12/01/2019

John Hartmeister: Semeando o Grão de Mostarda

Em 1993 foi publicado na revista Igreja Luterana (nº 2, pág. 126-139) o texto integral do Rev. John Hartmeister sobre a criação do Seminário Concórdia. O texto original havia sido publicado em duas partes: a primeira parte foi publicada no Mensageiro Luterano, ano 36 (1): 2-4, jan 1951 e (2): 11-12, fev 1951. A segunda parte, que inicia com o subtítulo “Visita à nossa missão”, foi traduzida do inglês pelo Prof. Christiano J. Steyer.)

O Rev. John Hartmeister foi fundador, professor e diretor do Instituto de Bom Jesus (São Lourenço, RS), o embrião do Seminário Concórdia.

Semeando o Grão de Mostarda

Rev. John Hartmeister

De quando se resolve começar

O desejo de formar um ministério autóctone no Brasil veio conosco desde o Seminário em St. Louis. Diante de nós tínhamos o exemplo dos pais em Perry County, no Missuri. A maioria dentre nós havia visto a veneranda cabana de pau roliço em Altenburg, que se achava então num pasto e se nos apontava como o primeiro ginásio do Sínodo de Missuri. Da história eclesiástica, sob A. L. Graebner, aprendêramos pelo exemplo dos Suecos do Deleware que a Igreja sem ministério autóctone está fadada a extinguir-se.

Cabana de madeira do Concordia Seminary, em Altenburg, no condado de Perry, Missouri (EUA). Imagem: CTSFW Media resources.

Chegáramos ao Brasil com o propósito de plantar a Igreja da doutrina pura. Se é que a nossa obra se devesse coroar de êxito, necessário nos era possuir uma escola para formação de obreiros nativos da Igreja.

Rev. J. Hartmeister (sentado) e seus colegas Adolph August Vogel e Henry Stiemke em viagem de navio dos Estados Unidos ao Brasil em 1901. Foto: Acervo Casa Hartmeister.

Um periódico local (Der Bote von São Lourenço) trouxe a comunicação, datada em 26 de abril de 1903 e assinada por J. Hartmeister, que a Conferência Pastoral de São Lourenço, em sua reunião, de 20 a 22 de abril de 1903, havia considerado o assunto pertinente ao preparo de um ministério autóctone para a Igreja Luterana do Brasil. Fora deliberado iniciar a obra em Bom Jesus. Foram membros desta conferência: F. Brandt de Morro Redondo, R. Mueller de São Pedro, H. Stiemke de Santa Eulália, A. Vogel de Santa Coleta e J. Hartmeister de Bom Jesus. Também assistira à conferência o pastor W. Mahler de Porto Alegre, diretor de nossa missão no Brasil. A mesma durou de segunda a quarta-feira, 20 a 22 de abril de 1903. O pastor Mahler demorou-se ainda depois da conferência e pregou em Bom Jesus no domingo seguinte, 26 de abril de 1903, por ocasião da primeira festa missionária aí realizada. Depois do culto, apresentou à congregação em Bom Jesus a resolução da conferência e obteve o seu consentimento ao nosso projeto. Desta transação todavia não se guardaram minutas por escrito.

Rev. J. Hartmeister (esq.) sendo instalado na Igreja de Bom Jesus pelo Rev. Carl Wilhelm G. Mahler (dir.) em 22 de dezembro de 1901.

As dificuldades despontam

Por volta de 22 de julho de 1903, 1.800 tijolos haviam sido comprados ao preço de 63 mil réis (valor aproximado de 320 cruzeiros atuais), todavia ainda não arrumados. Antes de se colocarem os tijolos, deu-se um fato que ameaçou pôr termo a todo o nosso projeto. Passarei a narrá-lo segundo me veio ao conhecimento.

Numa tarde de domingo, minha esposa e eu nos achávamos sentados em nossa cozinha agradavelmente confortável, diante de uma xícara de café. Eis quando percebemos um grupo de gente nossa reunindo-se na estrada no ângulo em que ficava a nossa Igreja. Sugeri que possivelmente estariam promovendo alguma venda de cavalos. Tão pouco sabíamos dos motivos reais daquele ajuntamento. Transcorrido um bom tempo, dois membros da diretoria da comunidade penetraram em nossa cozinha com uma expressão mais de acanhamento nos semblantes. Podíamos ver que na sua mente havia qualquer cousa, contudo não nos mostrávamos ansiosos em descobrir o que seria. Oferecemos-lhes café e bolo, porém declinaram e nada disseram. Por minha vez mantive-me também em silêncio e nenhuma pergunta lhes fiz. Foi um momento embaraçoso, mais para eles que para nós, porque estávamos de consciência tranquila. Finalmente um dos homens saiu-se num rompante:

— A congregação não quer que o senhor construa.
Falei: — Construir o quê?
— Bem, isto para que o senhor tem aí os tijolos.
— Por quê? - disse eu - A congregação permitiu esta construção por ocasião da sessão quando aqui esteve o pastor Mahler.
— Mudaram de ideia; agora não o querem.

Não adiantava querer argumentar com estes homens; haviam sido mandados pelo povo na estrada junto à Igreja. Procurei falar ao grupo; porém quando estava pronto para ir ter com eles, já se haviam dispersado. Disse aos dois homens que permanecia na resolução da congregação e levaria avante a construção. A reunião na estrada não constituía reunião legítima da congregação, e eu não lhe reconheceria a demanda. Eles partiram.

Torna corpo a excitação

A excitação no seio da congregação, porém, continuava tomando vulto. O homem que eu contratara para colocar os tijolos recusou trabalhar. À noitinha no dia seguinte ouvimos muitos cavalheiros passarem montados por nosso sítio. Na outra manhã saberíamos o que vinha a ser aquilo. Praticamente o mesmo grupo que domingo à tarde se congregara na estrada na curva em que ficava a igreja reunira-se naquela noite de segunda-feira em casa de um colono. Tornaram a vir aqueles dois mesmos membros da diretoria (o terceiro membro da diretoria da congregação não simpatizava com o grupo e não tomou parte no seu empreendimento) e apresentaram uma folha contendo nomes, com a explicação de que todos aqueles homens se opunham à construção. Caso persistisse em prosseguir, teria de sair dentro de três meses. Era a minha resignação pelo que lhes dizia respeito. (Exigia uma lei tácita que a congregação permitisse ao pastor ou professor três meses de prazo para procura de outro lugar, quando o quisessem despedir; e do pregador ou professor se exigia igualmente que permitisse à congregação o mesmo prazo de graça para procura de outro homem). Compreendi que a situação se fizera perigosíssima. Todavia não permiti que me dominasse a excitação por causa disto. Disse novamente aos homens que a reunião não era legal e que a sua petição não era petição em absoluto.

Percorrendo com os olhos a sua lista de nomes, descobri que apenas a metade dos membros da congregação aproximadamente se achava naquela lista. Descobri ainda que alguns daqueles nomes eram espúrios. Ao perguntar aos homens: — Esteve este na reunião? - Disseram: — Não, mas sabemos que se opõe à construção. Podia ser que fosse verdade, todavia o fato de haverem escrito o seu nome na petição tornou nula toda aquela lista de nomes.

Fiz então uma proposta àquela comissão.

— Não desistirei deste projeto nem irei dentro de três meses. Porém isto farei: convocarei uma assembleia regular de toda a congregação, e aí vamos discutir o assunto. E o que então decidir a congregação, a isto me aterei. Isto pareceu plausível, e eles se tranquilizaram.

Enquanto Emílio Wille (agora pastor naquela mesma congregação, em 1947) se punha a caminho em busca dos membros da Conferência de São Lourenço com o fim de os convocar para uma reunião de emergência no domingo seguinte, eu em casa me estafava em descobrir a razão ou causa de toda aquela excitação na comunidade. Fui ter com o colono em cuja residência se realizara a reunião de protesto na noite de segunda-feira.

Era o cabeça da oposição. Aqui vim saber que pessoas de fora haviam prevenido a nossa gente para que não nos permitissem construção em seu terreno. Pois, se o fizessem nós poríamos a mão no seu terreno e o tomaríamos para nós. (Era a reputação em que ao tempo eram tidos os americanos do norte no Brasil). Uma ideia destas era, naturalmente, ridícula, contudo criara todos aqueles distúrbios.

Não procurei desmenti-lo ou convencê-los do contrário. Vali-me daquilo para torná-los partícipes do empreendimento. Argumentei: Se era assim como diziam, a melhor maneira então seria para eles fazerem mesmos a construção, e jamais requisitaríamos qualquer de suas propriedades. O cabeça aceitou a proposta, e eu a guardei de reserva para a reunião que fora marcada para o domingo próximo.

Foi uma semana de grande agitação para nós. Quinta, nasceu-nos o segundo filho; sábado, chegaram os irmãos da conferencia e havia que lhes dar de comer e os alojar num só quarto, porquanto minha esposa e o nenê se achavam no outro quarto. Tínhamos em nossa casa apenas dois quartos. Um dos irmãos concordou amavelmente em pregar para mim no domingo de manhã. Depois do culto, realizou-se a assembleia da congregação, não na igreja, mas no espaço entre a casa e a cozinha. Eu me achava de pé sobre a escada da casa para anunciar a finalidade daquela reunião. No momento em que mencionei “construção”, deu-se o pandemônio. Alguns gritaram: “Não se construirá!”; outros: “Há de se construir!” (Em dialeto germânico: “Et schall nicht bugt warn!”; “Et schall doch bugt warn!”). Não me foi possível intercalar uma palavra sequer. Deixei, pois, que gritassem durante algum tempo. De dois em dois agarraram-se pela lapela do casaco e berraram a sua opinião cada qual nos ouvidos do outro. Um berrava a favor da construção, outro contra. Um jovem alegou a presença de um velho na assembleia. (Era costume que só os que possuíssem terras tinham direito de voto. Os velhos que houvessem passado para os filhos as suas terras já não tinham direitos congregacionais). Aquele velho justificou a sua presença alegando que substituía o filho, que não pudera estar presente, e permitiram-lhe que ficasse.

Vitória ganha

Seguindo-se uma pausa, pedi-lhes que me ouvissem. Expliquei-lhes de novo o nosso projeto e me reportei à resolução da congregação em presença de Mahler. A seguir mencionei os distúrbios recentes e as suas razões aduzidas e, em conclusão, saí com a solução sugerida. Eu restringira tanto o custo líquido do material para a construção de uma só peça que poderiam facilmente custeá-lo. Orçava em 5 mil réis por membro.

Assumindo as despesas, a construção proposta se tornaria propriedade deles, e ninguém lha poderia tirar.

Quando se lhes pediu a sua opinião, os amigos de nosso projeto puseram-se a persuadir os outros a que votassem a favor.

Sue, Gustav, dat koent wi wol dohn; dat is jo nich vael. (“Vês, Gustavo, bem que o podemos fazer; pois não é muito”).

Novamente se havia estabelecido na congregação a paz e harmonia. Para ter certeza para o futuro, perguntei a alguns da oposição se pagariam a sua quota chegada que fosse a hora do pagamento. Cada um asseverou que pagaria se o fizessem os outros.

Todavia, quando chegou a hora do pagamento, houve um nózinho. Era de regra que cada membro pagasse de acordo com o tamanho de sua colônia. Se possuísse um lote ou meio lote pagaria uma quota parte. Se possuísse dois lotes, pagaria o dobro do montante de uma quota parte, e se possuísse três lotes, pagaria o triplo do montante. (Lote era um pedaço de terra de 220 por 2.200 metros, com a parte estreita da colônia para a estrada).

Ora, sucedeu que o homem com três lotes esteve a favor da construção. Todavia, quando chegada a hora do pagamento, resolveu pagar simplesmente uma quota parte, uma vez que não eram gastos regulares da congregação. Os outros contudo insistiram em que devia pagar três vezes o montante que pagara. Foi preciso usar de finura e tato para o levar a pagar a sua quota proporcional, mas finalmente o fez. Somente um membro do sexo feminino recusou terminantemente a pagar a sua quota. Em vista disto também alguns homens se recusaram.

Eu lhes falei: “Senhores, então vão permitir que uma mulher os retenha de fazer o que prometeram fazer? Se esta mulher não quer pagar, deixemo-la em paz; dispomos de recursos para lhe dar esta quantia. - Isto deu resultado. Todos pagaram, à exceção daquela mulher.

Um monumento

Trinta e três anos mais tarde, foi pela congregação erigido um monumento de granito naquele mesmo ponto junto à igreja em que se realizou aquela primeira reunião de protesto. O monumento mede aproximadamente 12 pés de altura. Foi inaugurado no dia 8 de março de 1936, quando em Bom Jesus se realizou uma convenção sinodal. O prof. Paul Schelp de Porto Alegre proferiu a alocução inaugural e fez a oração de inauguração.

Traz o monumento a seguinte inscrição: “Denkstein zur Gruendung dez Konkordia Seminars der Evangelisch-Lutherischen Synod von Brasilien 1903. Gott zur Ehre, der Kirche zum Heil.” (“Monumento comemorativo da Fundação do Seminário Concórdia do Sínodo Evangélico Luterano do Brasil, 1903. Para honra de Deus e para o bem da Igreja”).

O trabalho de gravação no monumento foi feito por um austríaco de nome Auer. Fora ele um católico, mas em Solidez converteu-se ao luteranismo. Fez o favor em gratidão pela paz de espírito que encontrara na Igreja Luterana por meio de nossa missão.

A construção ultimada

Voltamos para 1903. Depois que a congregação reconsentiu na obra, não nos demoramos a começar. O livro de jubileu Fuenfundzwanzig Jahre unter dem Suedlichen Kreuz apresenta à página 83 uma fotografia do quarto que construímos para os nossos rapazes. Ocupava uma extremidade de um galpão ou celeiro. Na armação do edifício estavam metidos os tijolos. Dispunha de uma janela. A porta que dava acesso ao quarto achava-se no interior do celeiro. Junto à janela havia para os rapazes uma mesa comprida onde trabalhar e estudar. Um banco fazia as vezes de cadeiras. Na parte traseira do quarto ficavam as acomodações de dormir, camas fixas com guardas, sobrepostas, como os leitos nos navios. Nas paredes havia espaço para as suas roupas de trabalho e debaixo das camas para os seus baús e arcas. Um lampião a querosene fornecia a luz. Não sabíamos ao tempo de nenhuma outra fonte de luz. O quarto não era rebocado nem provido de aquecimento algum. Dias houve na estação mais fria em que não era possível aos rapazes trabalhar e estudar aí. Vinham então à nossa cozinha, onde também tomavam conosco sempre as suas refeições.

Réplica do galpão de alojamento dos estudantes do Instituto em Bom Jesus. Acervo: Casa Hartmeister


Abre-se a escola

Na tarde do dia 27 de outubro de 1903 iniciou-se o trabalho com três rapazes: Emílio Wille, de uma congregação vizinha; Henrique Drews e Evaldo Hirschmann, de nossa primeira congregação em São Pedro, ambos ainda não confirmados, mas contando quinze anos de idade. Foram confirmados no ano seguinte em sua congregação de origem pelo seu próprio pastor. Semanas depois chegou Franz Hoffmann de Santa Coleta. O último estudante chegou a 2 de março de 1904, provindo do nordeste, onde fora assistente do pastor H. Wittrock, dirigindo uma escola em Osório. Adolfo Flor principiou a sua longa jornada em janeiro. Viajou a pé, a cavalo e de vapor.

Nosso quartinho estava agora superlotado, contudo o serviço prosseguiu a despeito das dificuldades. O retrato destes primeiros achava-se estampado no livro Fuenfundzwanzig Jahre unter dem Suedlichen Kreuz, à página 88. (Presentemente, 1947, apenas um deles, Emílio Wille, continua ativo como pastor de congregação em Bom Jesus. H. Drews não concluiu os seus estudos, Flor faleceu em Maratá há muitos anos atrás, Franz Hoffmann aposentou-se e Evaldo Hirschmann entrou também para a Igreja Triunfante).

Galpão para alojamento dos alunos e Rev. Hartmeister com os cinco alunos que iniciaram o Instituto (1903)
O trabalho no instituto

O trabalho no Instituo principiou apenas alguns dias antes da publicação do Ev. Luth. Kirchenblatt fuer Suedamerika. É evidente que as páginas deste jornal fossem frequentemente usadas para chamar a atenção de nossa gente para a causa de nossa escola. Dois artigos foram publicados pouco depois de começado o trabalho. Num terceiro descreve-se a rotina diária no Instituto. Encontramos este artigo no nº 23 do vol. I, pág. 180, 1º de outubro, 1904. O trabalho progredira então por um ano mais ou menos. Citamos em tradução:

“A viagem de nossa estação de Pelotas dura aproximadamente dia e meio. Primeiro a estrada atravessa baixas esplanadas onde há muitas rezes pastando. Nossa Colônia São Lourenço fica situada na área revestida de matas. Em alguns pontos a estrada atravessa a floresta. Esta colônia de alemães foi estabelecida há mais ou menos 40 anos. Nosso destino é a colônia chamada Bom Jesus, ainda chamada também Estrada Velha ou Pommernstrasse. Todos aqui, à exceção de um só, vieram da Pomerânia e falam o baixo alemão.
Capela em Bom Jesus, local de aulas do Instituto
 “A igreja em Bom Jesus, que também serve de escola para as crianças da congregação e de sala de aulas para o nosso Instituto, é de alvenaria, estucada por fora com cimento e na parte interna com barro e caiada. Cinco janelas em cada lado permitem a entrada de luz. A parte superior das janelas é arqueada e revestida de vidraça colorida. A igreja ocupa o ponto mais alto na vizinhança, sendo que o terreno se estende em declive em todas as direções.

“A retaguarda da igreja para as bandas do Leste fica o cemitério, a Oeste o presbitério e um pomar de pêssegos. O panorama à distância por sobre campos e matas é belo, especialmente quando uma espessa névoa cobre os vales mais baixos.

“A cerca de quarenta metros do presbitério fica o quarto dos rapazes, onde estudam e dormem. As suas refeições a tomam à mesa do pastor na cozinha. São preparadas pela esposa do pastor com a ajuda de um dos rapazes. Os outros quatro trabalham de manhã na lavoura. A principal hora de estudo vem depois da ceia. As noites são em geral frescas e muito apropriadas para estudo bem como para descansar e dormir.

“O sol nascente encontra-nos em geral à mesa do desjejum. Cada um dos 5 rapazes tem sua tarefa a realizar: mungir duas vacas, dar de comer às galinhas, carregar água de um poço 400 metros mais ou menos distante da casa, partir lenha, varrer o pátio, etc. Após o café matinal e a ceia fazem-se as devoções diárias. Às sete chegam as crianças para a escola. Durante as horas da manhã o pastor está ocupado na escola com as crianças até 11 h ou 11h30min aproximadamente.

“O tempo entre o almoço e 14h30min é empregado pelos rapazes para repassar as lições e repousar. Às 14h30min começa o trabalho com a classe. Segue-se rigidamente um plano de estudo. Segundas, quartas e sextas, principiamos nosso trabalho com uma lição de Catecismo; as terças, quintas e sábados são dedicados às Histórias Bíblicas. Desta forma o trabalho de cada dia é iniciado com religião. Todo o Catecismo Menor foi decorado, também todos os versículos na parte de Schwan e quinze hinos e seis salmos. No segundo ano começamos com o estudo da Confissão de Augsburgo, que estava contida atrás no hinário alemão.

“Três horas na semana eram reservadas para a aritmética. Os problemas e as regras eram explicadas num pequeno quadro negro e as novas lições ditadas para os seus cadernos de apontamentos. Três horas na semana também eram dedicadas ao estudo do alemão. Não dispúnhamos de nenhum outro compêndio além do Third Reader (Terceiro Livro de Leitura) da Neue Serie (Nova Série) da Concordia Publishing House. Estudamos a matéria de leitura também quanto ao conteúdo. Cada estudante lê uma oração. Sua pronúncia, acentuação e inflexão de voz são criticadas, corrigidas e melhoradas. As explicações ao conteúdo da matéria da lição são restringidas ao mínimo para que sobre tempo para a lição gramatical. O artigo lido tem de fornecer os exemplos para os elementos gramaticais. As regras gramaticais são copiadas nos cadernos de apontamentos. Cada terceira semana exige-se uma redação, às vezes sobre um tópico marcado, outras sobre algo de própria escolha. (O último trabalho de Adolf Flor consistiu na descrição de sua viagem de Cruz Alta a Bom Jesus. Foi uma longa história e em certos momentos bastante emocionante. Li-a com profundo interesse. J. Hartmeister. 1947).

“Para estudo da história universal empregamos um primoroso compendiozinho, Weltgeschichte de Kappe, para geografia, porém não dispúnhamos de compêndio, de mapas, de globo. A mesma cousa era com o estudo de botânica, zoologia e latim. Toda a matéria letiva tinha de ser ditada e assente em cadernos de apontamento. Dedicamos uma ou duas horas por semana a estas matérias. No tocante ao português, sabiam os estudantes mais que o professor. Deixamos, pois que praticassem um pouco sob a nossa supervisão.

Kleine Weltgeschichte oder Geschichten aus der Geschichte von Ernst Kappe

“Aquelas duas horas entre 14h30min e 17h passam rapidamente entre profícuo labor. Como seria diferente, se estudantes e professor pudessem devotar todo o seu tempo e esforço a este trabalho.”

O autor deste artigo no Kirchenblatt concluiu com o apelo: “Se é para a Igreja Luterana do Brasil se manter e florescer, torna-se imperioso o preparo de professores e pregadores. Onde os encontramos? Até o presente (quatro anos) o Sínodo de Missouri os tem enviado da América do Norte. Atualmente há, porém, no Sínodo grande escassez de pregadores e professores. Somente neste ano (1904) foram chamados setenta e dois professores, e apenas de vinte e sete se dispunha. É, pois, óbvio que as nossas congregações não podem ser atendidas segundo as suas necessidades. A única solução é preparar os nossos próprios rapazes em nosso próprio país para o trabalho na Igreja. O começo foi feito e foi descrito nas linhas precedentes. Será pois, do interesse de todas as congregações do nosso Distrito constituir fileira atrás do Instituto para formação de professores e pregadores em Bom Jesus”.

Visita à nossa missão

Para as congregações brasileiras bem como para nosso Instituto, 1904 foi um ano memorável. O Presidente do Departamento de Missão para a América do Sul, Rev. Louis Lochner de Chicago, visitou todo o trabalho missionário a pedido do Sínodo. O resultado desta visita foi a formação de um novo distrito sinodal, o Distrito Brasileiro. Naquela época era o décimo quinto. A fundação foi em 24 de junho de 1904 na localidade de Rincão São Pedro, na congregação do Pastor J. Harder. A nova organização foi formada por 14 pastores, 10 congregações e um professor. O Pastor Lochner presidiu a sessão. Ele havia visitado a maioria de nossas congregações de forma que possuía uma boa visão geral da situação.

Sua série de visitas iniciou no mesmo local onde o Rev. C. J. Broders começou nossa missão em 1900. Durante toda a visitação o Pastor Lochner esteve acompanhado do Rev. W. Mahler. Em São Pedro prepararam uma calorosa recepção ao visitante de sorte que, desde o início, ele teve uma boa impressão da missão brasileira. O mesmo, no entanto, não se repetiu em outros lugares, especialmente em Bom Jesus, como saberemos mais diante.

Rev. Carl Wilhelm G. Mahler,primeiro missionário do Sínodo de Missouri residente no Brasil, seu primeiro diretor missionário, primeiro presidente da IELB (1904-1910) e primeiro redator do Kirchenblatt

A visitação em Bom Jesus

Tivemos alguma dificuldade para conseguir que os Pastores Lochner e Mahler visitassem nossa paróquia. Era costume que cada congregação buscasse os visitantes na congregação vizinha. Quando chegou nossa vez, julgamos que deveríamos buscá-los na congregação do Pastor Vogel em Santa Coleta. Era viagem de um dia inteiro e não havia estrada boa que ligasse as duas localidades. Na minha congregação não pude encontrar alguém que estivesse disposto a empreender tal jornada, nem por amor nem por dinheiro. Além disso, eles nem queriam a visita deste homem da América do Norte. Nesta emergência alguém praticou um gesto de verdadeiro amor e amizade. 0 pai do estudante Wille não pertencia à nossa congregação, no entanto frequentava nossos cultos desde o início e seus filhos estudavam em nossa escola. Este declarou-se disposto a buscar os dois pastores, Lochner e Mahler, e, de fato, os trouxe até nossa porta. Chegaram tarde na noite, cansados e exaustos. Receberam cordiais boas vindas, uma boa sopa e, logo mais, uma cama macia. O Pastor Lochner proferiu o sermão na manhã seguinte. Estava programado que, na mesma tarde, ele dirigiria a visitação à congregação. Justamente nesta data a congregação iria reunir-se para a sua assembleia trimestral ordinária. (As assembleias da congregação não se realizavam na igreja. O povo achava não ser apropriado que tais assembleias acontecessem na casa de Deus, recinto muito reverenciado por eles. Discussões violentas se travavam nas assembleias e em raras ocasiões até resultavam em cabeças sangrentas. Assim é que as assembleias ordinárias eram convocadas para as residências dos membros da diretoria.) Nesta ocasião a convocação foi para a casa de nosso vizinho mais próximo. Não precisávamos estar presentes para os assuntos administrativos da congregação, de forma que ficamos aguardando na casa pastoral. Pedi que alguém enviasse um jovem para nossa casa tão logo os assuntos administrativos estivessem concluídos. Excepcionalmente desta vez os assuntos administrativos tomaram bastante tempo, mas finalmente um rapaz veio avisar-nos que eles estavam prontos.

Encontramos a congregação muito bem representada numa grande sala da casa de um agricultor. Apresentei o visitante da América do Norte. O Pastor Mahler era bem conhecido e não precisava ser apresentado. O Pastor Lochner iniciou sua visitação entregando as saudações dos irmãos da América do Norte e a seguir falou em detalhes a respeito de nosso trabalho no Brasil. Finalmente fez as costumeiras perguntas a respeito do trabalho do pastor na congregação. “Divide ele corretamente lei e evangelho?” Nenhuma resposta. “Instrui ele diligentemente as crianças na doutrina cristã?” Nenhuma resposta. Isto, no entanto, não poderia continuar assim, pois o visitante precisaria ter respostas para suas perguntas. Tornou-se mais prático. Dirigiu sua pergunta a respeito de instruir crianças a um homem idoso sentado perto dele. Desta vez ele obteve resposta: “Ik hev keen kinner mehr in de schaul” (“Não tenho mais crianças na escola”). Então ele fez a mesma pergunta a uma pessoa mais jovem. Este respondeu: “Ik hev noch keen kinner in de schaul” (“Eu ainda não tenho crianças na escola”). Os recursos do visitante, porém, ainda não estavam esgotados.

Perguntou se eles haviam estado na igreja num culto de Confirmação e se os confirmandos conseguiam responder. “Sim, sim,” isto haviam escutado.

Após este exame nada intensivo mas muito exaustivo, o visitante sentou-se e não fez mais perguntas. Ele estava liquidado. Seguiu-se um silêncio constrangedor. Finalmente sugeri aos membros da congregação que agradecessem as saudações que o visitante trouxe dos irmãos dos Estados Unidos e que ele também fosse, ao retornar, o portador de nossas saudações a eles. Eles, no entanto, acharam melhor não fazê-lo. Estavam desconfiados de que algo poderia estar atrás de tudo isso. Quando expliquei que se tratava apenas de um gesto de cortesia, assim como também respondemos a saudação de uma pessoa de cor que nos cumprimenta na rua, eles assim mesmo continuaram desconfiados. “Wi willt mit der Synode nix to dohn hebbn” (“Nós não queremos nenhum envolvimento com o Sínodo”). Isto foi demais para nosso visitante. Agora a sua paciência estava esgotada. Colocou as mãos na cabeça e disse: “Nun, wenn Ihr nicht grüssen wollt, dann lasst es bleiben. Adje!” (“Se vocês não querem nem ao menos enviar saudações, então deixem. Tchau!”). Dito isto, ele saiu e nós o seguimos. Este foi o primeiro contato que ele teve com o povo e com o qual nós precisávamos lidar durante os sete dias da semana. Por um bom espaço de tempo ele não conseguiu recuperar sua tranquilidade. Foi preciso que o Pastor Mahler empregasse toda a sua capacidade de persuasão junto ao nosso ilustre visitante para neutralizar o impacto que ele havia sofrido.

“Veja,” assim ouvi o Pastor Mahler falar quando estavam sozinhos, “este povo deseja que lhes anunciemos a Palavra de Deus. Esta manhã eles ouviram atentamente o que você lhes anunciou no sermão. O fato de eles nada quererem com o Sínodo é porque não compreendem do que se trata.”

O povo não entendeu os motivos da visita do Pastor Lochner, por isto lhe deram tal recepção. Mais tarde ouvi uma observação que um membro da congregação fez antes de um culto: “Duesse (Hartmeister) het ju den Strick um den Hals legt, un duesse (Lochner) kuemmt nu un tuet em to” (“Este sujeito (Hartmeister) colocou a corda ao redor de seu pescoço e este outro (Lochner) vem agora para apertá-lo mais ainda”.) Com esta disposição de ânimo dificilmente conseguiriam dar um cordial bem-vindo ao visitante da América do Norte.

A visita ao instituto

O Pastor Lochner também visitou e examinou meu trabalho com os cinco rapazes. Pareceu-me ter ficado com impressão favorável. Também certificou-se das dificuldades com as quais estávamos lutando. Suas palavras de apoio foram: “Hartmeister, Ihnen soll geholfen werden” (Hartmeister, você vai receber auxílio"). Este apoio deu-nos grande ânimo. Quando Lochner e Mahler partiram, estávamos cheios de novas esperanças para nosso Instituto.

A organização do Sínodo

Em junho daquele ano, 1904, o Distrito Brasileiro do Sínodo foi organizado em Rincão São Pedro. A terceira parte da tarde do segundo dia foi quase inteiramente dedicada para discutir assuntos relativos ao Instituto. Um completo relatório foi entregue ao Sínodo sobre as atividades desenvolvidas até então. As dificuldades sob as quais estávamos expostos foram levadas ao conhecimento dos irmãos. Declarei que eu não seria capaz de levar o trabalho avante, no futuro, caso não recebesse auxílio, especialmente financeiro. Providenciar alimentação e parte da vestimenta para cinco rapazes e para uma família de quatro pessoas, com um salário de $400 por ano, não era possível. Cozinhar, lavar e remendar a roupa, estava além das forças físicas da esposa do Pastor que, além disso, precisava cuidar de dois filhos pequenos. Dos $400 nada sobrava para pagar uma auxiliar. Os irmãos ali reunidos estavam dispostos a auxiliar-nos financeiramente, mas cada qual, a duras penas, tinha apenas o suficiente para sua própria família. Todos, igualmente, apenas recebiam $400.


Rev. Louis Lochner, da comissão missionária do Sínodo de Missouri, EUA, que presidiu a solene fundação da IELB em
24/06/1904 em Rincão de São Pedro, por proposta do Rev. John Hartmeister.

O Sínodo deu atenção a nosso pedido e o Pastor Lochner endossou nosso trabalho afetuosamente. O Sínodo aprovou a resolução da Conferência de São Lourenço fixando o Instituto em Bom Jesus. O Sínodo assumiu o Instituto como um projeto seu. Muitas resoluções foram aprovadas pelo Sínodo para nos auxiliar. Todas as congregações receberam esclarecimentos sobre o trabalho do Instituto e foram solicitadas a enviar donativos. Como resultado destes pedidos uma congregação enviou dez mil réis, cerca de 2,50 dólares. Uma outra enviou meio mil réis, cerca de 65 cents. Os representantes das congregações, presentes na Convenção, levantaram ofertas num total de 40$500, mais ao menos dez dólares, para o Instituto. Uma outra resolução pedia que as pastores Vogel e Schulz, de São Lourenço, auxiliassem no Instituto. No entanto esta resolução mostrou- se inteiramente inexequível. Também foi resolvido que a Conferência Noroeste desse início a um trabalho igual. Isto nunca aconteceu. Apenas com resoluções não se constrói nem se mantém faculdades e seminários.

Todas as boas resoluções do Sínodo em Rincão São Pedro não aliviaram nossa situação. Lochner nunca cumpriu a promessa que me havia feito, “Hartmeister, Ihnen soll geholfen werden” (“Hartmeister, você vai receber auxílio”). Foi assim que continuamos levando o trabalho avante tão bem quanto possível, com os meios que tínhamos a disposição. Os rapazes trabalharam arduamente e sofreram conosco. Se não podíamos comprar manteiga para o pão, comíamos banha. Era mais barata. Quando não podíamos pagar ajuda, fazíamos o trabalho nós mesmos. E a maior parte do trabalho braçal recaía sobre minha esposa. Os rapazes ajudavam tão bem quanto possível, mas a maior parte das tarefas somente ela podia fazer.

O fim do começo

Em setembro de 1904 nossa pequena filha faleceu de coqueluche. Isto foi um grande choque para minha esposa e desde aquele acontecimento suas forças, a olhos vistos, começaram a minguar. Ela, porém, deu todas as suas forças pela causa do Instituto até o início de 1905. Então desfaleceu completamente e senti que meu dever era o de dar a ela toda a atenção e cuidado.

Lápide de Rachel Ruth Esther, filha do casal Hartmeister, no Cemitério de Bom Jesus

Enviei os rapazes para casa quando estavam no início de seu segundo ano de estudo, dizendo-lhes que os chamaria de volta tão logo pudéssemos continuar o trabalho. As coisas, porém, foram de mal a pior em nossa família. Não vislumbrei outra solução a não ser voltar aos Estados Unidos, pelo menos por algum tempo, até que minha esposa recuperasse sua saúde. Em maio de 1905 o Pastor Emil Schulz, de São Pedro, tornou-se meu sucessor. De acordo com a resolução do Sínodo ele deveria assumir o trabalho que eu estava fazendo. Ele, porém não o fez. Evidentemente, percebeu que era preciso mais do que os recursos de um homem com um salário de $400 para levar avante o trabalho de nosso Instituto. Foi assim que o Instituto chegou ao fim, pelo menos durante algum tempo.

A segunda Convenção do Sínodo em 1905

A seguinte Convenção do Sínodo teve lugar em Jaguari de 28 de abril a 2 de maio de 1905. Ainda estávamos em Bom Jesus, mas julgamos ser impossível participar deste evento. Além disto, estávamos decididos a voltar aos Estados Unidos. O Sínodo censurou o fechamento do Instituto, mas nada fez para que o trabalho pudesse prosseguir. Assim como as coisas estavam, não podíamos continuar. Diziam que o Instituto era uma “batata quente” e resolveram transferi-lo para Porto Alegre. Consideraram, porém, muito alto o custo da transferência para que fosse realizada imediatamente. Durante dois anos o Instituto permaneceu morto.

Reconhecimento de nosso trabalho

O trabalho que fizemos com os cinco rapazes foi reconhecido. Todos os cinco foram solicitados a prestar auxílio em escolas. O Kirchenblatt de 1 de agosto de 1906, p. 117, escreve a respeito do Instituto: “Aquele começo, embora tenha sido pequeno, já trouxe ricos frutos. Os alunos mais velhos do Instituto em Bom Jesus têm atuação excelente nas escolas onde fomos obrigados a colocá-los premidos pelas circunstâncias” ... (“bewaehren sich vorzueglich in den Schulaemtern, die wir ihnen notgedrungen uebertragen mussten”). Também o Der Lutheraner de St. Louis daquela época escreve a respeito de nosso Instituto: “Parece ser absolutamente necessário continuar com o Instituto de Bom Jesus e sustentá-lo devidamente a fim de que rapazes de lá possam receber formação para atuarem na igreja”.

Dois dos nossos estudantes em Springfield

Embora tenhamos sido forçados a deixar o trabalho no Instituto que tanto amávamos e que dirigimos até não podermos mais continuar, não abandonamos a causa. Dois de nossos rapazes nos enviaram apelos para que os auxiliássemos a virem aos Estados Unidos, a fim de que pudessem concluir seus estudos em alguma de nossas instituições sinodais. Após muitos esforços conseguimos que Flor e Wille ingressassem em nosso Seminário de Springfield, em 1907. Formaram-se após três anos, em 1910. Ambos tornaram-se fiéis e eficientes obreiros em sua terra natal. Foram os primeiros frutos de nossos humildes esforços no Instituto de Bom Jesus.

Seminário Concórdia em Springfield (Illinois, EUA)
A continuação

Uma nova etapa da História do Instituto começou quando abriu suas portas em Porto Alegre. Mas mesmo ali, desde o início, o trabalho foi cercado de muitas dificuldades. Em 1 de fevereiro de 1907, o Kirchenblatt anunciou a abertura do Instituto em Porto Alegre para quarta-feira, 10 de abril. Foi alugado um prédio conveniente, chamado um segundo pastor para a congregação de Porto Alegre e uma senhora foi contratada para a cozinha. O Pastor Mahler passou a dirigira instituição assistido pelo Pastor Wegehaupt. Tudo estava pronto para cumprir-se a resolução do Sínodo de Jaguari em 1905 a respeito da transferência do Instituto de Bom Jesus para Porto Alegre. No entanto, em 15 de abril de 1907 o Kirchenblatt trouxe uma nota anunciando que a abertura do Instituto fora adiada porque não haviam chegado alunos. Finalmente, em 1 de maio de 1907, o trabalho começou com quatro rapazes, dois de São Lourenço.

Seminário Concórdia em Porto Alegre (1909)
Já então foram tomadas providências para um melhor apoio financeiro. Cada estudante devia pagar 25 mil réis mensais para a pensão. O Kirchenblatt publicou um veemente pedido por auxílio, escrito pelo Pastor Wegehaupt que naquela data era o administrador da escola. A conferência pastoral de 6 abril instituiu um fundo especial para estudantes necessitados. Começaram a vir contribuições de muitos lugares, como demonstram os recibos publicados pelo Kirchenblatt.

O Instituto em Bom Jesus também conseguiu, indiretamente, que a causa da educação ficasse favoravelmente conhecida em toda a colônia de São Lourenço. Isto é provado pelo fato de oito dos primeiros estudantes em Porto Alegre terem vindo de São Lourenço.

Após o Instituto haver sido transferido para Porto Alegre o seu sustento e o dos estudantes vinha com mais naturalidade, embora ainda não de modo suficiente. Em 1908 foi anunciado um déficit na caixa dos estudantes no valor de 390 mil réis embora 2610 mil réis houvessem sido contribuídos por pessoas e congregações. O Sínodo da América do Norte também prometeu pagar o aluguel do alojamento dos rapazes e para dois professores no valor de 200 mil réis por mês.

O Pastor Wegehaupt foi então escolhido como professor e diretor do Instituto. No Sínodo em Sítio (Vila Progresso), de 13 a 18 de janeiro de 1908, o nome foi mudado de Instituto para Seminário Concórdia. Com o honroso nome “Concórdia” o nosso, antes humilde “Instituto”, juntou-se à honrosa linha dos muitos "Concórdia" do Sínodo. Com um nome diferente, num local diferente e com o apoio decisivo do Sínodo, o anterior “Instituto para Treinamento de Professores e Pastores” cresceu e floresceu. O grão de mostarda tornou-se uma árvore. A Deus seja toda a honra e glória.

John Hartmeister

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