“Apocalipse 3: 14-22”
A Graça de nosso
Senhor Jesus T Cristo e o Amor do Pai
e a Comunhão do Espírito Santo sejam com todos!
Laodiceia era uma das
mais ricas cidades da Ásia. Seus cidadão não faziam cerimônia em deixar isso
visível. Até por isso, eram vistos pelos de fora como insuportáveis. Mesmo as
pessoas da Igreja em Laodiceia tinham essa atitude orgulhosa e presunçosa.
Talvez imaginassem que a riqueza era sinal de algum favor especial de Deus.
À esta Igreja, Jesus
escreve a última de suas Sete Cartas, e a inicia da seguinte forma: “Ao anjo – ao pastor – da igreja em Laodiceia
escreva: Estas coisas diz o Amém – isto é, a Verdade. Aquele que é – a testemunha fiel e verdadeira – ou seja, aquele que verdadeiramente revela Deus
e em quem podemos confiar, e que além disso, é também – o princípio
da criação de Deus – que em outras
palavras significa dizer que é a Fonte de toda a Criação!” (Apocalipse 3:14).
Após esta tríplice
apresentação, Jesus vai direto ao ponto com a Igreja em Laodiceia e lhe diz: “Conheço as
obras que você realiza, que você não é nem frio nem quente. Quem dera você
fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, e não é nem quente nem frio,
estou a ponto de vomitá-lo da minha boca” (Apocalipse 3: 15-16).
Como assim Jesus? “Quem dera você
fosse frio ou quente”? Uma Igreja quente
tudo bem, mas uma Igreja fria? Pois é, este é mais um daqueles textos que muitos
leem de forma equivocada. Afinal, se dissemina aos quatro ventos que a Igreja
precisa ser quente, isto é, viva e vibrante; mas não fria, pois uma Igreja fria
é, na verdade uma Igreja morta. Nada disso o texto bíblico diz, e aqui nesta
Carta não é este o sentido das palavras de Jesus.
Para compreendermos o
que Jesus está falando à Igreja em Laodiceia nós precisamos de muito estudo.
Afinal, a única maneira de entender esta palavra é conhecendo o contexto
geográfico da cidade daquele tempo. Observe: Laodiceia era um centro comercial
importante na Ásia Menor, tinha uma boa localização e recursos financeiros
elevados. No entanto, havia um problema: não havia fontes de água boa na
cidade, e por isso, ela dependia de um sistema de encanamento para que água
fresca viesse de fora e chegasse até a população. Resultado? A água que chegava
normalmente era morna e causava vômito. Já ao lado de Laodiceia havia a cidade
de Hierápolis, que era famosa por suas águas termais que atraiam muitos
visitantes por causa de suas propriedades terapêuticas e medicinais. E do outro
lado estava Colossos, que era famosa por sua abundância em água potável e
refrescante. Portanto, quando Jesus fala que a Igreja em Laodiceia é morna, ele
está dizendo que aquela Igreja, apesar de realizar algumas obras – muito em
função de sua riqueza material – é uma Igreja que não o agrada, que o faz estar
a ponto de vomitar, pois é uma Igreja que, assim como as águas da cidade, não
curam e nem matam a sede. Não é quente e nem fria.
Mas, por que a Igreja
em Laodiceia está nesta caótica situação? A resposta está na continuidade da
Carta de Jesus a ela, veja: “Você diz: ‘Sou rico, estou bem de
vida e não preciso de nada.’ Mas você não sabe que é infeliz, sim, miserável,
pobre, cego e nu” (Apocalipse 3:17). Isto é, a Igreja em Laodiceia acreditava que tinha tudo.
Afinal, mantinha um bom caixa que supria todas as necessidades e ainda a fazia
realizar muitos projetos, e por causa disso, via na arrecadação e no lucro o
caminho para a felicidade e bem-estar como Igreja. Porém, na verdade, Jesus a
enxerga como sendo “infeliz, miserável e pobre, além de cega e nua”. Ou seja, a Igreja em Laodiceia achava que tinha
tudo e, possivelmente aos olhos humanos tinha mesmo. Entretanto, aos olhos de
Deus, não possuía nada, não valia nada e não era nada. Jesus já estava a ponto
de vomitá-la, pois ela lhe fazia mau.
Será que alguma vez
Cristo já esteve a ponto de vomitar vocês? Será que esta Igreja que aqui se
reúne já fez mal a Cristo? O apóstolo Paulo não diz que o “amor ao
dinheiro é a raiz de todos os males” à toa. As vezes podemos transformar a Igreja de Cristo em nossas
Igrejas, onde o mais importante são os nossos planos e projetos. E se em algum
momento vocês pensaram ou agiram assim, arrependam-se, pois isto não é ser
Igreja Cristã.
Voltando a Carta,
Jesus dá um conselho que precisa ser ouvido por eles, por nós também e por
todas as Igrejas: “Aconselho que
você compre de mim ouro refinado pelo fogo, para que você seja, de fato, rico.
Compre vestes brancas para se vestir, a fim de que a vergonha de sua nudez não
fique evidente, e colírio para ungir os olhos, a fim de que você possa ver. Eu
repreendo e disciplino aqueles que amo. Portanto, seja zeloso e arrependa-se” (Apocalipse 3: 18-19).
Como assim? A Salvação
e a Vida Cristã deixaram de ser por Graça e passaram a ser por obras? Nós
podemos comprar algo de Jesus? Realmente, quando lemos este texto, estranhamos
as expressões que nele são usados. Porém, para que não caiamos em uma
compreensão equivocada deste conselho de Jesus, lembremos de um dos importantes
pressupostos que precisamos ter para estudar o Livro de Apocalipse: conhecer do
Antigo Testamento.
Esta forma de
descrever o relacionamento da Igreja e o Senhor já foi dita no Antigo
Testamento, através do profeta Isaías. E lá, de uma maneira sutil e delicada
está a explicação a respeito deste “comprar algo do Senhor”. Observe: “Todos vocês que têm sede, venham às
águas; e vocês que não têm dinheiro, venham, comprem e comam! Sim, venham e
comprem, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que vocês gastam o
dinheiro naquilo que não é pão, e o seu suor, naquilo que não satisfaz? Ouçam
com atenção o que eu digo, comam o que é bom e vocês irão saborear comidas deliciosas.
Deem ouvidos e venham a mim; escutem, e vocês viverão.” (Isaías 55. 1-3).
Comprar algo do Senhor
significa receber os Dons Divinos que ele oferece de graça, ou seja, “sem dinheiro”, como diz o profeta Isaías. Mas como isso ocorre
na prática? Simples! Recebemos estes Dons sem custo porque Alguém já pagou o
preço em nosso lugar. Este Alguém é Jesus Cristo. E estes Dons são justamente
os Meios da Graça: a Palavra e os Sacramentos. São estas coisas que fazem a
Igreja ser Igreja, que a sustenta e a preserva. Não é a riqueza, não são as
obras, não é aquilo que está em nas nossas mãos, mas sim aquilo que está nas
mãos do Senhor!
Em sua Carta, Jesus ainda
diz: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir
a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Apocalipse 3:20). Importante: Jesus
está dizendo estas palavras para uma Igreja, para pessoas que já o conhecem,
mas que o estão desagradando. Portanto, Jesus não está ensinando que ele só
entra em nossa vida se abrirmos a porta para ele. Não! Aqui é como se ele estivesse
dizendo: “Apesar de toda a sua rebeldia, de todas as falhas, eu estou aqui
trabalhando no seu coração, insistindo com você porque quero sua salvação e
vou, continuar incomodando, como alguém que está constantemente batendo à porta
de sua casa”. Este é outro
versículo que se não lermos dentro do seu contexto, podemos cair em séria
heresia.
Por fim, Jesus
conclui: “Ao vencedor, darei o direito de sentar-se comigo no meu trono,
assim como também eu venci e me sentei com o meu Pai no seu trono. Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” (Apocalipse 3: 21-22). Ou seja, todo o que
está alicerçado no seu Evangelho viverá para sempre ao lado do Pai, será um
vencedor, e participará eternamente do Banquete Celestial que o Senhor preparou
para todos os seus. Mas para que isso ocorra, a fé não pode estar em nós ou no
que fazemos, mas sim unicamente no Senhor. Afinal, é só ele quem pode, como
águas quentes, curar a nossa maior ferida: o pecado. E do mesmo modo, somente
ele é quem pode, como água refrescante, nos conceder o alivio e o bem estar do Perdão,
da Salvação e da Vida Eterna!
Rev. Helvécio J. Batista Jr.
Igreja Luterana em Naviraí/MS
15 de Outubro, 2021 AD