29/08/2017

A fé de João Batista

Decapitação de São João Batista (c. 1275) - Montreal Museum of Arts

Admiremos João Batista, sobretudo por causa do testemunho seguinte: “Entre os filhos das mulheres, ninguém foi maior que João Batista” [Lc 7.28], e ele mereceu ser elevado a uma tal reputação de virtude que muitas pessoas pensavam que ele era o Cristo (Lc 3.15). Mas há uma coisa ainda mais admirável: Herodes, o tetrarca, detinha poder real e podia fazê-lo morrer quando quisesse. Ora ele tinha cometido uma ação injusta e contrária à lei de Moisés ao tomar a mulher do seu irmão. João, sem ter medo dele nem fazer acepção de pessoas, sem dar importância ao poder real, sem recear a morte..., sem escamotear qualquer destes perigos, repreendeu Herodes com a liberdade dos profetas e condenou o seu casamento. Lançado na prisão por causa desta audácia, não se preocupou nem com a morte nem com um julgamento com sentença incerta mas, a partir do cárcere, os seus pensamentos iam para o Cristo que ele tinha anunciado.

Não podendo ir em pessoa ao seu encontro, envia os seus discípulos para lhe trazerem informações: “Tu és aquele que deve vir ou temos que esperar outro?” (Lc 7.15). Notem bem que, mesmo na prisão, João ensinava. Mesmo naquele lugar ele tinha discípulos; mesmo na prisão, João cumpria o seu dever de mestre e instruía os seus discípulos, conversando sobre Deus.

Nestas circunstâncias, levantou-se a questão de Jesus e João envia-lhe alguns discípulos... Os discípulos regressam e trazem ao mestre o que o Salvador lhes tinha encarregado de anunciar. Essa resposta foi para João uma arma para enfrentar o combate; morre com confiança e com grande coragem se deixa decapitar, seguro na palavra do próprio Senhor em como aquele em quem acreditava era verdadeiramente o Filho de Deus. Esta foi a liberdade de João Batista, aquela foi a loucura de Herodes que, aos seus numerosos crimes, acrescentou primeiro a prisão, depois o martírio de João Batista.

- Orígenes de Alexandria (c. 185-253), pastor e teólogo (Homilia 26, Lc 3.18-22)

Festa do Martírio de São João Batista – 29 de agosto

“A Decapitação de São João Batista” (1869), Pierre Puvis de Chavannes (1824-1898)
Em contraste com a Natividade de São João Batista (observada em 24 de junho), esta festa comemora sua decapitação por Herodes Antipas, o governante distrital da Galileia. Da perspectiva do mundo, foi um fim vergonhoso para a vida de João Batista. Mas na realidade foi uma esplêndida participação na cruz de Cristo, a qual foi a maior de todas as glórias para João. O próprio Cristo disse que não havia surgido ninguém maior que João Batista. Ele foi o último dos profetas do Antigo Testamento e também o arauto do Novo Testamento. Como o precursor de Cristo, João cumpriu a profecia de que o grande profeta Elias voltaria antes do grande e terrível Dia do Senhor. Através da sua pregação e batismo de arrependimento, João Batista converteu “o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais” (Ml 4.6). Seguindo os passos dos profetas que vieram antes dele — antecipando o Cristo cujo caminho ele preparou — este servo do Senhor manifestou a cruz pelo testemunho de sua morte.

Cor litúrgica: Vermelha

LEITURAS:

† Apocalipse 6.9-11
† Salmo 71.1-8 (antífona vers. 23 )
† Romanos 6.1-5
† Marcos 6.14-29


ORAÇÃO DO DIA:


Todo-poderoso Deus, tu concedeste a teu servo João Batista ser o precursor de teu Filho, Jesus Cristo, tanto na sua pregação de arrependimento quanto na sua morte inocente. Concede que nós, que morremos e ressuscitamos com Cristo no Santo Batismo, possamos nos arrepender diariamente de nossos pecados, sofrer com paciência por amor da verdade e testemunhar sem medo a tua vitória sobre a morte; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House, 2008. p. 670)

28/08/2017

Comemoração de Santo Agostinho de Hipona, Pastor e Teólogo – 28 de agosto

"Santo Agostinho" (c. 1600), atribuído a Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610)

Agostinho foi um dos grandes pais latinos da igreja e foi de significativa influência na formação do cristianismo ocidental, incluindo o luteranismo. Nascido em 354, no Norte da África, a juventude de Agostinho foi marcada pelo excepcional progresso como professor de retórica. Em suas Confissões ele descreve sua vida antes de sua conversão ao Cristianismo, quando foi arrastado para a lassidão moral e foi pai de um filho ilegítimo. Através da devoção de sua santa mãe Mônica e da pregação de Ambrósio, bispo de Milão (339-397), Agostinho foi convertido à fé cristã. Durante as grandes controvérsias pelagianos do século V, Agostinho enfatizou a graça unilateral de Deus na salvação da humanidade. Bispo e teólogo de Hipona no norte da África a partir de 395 até sua morte em 430, Agostinho foi um homem de grande inteligência, um ferrenho defensor da fé ortodoxa, e um prolífico escritor. Além das Confissões, Cidade de Deus foi outro livro de Agostinho que exerceu um grande impacto sobre a igreja em toda a Idade Média e Renascimento.

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Senhor Deus, luz das mentes que te conhecem, vida das almas que te amam e força dos corações que te servem, concede-nos força para seguir o exemplo de teu servo Agostinho de Hipona, de modo que, conhecendo a ti, possamos te amar verdadeiramente, e amando a ti, possamos te servir inteiramente – pois servir-te é a perfeita liberdade; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House, 2008. p. 666-667)

16/08/2017

Comemoração de Isaque - 16 de agosto

"Abração e Isaque" (2005), Slava Groshev (1968 - )

Hoje lembramos do Patriarca Isaque e agradecemos a Deus pela sua inclusão na linha dos pais que levaram ao Messias, Jesus Cristo.

Isaque, o filho prometido e tão esperado de Abraão e Sara, nasceu quando seu pai estava com 100 anos e sua mãe com 91. O anúncio de seu nascimento trouxe alegria e riso a seus pais já idosos (por isso o nome “Isaque”, que significa “riso”). Quando jovem, Isaque acompanhou seu pai ao Monte Moriá, onde Abraão, em obediência ao mandato de Deus, o preparou para sacrificá-lo em holocausto. Mas Deus interveio, poupando a vida de Isaque e proporcionando um cordeiro como oferta substitutiva (Gn 22.1-14), apontando, assim, para o sacrifício vicário de Cristo pelos pecados do mundo. Isaque foi dado em casamento a Rebeca (Gn 24.15), e tiveram dois filhos gêmeos: Esaú e Jacó (Gn 25.19-26). Em sua velhice, Isaque, cego e fraco, queria dar a sua bênção e herança para seu filho favorito e mais velho: Esaú. Mas por intermédio de fraude, Rebeca fez Jacó recebê-la, resultando em anos de inimizade familiar. Isaque morreu com a idade de 180 anos e foi sepultado por seus filhos, que nessa altura já haviam se reconciliado, na sepultura da família na caverna de Macpela (Gn 35.28-29).

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso Deus, Pai Celestial, através do patriarca Isaque tu preservaste a semente do Messias e trouxeste a nova criação. Continue a preservar a Igreja como o Israel de Deus de forma que ela manifeste a glória de teu Santo Nome, ao persistir na adoração do teu Filho, o menino de Maria; através de Jesus Cristo, nosso Senhor.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House​, 2008. p. 628-629)

15/08/2017

Ó Jesus, teu corpo sagrado, pela Virgem-mãe à luz dado



Ó Jesus, teu corpo sagrado,
pela Virgem-mãe à luz dado,
e o teu sangue também
livrem-nos do mal. Amém.
Kyrie eleison!

- Hinário Luterano, nº 264, hino de Comunhão de Martinho Lutero (1524), baseado em hino medieval, traduzido para o português por Rodolpho F. Hasse (1890-1968)

15 de agosto - Maria, Mãe de Nosso Senhor

“Virgem do Magnificat” (1483), Sandro Botticelli  (1445–1510)
Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda. (2 Timóteo 4.8)

Rei dos reis, da Virgem filho - 15 de agosto



Rei dos reis, da Virgem filho,
entre nós ele habitou.
Deus, em corpo e sangue humano,
Deus, Senhor que se humilhou,
os seus filhos alimenta.
Ele disse: “O pão eu sou”.
 

- Hinário para o Culto Cristão, nº 89
Baseado no Hino dos Querubins da Divina Liturgia de São Tiago (séc. IV), traduzido em portugûes por João Wilson Faustini, através do inglês (1960)


Festa de Santa Maria, Mãe de Nosso Senhor - 15 de agosto

A Virgem Maria” (1834), Pierre Claude François Delorme (1783-1859)

Santa Maria, a mãe de Jesus, é mencionada com frequência nos Evangelhos e no livro dos Atos, sendo registradas quase uma dezena de circunstâncias específicas de sua vida: seu noivado com José; a anunciação pelo anjo Gabriel de que ela seria a mãe do Messias; sua visitação a Isabel, a mãe de João Batista; o nascimento de nosso Senhor; a visita dos pastores e magos; a apresentação do menino Jesus no templo; a fuga para o Egito; a visita a Jerusalém na Páscoa, quando Jesus tinha doze anos; o casamento em Caná da Galileia; sua presença na crucificação, quando seu Filho a confia aos cuidados de seu discípulo João; e seu encontro com os apóstolos no Cenáculo após a Ascensão, à espera do Espírito Santo prometido. Desta forma, Maria está presente na maior parte dos eventos importantes da vida de seu Filho. Ela é especialmente lembrada e honrado por sua obediência incondicional à vontade de Deus (“Cumpra em mim conforme a tua Palavra” [Lc 1.38]), por sua lealdade a seu Filho, mesmo quando ela não o compreendia (“Fazei tudo o que ele vos disser” [Jo 2.1-11]), e sobretudo pela mais alta honra que o céu lhe agraciou por ser a mãe de nosso Senhor (“Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre!” [Lc 1.42]) . De acordo com a tradição, Maria foi para Éfeso com o apóstolo João, onde morreu.

Cor litúrgica: Branca


LEITURAS:

† Isaías 61.7-11
† Salmo 45.10-17 (antífona vers. 6 )
† Gálatas 4.4-7
† Lucas 1.(39-45) 46-55


ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso Deus, tu escolheste a Virgem Maria para ser a mãe de teu único Filho. Concede que nós, que fomos redimidos pelo seu sangue, possamos tomar parte com ela na glória do teu reino eterno; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House​, 2008. p. 625-626.)

13/08/2017

Dia dos Pais


Os pais não fazem melhor obra e nada mais valioso para Deus, para a cristandade, para todo o mundo, para si e para os seus filhos do que criar bem os seus filhos. Educar seus filhos de forma adequada é o caminho mais curto para o céu”
Martinho Lutero  (1483-1546)
Sermão acerca do estado do matrimônio

Feliz Dia dos Pais!


Os pais podem ganhar o céu através dos próprios filhos, mesmo que não façam outra coisa além de serem pais. Se os pais educam os filhos para que sejam servos de Deus, terão as duas mãos cheias de boas obras por fazer. 
Martinho Lutero (1483-1546)
doutor e reformador da igreja

03/08/2017

Mulheres foram de manhã à tumba, com piedoso afã


Comemoração de Joana, Maria e Salomé - 3 de agosto

Hino 110 do Hinário Luterano:
Aleluia, Aleluia, Aleluia!

1. Alegres, vinde aqui cantar
ao Rei do céu, da terra e mar
que, ressurreto, vem reinar!
Aleluia!

2. Mulheres foram de manhã
à tumba, com piedoso afã,
mas Cristo vive — a busca é vã!
Aleluia!

3. Um anjo estão lhes proclamou
que Cristo já ressuscitou:
as sua almas confortou!
Aleluia!

4. Bendito aquele que, sem ver,
tem fé constante em seu poder!
A vida eterna ele há de ter!
Aleluia!

5. Aceita, agora, ó Salvador,
o nosso canto de louvor,
que a ti rendemos com fervor!
Aleluia!

Aleluia, Aleluia, Aleluia!

O FILII ET FILIAE — Jean Tisserand, f. 1494. Trad. João Wilson Faustini, 1957/69, da versão inglesa O SONS AND DAUGHTERS OF THE KING de John M. Neale. Mel. séc. XV, França.

Saíram cedo de manhã as três mulheres com afã

Le tre Marie alla tomba di Cristo (Ludwig Ferdinand Schnorr von Carolsfeld  , c. 1835)
Em nosso Sínodo, o dia 3 de agosto é dedicado à Comemoração de Joana, Maria e Salomé, Miróforas. Esta comemoração é uma adaptação da celebração que nas Igrejas Ortodoxas acontece no terceiro domingo de Páscoa. Estas mulheres são chamadas de "miróforas", tanto na tradição oriental quanto ocidental, numa referência ao ato de levarem a mirra ao túmulo de Jesus naquela manhã de Páscoa para ungir o corpo de Jesus. O hino 113 do Hinário Luterano canta os acontecimentos daquela manhã:

1. O Salvador ressuscitou! Aleluia, Aleluia!
Venceu a morte e triunfou! Aleluia, Aleluia!

2. Saíram cedo de manhã — Aleluia, Aleluia!
as três mulheres com afã. Aleluia, Aleluia!

3. Buscaram elas o Senhor — Aleluia, Aleluia!
com lágrimas, tristeza e dor. Aleluia, Aleluia!

4. Ó anjo, como encontrarei — Aleluia, Aleluia!
Jesus, o meu Senhor e Rei? Aleluia, Aleluia!

5. Da tumba já ressuscitou! Aleluia, Aleluia!
Venceu a morte e triunfou! Aleluia, Aleluia!

6. Cantemos nós: Aleluia, Aleluia, Aleluia!
nos céus, na terra: Aleluia, Aleluia, Aleluia!

SURREXIT CHRISTUS HODIE, hino latino da igreja antiga, ERSTANDEN IST DER HEILIG CHRIST, baseado numa versão alemã, séc. XIV/Irmãos Moravianos, 1544. Trad. Hans-Gerhard F. Rottmann, 1978. Mel. ERSTANDEN IST DER HEILIG CHRIST, séc. XIV.

Comemoração de Joana, Maria e Salomé, Santas Miróforas - 3 de agosto

Ícone maronita da Ressurreição

Conhecida em algumas tradições como “as mulheres fiéis”, a visita destas três personagens e outras mulheres ao túmulo de Jesus na manhã da primeira Páscoa é mencionada nos registros do Evangelho de Mateus (28.1), Marcos (16.01) e Lucas (24.10). Joana era esposa de Cuza, um encarregado na casa de Herodes (Lc 8.3). Maria, a mãe de Tiago (o filho de Alfeu), era outra mulher que fielmente proporcionaram cuidados a Jesus e seus discípulos desde o tempo de seu ministério na Galileia até seu sepultamento após a crucificação. Salomé, a mãe dos filhos de Zebedeu (Mt 27.56), juntou-se às mulheres, não só na cruz como também ao levarem os perfumes ao túmulo do jardim. Essas “mulheres fiéis” foram honradas na igreja através dos séculos como exemplos de serviço humilde e dedicado ao Senhor.

ORAÇÃO DO DIA:

Poderoso Deus, cujo Filho crucificado e sepultado não permaneceu na sepultura. Concede contentamento em nossos afazeres para servirmos com fidelidade como fizeram Joana, Maria e Salomé, oferecendo a ti o doce perfume de nosso grato coração, a fim de que também possamos ver a glória da tua ressurreição e proclamar com afã e fervor as Boas Novas operada em nós através de nosso Senhor Jesus Cristo, que ressuscitou dos mortos e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
 
Fonte: Treasury of Daily Prayer. CPH, 2008, pág. 589.