28/02/2020

Primeiro Domingo na Quaresma - 1º de março de 2020 (Ano A)


Gênesis 3.1-21
Salmo 32.1-7
Romanos 5.12-19
Mateus 4.1-11

O Senhor Jesus Cristo é o nosso defensor contra Satanás

Após seu batismo, “Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4.1). Ao mesmo tempo em que ele toma sobre si a maldição do nosso pecado e confronta o inimigo, ele também confia na voz de seu Pai e espera de suas mãos todas as coisas. O diabo questiona a filiação de Jesus, mas o Filho amado permanece fiel e vive “de toda Palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). Com paciência Jesus sofre a fome em sua carne mortal, volta ao pó da terra do qual o homem foi formado e com suas fadigas traz sustento para todos os filhos dos homens (Gn 3.17-19). No suor do seu rosto comemos o fruto da sua Cruz e até a nossa nudez é coberta por sua justiça. Se a transgressão do primeiro homem, Adão, trouxe a escravidão da morte a todas as pessoas, “muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos” (Rm 5.15). Sua justa obediência concede “graça sobre todos para a justificação que dá vida” (Romanos 5.18).

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Senhor Deus, que conduziste o teu povo antigo através do deserto e o levaste à terra prometida, guia o povo da tua Igreja para que, seguindo nosso Salvador, possamos andar através do deserto deste mundo em direção à glória do mundo que está por vir; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano – Lecionários (Editora Concórdia).
Imagem: O Diabo tentando Cristo a transformar pedras em pães (1685), por Luca Giordano (1634–1705)

26/02/2020

Quarta-feira de Cinzas (26 de fevereiro de 2020)


Joel 2.12–19
2 Coríntios 5.20b - 6.10
Mateus 6.1–6, 16–21


Convertam-se ao Senhor, teu Deus, de todo o seu coração, pois fostes reconciliado com ele

Na Quarta-feira de Cinzas descemos o Monte da Transfiguração juntamente com Jesus e voltamos nossa face para a sua cruz e paixão em Jerusalém. Com ele fazemos nossa peregrinação pelo caminho do arrependimento, e assim retornamos ao morrer e ressuscitar do Santo Batismo. Cristo Jesus, “aquele que não conheceu pecado”, se tornou nosso pecado, para que pela sua morte fôssemos libertados do pecado e pela sua ressurreição “fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5.21). Visto que assim Deus reconciliou o mundo consigo mesmo em Cristo, é “agora o tempo oportuno! Eis agora o dia da salvação!” (2 Co 6.2). Ele providenciou o Cordeiro sacrificial e deixou uma bênção para nós, uma oferta “de cereais e libações” na Eucaristia (Jl 2.14). Ele nos chama para converter-se a ele de todo o coração, “porque ele é bondoso e compassivo, tardio em irar-se e grande em misericórdia” (Jl 2.13). Fazemos isso com fé e confiança em Deus e, por isso, oramos ore a ele como nosso Pai que está no céu, damos aos necessitados de um coração de amor e jejuamos por causa do arrependimento (Mt 6.3-4, 6, 17-18).

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso e eterno Deus, que não desprezas o que foi criado por ti e perdoas os pecados de todos os penitentes, cria em nós um novo e contrito coração, a fim de que, lamentando nossos pecados e confessando nossa miséria, recebamos de ti total absolvição e perdão; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano – Lecionários (Editora Concórdia).

24/02/2020

São Matias, Apóstolo (24 de fevereiro)


Isaías 66.1–2
Atos 1.15–26
Mateus 11.25–30


Conhecemos pouco sobre São Matias em comparação a Judas. Se por um lado temos os detalhes terríveis da morte de Judas (At 1.18-19), por outro lado, não sabemos ao certo sobre a morte de Matias. Após sua eleição, a Bíblia nunca mais o menciona. Ele parece ser um apóstolo “esquecido”. Mas o que é a fama para Deus? Ele olha “para o aflito e abatido de espírito e que treme diante da minha palavra” (Is 66.2). Judas tremeu, mas sua contrição era sem fé na misericórdia de Deus em Cristo. Ele tentou arcar com seu próprio pecado através de um nó de forca. Jesus não diz: “Isso é com você” (Mt 27.4), mas diz: “Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu os aliviarei. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração; e vocês acharão descanso para a sua alma” (Mt 11.28–29). Matias foi uma testemunha do ministério de Cristo desde o batismo de João até a ressurreição (At 1.21–22); uma testemunha escolhida para proclamar “o Reino dos Céus” (Mt 10.7), desde o arrependimento até a redenção e a nova vida. Matias e inúmeros outros ministros “esquecidos” anunciam continuamente a verdade de que nenhum pecador deve suportar seu próprio jugo, pois Cristo suportou tudo e matou o pecado para sempre em Sua cruz.

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso Deus, que escolheste teu servo Matias para ser contado entre os Doze, concede que tua Igreja, sempre preservada de falsos ensinamentos, possa ser ensinada e guiada por pastores fiéis e verdadeiros; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (Feasts, Festivals and Occasions) editado pelo Rev. Sean Daenzer e publicado por LCMS Worship. Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano – Lecionários (Editora Concórdia).

22/02/2020

A Transfiguração de Nosso Senhor (23 de fevereiro de 2020)


Êxodo 24.8–18
Salmo 2.6-12
2 Pedro 1.16–21
Mateus 17.1–9

Deus manifesta sua glória no corpo de Cristo Jesus, transfigurado por nós por sua cruz

A Transfiguração confirma “a palavra profética ... à qual você fará bem em prestar atenção quanto a uma lâmpada que brilha em um lugar escuro” (2 Pedro 1.19). A glória divina de Jesus se manifesta na palavra de seus apóstolos, que eram "testemunhas oculares de sua majestade" (2 Pedro 1.16). "Ele foi transfigurado diante deles, e seu rosto brilhava como o sol" (Mt 17.2). Moisés e Elias testemunharam o cumprimento do Antigo Testamento neste Senhor Jesus, e o Pai testemunhou a respeito dele.“Este é o meu Filho amado, com quem me comprazo” (Mt 17.5). Pelo seu próprio sangue, derramado na cruz, Jesus faz e sela a nova aliança conosco. Portanto, “a aparência da glória do SENHOR” não é mais “como um fogo devorador” (Êx 24.17), mas é graciosamente revelado em Seu próprio corpo. Quando “Arão, Nadabe e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel” subiram a montanha com Moisés e “viram a Deus, comeram e beberam” (Êx. 24.9, 11), também contemplamos o Senhor nosso Deus. em Cristo Jesus, e permanecemos com Ele enquanto comemos e bebemos Seu corpo e sangue no altar.

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Deus, na gloriosa transfiguração de teu amado Filho confirmaste os mistérios da fé pelo testemunho de Moisés e Elias. Na voz que veio da nuvem brilhante predisseste nossa adoção por graça. Por tua misericórdia, faze-nos herdeiros com o Rei de sua glória e traze-nos à plenitude de sua herança nos céus; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano – Lecionários (Editora Concórdia).

Imgem: “A Transfiguração do Senhor”, por D. Nollet (1694)

Notas sobre o hino 74 “Visão de Glória singular” – Hino da Transfiguração



Coelestis Formam Gloriae
Letra: Anônimo latino, século XV; tradução J. Costa, 1969
Através da tradução inglesa O Wondrous Type de John M. Neale, 1854
Música: Suiça, 1826.
Letra e música: Domínio público. Tradução: Copyright de João Wilson Faustini, 1969.

O hino 74, Visão de Glória Singular, do Hinário Luterano, publicado pela Editora Concórdia, é o hino do culto da transfiguração de nosso Senhor Jesus Cristo. Esse hino, em 4 estrofes, tenta imprimir em nossas mentes e corações o que São Pedro define como suprema glória ou gloria excelsa (2 Pedro 1.17).

1.      Visão de glória singular
A igreja pode contemplar
Em Cristo quando Ele acendeu
Ao monte e ali resplandeceu.
a.       Visão de glória singular:
A Escritura Sagrada está repleta da glória de Deus e a sua manifestação (Epifania). É um erro vincular a glória de Deus somente a coisas miraculosas e grandiosas, pois a glória de Deus está onde Deus está. É possível ver a glória de Deus no Monte Sinal, na entrega dos mandamentos, mas também é possível ver a gloria de Deus no Gólgota, onde cancelou o escrito de dívida que era contra nós, cravando-o na cruz. (Colossenses 2.14) Faço essa comparação entre esses dois montes, pois é fácil identificar a glória de Deus em eventos com visível demonstração de poder, e esquecemos que o próprio Cristo fala na morte como sua glorificação (João 12.23-24).
Glória de Deus na liturgia: ao se vincular a glória de Deus com grandes eventos poderosos, deixa de lado o doce sussurrar da glória de Deus nos eventos corriqueiros de um culto. A glória de Deus já está presente e vivenciada em nossa vida quando o pastor, em nome de Cristo, perdoa os pecados dos pecadores penitentes. A glória de Deus já está presente e vivenciada em nossa vida quando somos expostos à Palavra de Deus. A glória de Deus já está presente e vivenciadas em nossas vidas quando somos batizados no nome do Deus Triúno. A glória de Deus já está presente e vivenciada em nossa vida quando participamos do Verdadeiro Corpo e Sangue de Cristo em, com, sob pão e vinho.
b.      Local e convidados: Cristo convida Pedro, Tiago e João para subirem a um monte, conforme o relato de Mateus, Marcos, Lucas e 2 Pedro. Por que eles sobrem? O relato de Lucas deixa claro que eles subiram para orar. Que monte é esse? Os relatos bíblicos não apontam qual seria esse monte, segundo a tradição, o monte da transfiguração é o Monte Tabor. Apesar que isso não seja uniformidade entre estudiosos.
c.       O que aconteceu? O rosto e a roupa de Jesus sofrem uma metamorfose, mudança, transfiguram. O hino descreve toda a glória da transfiguração na palavra resplandecer.

2.      Com sua face a reluzir
Quis ele a glória do porvir
Aos homens todos demonstrar
Chamando-os ao celeste lar.
a.       Na segunda estrofe do poema, a mudança na face de Cristo é enfatizada. O relato de Mateus afirma que o rosto de Jesus resplandecia como o sol. Diferente de Mateus, Lucas não apresenta detalhes e comparações da mudança do rosto de Cristo, mas deixa claro que houve a mudança tanto no rosto como na roupa. Já o relato de Marcos, a ênfase do evangelista está na roupa e não no rosto.
b.      Objetivo: Segundo o poema, a transfiguração tinha como objetivo demonstrar a glória do porvir.
c.       Convite: o aspecto missional da transfiguração é ressaltado na transfiguração, pois Cristo está chamando todos os homens ao celeste lar. Da transfiguração podemos destacar dois objetivos da vida cristã: 1) Desfrutar da glória de Deus, desfrutar da sua presença; 2) Ser filhos de Deus. A forma como alcançar esses objetivos é dado pelo próprio Deus: “A Ele ouvi.” Um ouvir confiante garante alcançar esses objetivos.

3.      As almas crentes subirão-
Mistério dado na visão
Por isso alegres com fervor
Cantamos hinos ao Senhor.
a.       Deus não é Deus de mortos e sim de vivos e a presença de Moisés e Elias comprovam essa verdade.
b.      As almas crentes subirão assim como Moisés e Elias estavam diante de Jesus envolvidos em sua glória.
c.       Os cristãos também subiram, pois a nossa pátria está no céu. A glória de Deus, sua presença, é o nosso destino final conforme Filipenses 3.20-21: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas.”


4.      A Deus o Filho, a Deus o Pai
E a Deus o espírito exaltai
O Deus que a graça nos quis dar
De sua glória contemplar.
a.       Trindade: A Santíssima Trindade está presente neste relato: 1) Cristo transfigurado; 2) DEUS PAI: A voz de Deus afirmando a filiação de Jesus e a orientação que devemos a Cristo ouvir; DEUS ESPÍRITO SANTO: a nuvem luminosa
b.      Graça de Deus: Por graça e misericórdia, Cristo permite aos três discípulos e a toda a Cristandade vislumbrar a glória da vida eterna.

Relato da transfiguração segundo São Pedro: “Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade, pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. Ora, esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo.” (2 Pedro 1.16-18). 

18/02/2020

O que é Lutero?

Martinho Lutero, Doutor e Reformador da Igreja – 18 de fevereiro


“Há alguns que, tendo lido uma ou duas páginas, ou ouvido uma prédica, querem logo fazer mesa limpa, avançam às cegas e não fazem mais do que difamar os outros de que não são evangélicos, sem considerarem que às vezes se trata de pessoas simples e ingênuas, que certamente entenderiam a verdade se ela lhes fosse dita. Isso não ensinei a ninguém, e S. Paulo o proibiu expressamente. Só o fazem sob o pretexto de saberem algo mais e serem considerados bons luteranos. Mas abusam do Sagrado Evangelho para seu proveito. Com isso jamais se colocará o Evangelho no coração das pessoas. Antes, você as choca e será responsabilizado por tê-las desviado da verdade. Não faça isso, seu tolo; escute e aceite! 
Em primeiro lugar, peço omitir meu nome e não se chamar de luterano, mas cristão. Que é Lutero? A doutrina não é minha. Tampouco fui crucificado em favor de alguém. Em 1 Co 3.4-5 Paulo não quer que os cristãos se chamassem de paulinos ou petrinos, mas cristãos. Que pretensão seria essa de um miserável e fedorento saco de vermes como eu se quisesse que os filhos de Cristo fossem chamados por seu desastrado nome? Que não seja assim, amigo. Vamos extirpar as siglas partidárias e nos chamar de cristãos, de quem temos a doutrina... De minha parte, não sou nem quero ser mestre de ninguém. Junto com a comunidade, comungo da única universal doutrina de Cristo, que é nosso Mestre exclusivo, Mt 23.8.
Por outro lado, se quiser praticar o Evangelho de forma cristã, leve em conta a pessoa com que fala. Há dois tipos: uns são empedernidos, não querem ouvir e ainda tentam seduzir e envenenar outros com sua língua mentirosa... Com esses você não deve lidar, mas seguir a palavra de Cristo em Mt 7.6: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisoteiem, e os cães voltem para vos dilacerar”...

Por outro lado, há aqueles que jamais tinham ouvido essas coisas e gostariam de aprendê-las, se lhes fosse ensinado; ou então, são tão fracos que não as entendem facilmente. Esses não devem ser atropelados nem surpreendidos, mas ensinados amigável e calmamente, explicando causa e motivo. E se não o entenderem logo, cabe dar tempo e ter paciência com eles...

Deus permita que vivamos corno ensinamos, e transformemos as palavras em ações. Há muitos entre nós que dizem: “Senhor, Senhor” [Mt 7.21], e enaltecem a doutrina, mas a prática e a obediência estão difíceis.”

- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (Uma Sincera Exortação de Martinho Lutero a Todos os Cristãos para se Precaverem de Convulsão e Rebeldia, 1522, OSel 6 480-83)

15/02/2020

Sexto Domingo após a Epifania – 16 de fevereiro de 2020 (Ano A)


Deuteronômio 30.15–20
Salmo 119.1-8
1 Coríntios 3.1–9
Mateus 5.21–37

Cristo coloca a vida diante de nós, para que possamos andar nos seus caminhos

O Deus que se revela em seu Filho encarnado promete vida e bênção para todos os que guardam seus mandamentos, “amando o Senhor, seu Deus, dando ouvidos à sua voz e apegando-se a ele” (Dt 30.20). No entanto, nós somos “pessoas carnais” e “crianças em Cristo” (1Co 3.1), entre os quais “há ciúmes e brigas” (1 Co 3.3). Jesus precisa nos instruir contra os hábitos humanos da ira, do adultério, do divórcio e do falso testemunho (Mt 5.21-37), pois todos os que vivem dessa maneira “certamente perecerão” (Dt 30.18). Na cruz Ele morreu para perdoar os nossos pecados e nos libertar dos caminhos de maldição e morte. Visto que Jesus Cristo é a nossa “vida e longevidade” (Dt 30.20), podemos ser reconciliados com o nosso irmão, viver em castidade e fidelidade conjugal e falar com honestidade. Jesus também oferece o seu dom da reconciliação em seu altar, de forma que podemos estar em paz com nossos irmãos e irmãs em Cristo. que são “lavoura de Deus e edifício de Deus” (1Co 3.9).

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Senhor, graciosamente ouve as orações do teu povo a fim de que nós, que sofremos as consequências do nosso pecado, possamos ser misericordiosamente libertados pela tua bondade, para a glória do teu nome; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano – Lecionários (Editora Concórdia).

Imagem: Dez Mandamentos, por Slava Groshev (1967-)

13/02/2020

Priscila, Áquila e Apolo (13 de fevereiro)

 
Comentário de João Crisóstomo (c. 347-407), pastor e teólogo em Constantinopla:

— Saudai Priscila e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, (Rm 16.3)

Lucas também atesta a virtude de Piscila e Áquila, ora ao dizer: Paulo “ficou em casa deles”, pois “tinham a profissão de fabricantes de tendas” (At 18,3), ora ao contar que aquela mulher acolheu Apolo e lhe ensinou o caminho do Senhor. São coisas muito grandes, mas muito maior é o que Paulo declara. O que narra ele? Em primeiro lugar denomina-os colaboradores, assinalando que foram participantes de incríveis trabalhos e perigos; em seguida, enuncia:

— que para salvar minha vida expuseram sua cabeça. (Rm 16.4a)

Viste os mártires consumados? É provável que sob Nero inúmeros fossem os perigos, quando também ordenara que todos os judeus fossem expulsos de Roma.

— Não somente eu lhes devo gratidão, mas também todas as Igrejas da gentilidade. (Rm 16.4b)

Aqui sugere a hospitalidade e auxílio pecuniário, admirando-os porque ofereceram o sangue e partilharam todas as suas posses. Viste as generosas mulheres, às quais a fraqueza do sexo não foi impedimento ao curso da virtude? E com justeza, pois: “Não há homem, nem mulher, em Cristo Jesus” (Gl 3,28). E o que disse da primeira:“Porque ela ajudou a muitos, a mim inclusive”, desta refere: “Não somente eu lhes devo gratidão, mas também todas as Igrejas da gentilidade”. Para não parecer assim se expressar por adulação, apresenta muito mais outros testemunhos além do prestado por essas mulheres.

— Saudai também a Igreja que se reúne em sua casa. (Rm 16.5a)

Eram tão honestos e ilustres que faziam de sua casa uma Igreja, seja porque ali todos se tornavam fiéis, seja porque a abriam a todos os peregrinos. Não é costume dar simplesmente o nome de Igreja a uma casa, a não ser que nela estejam radicados grande piedade e temor de Deus. Por isso, dizia também aos coríntios: “Saudai Áquila e Priscila, com a Igreja que se reúne na casa deles” (1Cor 16,19)... É possível mesmo aos que são casados serem admiráveis e generosos. Eis que estes, unidos em matrimônio, eram tão ilustres, embora seu ofício não fosse esplêndido, porque eram fabricantes de tendas, ou artífices de tendas. No entanto, a virtude tudo encobria, e fazia-os mais brilhantes do que o sol. O ofício ou o casamento não os prejudicava, mas possuíam o amor exigido por Cristo, que disse: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Manifestaram o sinal do discípulo, pois aceitaram a cruz, e seguiram a Cristo."

- São João Crisóstomo (Trigésima Homilia sobre a Carta aos Romanos)

Fonte: Patrística - São João Crisóstomo: Comentário às Cartas de São Paulo - Vol. 27/1 (São Paulo: Paulus, 2014)

10/02/2020

Silas (Silvano) - 10 de fevereiro


“Paulo, Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo. Que a graça e a paz estejam com vocês.” (1Tessalonicenses 1.1)

Comentário do Rev. Dr. Martin H. Franzmann (1907-1976):
Paulo, Silvano e Timóteo” - a conexão destes nomes é um testemunho do poder coesivo da fé cristã. Aqui temos o entrelaçamento de Paulo, o inimigo da Igreja convertido e ex-fariseu, Silas, membro da primeira igreja de Jerusalém, e Timóteo, um dos primeiros frutos das jornadas missionárias de Paulo. Um grupo peculiarmente distinto, todavia indivisível no servir ao Senhor Jesus Cristo. Os três nomes assim reunidos são também um testemunho da natureza cosmopolita da Igreja primitiva e, consequentemente, do propósito e dimensão universais da Igreja primitiva, já nesse momento inicial. Assim como Paulo também era Saulo, Silvano também tinha o bom nome judeu de Silas, e ambos eram cidadãos romanos, aglutinando em suas vidas as duas culturas que constituem o pano de fundo histórico do Novo Testamento: a semita e a greco-romano. Timóteo é igualmente cosmopolita: seu pai era grego e sua mãe, embora tivesse um nome grego, era uma devota judia que havia educado seu filho nas Escrituras Sagradas do povo antigo de Deus. Por uma espécie de ironia graciosa, Timóteo não havia sido circuncidado até o início de seu trabalho como ministro da Nova Aliança. A salvação é identificada na história da proclamação e na pessoa de seus proclamadores como sendo dos judeus, mas que é para todo o mundo.
Fonte: Martin H. Franzmann. Essays in Hermeneutics. Concordia Theological Monthly. Vol. XIX, set. 1948. p. 9644-645.

08/02/2020

Quinto Domingo após a Epifania – 9 de fevereiro de 2020 (Ano A)

Isaías 58.3–9a
Salmo 112.1-9
1 Coríntios 2.1–12 (13–16)
Mateus 5.13–20

A justiça de Cristo

Jesus adverte que “se a justiça de vocês não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrarão no Reino dos Céus” (Mt 5.20), mas também chama Seu povo imperfeito de “o sal da terra” e “a luz do mundo” (Mt 5.13, 14). Isso porque o Senhor Jesus não veio para revogar, “mas para cumprir” (Mt 5.17) a Lei ou os Profetas em perfeita fé e amor. Visto que Ele observa e ensina todos os mandamentos de Deus, Ele é “considerado grande no Reino dos Céus” (Mt 5.19). Deus manifesta Sua “demonstração do Espírito e de poder” em “Jesus Cristo, e este, crucificado” (1Co 2.2–4) e, através da pregação do Evangelho, Ele dá a Sua “sabedoria que estava oculta” (1Co 2.7). Cristo concede essa perfeita justiça ao Seu povo, e os leva ao verdadeiro jejum que Ele deseja: “que vocês quebrem as correntes da injustiça, desfaçam as ataduras da servidão, deixem livres os oprimidos” (Is 58.6) e “repartam o seu pão com os famintos, recolham em casa os pobres desabrigados, vistam os que encontrarem nus e não voltem as costas ao seu semelhante” (Is 58.7).

ORAÇÃO DO DIA:

Ó Senhor, mantém a Igreja, a tua família, continuamente na fé verdadeira, para que, confiando na esperança de tua graça celestial, possamos sempre ser defendidos por teu imenso poder; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod). Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano – Lecionários (Editora Concórdia).

Imagem: O Sermão do Monte, na Igreja de São Wolfgang (Oberwinkling, Baixa Baviera, Alemanha)

05/02/2020

Jacó (Israel) - 5 de fevereiro


“E sonhou: Eis que estava posta na terra uma escada cujo topo atingia o céu, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E eis que o Senhor estava perto dele e lhe disse:
— Eu sou o Senhor, Deus de Abraão, seu pai, e Deus de Isaque. A terra em que agora você está deitado, eu a darei a você e à sua descendência. A sua descendência será como o pó da terra.”
(Gn. 28.12-14a)



Comentário de Martinho Lutero:

"Jacó se encontra em tristeza e angústia de coração. Ele está nas trevas, por assim dizer, expulso de sua casa e sua pátria, abandonado e solitário, sem saber onde pode se esconder em segurança. Além disso, o diabo chegou - o diabo, que costuma atormentar corações aflitos de milhares de maneiras estranhas.... Pois Satanás “anda em derredor, como leão que ruge” (1 Pe 5.8) e procura onde ele pode mais facilmente saltar por cima da cerca e com que estratagemas ele pode tombar a carroça que está virando. Ele sobe onde a cerca é mais baixa; e se a carroça não está firme, ele a tomba completamente. Desta forma, a tentação é aumentada e acumulada aos que são afligidos e provados, de modo que isto os lança de cabeça no desespero, na blasfêmia ou impaciência.
Estas são as obras do diabo; essas são suas armadilhas habituais e constantes. Portanto, além da cruz física e do exílio, Jacó foi atacado  pelos dardos inflamados do diabo (Ef 6.16). Talvez Jacó estivesse pensando em como havia roubado a primogenitura e enganado seu pai. Pois desta forma o diabo costuma fazer um grande e enorme pecado a partir de uma excelente obra. O fato de Deus falar com Jacó  é um sinal dessa provação muito dolorosa. Pois Ele não costuma proferir suas conversas e palavras em vão. Ele não fala, a menos que uma razão importante e necessária o leve a falar. Ele também não costuma se dirigir ou consolar aqueles que riem dele, que se orgulham e se enfurecem contra ele nos prazeres ou na sabedoria da carne, que vivem presunçosamente, sem temor e reverência a Deus. “A sabedoria não se encontra na terra daqueles que vivem prazerosamente”, diz Jó (cf. 28.13). Ela é encontrada sob a cruz daqueles que são oprimidos e estão em conflito com as provações espirituais. Aí existe tanto razão quanto espaço para consolação. Aí Deus está presente e consola os aflitos “para que os justos não estendam as mãos para fazer o mal”, como diz o Sl 125.3. E “Ele falará de paz aos seus servos” (cf. Sl 122.8). Pois, se Ele ficar ausente por muito tempo, ninguém poderá suportar e perseverar nas provações e desgraças. Isso é um extraordinário consolo para a grande e triste perturbação de Jacó, e parece que foi isso, e não o cansaço físico, que levou Jacó a dormir. Pois o diabo veio  a aterrorizá-lo em seu coração enquanto ele estava em fuga e no exílio.[…]

Este é o sonho de Jacó: uma escada foi colocada na terra - uma escada que toca o céu com seu topo. Nela, os anjos estão subindo e descendo. E o próprio Senhor está reclinado no topo da escada e está falando aquela promessa a este terceiro patriarca. […] Como é mencionada essa escada no primeiro capítulo do Evangelho de João, devemos examinar esse texto. Pois ali o próprio Senhor parece interpretar esta imagem. Quando Filipe leva Natanael a Cristo, ele diz: “Eis um verdadeiro israelita!” (Jo 1.47.) Aqui, como diz Agostinho, ele nos lembra aquela escada de Jacó, que também é chamado de Israel. É isso que Cristo diz (Jo 1.50): “Por eu te dizer que te vi debaixo da figueira, crês? Maiores coisas do que estas verás”. E acrescenta (v. 51): “Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”. Devemos crer e nos contentar com esta explicação de nosso Salvador. Ele tem um entendimento melhor do que todos os outros intérpretes, muito embora todos concordem adequadamente neste ponto, que esse sonho significava aquele imenso, inexprimível e maravilhoso mistério da encarnação de Cristo, que deveria descender do patriarca Jacó, como Deus diz: “a tua descendência, etc.” [Gn 28.14]. Portanto, Ele revelou ao próprio Jacó que ele seria o pai de Cristo e que o Filho do Homem nasceria de sua descendência. Deus não falou isso em vão. De fato, Ele pintou esta figura da escada para confortar e consolar Jacó na fé e nas bênçãos futuras, como acima (Gn 22.18). Ele deu a mesma promessa a Abraão e Isaque para que eles pudessem ensiná-la e transmiti-la a seus descendentes como certas e infalíveis, e esperassem um Salvador de sua própria carne. Dessa maneira, Deus fortalece Jacó, que, como o tronco infrutífero de uma árvore, é miserável e afligido em uma terra estrangeira. E por meio dessa nova imagem, Ele transfere para ele todas as bênçãos, para garantir que ele é esse patriarca de quem virá o Descendente prometido a Adão."

- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (Preleção sobre Gênesis, LW 5)

02/02/2020

A Purificação de Maria e a Apresentação de Nosso Senhor (2 de fevereiro)


1 Samuel 1.21–28
Hebreus 2.14–18
Lucas 2.22–32 [33–40]


Deus nos concede a dádiva de um Menino para destruir a morte

O Senhor abriu o ventre estéril de Ana e lhe deu a dádiva de um filho pelo qual ela havia orado e, em grata resposta, ela apresentou e ofertou o seu filho Samuel para o serviço do Senhor. “Por todos os dias que viver, será dedicado ao Senhor” (1Sm 1.28). Assim também fizeram Maria e José, apresentando o Menino prometido na Queda, nascido do ventre de uma virgem. A verdadeira oferta não eram as rolinhas ou os pombinhos (Lc 2.24), mas o Menino que eles carregavam no colo. Esse Menino veio “para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos os que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida” (Hb 2.14b-15). Simeão e Ana exultaram pela libertação concedida mediante Seu advento em nossa carne e pela promessa do que Ele faria no serviço a Deus “para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hb 2.17b). Nós também exultamos, pois também podemos enfrentar a morte sem medo e se “despedir em paz” (Lc 2.29) quando chegar a nossa hora.

ORAÇÃO DO DIA:

Deus todo-poderoso e sempre vivo, assim como teu Filho unigênito foi neste dia apresentado no Templo na substância da sua carne, concede que possamos ser apresentados a ti com corações puros e limpos; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (Feasts, Festivals and Occasions) editado pelo Rev. Sean Daenzer e publicado por LCMS Worship. Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano – Lecionários (Editora Concórdia).