14/06/2013

O Profeta Eliseu e a multiplicação de pães (2 Reis 4.42-44)

“Eliseu Multiplica os Pães” (1577-78), de Tintoretto (c.1518-1594)

42 E um homem veio de Baal-Salisa, e trouxe ao homem de Deus pães das primícias, vinte pães de cevada e espigas verdes na sua palha, e disse: Dá ao povo, para que coma.
43 Porém seu servo disse: Como hei de eu pôr isso diante de cem homens? E disse ele: Dá-o ao povo, para que coma; porque assim diz o Senhor: Comer-se-á, e sobejará.
44 Então, lhos pôs diante, e comeram, e deixaram sobejos, conforme a palavra do Senhor.

Bíblia Sagrada - Versão Almeida Revista e Corrigida (SBB)

COMENTÁRIOS BÍBLICOS

COMENTÁRIO DE DONALD J. WISEMAN:

Alimentando uma multidão (4.42-44). Este episódio pode não ter conexão com o anterior, embora também mostre o cuidado de Deus pelos seus. A aceitação das primícias, normalmente uma oferta a Deus feita pelos sacerdotes (Lv 23.10), por parte de Eliseu, e a divisão desta oferenda em beneficio de todos, pode indicar o seu reconhecimento como representante do Senhor. Todo o incidente está descrito como o cumprimento da profecia. Na qualidade de milagre, deve ser comparado com aquele em que Jesus alimenta cinco mil pessoas (Mt 14.13-21).

42. Baal-Salisa fica a vinte e dois quilômetros ao norte de Lida, na planície de Saron (cf. 1 Sm 9.4) e deve ser identificada com Khirbet al-Marjamah em Efraim. As primeiras espigas (espigas frescas de) milho (wə·ḵar·mel bə·ṣiq·lō·nōw; NEB “espigas da nova estação”) pode ser uma referência à “espigas de milho assadas” (cf. Lv2.14).

43. Seu servo, um termo hebraico pouco comum (mə·šā·rə·ṯōw), como usado por Josué (Ex 24.13, “auxiliar”), pode se referir aqui a Geazi, que se mostrava descrente em relação da suficiência da provisão, assim como se mostraram os discípulos de Jesus (Mt 14.17; 15.34-39), possivelmente por conta de que o alimento tenha sido trazido em um pequeno saco. A figura dos cem pode estar aqui representando uma grande quantidade (1 Rs 18.4).

Fonte: WISEMAN, Donald J. 1 e 2 Reis: Introdução e Comentário. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2006. p. 181.


COMENTÁRIO DE KEIL E DELITZSCH:

VINTE PÃES DE CEVADA ALIMENTAM CEM DISCÍPULOS DOS PROFETAS.
- Um homem de Baal-Salisa (um lugar na terra de Salisa, o país a oeste de Gilgal, Jiljilia (1 Sm 9.4)) trouxe ao profeta Eliseu vinte pães de cevada das primícias e כּרמל mesmo que כּרמל גּרשׂ, isto é, espigas tostadas (Lv 2.14), na sua palha (צקלון, ἁπ. λεγ., saco ou bolsa). Eliseu ordenou que este presente fosse dado ao povo, isto é, aos alunos dos profetas que moravam em uma casa comum, para comerem. Quando seu servo fez esta objeção: “Como vou pôr isto (este pouquinho) diante de cem homens?” Eliseu repetiu sua ordem: “Dê às pessoas para que comam. Porque assim diz o Senhor: Comerão, e ainda vai sobrar” (והותר אכול, infin. absol.). Isto foi o que efetivamente aconteceu neste caso.

Que vinte pães de cevada e uma porção de grãos tostados não eram uma quantidade suficiente para satisfazer cem homens, é evidente pelo fato de que um homem foi capaz de carregar tudo isso em um alforje, e muito mais pela observação do servo, que mostra que não havia proporção entre a quantidade total que havia e o alimento necessário para cem pessoas.

Neste sentido, a comida, abençoada pela palavra do Senhor de tal forma que uma quantidade tão pequena satisfez cem homens e ainda sobrou, constitui um tipo da alimentação milagrosa do povo realizada por Cristo (Mt 14.16; 2 Rs 15.36-37; Jo 6.11-12), embora haja uma distinção, pelo fato de que o profeta Eliseu não produziu o aumento milagroso da comida, mas apenas o prenunciou.

O objetivo, portanto, em transmitir esta narrativa não é relatar outro milagre de Eliseu, mas mostrar como o Senhor cuidou de seus servos e deu a eles o que estava reservado pela lei aos sacerdotes levíticos, que deveriam receber, de acordo com Deuteronômio 18.4-5 e Números 18.13, as primícias do cereal, do vinho novo e do azeite. Portanto, esta narrativa fornece claros indícios de que os homens piedosos em Israel não consideravam o culto introduzido por Jeroboão (sua igreja estatal) como um culto legítimo, mas buscaram e encontraram nas escolas dos profetas um substituto para o legítimo culto a Deus. 

Fonte: KEIL, Carl Friedrich. The Books of the Kings. Biblical Commentary on the Old Testament, ed. C. F. Keil e F. Delitzsch. Edinburgh: T. & T. Clark, 1883. p. 315-316.


COMENTÁRIO DE ALBERT BARNES:

42. Baal-Salisa. De acordo com Eusébio e Jerônimo, Baal-Salisa ficava quinze milhas romanas ao norte de Lida ou Dióspolis. Isso o colocaria na planície de Sharon, a oeste das terras altas de Efraim. Era, aparentemente, a principal cidade da “terra de Salisa”, mencionada em 1Sm 9.4.

Pães das primícias. Isto sugere que tendo sido retirados os sacerdotes levíticos da terra de Israel (ver 2 Cr 11.13-14), os israelitas piedosos transferiram aos profetas levantados por Deus as ofertas exigidas pela Lei que deviam ser dadas aos sacerdotes (Nm 18.13; Dt 18.4)

Espigas. A palavra traduzida como “espigas” ocorre apenas aqui e duas vezes em Levítico (2.14 e 23.14). Em ambos os lugares, designa uma parte das primícias. Seu significado exato é incerto. Gesenius explica como sendo "farelo ou polenta feita das primeiras espigas de trigo cultivadas em hortas". Outros entendem simplesmente como "espigas verdes".

Na sua palha. “Na sua bolsa”. A palavra traduzida como “palha” no texto, não ocorre em nenhum outro lugar das Escrituras. Os hebraístas modernos concordam que significa um “saco” ou “bolsa”. A Vulgata utiliza a palavra "pera".

43. Como hei de eu pôr isto diante de cem homens? Geralmente, tem-se visto que esse milagre foi uma prefiguração da alimentação muito mais extraordinária de milhares de pessoas realizada por Nosso Senhor com recursos ainda mais escassos. A semelhança não está apenas no fato amplo, mas em vários detalhes minuciosos, tais como a distribuição pelas mãos de outros, o pão como recurso, o questionamento perplexo do servo e a evidência de abundância nos pedaços que restaram (Mt 14.19-21; Jo 6.9-13). Assim como Elias era um tipo de João Batista, Eliseu também era em muitos aspectos um tipo de nosso Bendito Senhor. Em sua vida pacata e não ascética, em seu caráter brando e gentil, em suas constantes andanças, em seus muitos milagres de misericórdia, na virtude curativa que havia em seu corpo (2Rs 13.21), Eliseu se assemelhava, mais do que qualquer outro profeta, ao Messias, de quem todos os profetas eram mais ou menos sombra e figura.

Fonte: The Holy Bible according to the Authorized Version (A.D.1611) with an explanatory and critical commentary and a revision of the translation by bishops and clergy of the Anglican Church, ed. F. C. Cook. Vol. III. II. Kings-Esther. London: John Murray, 1873. p. 20.

5 comentários:

  1. Gostaria de saber a quem foi entregue os 20 pães ?



    Quem foi a pessoa que entregou os pães? como se chamava?

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  2. Os vinte pães foram entregues para alimentar cem homens, pois eram pães abençoados por serem primícias, ou seja, dos primeiros frutos de uma produção. O profeta assim faz cumprir sua palavra alimentando a todos e ainda sobraram pães, tão como Jesus no evangelho de João cap.6 versículos 1-15.

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  3. Foi colocado diante dos cem homens, creio que eles foram rasgando o pão e cada um pegando um pedaço, qto mais tirava aumentava.

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  4. Vdd , creio que quanto mais dava pão ,aumentava o milagre

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