17/10/2013

Lutero sobre o martírio de Santo Inácio

“Martírio de Inácio Antioquia” (c. 985), miniatura no Menologium de Basílio II(976 – 1025), imperador bizantino.
Portanto, aquele que é capaz de aprender aprenda, para que cada qual conclua, quando perseguido e tentado, que o mundo, o diabo, a morte e todo infortúnio não são outra coisa senão o sacho e a podadeira de Deus, que toda blasfêmia e ultraje que o cristão experimenta são o modo de Deus fertilizá-lo. [...] Dessa maneira, os queridos santos mártires encaravam, em tempos passados, seu sofrimento e tormentos. Lemos que o mártir Sto. Inácio, um discípulo do apóstolo S. João, disse, quando estava para ser levado a Roma, a fim de ser lançado às feras que eram soltas na arena, para que dilacerassem os cristãos visando a proporcionar aos assistentes espetáculo e diversão: “Deixem que venham, pois sou apenas um grãozinho de Deus. Ele precisa me esmagar e triturar antes que eu possa servir para algo”. Aqui, temos uma bela aplicação cristã desse texto; encara-se o sofrimento de forma diferente do que o fazem carne e sangue, que não são capazes de considerar tal sofrimento como obra de Deus, mas o entendem como a fúria e a ira com que o diabo trucida e mata o homem. Sto. Inácio, porém, vê nos terríveis dentes dos leões e ursos selvagens nada mais do que a mó de Deus com a qual deveria ser triturado para ser ingrediente de um delicioso bolo para Deus.

-- Bem-aventurado Martinho Lutero, doutor e reformador da igreja, em “Os capítulos 14 e 15 de S. João, pregados e interpretados pelo Dr. Martinho Lutero”, 1537/1538 (OSel 11: 225,226)

Imagem: “Martírio de Inácio Antioquia” (c. 985), miniatura no Menologium de Basílio II (976 – 1025), imperador bizantino

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