26/04/2016

Armas do cristão: pregação e oração


“Cada cristão é um guerreiro que luta constantemente contra o diabo: nós como pregadores com a nossa pregação, vós como ouvintes juntamente conosco, com a vossa fervorosa oração. Estas duas armas, pregação e oração, ferem o diabo até o âmago, e não há outro meio de de repeli-lo e vencê-lo que estes. Além de tudo isso, sabemos que é a vontade do Pai celeste que usemos essas armas copiosamente."

-- Sermão doméstico do bem-aventurado Martinho Lutero para o Sexto Domingo de Páscoa (Rogate), baseado em João 16.23-30

Fonte: Dr. Martin Luther's House-postil, Or, Sermons on the Gospels for the Sundays and Principal Festivals of the Church Year. Vol II. Schulze & Gassmann Publishers, 1871. p. 380.

25/04/2016

Festa de São Marcos, Evangelista – 25 de abril

“São Marcos” (c. 1625-1630), Frans Hals (1582/1583–1666)
São Marcos foi autor do segundo Evangelho. Também conhecido como João Marcos, era natural de Jerusalém, onde a casa de sua mãe foi centro da igreja primitiva (At 12.12). Paulo e Barnabé levaram Marcos a Antioquia (Atos 12.25) e dali partiram na primeira viagem missionária. Marcos os deixou durante a viagem (Atos 13.13) e mais tarde foi a causa da separação ocorrida entre Paulo e Barnabé quando este queria levar Marcos na segunda viagem missionária (Atos 15.37-40). Mais tarde, Paulo e Marcos se reconciliaram (Colossenses 4.10; Filemon 24; 2 Timóteo 4.11). Marcos também trabalhou mais tarde com Pedro (1 Pedro 5.13). A tradição sugere que Marcos ajudou a fundar a igreja no Egito (Alexandria) sendo ali martirizado.

Cor litúrgica: Vermelha

LEITURAS:
† Antigo Testamento: Isaías 52.7-10
† Salmo: Salmo 146 (antífona. v. 5)
† Epístola: 2 Timóteo 4.4-18
† Santo Evangelho: São Marcos 16.14-20

ORAÇÃO DO DIA:
Todo-poderoso Deus, tu enriqueceste tua Igreja com a proclamação do Evangelho através do evangelista Marcos. Concede que possamos crer firmemente nestas boas novas e diariamente andar de acordo com a tua Palavra; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.

04/04/2016

Festa da Anunciação de Nosso Senhor

“A Anunciação”, Giovanni Odazzi (1663-1731)
Nove meses antes do Natal, em 25 de março, a Igreja Cristã celebra a Anunciação de Jesus. No Lecionário da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) a festa da Anunciação é listada em negrito nos Dias Festivos, como uma festa principal de Cristo, devendo ser observada quando cai num domingo. No entanto, se cair na Semana Santa ou Domingo de Páscoa, deve ser transferida um dia após a Oitava da Páscoa. É o caso deste ano de 2016 em que o dia 25 de março caiu na Sexta-feira Santa, por isso a data festiva foi transferida para a segunda-feira que segue ao Dominica in Albis, ou seja, 04 de abril.

Lembramos que o anjo Gabriel aparece a Maria e anuncia que Deus mostrou seu favor para com ela e vai usá-la como meio para o nascimento do Messias. Deste modo, Maria concebe Jesus quando o anjo diz: "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra" (Lc 1.35). Este mesmo Espírito que “pairava sobre a face das águas” e gerou a criação (Gn 1.2) paira agora sobre as águas do ventre de Maria para conceber o Redentor da criação. Quando o Espírito Santo vem sobre Maria, ela concebe Jesus “através de seu ouvido” (como diz Martinho Lutero). Aquele que é concebido é chamado Santo, o Filho de Deus. Este é o momento da encarnação de nosso Senhor. A data da Anunciação cai em 25 de março pela razão de que Igreja Antiga cria que a crucificação ocorreu nessa data. Na antiguidade, as pessoas vinculavam o dia da concepção de uma pessoa com o dia de sua morte. Assim, na Anunciação, a Igreja juntou tanto a encarnação de Jesus quanto a reconciliação que Ele realizou. (Treasury of Daily Prayer, pág. 1287)
Cor litúrgica: Branca

LEITURAS:
 
† Antigo Testamento: Isaías 7.10-14
† Salmo: Salmo 45.7-17 (antífona v. 6)
† Epístola: Hebreus 10.4-10
† Santo Evangelho: Lucas 1.26-38

ORAÇÃO DO DIA:
 
Ó Senhor, assim como conhecemos a encarnação de teu Filho, Jesus Cristo, pela mensagem do anjo à virgem Maria, assim também, pela mensagem de sua cruz e sofrimento, traze-nos à glória de sua sua ressurreição; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém. (Culto Luterano: lecionários, pág. 321)

03/04/2016

A história do Segundo Domingo de Páscoa


“O Batismo de Santo Agostinho” (c 1695 – 1700), Louis de Boullogne (o Moço) (1654-1733)

A Páscoa ainda não terminou. Neste domingo termina a Oitava Pascal, os oito dias de Páscoa. Mas oito dias ainda é pouco tempo para celebrar tão grandioso evento que foi a ressurreição de Jesus. Então, para meditarmos mais demoradamente sobre o significado da Páscoa, o brilho da ressurreição é estendido até o Pentecostes. São cinquenta dias de Páscoa! Que bênção!
 
Este Segundo Domingo de Páscoa é o oitavo dia de Páscoa. É um Domingo repleto de significados e  ricas tradições que floresceram ao longo do tempo. Muitas destas tradições e costumes foram abandonadas ou ressignificadas, mas vale a pena conhecer a história por trás deste domingo, especialmente a partir das várias nomenclaturas que foi adquirindo.

Domingo in albis: o nome litúrgico deste dia é Dominica in albis depositis (ou deponendis) no Missal Ambrosiano. É o “domingo da deposição das vestes brancas” pois, antigamente, os neófitos que haviam sido batizados na Vigília Pascal recebiam um robe batismal (alba) branco, que usavam durante toda a semana, e somente no Segundo Domingo de Páscoa, os batizados depunham as vestes brancas e passavam a usar suas vestimentas comuns. Este costume é mencionado em um sermão de Santo Agostinho para este domingo e também no hino ambrosiano "Ad regias Agni dapes" (ou, em sua forma antiga, "Ad coenam Agni providi").
 
Aquela semana em que os batizados permaneciam com as vestes brancas era de grande importância na igreja antiga, sendo chamada de ebdomada alba (ou in albis), a "semana de branco". Há quem diga que era uma semana de provação, após a qual o batizado era aceito como membro pleno, depondo suas vestes brancas, assim como uma borboleta que emerge da crisálida.

Há uma bela pintura do pintor francês Louis de Boullogne, o Moço (1654-1733), na qual retrata a cena de Santo Agostinho em vestes brancas sendo batizado por Santo Ambrósio no ano 387, iniciando assim sua "semana de branco" até o o "domingo da deposição das vestes brancas".

Domingo Quasimodogeniti: Antes do advento do Lecionário Trienal, com leituras mais abrangentes para três anos, a Igreja Luterana (e outras igrejas tradicionais) usava um lecionário para o Ano da Igreja que se repetia anualmente, por isso chamado de Anual. Era o lecionário usado no tempo de Lutero e de J. S. Bach, mas ainda em uso em muitas igrejas luteranas como a Igreja Evangélica Luterana Independente da Alemanha (SELK - Selbständige Evangelisch-Lutherische Kirche), sendo conhecido também entre nós como Lecionário Tradicional ou Histórico.

Pois bem, no Lecionário Anual, o Segundo Domingo de Páscoa é chamado de Quasimodo Geniti (Como os recém-nascidos), pois a antífona do Intróito do culto dizia em latim: "Quasi modo geniti infantes, alleluia: rationabiles, sine dolo lac concupiscite, alleluia, alleluia". Este texto é extraído da Primeira Epístola de Pedro (2.2): "Desejai como meninos recém-nascidos, o puro leite espiritual, a fim de por ele crescerdes para a salvação, se é que já provastes que o Senhor é bom".

Recém-nascidos nos remete ao novo nascimento do batismo e à nova vida que encontramos no Cristo ressuscitado. Se levarmos em consideração o Evangelho de João 20.19-31 (o mesmo do Ano C do Lecionário Trienal), lembramos também do sopro de Jesus sobre os discípulos, concedendo-lhes o Espírito Santo, como o sopro da nova vida, em contraste com aquele sopro nas narinas de Adão.

Enquanto nas igrejas luteranas alemãs o Domingo é Quasimodogeniti, entre os católicos romanos é chamado Weiße Sonntag, devido ao costume pós-Trento de se fazer a primeira comunhão das crianças neste domingo.

Low Sunday (Domingo Baixo): nas igrejas de língua inglesa, como a Igreja Luterana – Sínodo Missouri é costume chamar o Segundo Domingo de Páscoa de Low Sunday, provavelmente devido à observância mais discreta deste domingo em contraste com a “alta” (high) solenidade festa da Páscoa no domingo anterior. Por ser o Oitavo Dia da Páscoa, este domingo é considerado parte da Festa de Páscoa, mas num grau menor, mais baixo. Outra explicação pitoresca é aquela verificada na maioria das igrejas, de que neste domingo a frequência no culto volta a ser mais "baixa".

Domingo de Pascoela: antigamente o Segundo Domingo de Páscoa também era chamado popularmente de Pascoela, ou seja, pequena Páscoa, em contraste com a grande Páscoa no Domingo da Ressurreição de Nosso Senhor. Alguns estendiam a denominação de Pascoela a toda a Oitava (oito dias) de Páscoa.

Pascha Clausum ou Clausum Paschae: "Páscoa encerrada" era como se chamava este Domingo na Idade Média, por ser o encerramento (clausura) da Oitava de Páscoa. Desta expressão latina se origina o nome deste domingo em holandês: Beloken Pasen.

Um pouco mais:

1. No romance O Corcunda de Notre-Dame, de Vitor Hugo, o corcunda Quasimodo tem esse nome pois fora abandonado ainda bebê na porta da Catedral de Notre-Dame num Domingo Quasimo Geniti, o Segundo Domingo de Páscoa.

2. Desde o ano 2000, na Igreja Católica Romana, o Segundo Domingo de Páscoa é denominado Domingo da Divina Misericórdia. Esta mudança enfrentou muita resistência pois envolvia uma forte e antiga tradição litúrgica da Oitava de Páscoa e ainda muitos clérigos e estudiosos consideravam um exagero as visões de Faustina Kowalska, que eram o fundamento da mudança.

Bibliografia:
  • A Glossary of Ecclesiastical Terms (Orby Shipley)
  • Año Litúrgico (Prospero Gueranger)
  • Dicionário Enciclopédico de Teologia (Arnaldo Schüler).
  • Harvard Studies and Notes in Philology and Literature, Volume 1 
  • Lutheran Cyclopedia (Erwin L. Lueker)
  • Medii ævi kalendarium (Robert T. Hampson) 
  • Os mistérios de Cristo na Liturgia (José Ferreira)

A confissão da verdade a respeito de Cristo

“Ajoelhando e tocando” (séc. XV), Martin Schongauer (c. 1445-1491)
Tomé confessou: “Senhor meu, e Deus meu!” (Jo 20.28). Esta e outras confissões da verdade a respeito dele mesmo, não somente são aprovadas, mas requeridas e exigido por Cristo. Visto que ele declara solenemente: “Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.” (Mt 10.32-33. O mesmo dever de confessar sua fé, isto é, as verdades a respeito de Cristo, é ordenado a todos os cristãos pelo apóstolo Paulo, quando escreve: “Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo” (Rm 10-9).

-- Introdução Histórica aos Livros Simbólicos da Igreja Evangélica Luterana, por Gerhard Friedrich Bente (1858–1930), Triglot Concordia (St. Louis: Concordia Publishing House, 1921)

Segundo Domingo de Páscoa (Ano C)

"Cristo mostrando suas chagas aos discípulos", pintura Poul Steffensen (1866-1923), no altar da  Sions Kirke (Igreja Luterana Sião, Copenhague, Dinamarca)
Embora Jesus fosse verdadeiro Deus, ele não ostentou sua divindade desde a concepção até a morte – o estado de humilhação. Ele provou sua divindade através de seus milagres, sua Palavra e sua transfiguração, Mt 17.1-8. A partir do momento em que ele reviveu no sepulcro, a natureza humana de Jesus usou as qualidades da natureza divina. Seu corpo atravessou a pedra completamente. Sua natureza humana se encontrava em todo lugar. Ele apareceu e desapareceu. Tomé reconheceu que sua natureza humana sabia de tudo. Sua natureza humana está conosco em todo lugar, até o fim do mundo. Seu corpo está presente na Ceia do Senhor. Em Belém Jesus veio como um humilde servo que nada fez de sua divindade. Mas no Dia do Juízo ele aparecerá em toda a sua glória. Desde a sua ressurreição, Jesus está no estado de exaltação. Ele reinará para todo o sempre.

-- Anotações sermonárias do Rev. Dr. Harold H. Buls (1920-1997) sobre as leituras dos Evangelho na Igreja Luterana da Íngria (Russia)