Davi, o maior dos reis de Israel, governou em torno de 1010-970
a.C. Os acontecimentos de sua vida são encontrados em 1 Samuel 16 até 1 Reis 2
e em 1 Crônicas 10-29. Davi também tinha o dom da música. Era hábil em tocar
lira e foi autor de não menos de 73 salmos, incluindo o amado Salmo 23. Seu
caráter público e privado exibiu uma mistura do bem (por exemplo, a derrota do
gigante Golias, 1 Samuel 17) e do mal (como no seu adultério com a mulher de
Urias, seguido pelo assassínio de Urias, 2 Samuel 11). A grandeza de Davi
estava em sua ardente lealdade a Deus como líder militar e político de Israel, unida
com a sua disposição em reconhecer seus pecados e pedir o perdão de Deus (2
Samuel 12, ver também Salmo 51). Foi sob a liderança de Davi que o povo de
Israel esteve unido em uma só nação, com Jerusalém como sua capital.
Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House, 2008. p. 1068)
“Davi e Golias” (1599), de Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610)
O Evangelho de Mateus fala do enredo cruel do rei Herodes contra o menino Jesus após ser “enganado” pelos Reis Magos. Se sentido ameaçado por um “recém-nascido Rei dos judeus” Herodes assassinou todas as crianças de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo (S. Mateus 2.16-18). Esses “inocentes”, festejados apenas três dias após a celebração do nascimento de Jesus, nos lembram não apenas da brutalidade terrível de que os seres humanos são capazes, mas de forma mais significativa, da perseguição que Jesus sofreu desde o início de sua vida terrena. Embora a vida de Jesus fora providencialmente poupada neste momento, muitos anos mais tarde, outro governante, Pôncio Pilatos, sentenciaria o inocente Jesus à morte.
A origem desta festa na igreja Cristã é muito antiga. Aparece já no calendário cartaginês do século IV e por volta do ano 485 no Sacramentário Leonino em Roma.
Coleta
Todo-poderoso Deus, os mártires inocentes de Belém manifestaram publicamente teu louvor, não pelo falar, mas pelo morrer. Faz morrer em nós tudo que está em conflito com a tua vontade, para que nossas vidas possam dar testemunho da fé que professamos com os nossos lábios; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
Iluminura “São João em Patmos” do livro de horas “As mui ricas horas do duque de Berry” (Les très riches heures du duc de Berry), iluminado (pintado) entre 1412 e 1416 pelos Irmãos Limbourg sob encomenda de João, duque de Berry, e encontra-se no Musée Condé (França). Aparece São João em uma ilha, uma águia ao seu lado, encimada por Cristo e os 24 anciãos e uma cidade ao fundo da imagem.
Cor litúrgica: Branca
Leituras bíblicas
† Salmo 11
† Apocalipse 1.1-6
† 1 S. João 1.1 - 2.2
† S. João 21.20-25
São João, Apóstolo e Evangelista, filho de Zebedeu, foi um dos doze apóstolos. Juntamente com seu irmão Tiago e Simão Pedro fez parte de um círculo privilegiado dos Doze: esses três presenciaram a pesca maravilhosa (S. Lucas 5.10), a cura da sogra de Pedro (S. Marcos 1.29-31), a ressurreição da filha de Jairo (S. Marcos 5.37, S. Lucas 8.51), a Transfiguração de Jesus (S. Mateus 17.1, S. Marcos 9.2, S. Lucas 9.28) e sua agonia no Getsêmani (S. Mateus 26.37, S. Marcos 14.33).
João expressou disposição de sofrer martírio (S. Mateus 20.22, S. Marcos 10.39) – assim como outros apóstolos (S. Mateus 26.35, S. Marcos 14.31). No entanto, testemunhos antigos afirmam que, embora tenha sido preso e exilado, João foi finalmente liberto e morreu de morte natural em Éfeso.
De acordo com S. Marcos 3.17, Jesus deu a Tiago e João o nome de Boanerges, que quer dizer “Filhos do Trovão”. A João é atribuída a autoria do quarto evangelho, o Apocalipse e três epístolas aos cristãos.
Seu símbolo na arte eclesiástica é geralmente a águia. Esta representação vem das visões de Ezequiel e João dos quatro seres viventes ao redor do trono de Deus (ver exemplos em Ezequiel 1.5-14 e Apocalipse 4.6-11). João começa sua narrativa no Céu com o Verbo eterno de Deus ao mesmo tempo em que escreve o quarto evangelho em um estilo como a águia que se eleva em seu voo.
Coleta
Misericordioso Senhor, lança os raios brilhantes da tua luz sobre a tua Igreja, a fim de que nós, sendo instruídos na doutrina de teu abençoado apóstolo e evangelista João, possamos chegar à luz da vida eterna; pois tu vives e reinas com o Pai e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
O Dia de Santo Estevão lembra o primeiro que derramou seu sangue por causa da fé cristã, considerado por isso o protomártir. Estevão conhecia o dom do Natal: seu Senhor veio em carne humana para trazer o perdão e como Jesus ele perdoou seus assassinos, logo, Estevão perdoou aqueles cujas pedras esmagaram-lhe a vida. O relato de seu chamado, testemunho e morte está em Atos 6.1 – 8.2. Observe como as palavras do mártir ecoam de perto aquelas de seu Salvador no Calvário quando da proximidade da morte.
Na arte, Estevão é muitas vezes representado pelas pedras que tiraram sua vida e pelo ramo de palma, um antigo símbolo de triunfo e, especialmente no cristianismo, de martírio.
Coleta
Pai celestial, em meio aos nossos sofrimentos por causa de Cristo, concede-nos a graça de seguir o exemplo de Estevão, o primeiro mártir, para que também nós possamos olhar para aquele que sofreu e foi crucificado em nosso favor e orar por aqueles que nos fazem o mal; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
"Martírio de Santo Estêvão" (1616-1617), de Pierre Paul Rubens (1577–1640)
Leituras bíblicas:
† Salmo 111
† Deuteronômio 18.15-19
† Filipenses 4.4-7
† S. João 1.19-28 ou S. Lucas 1.39-56
João Batista aponta todos para o Messias
A vinda de Deus em todo o seu poder revelado no Monte Sinai foi terrível para o povo de Israel. A voz trovejante do Senhor deixa pecadores com medo da morte (Deuteronômio 18.15-19). Deus, no entanto, levantou um profeta como Moisés – o Messias, o Cristo. Deus veio ao seu povo oculto em carne humana. Os céus enviaram o Único Justo e a terra abriu a sua madre e trouxe Salvação (Intróito), através da bem-aventurada Virgem Maria, mãe do Senhor (S. Lucas 1.39-56). O fruto do seu ventre é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, Aquele cujas correias das sandálias João não era digno de desatar (João 1.19-28). Em Jesus somos libertados do medo e da ansiedade. Somente nele temos a paz de Deus, que excede todo o entendimento (Filipenses 4.4-7).
Oração do dia:
Senhor Jesus, pedimos que venhas com o teu poder e nos ajudes para que os pecados que nos fazem sofrer sejam logo retirados pela tua graça e misericórdia; pois tu vives e reinas com o Pai e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.
"A Pregação de São João Batista" (1486-1490), afresco de Domenico Ghirlandaio (1449-1494)
Leituras bíblicas
† Salmo 136.1-4
† Juízes 6.36-40
† Efésios 4.7, 11-16
† S. João 20.24-29
Todos os quatro Evangelhos mencionam São Tomé como um dos doze discípulos de Jesus. O Evangelho de S. João, que o chama de “o Gêmeo” (S. João 11.16), utiliza as perguntas de Tomé para revelar verdades sobre Jesus. É Tomé que diz: “Senhor, nós não sabemos aonde é que o senhor vai. Como podemos saber o caminho?” A esta pergunta, Jesus responde: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém pode chegar até o Pai a não ser por mim.” (S. João 14.5-6). O Evangelho de S. João também diz como Tomé, na noite do dia da ressurreição de Jesus, duvida do relato dos discípulos que tinham visto Jesus. Mais tarde, o “incrédulo Tomé” torna-se o “crente Tomé” quando confessa Jesus como “meu Senhor e meu Deus” (S. João 20.24-29). Segundo a tradição, Tomé viajou para o leste após o Pentecostes, alcançando a Índia, onde ainda hoje um grupo de crentes se denominam “Cristãos de São Tomé”. Tomé foi martirizado por causa de sua fé ao ser transpassado por lanças até a morte.
Coleta
Todo-poderoso e eterno Deus, tu fortaleceste teu apóstolo Tomé com fé firme e certa na ressurreição de teu Filho. Concede-nos tal fé em Jesus Cristo, nosso Senhor e nosso Deus, para que nunca sejamos achados em falta na tua vista; através do mesmo Jesus Cristo, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
“Katharina Luther” (1528), de Lucas Cranach o velho (1472-1553)
Catarina von Bora (1499-1552) foi colocado em um convento quando ainda
criança e tornou-se freira em 1515. Em abril 1523, ela e outras oito freiras foram
resgatadas do convento e trazidas para Wittenberg. Lá Martinho Lutero ajudou a
retornar algumas para suas antigas casas e colocou outras em boas famílias. Catarina
e Martinho se casaram em 13 de junho de 1525. O casamento deles foi feliz e
abençoado com seis filhos. Catarina administrou habilmente a casa de Lutero, a
qual sempre parecia crescer por causa de sua generosa hospitalidade. Depois da
morte de Lutero, em 1546, Catarina permaneceu em Wittenberg, mas viveu a maior
parte do tempo na pobreza. Ela morreu em um acidente durante uma viagem com
seus filhos para Torgau, a fim de escapar da peste. Hoje é o aniversário de sua
morte.
Leituras bíblicas
† Salmo 128
† Provérbios 31.10-31 ou 31.10-12, 17, 20, 23, 25-31
† 1 Coríntios 7.1-9
† S. João 3.25-30
Coleta
Ó Deus, nosso refúgio e fortaleza, tu levantaste tua serva Catarina
para apoiar o marido na tarefa de reformar e renovar tua Igreja à luz da tua
Palavra. Defende e purifica a Igreja de hoje e fazei que, pela fé, possamos com
ousadia apoiar e encorajar nossos pastores e mestres da fé quando proclamam e
administram as riquezas da tua graça encontradas em Jesus Cristo, nosso Senhor,
que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
Adão foi o primeiro homem, feito à imagem de Deus e lhe foi dado o domínio sobre toda a terra (Gn 1.26). Eva foi a primeira mulher, formado a partir de uma costela de Adão, para ser a sua companheira e ajudante (2.18-24). Deus os colocou no jardim do Éden para cuidar da criação, como seus representantes. Mas eles abandonaram a Palavra de Deus e mergulharam o mundo em pecado (3.1-7). Por esta desobediência Deus expulsou-os do Jardim. Eva teve que sofrer a dor do parto e estar sujeita a Adão; Adão teve que labutar em meio a mato e espinhos e depois retornar ao pó da terra. Nosso rito de sepultamento lembra isso, assim como também a tradicional sentença pronunciada durante a imposição de cinzas na Quarta-feira de Cinzas: “Você foi feito da terra e vai virar terra outra vez” (Culto Luterano: Liturgias, pág. 122).". No entanto, Deus prometeu que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente (3.8-24). O pecado entrou na criação perfeita de Deus e a mudou até Deus restaurá-la novamente através de Cristo. Eva é a mãe de todos os seres humanos, enquanto Adão é o representante de toda a humanidade e sua Queda, como escreve São Paulo: “Assim como, por estarem unidos com Adão, todos morrem, assim também, por estarem unidos com Cristo, todos ressuscitarão.” (1 Coríntios 15.22 ).
Daniel, o santo profeta, e os três jovens – Sadraque, Mesaque e Abede-Nego – estavam entre os líderes do povo de Judá que foram levados para o cativeiro na Babilônia. Mesmo em terra estrangeira eles permaneceram fiéis ao Deus verdadeiro em sua devoção, oração e vida. Por conta da fidelidade inabalável diante da idolatria pagã, os três jovens foram jogados em uma fornalha ardente, da qual eles foram salvos pelo Senhor e saíram ilesos (Daniel 3). Da mesma forma, Daniel foi jogado numa cova de leões, da qual ele também foi salvo (Daniel 6). Abençoados em todos os seus esforços pelo Senhor e apesar da hostilidade de algumas pessoas, Daniel e os três jovens foram promovidos a cargos de liderança entre os babilônios (Dn 2.48-49; 3.30; 6.28). Para Daniel, em particular, o Senhor revelou a interpretação de sonhos e sinais que foram dados aos reis Nabucodonosor e Belsazar (Daniel 2, 4, 5). Para o próprio Daniel, o Senhor deu visões do fim dos tempos. (LCMS Worship)
Coleta
Senhor Deus, Pai celestial, tu resgataste Daniel da cova dos leões e os três jovens da fornalha ardente através da intervenção milagrosa de um anjo. Nos salva agora através da presença de Jesus, o Leão de Judá, que venceu todos os nossos inimigos através de seu sangue e levou todos os nossos pecados como o Cordeiro de Deus, que reina do seu trono celeste contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém. (Treasury of Daily Prayer, Concórdia Publishing House)
“Daniel na cova dos leões” (c. 1615), de Peter Paul Rubens (1577-1640)
A voz de João Batista clamou no deserto: “Preparai o caminho do Senhor...” (Isaías 40.1). João chamou o povo a estar preparado para a vinda do Messias através do arrependimento, pois “todos os seres humanos são como a erva do campo” (Isaías 40.6). Agora ele pergunta da prisão: “O senhor é aquele que ia chegar...?”(S. Mateus 11.2). A ação de Jesus testemunha que é ele. Os doentes são curados, os mortos são ressuscitados e aos pobres o Evangelho é pregado. Suas iniquidades são perdoadas; eles têm recebido da mão do Senhor perdão em dobro por todos os seus pecados. Os “despenseiros dos mistérios de Deus” (1 Coríntios 4.1) ainda entregam o perdão transbordante de Cristo para os pobres em espírito, confortando o povo de Deus com a palavra do Evangelho, a qual permanece para sempre. Este Evangelho produz alegria entre todos os que creem.
Oração do dia:
Senhor Jesus Cristo, pedimos que ouças as nossas orações e ilumines as trevas dos nossos corações pela tua graciosa visitação; pois tu vives e reinas com o Pai e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.
"São João Batista na prisão visitado por dois discípulos" (1445/60) de Giovanni di Paolo di Grazia (c. 1403–1482)
Uma das vítimas da grande perseguição sob o imperador romano Diocleciano, Lúcia (também chamada Luzia) encontrou a morte em Siracusa, na ilha da Sicília, no ano de 304, por causa de sua fé cristã. Conhecida pela sua caridade, Santa Lúcia dividiu o seu dote entre os pobres e manteve sua castidade até a execução pela espada. O nome Lúcia significa “luz”, por isso festivais de luz em comemoração a ela se tornaram popular em toda a Europa, especialmente nos países escandinavos. Lá o seu dia festivo corresponde com a época do ano em que há menor quantidade de luz do dia. Na expressão artística, Lúcia é muitas vezes retratada em um vestido batismal branco, usando uma coroa de velas na cabeça. (LCMS Worship)
Coleta
Todo-poderoso Deus, por cuja graça e poder tua santa mártir Lúcia triunfou sobre o sofrimento permanecendo sempre fiel até a morte, concede-nos que nos lembremos dela com ações de graças, que sejamos tão verdadeiros em nosso testemunho a ti neste mundo para que possamos receber com ela novos olhos sem lágrimas e a coroa de luz e vida; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém. (Treasury of Daily Prayer, pág. 1012, Concórdia Publishing House)
“Santa Lúcia diante do juiz” (1523-1532), de Lorenzo Lotto (1480-1556)
Leituras bíblicas:
† Salmo 50.1-15
† Malaquias 4.1-6
† Romanos 15.4-13
† S. Lucas 21.25-36
O Senhor vem no último dia
O dia em que nosso Senhor retornar será um dia “grande e terrível” (Malaquias 4.5). Pois ele virá em uma nuvem, com poder e grande glória. Para os maus e os soberbos, será um Dia de julgamento, que “os abrasará” (Malaquias 4.1). Os sinais que antecedem este dia lhes trarão medo e desmaio. Mas para aqueles que creem, que temem o nome do Senhor, este Dia é o de olhar adiante e se alegrar: “fiquem firmes e de cabeça erguida, pois logo vocês serão salvos” (S. Lucas 21.28). Cristo, nosso Redentor está chegando, o Sol da Justiça trará cura em suas asas. Vamos, então, dar atenção para as palavras do Senhor, que não passarão. Vamos “pela paciência e pela consolação das Escrituras” (Romanos 15.4), fortalecer a nossa esperança pelo Espírito Santo e vigiar diligentemente para a vinda de Jesus. Então, pela graça de Deus, vamos escapar de todas estas coisas que hão de acontecer e estaremos diante do Filho do Homem.
Oração do dia:
Senhor Deus, age em nossos corações para prepararmos o caminho ao teu único Filho, para que pela sua vinda sejamos capacitados a te servir com a mente purificada; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.
"O Juízo Final" [tríptico] de Hans Memling (c. 1430-1494)
"Nu kom der Heyden heyland" no Enchiridion de Erfurt, o segundo hinário luterano (1524)
"Vem, ó salvador dos gentios" (Nun komm der Heiden Heiland) é um belíssimo hino de Lutero para o período de Advento e Natal, baseado em Veni redemptor gentium de Santo Ambrósio. Foi publicado em 1524 no Enchiridion de Erfurt de 1524. Lutero efetuou algumas alterações na melodia. Por muito tempo este hino era sempre cantado no Primeiro Domingo no Advento. "Nota-se aqui o apreço de Lutero pelos hinos medievais, principalmente por aqueles que acentuam a divindade da criança da manjedoura. Veja-se, neste sentido, a segunda estrofe do hino. Lutero não acentua o dogma pelo dogma, mas por causa do Evangelho nele contido."
VERSÃO CANTADA (por Ilson Kayser):
1. Vem, dos povos Salvador, de Maria a bela flor, para o mundo se admirar: nascimento singular! 2. Carne não o concebeu, mas do Espírito nasceu. Homem veio o Verbo ser, nasce fruto de mulher. 3. Eis que a virgem concebeu, ficou casto o corpo seu. Virtuosa se mostrou, nela Deus se revelou. 4. Renunciou ao trono seu no esplendor lá do alto céu. Homem vero, vero Deus põe-se a andar os trilhos seus. 5. Seu caminho sai do Pai, para o Pai de novo vai. Desce ao mundo infernal, volta ao trono celestial. 6. Tu que és ao Pai igual, vence a carne com seu mal. Com teu eternal poder vem a carne socorrer. 7. Teu presépio em esplendor, noite brilha com fulgor. Treva ali não pode entrar, sempre a fé há de brilhar. 8. Glória a Deus, o Pai no céu, Glória a Cristo, o Filho seu. Glória ao Espírito também Sempre aqui e lá no além.
VERSÃO DE ERFURT (1524):
2. Nicht von Manns Blut noch von Fleisch, allein von dem heilgen Geist,
ist Gottes Wort worden Mensch und blüht ein Frucht Weibes Fleisch.
3. Der Jungfrau Leib schwanger ward, doch bleib Keuschheit rein bewahrt,
leucht herfür manch Tugend schon. Gott da ward in seinem Thron.
4. Er ging aus der Kammer sein, dem köng'lichen Saal so rein,
Gott von Art und Mensch, ein Held; sein' Weg er zu laufen eilt.
5. Sein Lauf kam vom Vater her und kehrt wieder zum Vater,
fuhr hinunter zu der Höll und wieder zu Gottes Stuhl.
6. Der du bist dem Vater gleich, führ hinaus den Sieg im Fleisch,
dass dein ewig Gotts Gewalt in uns das krank Fleisch enthalt.
7. Dein Krippen glänzt hell und klar, die Nacht gibt ein neu Licht dar.
Dunkel muss nicht kommen drein, der Glaub bleibt immer im Schein.
8. Lob sei Gott dem Vater g'tan; Lob sei Gott seim ein'gen Sohn,
Lob sei Gott dem Heilgen Geist immer und in Ewigkeit.
TRADUÇÃO LITERAL (Obras Selecionadas de Lutero, Vol. 2)
1 - Vem, ó Salvador dos gentios,
reconhecido corno filho da virgem;
para que se admire o mundo todo,
por Deus lhe ter providenciado tal nascimento.
2 -Nem de sangue nem de carne humana,
exclusivamente do Espírito Santo,
a palavra de Deus tornou-se pessoa humana
e floresceu como fruto da carne ele mulher.
3 - O ventre da virgem engravidou,
porém a castidade foi conservada pura.
Resplandeceram ali belas virtudes,
Deus estava presente em seu trono.
4 - Ele saiu de sua câmara,
da régia sala. tão pura.
Deus por natureza, e ser humano, herói,
apressa-se em seguir o seu caminho.
5 - Seu caminho veio do Pai
e retorna ao Pai.
Levou-o ao inferno
e de volta para o trono de Deus.
6 - Tu que és igual ao Pai
conquistaste a vitória na carne,
que leu eterno poder divino
preserve em nós a fraca carne.
7 - Tua manjedoura reluz em brilho e claridade.
a noite brilha em nova luz.
A escuridão não pode entrar,
a fé permaneça sempre visível.
8 - Louvado seja Deus e Pai,
louvado seja Deus, seu Filho Unigênito,
louvado seja Deus, o Espírito Santo
sempre e em eternidade.
Fonte: Obras Selecionadas de Lutero, Volume 2, p. 516-517
Nascido em Trèves, atual Alemanha, por volta de 340 A.D., Ambrósio foi um dos quatro grandes doutores latinos da Igreja (juntamente com Agostinho, Jerônimo e Gregório Magno). Foi um prolífico escritor de hinos, dos quais o mais conhecidos é Veni, Redemptor gentium (“Vem, Ó salvador dos gentios”). Seu nome também está associado com o canto ambrosiano, o estilo de cantar a liturgia antiga que teve lugar na província de Milão. Enquanto servia como governador civil, Ambrósio procurou trazer a paz entre os cristãos de Milão que estavam divididos em facções que brigavam. Quando um novo bispo estava para ser eleito em 374, Ambrósio dirigiu-se à multidão, então alguém gritou: “Ambrósio, bispo!” Todos os reunidos deram seu apoio. Esta aclamação de Ambrósio, um catecúmeno de 34 anos de idade, levou a seu batismo em 7 de dezembro, após o qual foi consagrado bispo de Milão. Um forte defensor da fé, Ambrósio convenceu o imperador romano Graciano em 379 de proibir a heresia ariana no Ocidente. Diante da insistência de Ambrósio, o sucessor de Graciano, Teodósio, também se opôs publicamente contra o arianismo. Ambrósio morreu na Sexta-feira Santa, 4 de abril de 397. Como um corajoso doutor e músico, ele manteve a verdade da Palavra de Deus. (LCMS Worship)
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Ó Deus, tu deste a teu servo Ambrósio graça para proclamar o Evangelho com eloquência e poder. Como bispo da grande congregação de Milão, destemidamente suportou o opróbrio para a honra de teu nome. Misericordiosamente conceda a todos os bispos e pastores tal excelência na pregação e na fidelidade em ministrar tua palavra para que o teu povo seja participante da natureza divina; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. (Treasury of Daily Prayer, pág. 992, Concórdia Publishing House)
Dos muitos santos comemorados pela Igreja Cristã, Nicolau († 342 A.D.) é um dos mais conhecidos. Muito pouco é conhecido historicamente dele, embora houvesse uma igreja de São Nicolau, em Constantinopla, logo no século VI. Pesquisas tem afirmado que no século IV havia um bispo com o nome de Nicolau na cidade de Mira, na Lícia (parte da atual Turquia). A partir dessa localização costeira, lendas sobre Nicolau viajaram ao longo do tempo e do espaço. Ele é associado com a caridade em muitos países ao redor do mundo e retratado como auxiliador dos marinheiros, protetor das crianças e amigo de pessoas em perigo ou necessitadas. Em comemoração a “Sinte Klaas” (São Nicolau em holandês; em Inglês é “Santa Claus”), 06 de dezembro é um dia de dar e receber presentes em muitas partes da Europa. (LCMS Worship)
O bispo Nicolau também desenvolveu seu apostolado na Palestina e no Egito. Mais tarde, durante as perseguições do imperador Diocleciano, foi aprisionado até a época em que foi decretado o Edito de Constantino, sendo finalmente libertado. Segundo alguns historiadores, o bispo Nicolau esteve presente no primeiro Concílio, em Niceia, no ano 325, onde combateu as heresias de Ário. (Paulinas)
O presbítero ortodoxo Thomas Hopko escreve que o extraordinário em São Nicolau é que não tem nenhuma coisa extraordinária pela qual ele seja conhecido. “Em poucas palavras, ele era um bom pastor, pai e bispo para seu rebanho, conhecido especialmente por seu amor e cuidado para com os pobres. De forma bem simples, ele era um homem divinamente bom." (Winter Pascha, p. 39) É isso. Um santo cuja vida nos lembra que “mais bem-aventurado é dar que receber” [At 20.35]. Um santo através do qual Cristo revela a alegria de uma vida que é "descurvada" do “curvar em si mesmo” e voltada para fora, para os outros, em bondade e amor. (Rev. William C. Weedon, diretor de Culto e capelão do Centro Internacional da Igreja Luterana – Sínodo Missouri)
Coleta
Todo-poderoso Deus, que concedeste a teu servo Nicolau de Mira o presente perpétuo da caridade. Concede à tua Igreja a graça de tratar com generosidade e amor as crianças e todos os que estão pobres e aflitos e defender a causa dos que não têm auxiliares, especialmente aqueles abalados por tempestades de dúvida e tristeza. Pedimos isso por amor daquele que deu a sua vida por nós, teu Filho, nosso Salvador Jesus Cristo, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. (Treasury of Daily Prayer, pág. 989, Concórdia Publishing House)
Belo hino de João Damasceno, um dos grandes pais da igreja oriental, que está no Hinário Luterano (n.º 99):
"A canção dos anjos" (1881) de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)
1. Vinde, vós, fiéis, cantai
triunfantemente!
Deus seu povo libertou
vitoriosamente.
Exultai, Jerusalém,
com amor profundo;
proclamai que ressurgiu
o Senhor do mundo!
2. Têm as almas redenção,
e em Jesus guarida;
ressurgiu o Redentor:
Eis a luz da vida!
Dissipou-se a escuridão,
foi vencida a treva.
Redimidos por Jesus,
ele ao céu nos leva.
3. Aleluia! cantareis
ao Senhor amado,
Salvador, Deus imortal,
já ressuscitado.
Aleluia! Glória dai
com fervor divino!
Aleluia! sem cessar,
ao Deus uno e trino!
O hino Αισωμεν πάντες Λαοί (Aísoomen, Pántes Laoi) foi escrito por São João Damasceno (675-749).
A tradução em português foi feita em 1960 por Antônio de Campos Gonçalves (1899-1983), a partir da tradução inglesa do hino grego feita em 1859 por John Mason Neale, com o título "Come, ye faithful, raise the strain". Antônio de Campos Gonçalves estudou no Seminário Metodista, pastoreou diversas igrejas e exerceu funções na Sociedade Bíblica do Brasil, na Confederação Evangélica e na Comissão do "Hinário Evangélico". John Mason Neale havia traduzido o texto do hino em seu artigo sobre hinologia grega no Christian Remembrancer (abril de 1859) e o reimprimiu em seu Hymns of the Eastern Church em 1862.
A melodia no Hinário Luterano é Gaudeamus Pariter, de Johann Roh (1490-1547), em Leisentritt's Gesangbuch; Ein Gesangbuch der Brüder im Behemen und Merherrn (Nürnberg, Alemanha: 1544). Johann Roh nasceu na Boêmia. Portanto Roh era o seu sobrenome em boêmio, mas em latim se chamava Cornu e em alemão Horn.
João Damasceno (ca. 675-749) é conhecido como o grande compilador e sumarizador da fé ortodoxa e último grande teólogo grego. Seu nome de batismo era João Mansur. Nasceu no seio de uma família árabe cristã no ano 675, em Damasco, na Síria. Veio daí seu apelido "Damasceno" ou "de Damasco". Nessa época a cidade já estava dominada pelos árabes muçulmanos, que acabavam de conquistar, também, a Palestina. No início da ocupação, ainda se permitia alguma liberdade de culto e organização dos cristãos, dessa forma o convívio entre as duas religiões era até possível.
Em torno de 716 entrou num mosteiro fora de Jerusalém e foi ordenado sacerdote. Quando o imperador bizantino Leão III Isáurio emitiu um édito em 726 proibindo imagens (ícones), João resistiu vigorosamente. Em seus Discursos Apostólicos argumentou para a legitimidade da veneração de imagens, o que lhe valeu a condenação do Concílio iconoclasta de Hieria (754). João também escreveu defesas da fé ortodoxa contra as heresias contemporâneas. Além disso, ele era um talentoso escritor de hinos (“Vinde, vós, fiéis, cantai triunfantemente!", Hinário Luterano, n.º 99 ) e contribuiu para a liturgia das igrejas bizantinas. Sua maior obra foi a Fonte da Sabedoria, um grande compêndio de fatos de teólogos cristãos anteriores, cobrindo praticamente cada tópico doutrinário. O sumário de João da fé ortodoxa deixou uma marca duradoura sobre ambas as igrejas oriental e ocidental.
Coleta
Ó Senhor, por meio de teu servo João Damasceno, proclamaste com poder os mistérios da fé verdadeira. Confirma a nossa fé para que possamos confessar que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, cantando os louvores do Senhor ressuscitado e para que, pelo poder da ressurreição, também possamos alcançar as alegrias da vida eterna, através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
Leituras bíblicas
† Salmo 24
† Jeremias 23.5-8
† Romanos 13. (8-10) 11-14
† S. Mateus 21.1-9
Oração do dia
Senhor Jesus, pedimos que venhas com o teu poder para que sejamos libertados dos nossos pecados, que ameaçam nos separar de ti, e salvos por tua ponderosa libertação, pois tu vives e reinas com o Pai e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.
O Senhor Jesus vem em humildade para nos redimir
O novo Ano da Igreja começa focando a humilde vinda de nosso Senhor. “Agora o seu rei está chegando. Ele é humilde e está montado num jumento e num jumentinho, filho de jumenta” (S. Mateus 21.5). Assim como Ele nasceu em uma humilde manjedoura, Jesus entra em Jerusalém sobre um animal de carga. Ele carrega o pecado do mundo. Ele é o Filho de Davi indo em direção a sua entronização na cruz, onde Ele se mostra como o “Senhor, nossa Salvação” (Jeremias 23.5-6). Nosso Senhor continua a vir em grande humildade para entregar a sua justiça a nós na Palavra e Sacramentos. Antes de receber o corpo e o sangue de Cristo, nós também cantamos: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas” (S. Mateus 21.9). E assim que recebemos o Sacramento, colocamos nosso coração no seu retorno em glória, “pois o momento de sermos salvos está mais perto agora do que quando começamos a crer” (Romanos 13.11).
Imagem: "Entrada em Jerusalém" (ca. 1620) de Pedro Orrente (1580–1645)
O período do Advento está quase aí. Logo a coroa de Advento aparecerá e será acesa antes dos cultos. Em nossa liturgia, o hino de louvor, o "Gloria in Excelsis", cairá em silêncio. O solene Prefácio do Advento com sua memória do Batista irá apregoar: "...chamou pecadores ao arrependimento para que eles pudessem escapar da ira a ser revelada quando ele vier novamente em glória”. Nossa coleta de pós-comunhão (luteranos tendem a tê-la como um não-próprio) mudará para “Ó Deus Pai, fonte e começo de todo bem, que em benignidade enviaste teu Filho Unigênito na carne, nós te damos graças porque através dele nos deste o perdão e a paz neste Sacramento, e pedimos que não deixe teus filhos, mas sempre governe nossos corações e mentes pelo Teu Espírito Santo, para que possamos estar constantemente aptos para te servir, mediante Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre”. Em vez do verde “comum”, azul ou roxo irá ornamentar nossos altares. Tudo isso nos lembra de que estamos entrando em um período de penitência, um tempo de jejum, oração e esmola.
PENITÊNCIA:
Como necessitamos do Advento! A coleta para o Primeiro Domingo nos mostra o porquê: “para que sejamos libertados dos nossos pecados, que ameaçam nos separar de ti, e salvos por tua poderosa libertação”. Precisamos de Advento, porque não pensamos que os nossos pecados SÃO ameaçadores ou perigosos. Como estamos errados! Advento é a época em que não apenas nos preparamos para acolher o Salvador em sua encarnação, mas quando nos preparamos para acolher o juiz que irá retornar em nuvens de luz, para quem todos os desejos são conhecidos e de quem não há segredos escondidos. A única maneira de encontrá-lo é em penitência e fé, e no Advento a Igreja procura nos preparar para isso.
JEJUM:
Historicamente, os cristãos ocidentais observavam o jejum do Advento, restringindo-se a uma única refeição (não antes de meio-dia) e uma pequena refeição na noite de cada quarta e sexta-feira, exceto que nas sextas-feiras também se abstinham de carnes e derivados. Além disso, nas Quatro Têmporas (Quatuor Tempora) durante o Advento é tradição não só jejuar como também abster-se. Finalmente, a Vigília de Natal, dia 24, também foi mantida com jejum e abstinência.
Como luteranos, estamos, é claro, livres para observar estes dias tradicionais pelo bem da disciplina da nossa carne (embora no espírito de São Paulo e da Augustana possamos dispensar a distinção de carnes, mas observar em seu lugar uma maneira simplificada de comer).
ESMOLA:
O lado benéfico de ficar sem refeições é que economiza dinheiro que pode ser dado aos pobres. Em certo sentido, nós nos unimos em solidariedade com os famintos deste mundo quando jejuamos. Estamos com eles. Você pode pensar que economizar 10 dólares nas quartas e sextas-feiras não faz diferença - mas faz! Há muitos lugares para os quais você pode direcionar esses fundos. A LCMS World Relief é sempre uma causa nobre para destiná-los, se nada mais se apresenta [no Brasil pode ser destinado para alguma das entidades da AESI - Associação das Entidades de Serviço da IELB].
ORAÇÃO:
Advento é uma boa ocasião para empurrar de volta contra os horários apertados e loucos que o mundo nos impõem neste momento. Se você estiver usando o “Treasury of Daily Prayer” [no Brasil temos os devocionários “Castelo Forte” e “5 Minutos com Jesus”], pode ser um grande momento para acrescentar uma ou duas devoções à sua oração diária. Acima de tudo, não negligencie os cultos extras oferecidos nestes dias. Em nossa paróquia, na noite de quarta-feira, nos encontramos para cantar um hino e depois cantamos juntos a “Oração da Noite”. A paz e a alegria desta liturgia leva o autêntico coração do que a Igreja nos convida para entrar, quando deixamos de lado os horários agitados de nossas vidas e encontramos na oferta de oração e louvor, do canto de hinos, da leitura das Escrituras e da pregação do Evangelho, o único refrigério que sacia a nossa sede espiritual. O Advento lembra-nos que qualquer outra tentativa de saciar essa sede está fadada ao fracasso.
Visto que o período de Advento começa de novo, vamos recebê-lo com alegria e tentar crescer através dele em nossa fé em Deus e em ardente caridade uns pelos outros!
Rev. William C. Weedon é diretor de Culto e capelão do Centro Internacional da Igreja Luterana – Sínodo Missouri.
Tradução e adaptação do post publicado originalmente em Weedon's Blog.
Nada melhor que saudar o novo Ano da Igreja partilhando este maravilhoso tesouro do poeta luterano Paul Gerhardt:
"Entrada de Cristo em Jerusalém" (ca. 1305) de Giotto di Bondone (Itália, ca. 1267-1337)
1.Como hei de receber-te,
bendito Salvador?
Minha alma anseia ver-te,
saudar seu Redentor.
Ó Cristo, me ilumina
a mente natural;
em ti viver me ensina
em submissão total.
2.Sião estende palmas;
e toda a sua grei
os corações e as almas
vem consagrar ao Rei.
Meu coração contente
quer, Cristo, a ti servir,
agora, no presente,
e sempre, no porvir.
3.Perdido e atribulado,
fui salvo por Jesus,
que trouxe ao desgarrado
vida, esperança e luz.
Aos fracos dá firmeza,
conforto e sumo bem,
e a todos a certeza
da vida lá no além.
4.Nem mesmo nos espante
a culpa ou transgressão.
De Cristo o amor constante
desfaz a maldição;
alenta os pecadores,
e a todos quer salvar,
fazendo-os possuidores
do seu eterno lar.
5.Virá julgar o mundo:
ao ímpio condenar,
mas com amor profundo
ao crente resgatar.
Oh! vem, Jesus bondoso,
a todos nós buscar
e faze ao céu glorioso
os teus fiéis entrar.
O hino intitulado "Wie soll ich dich empfangen" de Paul Gerhardt, foi publicado em 1653 em "D. M. Luthers und anderer vornehmen geistreichen und gelehrten Männer geistliche Lieder und Psalmen" (Berlim).
A tradução que temos para o português é de Rodolfo Hasse e Leonido Krey e está no Hinário Luterano sob o número 13, com a melodia de Johann Crüger (1653). Há também outra melodia para este hino que é de Melchior Teschner (Valet Will Ich Dir Geben, de 1613).
2. Dein Zion streut dir Palmen / und grüne Zweige hin, / und ich will dir in Psalmen / ermuntern meinen Sinn. / Mein Herze soll dir grünen / in stetem Lob und Preis / und deinem Namen dienen, / so gut es kann und weiß.
3. Was hast du unterlassen / zu meinem Trost und Freud, / als Leib und Seele saßen / in ihrem größten Leid? / Als mir das Reich genommen, / da Fried und Freude lacht, / da bist du, mein Heil, kommen / und hast mich froh gemacht.
4. Ich lag in schweren Banden, / du kommst und machst mich los; / ich stand in Spott und Schanden, / du kommst und machst mich groß / und hebst mich hoch zu Ehren / und schenkst mir großes Gut, / das sich nicht lässt verzehren, / wie irdisch Reichtum tut.
5. Nichts, nichts hat dich getrieben / zu mir vom Himmelszelt / als das geliebte Lieben, / damit du alle Welt / in ihren tausend Plagen / und großen Jammerlast, / die kein Mund kann aussagen, / so fest umfangen hast.
6. Das schreib dir in dein Herze, / du hochbetrübtes Heer, / bei denen Gram und Schmerze / sich häuft je mehr und mehr; / seid unverzagt, ihr habet / die Hilfe vor der Tür; / der eure Herzen labet / und tröstet, steht allhier.
7. Ihr dürft euch nicht bemühen / noch sorgen Tag und Nacht, / wie ihr ihn wollet ziehen / mit eures Amtes Macht. / Er kommt, er kommt mit Willen, / ist voller Lieb und Lust, / all Angst und Not zu stillen, / die ihm an euch bewusst.
8. Auch dürft ihr nicht erschrecken / vor eurer Sünden Schuld; / nein, Jesus will sie decken / mit seiner Lieb und Huld. / Er kommt, er kommt den Sündern / zu Trost und wahrem Heil, / schafft, dass bei Gottes Kindern / verbleib ihr Erb und Teil.
9. Was fragt ihr nach dem Schreien / der Feind und ihrer Tück? / Der Herr wird sie zerstreuen / in einem Augenblick. / Er kommt, er kommt, ein König, / dem wahrlich alle Feind / auf Erden viel zu wenig / zum Widerstande seind.
10. Er kommt zum Weltgerichte: / zum Fluch dem, der ihm flucht, / mit Gnad und süßem Licht / dem, der ihn liebt und sucht. / Ach komm, ach komm, o Sonne, / und hol uns allzumal / zum ewgen Licht und Wonne / in deinen Freudensaal.
Leituras:
† Salmo 93
† Isaías 51.4-6 ou Daniel 7.9-10,13-14
† Judas 20-25 ou Apocalipse 1.4b-8
† Marcos 13.24-37 ou João 18.33-37
"Deus e a Escritura de Deus são duas coisas diferentes, não menos do que são duas coisas o Criador e a criatura de Deus. Ninguém duvida que há muitas coisas abscônditas em Deus, coisas que ignoramos, como ele mesmo diz no tocante ao último dia: 'A respeito daquele dia ninguém sabe senão o Pai' [Mc 13.32]. E Atos 1.7: 'Não vos compete conhecer os tempos e momentos'. E mais uma vez: 'Eu conheço os que escolhi' [Jo 13.18]. E Paulo: 'O Senhor conhece os que lhe pertencem' [2 Tm 2.19], e passagens semelhantes." (Lutero em "Da Vontade Cativa", Obras Selecionadas, IV, pág. 23)
Contexto litúrgico:
O Último Domingo do Ano da Igreja é chamada de “O Domingo do Cumprimento”. Ele foca no fato indubitável de que Cristo, no Último Dia, cumprirá todas as suas promessas e completará a sua obra de redenção. Isaías 51 chama nossa atenção para a justiça do Senhor que se aproxima. Os gentios das ilhas aguardam ansiosamente o cumprimento de sua justiça quando ele retornar (51.5). Apesar do fato de que “os céus desaparecerão como a fumaça, e a terra envelhecerá como um vestido, e os seus moradores morrerão como mosquitos”, os servos que trabalham, fazendo a vontade de seu mestre, não precisam ter medo, pois sua “salvação durará para sempre, e a [sua] justiça não será anulada” (51.6). Os versos de S. Judas nos encorajam a lembrar que nossa salvação é certa porque Deus é capaz de nos guardar de tropeços (v. 24). Assim, nós também temos misericórdia dos que têm dúvida e procuramos arrebatá-las do fogo (vv. 22-23). -- Rev. Juan D. Palm, pastor, Concordia Lutheran Church, Oak Harbor, Washington, EUA (Concordia Pulpit Resources, Volume 22, Part 4, Series B, September 9–November 25, 2012)
Coleta:
Senhor Jesus Cristo, governa nossos corações e mentes de tal maneira pelo teu Espírito Santo a fim de que, mesmo conscientes do teu glorioso retorno, perseveremos na fé e em santidade de vida; pois tu vives e reinas com o Pai e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
Acordai! os guardas chamam.
Com voz vibrante nos conclamam:
Desperta, ó tu, Jerusalém!
Eis que meia noite soa!
Retumba a voz e longe ecoa:
Prudentes virgens, Cristo vem!
As lâmpadas tomai;
às pressas o encontrai! — Aleluia!
Acesa a fé, em prontidão
esteja o vosso coração.
Ouve a igreja jubilante
dos guardas canto retumbante,
levanta e está em prontidão.
Vem da glória o seu Esposo,
fiel em graça e poderoso.
Rompeu a aurora de Sião!
Bendito Salvador,
vem logo, ó bom Senhor — Aleluia!
Seguimos já celeste luz,
que às tuas bodas nos conduz.
Glória seja a ti cantada,
por nós e os anjos entoada
com harpas em sonoro tom.
Glória a ti, que nos confortas!
De doze perlas são as portas
da nossa habitação.
Jamais um olho viu,
nenhum ouvido ouviu tal ventura!
Queremos nós a ti cantar
mil Aleluias sem cessar!
Hinário Luterano, n.º 534. Wachet auf, ruft uns die Stimme — Philipp Nicolai, 1599. Trad. Rodolfo Hasse. Mel. Philipp Nicolai, 1599.
"As Cinco Prudentes e as Cinco Insensatas" (1700) de Godfried Schalcken (1643-1706).
"Jonas chama Nínive ao arrependimento" de Gustave Doré (1832-1883)
Cap. 7. Caríssimos, escrevemos todas essas coisas, não só para vos advertir, mas também pra lembrá-las a nós mesmos. De fato, estamos na mesma arena, e o mesmo combate nos espera. Deixemos, portanto, as preocupações vazias e inúteis, e sigamos a norma gloriosa e venerada da nossa tradição. Vejamos o que é bom, o que agrada e o que é aceito diante daquele que nos criou. Tenhamos os olhos fixos no sangue de Cristo, e compreendamos como é precioso ao seu Pai. Derramado pela nossa salvação, trouxe ao mundo a graça do arrependimento. Percorramos todas as gerações e aprendamos que, de geração em geração, o Senhor deu possibilidade de arrependimento a todos aqueles que queriam converter-se a ele. Noé pregou o arrependimento, e os que o escutaram foram salvos. Jonas anunciou a catástrofe aos ninivitas, e estes se arrependeram de seus pecados, aplacaram a Deus com suas súplicas e obtiveram a salvação embora fossem estrangeiros em relação a Deus.
Cap. 8. Os ministros da graça de Deus falaram sobre o arrependimento, por meio do Espírito Santo. E o próprio Senhor do universo falou do arrependimento, jurando: "Eu vivo, diz o Senhor, e não quero a morte do pecador, e sim que ele se arrependa [Ez 18,23; 33,11]." E acrescenta também um propósito bom: "Casa de Israel, arrependei-vos de vossa iniquidade. Dize aos filhos do meu povo: Ainda que vossos pecados cheguem da terra até o céu, e que sejam mais vermelhos que o escarlate e mais sujos que o pano de saco, se vos converterdes a mim de todo o coração, e disserdes: 'Pai!'- eu vos escutarei como povo santo. [Ez 18,30; Sl 102,11; Jr 3,19.22]" Em outra passagem , ele diz assim: "Lavai-vos e purificai-vos; tirai da presença dos meus olhos a maldade de vossas almas; acabai com as vossas maldades. Aprendei a praticar bem, procurai a justiça, libertai o oprimido, defendei o órfão e fazei justiça à viúva. Depois, vinde e discutiremos, diz o Senhor. E ainda que vossos pecados estejam como a púrpura, eu os tornarei brancos como a neve; se estiverem como o escarlate, eu os tornarei alvos como a lã. Se quiserdes me ouvir, comereis dos bons produtos da terra; mas, se não quiserdes me ouvir, a espada vos devorará. Isso, de fato, foi a boca do Senhor que falou. [Is 1,16-20]" Na sua onipotente vontade, ele decidiu que todos os seus amados tenham possibilidade de arrependimento.
Cap. 32. Portanto, todos foram glorificados e engrandecidos, não por eles mesmos, nem por suas obras, nem pela justiça dos atos que praticaram, e sim por vontade dele. Por conseguinte, nós que por sua vontade fomos chamados em Jesus Cristo, não somos justificados por nós mesmos, nem pela nossa sabedoria, piedade ou inteligência, nem pelas obras que realizamos com pureza de coração, e sim pela fé, é por ela que Deus Todo-poderoso justificou todos os homens desde as origens. A ele seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Pintura de Lucas Cranach, de 1547, no retábulo (Altarstück) da Igreja de Santa Maria, em Wittenberg, onde Lutero pregava com freqüência. Para Lutero, Cristo é a chave para a Escritura, assim como o Evangelho é a chave para a igreja.
Cap. 36. Caríssimos, este é o caminho no qual encontramos a nossa salvação: Jesus Cristo, o sumo sacerdote de nossas ofertas, o protetor e o auxílio de nossa fraqueza. Por meio dele, fixamos nosso olhar nas alturas dos céus; por meio dele, contemplamos, como em espelho, sua face imaculada e incomparável; por meio dele, abriram-se os olhos do nosso coração; mediante ele, nossa mente obtusa e obscura refloresce para a luz; mediante ele, o Senhor quis fazer-nos experimentar o conhecimento imortal. "De fato, sendo ele, o resplendor de sua majestade, é tanto superior aos anjos quanto o nome que herdou é mais excelente." Assim está escrito: "Ele fez dos ventos mensageiros seus e de chama de fogo o seus servidores." Asim diz o Senhor a respeito do seu Filho: "Tu és o meu filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações como tua herança, e teus serão os confins da terra." E lhe diz ainda: "Senta à minha direita, até que eu coloque os teus inimigos como estrado para teus pés [Sl 49.16-23]." Quais são os inimigos? São os malfeitores e aqueles que se opõem à sua vontade.
"O Retorno do Filho Pródigo" (1667-70) de Bartolomé Esteban Murillo.
Da 1ª Carta de Clemente aos Coríntios:
Cap. 49. Quem tem amor de Cristo, cumpre os mandamentos de Cristo. Quem poderá explicar o vínculo do amor de Deus? Quem será capaz de exprimir a grandiosidade de sua beleza? A altura para onde o amor conduz é inefável. O amor nos une a Deus, "o amor cobre a multidão dos pecados". O amor tudo sofre e tudo suporta. No amor não há nada de banal, nem de soberbo. O amor não divide, o amor não provoca revolta, o amor realiza tudo na concórdia. No amor, tornam-se perfeitos os eleitos de Deus; sem o amor nada é agradável a Deus. É no amor que o Senhor nos atraiu a si. É por causa de seu amor para conosco, que Jesus Cristo nosso Senhor, conforme a vontade de Deus, deu o seu sangue por nós, sua carne pela nossa carne, e sua vida por nossa vida.
Cap. 50. Caríssimos, vede como o amor é coisa elevada e maravilhosa e que sua perfeição está além de qualquer comentário. Quem é capaz de se encontrar nele, senão aqueles que Deus tornou dignos? Rezemos, portanto, e supliquemos a sua misericórdia, a fim de sermos encontrados no amor, sem parcialidade, irrepreensíveis. Muitas gerações passaram, desde Adão até hoje; mas, aqueles que pela graça de Deus, se tornaram perfeitos no amor permanecem no lugar dos piedosos. Esses hão de tornar-se manifestos, quando aparecer o Reino de Cristo. Com efeito, está escrito: "Entrai um pouco em vossos quartos, até que passem a minha ira e o meu furor. Então, eu me lembrarei do dia ótimo, e vos ressuscitarei dos vossos sepulcros [Is 26,20; Ez 37,12]." Somos felizes, caríssimos, se praticamos os mandamentos de Deus na concórdia e no amor, a fim de que, pelo amor, nossos pecados sejam perdoados. Pois está escrito:"Felizes aqueles cujas iniquidades foram perdoadas e cujos pecados foram cobertos. Feliz o homem, do qual o Senhor não considera o pecado e em cuja boca não existe engano [Sl 31,1-2; Rm 4,7-8]." Essa bem-aventurança é para os que Deus escolheu por meio de Jesus Cristo nosso Senhor. A ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Clemente (ca. 35-100 AD) é lembrado por ter estabelecido o modelo de autoridade apostólica que governou a Igreja cristã durante os séculos I e II. Viveu em Roma e foi contemporâneo de S. João Evangelista, S. Filipe e S. Paulo; de Filipe era um dos colaboradores e do último, um discípulo. Paulo até citou-o em seus escritos.
Clemente insistiu em manter Cristo no centro da adoração e evangelização da Igreja. Em uma carta aos cristãos de Corinto, ele enfatizou a centralidade da morte e ressurreição de Jesus: “Tenhamos os olhos fixos no sangue de Cristo, e compreendamos como é precioso ao seu Pai. Derramado pela nossa salvação, trouxe ao mundo a graça do arrependimento” (1 Clemente 7.4). Clemente demonstrou um firme amor de Cristo pelo povo redimido de Deus, servindo como inspiração para as futuras gerações continuarem a construir a Igreja sobre o fundamento dos profetas e apóstolos, com Cristo como uma e única pedra angular.
Clemente foi martirizado sob o imperador Trajano, que, mandou jogá-lo no mar Negro com uma âncora amarrada no pescoço.
Coleta
Todo-poderoso Deus, teu servo Clemente de Roma, chamou a Igreja de Corinto ao arrependimento e à fé para uni-los no amor cristão. Fazei com que tua igreja possa estar ancorada na tua verdade, pela presença do Espírito Santo e mantenha irrepreensível em seu serviço até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
Dia Nacional de Ação de Graças: "Dêem graças a Deus, o SENHOR, porque ele é bom; o seu amor dura para sempre." Salmo 136.1 Graças a Deus! Dai graças a Deus!
Graças a Deus! Dai graças a Deus! Ele é bondoso, pois não tem fim o amor que dá aos seus, o amor que dá aos seus, o amor que dá aos seus. Louva ao Senhor! Oh! Louva ao Senhor, ó tu, minha alma, e lembra-te do seu eterno amor, do seu eterno amor, do seu eterno amor. Deus tem poder, tem todo o saber; mil maravilhas as provas dão do seu divino ser, do seu divino ser, do seu divino ser. Glórias a Deus! Daí glórias a Deus! Seu nome é santo, e seu louvor se eleva aos altos céus, se eleva aos altos céus, se eleva aos altos céus.
Hinário Luterano, nº 216 - Editora Concórdia. Danket dem Herrn! wir danken dem Herrn! — Karl Friedrich Wilhelm Herrosee (1754-1821). Melodia: Karl Friedrich Schulz (1784-1850), 1810. Trad. desconhecido.
Danket dem Herrn!
Wir danken dem Herrn, denn Er ist freundlich
und Seine Güte währet ewiglich,
sie währet ewiglich, sie währet ewiglich.
Lobet den Herrn!
Ja, lobe den Herrn, auch meine Seele;
vergiß es nicht, was Er dir Guts getan,
was Er dir Guts getan, was Er dir Guts getan.
Sein ist die Macht!
Allmächtig ist Gott, Sein Tun ist weise,
und Seine Huld ist jeden Morgen neu,
ist jeden Morgen neu, ist jeden Morgen neu.
Groß ist der Herr!
Ja, groß ist der Herr, Sein Nam´ ist heilig,
und alle Welt ist Seiner Ehre voll,
ist Seiner Ehre voll, ist Seiner Ehre voll.
Betet Ihn an! Anbetung dem Herrn!
Mit hoher Ehrfurcht werd auch von uns Sein Name stets genannt,
"A Oração" de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)
Ó Deus, tem misericórdia de nós e abençoa-nos! Trata-nos com bondade. Assim o mundo inteiro conhecerá a tua vontade, e a tua salvação será conhecida por todos os povos. Que os povos te louvem, ó Deus! Que todos os povos te louvem! Que as nações se alegrem e cantem de alegria porque julgas os povos com justiça e guias as nações do mundo! Que os povos te louvem, ó Deus! Que todos os povos te louvem! A terra deu a sua colheita; Deus, o nosso Deus, nos tem abençoado. Ele nos tem abençoado; que os povos do mundo inteiro o temam! (Salmo 67, Bíblia Sagrada - Nova Tradução na Linguagem de Hoje)
Leituras:
† Salmo 67
† Deuteronômio 8.1-10
† Filipenses 4.6-20 ou 1 Timóteo 2.1-4
† Lucas 17.11-19
Coleta:
Todo-poderoso Deus, tuas misericórdias são novas a cada manhã e tu provês graciosamente por todas as nossas necessidades do corpo e da alma. Concede-nos o teu Espírito Santo para que possamos reconhecer tua bondade, dar graças pelos teus benefícios e te servir com obediência voluntária todos os nossos dias; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
Bênção
O Senhor nos abençoe e nos guarde.
O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre nós, e tenha misericórdia de nós.
O Senhor sobre nós levante o seu rosto e nos dê a paz.
Assim, nos abençoe o Trino Deus (†), Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.
Hoje é a quarta quinta-feira do mês de novembro, ocasião em que celebramos o Dia Nacional de Ação de Graças. Aqui temos um sermão do Rev. Paulo Weirich apropriado para este dia:
AÇÃO DE GRAÇAS
Rute 2.19
Bendito aquele que te acolheu favoravelmente
Noemi, ao perder marido e filhos em terra estrangeira, está reduzida à pobreza extrema. Ela vive da bondade das pessoas para tudo. Levítico 19.9,10 registra uma provisão que Deus havia feito para a sobrevivência dos pobres. Aí diz: “Quando também segares a messe da tua terra, o canto do teu campo não segarás totalmente, nem as espigas caídas colherás da tua messe. Não rebuscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha. Deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o Senhor, vosso Deus”. Noemi está pobre. Rute, a nora que decidiu acompanhá-la no seu retorno à pátria e à sua família, é estrangeira. É tempo da colheita da cevada. Rute se oferece para repassar os campos em colheita para trazer alguma coisa na volta. Talvez lhe custa depender em tudo da bondade alheia.
É importante conhecermos a vida de Noemi. Por que ela decidiu voltar? Não fazia ideia daquilo que a aguardava no seu retorno? Ou a opção de ficar na terra dos moabitas lhe parecia pessoalmente ainda mais traumática? Verdade é que, ao sair com o marido Elimeleque de Belém para a terra de Moabe (Rt 1.1), Noemi já estava fugindo da fome e da miséria. Agora está de volta. Não há mais o flagelo da fome em Belém. Mas Noemi está à margem, na miséria, em sua própria terra. Ela diz: “Não me chameis de Noemi; chamai-me Mara (amarga), porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso. Ditosa eu parti, porém o Senhor me fez voltar pobre” (1. 20,21).
Noemi não fala de sorte, azar, problemas, dificuldades. A sua linguagem e visão dos fatos é outra. “Grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso [...] Ele me fez retornar pobre” Claramente Noemi pensa como Jó, numa fé simples e singela: “Temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (Jó 1.10). Ou aquela que Jesus indica aos seus seguidores: “Olhai os lírios do campo, olhai as aves do céu ...” (Mt 6) Ou quando diz: “Se não vos tornardes como crianças” (Mt 18.3). Noemi se coloca diante da vida como quem sabe apenas que nada se move nos céus ou na terra sem o consentimento e a ação de Deus.
Talvez para Noemi estivesse claro algo que as pessoas de todas as épocas sempre tiveram dificuldade de admitir para viver de acordo. Penso na noção que Lutero e os Reformadores de Wittenberg tão bem recapturaram e que permite “deixar Deus ser Deus”. Isto é, fazer valer o que Isaías e o apóstolo Paulo, por exemplo, expressaram ao dizer: “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, este eu faço” (Rm 7.19). Ou: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo de imundícia” (Is. 64.6).
Debaixo da lei e sob a nossa condição humana, nada de bom podemos esperar, pedir ou reivindicar de Deus. “Nada merecemos, senão castigo” ensinamos aos confirmandos, conforme palavra de Lutero. Contrário a isso, o ser humano expressa em tudo que diz e faz a convicção de que nasceu com o direito a uma vida longa, plena de coisas boas. Planeja e pensa como se a vida estivesse em dívida com ele. Para o ser humano a regra acima de todas as regras é o seu direito ao bem-estar. Em momento nenhum passa-lhe pela cabeça a ideia de que os seus planos e aspirações são menos consistentes do que uma fumaça que se dissipa logo.
O que acrescenta ainda outro ato falho do ser humano. Quando pensa em Deus, pensa em alguém que cedo ou tarde deverá ajudá-lo a obter o que ele, ser humano, julga como seu de direito. Ele pode até pedir e agradecer a Deus. Mas pede e agradece como alguém cujas vontades e desejos devam ser satisfeitos. Razão porque, uma vez que seus sonhos não se realizam e experimenta frustrações, queixa-se da vida, das pessoas, do governo, da realidade econômica. E em nenhum momento se pergunta: o que Deus está dizendo a mim nestas frustrações e necessidades que me atingem?
Noemi não deixou de lamentar o seu estado de miséria. Para marcar a sua tristeza, pedia que a não mais chamassem de Noemi (minha doçura), mas de Mara (amarga). Ao mesmo tempo, sabe que sua vida, agora como antes, está nas mãos de Deus: “O Senhor me fez voltar pobre” (1.21). E por isso a vida continua. Noemi não espera por uma reviravolta. A sua vida agora é uma vida de pobre. Mas Deus, que a fez voltar pobre, é o seu Deus.
Ao pensarmos que Rute, a estrangeira, é da linhagem de Jesus, podemos ver nisto um sinal do reino do Messias, nascido em pobreza e em busca dos perdidos. Ao mesmo tempo, sublinha a palavra de Jesus: “Os pobres sempre os tendes convosco”. É assim que Deus se revela e quer ser conhecido: O Deus daqueles que o mundo não conhece. O que Jesus também coloca nos lábios de Abraão quando diz ao rico, que estava no inferno: “Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro, igualmente, os males” (Lc 16.25).
Submeter-se à vontade de Deus significou algo especial para Noemi e Rute, como mais tarde à mãe do salvador: “Uma espada traspassará a tua alma” (Lc 2.35). Esta experiência da fé não está reservada a todos da mesma maneira. Mas o sofrimento na alma é uma experiência por que todos passam em sua vida.
Rute, predecessora do Messias (Mt 1.5), está entre os pobres, colhendo espigas. O autor deste relato não menciona em que estado de espírito Rute se dispõe a viver como pobre entre os pobres. Como também não existe da parte de Deus um “jeito” de compensar no futuro os que sofrem hoje. Fato é que a nossa realidade humana a nada mais pode aspirar por natureza do que sofrimento e morte. O natural para a natureza humana é sofrer as consequências do seu estranhamento com Deus.
Entretanto, Deus quer que aprendamos a reconhecer-nos na imagem que a lei apresenta de nós. Admitindo que a nada temos direito, nos perguntamos: E então? De onde vem o bem?
Rev. Paulo P. Weirich São Leopoldo/RS
Publicado na Revista Igreja Luterana, Vol. 65, Nov. 2006, n.º 2, pp. 177-179.
"Rute declara sua lealdade para com Naomi" (1614) de Pieter Lastman (c. 1583-1633)