O Lecionário Luterano traz uma compilação de perícopes (trechos das Sagradas Escrituras), organizadas de acordo com o calendário do Ano da Igreja, para serem lidas na reunião semanal do povo de Deus. Para cada Domingo e Festividade são listadas uma leitura do Antigo Testamento, uma leitura das Epístolas e outra leitura do Evangelho, além de uma porção dos Salmos para ser cantado ou lido no Intróito do Culto. É a partir destas leituras que o pastor proclama a Palavra de Deus no sermão daquele Domingo ou Festividade.
O Lecionário proporciona um Ciclo ou Série Trienal de leituras (Anos A, B e C). Durante o Ano A se lê o Evangelho de Mateus. O Ano B enfoca o Evangelho de Marcos. O Ano C se concentra no Evangelho de Lucas. O Evangelho de João é lido em alguns domingos dos três anos. Essa dinâmica propicia, a cada ano, uma visão abrangente dos maravilhosos atos de salvação que Deus completou para nós em seu Filho Jesus Cristo, Cristo, dentro da estrutura do Ano da Igreja, de forma que "todo o plano de Deus" (At. 20.27) é anunciado a partir de uma leitura abrangente das Sagradas Escrituras, de acordo com os tempos de Advento, Natal, Páscoa e Pentecostes.
Este ciclo de leituras em três anos é relativamente recente, de 1969, fruto do trabalho desenvolvido pelo Concílio Vaticano II. Depois disso, outras denominações cristãs adotaram este lecionário com uma variedade de revisões, sendo, por isso, chamado de Lecionário Comum Revisado ou Lecionário Ecumênico. Os luteranos também aderiram ao Lecionário Trienal, utilizando-o com alguma revisão, proposta por um comitê do Sínodo Missouri que se encarregara desta tarefa. Devido a este precioso roteiro de leitura bíblica da cristandade ocidental, é possível quase sempre ouvir as mesmas leituras bíblicas e a mesma temática num mesmo domingo em quase todas as igrejas históricas.
Antes da Série Trienal, a igreja usava uma Série Anual, que repetia os principais textos bíblicos todo ano. Hoje é chamado de Série Histórica ou Série Tradicional. Este lecionário foi estruturado a partir do século IV, seguindo o costume antigo das sinagogas e das primeiras comunidades cristãs de se ler trechos das Escrituras, seja através de lectio continua ou lectio selecta. Esta era a "ordem das leituras" (Apologia da Confissão XXIV,1) usada no tempo de Lutero e que continuou a ser utilizada nas igrejas da Confissão de Augsburgo pelos séculos seguintes (Apologia da Confissão XXIV,3). Em sua Formula Missae, Lutero observa que a "leitura das epístolas e dos evangelhos igualmente foi e é necessária. O que, porém, está errado é que estão sendo lidos na língua que o povo não entende" (OS7,157). As cantatas de Johann Sebastian Bach (1685-1750), por exemplo, foram compostas para a os Domingos e Festas do Ano da Igreja, baseadas nas leituras desta mesma Série Anual que vigorava no seu tempo. Algumas igrejas luteranas ainda utilizam somente a Série Anual e outras a adotam em determinado ano.
Leia mais sobre o Ano da Igreja (Ano Litúrgico, Ano Cristão ou Ano Eclesiástico)
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