por Ricardo Willy Rieth
A partir das duas últimas décadas do século 20, um modo diferenciado de vivenciar a relação com Deus, com o dinheiro e os bens tem causado impacto e desafiado em especial o povo evangélico no Brasil. São noções variadas, divulgadas especialmente por pregadores neopentecostais e reunidas sob a expressão “teologia da prosperidade”. A exemplo de outras correntes protestantes, sua origem está nos Estados Unidos a partir do movimento da “confissão positiva”, uma espécie de adaptação da literatura de autoajuda ao pensamento positivo.
Ressalvadas as diferenças observa-das entre pregadores ou denominações neopentecostais, a teologia da prosperidade baseia-se, em linhas gerais, na crença de que os cristãos possuem o poder de trazer à existência o que declaram, determinam ou confessam em voz alta. Palavras proferidas com fé têm o poder de criar realidades. As principais bênçãos obtidas dessa forma são felicidade, bem-estar material, saúde perfeita, compreendidos como direitos do cristão verdadeiro e garantidos pela Bíblia. Em nome de Jesus, quem crê verdadeiramente toma posse das bênçãos a que tem direito. Miséria, sofrimento e enfermidade são sempre responsabilidade da pessoa por sua falta de fé, do diabo e seus demônios.
Os pregadores da teologia da prosperidade acentuam que o crente precisa demonstrar com radicalidade que deseja as bênçãos de Deus. Precisa fazer doações corajosas, que o mundo considere absurdas, irresponsáveis e destituídas de bom senso. Deve até mesmo doar bens e recursos imprescindíveis à sua família, na certeza de que terá retorno muitas vezes superior às ofertas. Aqui não há espaço para a dúvida, identificada como de origem diabólica.
O crente é convocado a desafiar Deus. Torna-se uma espécie de credor de Deus: paga primeiro para receber em seguida. O grau de sacrifício demonstrado faz com que Deus fique obrigado a dar bênçãos mais generosas. A confiança absoluta no que é anunciado pelos pregadores faz com que o fiel não perceba perigo nos desafios propostos a Deus, pois Deus é obrigado a honrar o prometido. Naturalmente, todas as ideias e argumentos presentes na pregação da prosperidade são apresentados ao lado de passagens e exemplos bíblicos.
Bem menos efetiva junto à opinião pública tem sido a crítica à teologia da prosperidade por parte das denominações cristãs tradicionais. Essa crítica acusa a pregação da prosperidade de relativizar a soberania de Deus. Em relação a Deus, o fiel deve suplicar, pedir e não exigir, determinar e decretar. Também é inadmissível, segundo essa crítica, dar dinheiro para receber bênçãos em troca, pois se trata de uma inversão na compreensão evangélica acerca do ofertar motivado pela fé. A pregação do bem-estar físico e material negligenciaria a realidade de dor e sofrimento, muitas vezes presente na vida dos cristãos.
De que forma evangélico-luteranos podem contribuir nesse debate? Antes de tudo, fazendo uma autocrítica consistente. Se os pregadores da prosperidade estão sendo ouvidos por milhões, que seguem seus princípios, então é porque estão abordando questões que afligem as pessoas. Nossa pregação do evangelho, pautada pelo ensino da justificação por graça e fé, já não traz mais às pessoas hoje o consolo, a liberdade e a esperança, a exemplo do que ocorria em outros tempos?
Em seguida, precisamos ter clareza de que justificação por graça e fé é algo que se vive, que permeia por completo a existência. O que chamamos justificação por graça e fé tem em sua base o seguinte conhecimento: Deus faz todas as coisas. E o faz de forma ampla. Deus começa criando de forma continuada. Prossegue agindo na obra salvífica de Jesus Cristo e continua atuante por meio da obra do Espírito Santo.
Na mensagem da Reforma, é fundamental a compreensão de que Deus faz tudo. Por isso: “Devemos temer, amar e confiar em Deus acima de todas as coisas”. Que salvação é essa que o Deus que justifica dá gratuitamente às pessoas? A salvação está presente já agora, em todos os momentos, através do Espírito Santo, que torna as pessoas santas. A salvação de Deus começa já, aqui e agora.
O Espírito Santo que faz nascer a fé leva-a a produzir frutos, consola a pessoa em meio ao sofrimento e ao risco da morte iminente. A santificação tem um grande significado para cada grupo de pessoas, para cada comunidade humana. Isso porque o Espírito Santo mata no crente o egoísmo, a inveja, o desejo de vingança e a ânsia pelo poder. Justamente a pessoa crente pode ser alguém correta no mundo, ou seja, conduzida pelo Espírito Santo, pode agir na esfera pública, resistindo a seu interesse próprio, sem querer vantagem para si. A salvação da pessoa, que Deus produz pelo Espírito Santo, está direcionada para sua plena realização na eternidade, mas ao mesmo tempo já é salvação nesta vida, para cristãos e não cristãos, através de Cristo.
RICARDO WILLY RIETH é teólogo e pró-reitor acadêmico da ULBRA em Canoas (RS)
Artigo publicado na revista Novolhar, nº 53, setembro e outubro de 2013, p. 16.17.
Fantástico este artigo, muito boa esta reflexão.
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirObrigado pelo esclarecimento,infelismente as pessoas buscam em Deus muito mais bençãos materais acham que Deus é um negociante ,esquecem as bem aventuranças onde não se promete riquezas ou vida boa neste mundo,jesus tambem disse no mundo voces vão sofrer mas tenham coragem eu venci o mundo.É claro que Deus consede bens materiais mas pra isso temos que trabalhar e administrar bem o nosso dinheiro e agradecer cada moeda q temos,e usar os nossos bens a serviço do reino de Deus e do proximo ,não pra encher o bolso de algunsdonos de canais de televisão e enriquecer alguns lideres religiosos .não me preocupo nem um pouco por frequentar a ieclb por sermos poucos em numeros de membros,não estamos aq no Brasil pra agradar as pessoas com chows e espetaculos mas para trabalhar com humildade zelando para que o verdadeiro sentido do evangelho de jesus cristo seja anunciado.não nos preocupemos com quantidade mas com a qualidade.somente cristo somente fé somente graça somente a escritura.
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