“Abraão e Isaque” (1817), Johann Heinrich Ferdinand Olivier (1785-1841) |
“Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas”. (Hebreus 11.17)
Por ser o primeiro e maior dos santos patriarcas, Abraão tem que passar por tentações verdadeiramente patriarcais, que seus descendentes não teriam podido suportar.
Nessa passagem, a Escritura diz expressamente que Abraão foi tentado por Deus, não pela mulher, nem pelo ouro, nem pela prata, nem pela morte, nem pela vida, mas pela contradição das Sagradas Escrituras. Pois aqui, Deus se contradiz abertamente. Não diz que viria um ladrão para raptar seu filho secretamente, pois, neste caso, Abraão ainda poderia ter tido esperança de que seu filho viveria e voltaria para casa. Mas Abraão recebe a ordem de matá-lo com suas próprias mãos, para que não restasse dúvida nenhuma que Isaque estava realmente morto.
Esta tentação não pode ser vencida, e é mais do que evidente que não a podemos compreender. Quando Deus manda matar o filho, não resta a mínima esperança. Ele simplesmente coloca Abraão diante da contradição. E que Deus até então parecia ser seu melhor amigo, revela-se agora inimigo e tirano.
Neste ponto, a razão humana simplesmente chegaria à conclusão de que ou a promessa era falsa ou a ordem não procedia de Deus, mas do diabo. Pois se Isaque deve ser morto, fica anulada a promessa. Agora, se a promessa é válida, então é impossível acreditar que a ordem de matá-lo tenha partido de Deus.
Abraão, apesar da manifesta contradição (pois não há meio-termo entre vida e morte), não se afasta da promessa, mas acredita que seu filho, que está para morrer, terá descendência. Desta forma, Abraão apega-se à promessa e reconhece que Deus pode trazer seu filho morte de volta à vida... Assim, Abraão compreendeu o artigo da ressurreição dos mortos, e, unicamente com este artigo, conseguiu superar aquela contradição que não pode ser superada de outra forma. E não é sem motivo que sua fé é exaltada pelos profetas e apóstolos. Ele pensou assim: Hoje tenho um filho; amanhã não terei nada senão cinzas. As cinzas ficarão espalhadas por não sei quanto tempo, mas, por outro lado, tornarão a receber vida, se não durante minha vida, então, talvez, mil anos depois de minha morte; pois a palavra me diz que terei descendência por meio desse Isaque reduzido a cinzas.
Esse consolo deve ficar. O que Deus disse, isso ele não muda. Se você é batizado, e se no batismo você tem a promessa de Deus, saiba que essa palavra é imutável, e dela você não deve afastar-se.
- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja, sobre Gênesis 22 na sua "Preleção sobre Gênesis" (1535-1545), WA 43:20-270.
Por ser o primeiro e maior dos santos patriarcas, Abraão tem que passar por tentações verdadeiramente patriarcais, que seus descendentes não teriam podido suportar.
Nessa passagem, a Escritura diz expressamente que Abraão foi tentado por Deus, não pela mulher, nem pelo ouro, nem pela prata, nem pela morte, nem pela vida, mas pela contradição das Sagradas Escrituras. Pois aqui, Deus se contradiz abertamente. Não diz que viria um ladrão para raptar seu filho secretamente, pois, neste caso, Abraão ainda poderia ter tido esperança de que seu filho viveria e voltaria para casa. Mas Abraão recebe a ordem de matá-lo com suas próprias mãos, para que não restasse dúvida nenhuma que Isaque estava realmente morto.
Esta tentação não pode ser vencida, e é mais do que evidente que não a podemos compreender. Quando Deus manda matar o filho, não resta a mínima esperança. Ele simplesmente coloca Abraão diante da contradição. E que Deus até então parecia ser seu melhor amigo, revela-se agora inimigo e tirano.
Neste ponto, a razão humana simplesmente chegaria à conclusão de que ou a promessa era falsa ou a ordem não procedia de Deus, mas do diabo. Pois se Isaque deve ser morto, fica anulada a promessa. Agora, se a promessa é válida, então é impossível acreditar que a ordem de matá-lo tenha partido de Deus.
Abraão, apesar da manifesta contradição (pois não há meio-termo entre vida e morte), não se afasta da promessa, mas acredita que seu filho, que está para morrer, terá descendência. Desta forma, Abraão apega-se à promessa e reconhece que Deus pode trazer seu filho morte de volta à vida... Assim, Abraão compreendeu o artigo da ressurreição dos mortos, e, unicamente com este artigo, conseguiu superar aquela contradição que não pode ser superada de outra forma. E não é sem motivo que sua fé é exaltada pelos profetas e apóstolos. Ele pensou assim: Hoje tenho um filho; amanhã não terei nada senão cinzas. As cinzas ficarão espalhadas por não sei quanto tempo, mas, por outro lado, tornarão a receber vida, se não durante minha vida, então, talvez, mil anos depois de minha morte; pois a palavra me diz que terei descendência por meio desse Isaque reduzido a cinzas.
Esse consolo deve ficar. O que Deus disse, isso ele não muda. Se você é batizado, e se no batismo você tem a promessa de Deus, saiba que essa palavra é imutável, e dela você não deve afastar-se.
- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja, sobre Gênesis 22 na sua "Preleção sobre Gênesis" (1535-1545), WA 43:20-270.
Fonte: Castelo Forte: Devoções Diárias 1983 (São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1983)
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