nós pudéssemos passar pelas águas – não do Jordão, mas do Batismo que o próprio Jesus instituiu antes de subir aos Céus – e através dele receber as Promessas que o SENHOR prometeu aos seus: o Perdão dos pecados, a Salvação e a Vida Eterna!

          Amém!
Rev. Helvécio José Batista Júnior
Paróquia Evangélica Luterana Bom Pastor
Cariacica/ES



O céu, que antes estava fechado, é aberto pelo batismo de Cristo e uma janela e porta estão agora abertas para que possamos ver através. Já não existe uma barreira entre Deus e nós, pois o próprio Deus desce no Jordão.
(Bem-aventurado Dr. Martinho Lutero)

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