26/01/2019

26 de janeiro - São Tito, Pastor e Confessor


São Tito, assim como Timóteo com o qual é associado com frequência, era amigo e companheiro de trabalho de São Paulo. Tito era um gentio, talvez natural de Antioquia, que acompanhou Paulo e Barnabé a Jerusalém quando eles trouxeram ajuda aos cristãos na Judeia durante uma fome (At 11.29-30, Gl 2.1). Não sabemos se Tito acompanhou Paulo em sua primeira ou segunda jornada missionária, mas estava com ele na terceira, quando ajudou a reconciliar os coríntios com Paulo (2 Co 7.6-7) e participou na coleta para a Igreja em Jerusalém (2 Co 8.3-6). Provavelmente foi no retorno a Jerusalém que Paulo deixou Tito em Creta (Tt 1.4-5). Posteriormente, ele foi trabalhar na Dalmácia (2 Tm 4.10). De acordo com a tradição, Tito voltou para Creta, onde serviu como bispo até sua morte por volta de 96 d.C.

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-Poderoso Deus, tu chamaste Tito para a tarefa de pastor e mestre. Torna todos os pastores do teu rebanho diligentes na pregação da tua santa Palavra para que o mundo inteiro possa conhecer as riquezas imensuráveis de nosso Salvador, Jesus Cristo, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House, 2008. p. 1154-1155)

Imagem: O Apóstolo Paulo instalando Tito em Gortina como primeiro bispo de Creta (por Claudios Noulanis, 2008)

25/01/2019

25 de janeiro - A Conversão de São Paulo



A experiência da conversão de São Paulo no caminho para Damasco é narrada três vezes no livro de Atos (9.1-9; 22.6-11; 26.12-18). Sendo um grande inimigo dos cristãos, Saulo de Tarso partiu para Damasco para prender e trazer fiéis a Jerusalém para julgamento. Quando estava no caminho, viu uma luz ofuscante e ouviu as palavras: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Saulo perguntou: “Quem és tu, Senhor?” A resposta veio: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues.” Em Damasco, onde Saulo foi levado depois de ficar cego, um discípulo chamado Ananias foi dirigido pelo Senhor em uma visão até Saulo para restaurar sua visão: “Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” (Atos 9.15). Depois de recobrar a visão, Saulo foi batizado e tornou-se conhecido como Paulo, o grande apóstolo.

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso Deus, tu transformaste o coração daquele que perseguia a Igreja e por sua pregação fizeste a luz do Evangelho brilhar em todo o mundo. Concede-nos sempre regozijar-se na luz salvadora de teu Evangelho e, seguindo o exemplo do apóstolo Paulo, espalhá-lo até os confins da terra; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House, 2008. p. 1151-1152)

Imagem: "A Conversão de São Paulo" (c. 1525), Benvenuto Tisi ou Il Garofalo (1481-1559)

24/01/2019

São Timóteo, Pastor e Confessor



"Amados, hoje nós celebramos a comemoração de São Timóteo. Ele nasceu em Listra (Atos 16.2); seu pai era pagão, mas sua mãe, Eunice, nascida israelita, tinha aceitado a fé cristã e entregado seu filho Timóteo para ser criado por sua mãe Loide que também era cristã. Então Timóteo aprendeu o catecismo de sua avó. Vejam queridos pais, que instrução diligente das crianças podem fazer! Visto que ele era um bom, excelente pensador, São Paulo o aceitou como seu colega ou capelão, e visto que ele se aprimorava a cada dia, Paulo finalmente o ordenou como bispo de Éfeso, onde também foi morto pelos pagãos furiosos. São Paulo o amava muito, o que podemos ver a partir de ambas as epístolas que lhe escreveu. Em 1 Timóteo 1.2, ele o chama de seu querido filho na fé. A partir dessas duas epístolas, muitas passagens brilham como as estrelas do céu:

- 1 Timóteo 1.5: “O fim do mandamento é a caridade de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida.”

- 1 Timóteo 1.15: “Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores.”

- 2 Timóteo 3.12: “Na verdade, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.”

- 2 Timóteo 3.16-17: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja competente, capacitado para toda boa obra.”

Visto que São Paulo e São Timóteo eram estimados amigos, foram colocados lado a lado no calendário e também no dia de São Timóteo, o Evangelho de João 15.9-16 é lido, o qual fala de amor e amizade puros."

- Valerius Herberger (1562 - 1627), teólogo luterano e pastor na igreja paroquial de Santa Maria, em Fraustadt, Silésia (atual Wschowa, na Polônia)

Imagem: Vitral produzido por H. Hughes (c. 1876), na St. Mildred's Church (Tenterden, Reino Unido)

24 de janeiro - São Timóteo, Pastor e Confessor


São Timóteo tinha cristãos em sua família. Sua mãe Eunice era uma mulher cristã e também era a filha de uma mulher cristã chamada Loide (2 Timóteo 1.5). O Livro de Atos dos Apóstolos relata que São Paulo encontrou Timóteo em sua segunda viagem missionária e queria que Timóteo continuasse com ele (16.1-3). Com o tempo, Timóteo se tornou um querido amigo e colaborador próximo do santo apóstolo, a quem Paulo confiou o trabalho missionário na Grécia e Ásia Menor. Timóteo também foi a Roma juntamente com Paulo. Segundo a tradição, após a morte de Paulo, Timóteo foi a Éfeso onde atuou como bispo e foi martirizado por volta do ano 97. Timóteo é mais lembrado como um fiel companheiro de Paulo, que prestou um grande serviço entre as igrejas gentílicas.

ORAÇÃO DO DIA:

Senhor Jesus Cristo, tu sempre tem dado à tua Igreja na terra pastores fiéis como Timóteo, para guiar e alimentar o teu rebanho. Faze todos os pastores diligentes na pregação de tua santa Palavra e administração de teus meios da graça, e concede sabedoria ao teu povo para seguir o caminho que conduz à vida eterna; pois tu vives e reinas com o Pai e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House, 2008. p. 1148)

Imagem: Mosaico de Eunice instruindo Timóteo, por Antonio Salviati de Veneza (1870), na Capela do Gonville and Caius College (Cambridge, Reino Unido)

20/01/2019

Segundo Domingo após Epifania (Ano C)

 


A glória divina se manifesta nos sinais de Cristo

Ao transformar água em vinho nas bodas de Caná, “Jesus deu início a seus sinais”. Ali “ele manifestou a sua glória” (Jo 2.11), sinalizando que em breve também seria “chegada a hora de ser glorificado” ao ser levantado na cruz para perdão dos pecados e para dar vida ao mundo (Jo 2.4; 12.23-32). A glória da cruz é incompreensível fora da Palavra e do Espírito de Deus, mas os discípulos de Jesus reconhecem a glória nos sinais do seu Evangelho, e assim creem nele. Jesus não espera que seus discípulos o descubram por conta própria, mas ele mesmo busca os abandonados e os arrasados e os une consigo. Ele os adorna com sua própria beleza e se alegra com eles “como o noivo se alegra com a noiva” (Is 62.4-5). Purificados pela lavagem da água com sua Palavra no Santo Batismo, seus discípulos confessam que “Jesus é Senhor”, e rendem graças a Ele “pelo Espírito Santo” (1 Co 12.3) enquanto bebem o bom vinho que ele derramou por eles, que é o novo testamento no seu sangue. — Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod)

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso e eterno Deus, que governas todas as coisas nos céus e na terra, com misericórdia escuta as orações do teu povo e concede-nos a tua paz durante todos os nossos dias; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém. —Oração do Dia (Culto Luterano: lecionários)

Imagem: Bodas de Caná, por Andrea Boscoli (1580-85)

18/01/2019

A Confissão de São Pedro


“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. Também: “Dar-te-ei as chaves”. Igualmente: “Apascenta as minhas ovelhas”. [...] Em todas essas passagens, Pedro é o representante de todo o grupo dos apóstolos, conforme se evidencia do próprio texto. Pois Cristo não interroga somente a Pedro, mas diz: “Vós, quem dizeis que eu sou?” E o que aqui é dito no número singular – “Dar-te-ei as chaves”, “o que ligares” -, em outro lugar é dito no plural: “O que ligardes, etc.” E em João: “Aqueles a quem perdoardes os pecados, etc.” Atestam essas palavras que as chaves são dadas igualmente a todos os apóstolos, e que todos os apóstolos são enviados igualmente. Além disso, é necessário reconhecer que as chaves não pertencem à pessoa de determinado homem, porém à igreja, conforme atestam muitos argumentos claríssimos e firmíssimos. Pois Cristo, falando das chaves, Mateus 18, acrescenta: “Onde quer que dois ou três concordem na terra, etc.” De sorte que atribui as chaves principal e imediatamente à igreja, assim como também por essa razão a igreja principalmente tem o direito de chamar. É necessário, por isso, que nessas passagens Pedro seja o representante de todo o grupo dos apóstolos. Razão por que não atribuem a Pedro qualquer prerrogativa, ou superioridade, ou domínio.

Mas quanto à declaração: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja”, por certo que a igreja não foi edificada sobre a autoridade do homem, porém sobre o ministério daquela profissão que Pedro fez, na qual proclama que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. De sorte que se endereça a ele como ministro: “Sobre esta pedra”, isto é, sobre este ministério. Ora, o ministério do Novo Testamento não está preso a lugares e pessoas como o ministério levítico, porém está disperso pelo mundo inteiro e está onde Deus dá os seus dons, apóstolos, profetas, pastores, doutores. E esse ministério não vela por causa da autoridade de qualquer pessoa, mas por causa da palavra dada por Cristo. E a maioria dos santos Pais, como Orígenes, Ambrósio, Cipriano, Hilário, Beda, interpretam a sentença “sobre esta pedra” desse modo, não como referente à pessoa ou à superioridade de Pedro. Assim diz Crisóstomo: “‘Sobre esta pedra’, diz ele, não ‘sobre Pedro’. Pois edificou sua igreja não sobre o homem, mas sobre a fé de Pedro. Mas qual foi a fé? Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Hilário: “A Pedro revelou o Pai que dissesse: Tu és o Filho do Deus vivo. A edificação da igreja é, portanto, sobre a pedra dessa confissão. Essa fé é o fundamento da igreja”.

- As Confissões Luteranas (Tractatus de Potestate et Primatu Papae, 1537)

18 de janeiro - A Confissão de São Pedro


A confissão de São Pedro não originou da imaginação de Pedro, mas lhe foi revelada pelo Pai. A razão pela qual essa confissão é importante é vista na resposta de Jesus: “Tu és Pedro [grego Petros], e sobre esta pedra [grego petra] edificarei a minha igreja” (Mateus 16.18). Assim como o povo de Deus no Antigo Testamento começou com a pessoa de Abraão, a rocha da qual o povo de Deus foi talhado (Isaías 51.1-2 ), assim também o povo de Deus no Novo Testamento começaria com a pessoa de Pedro, cuja confissão é a rocha sobre a qual Cristo iria construir sua Igreja. Mas Pedro não estava sozinho (as "chaves" dadas a ele em Mateus 16.19 foram dadas a todos os discípulos em Mateus 18.18 e João 20.21-23). Como nos diz São Paulo, Pedro e os outros apóstolos tomam o seu lugar com os profetas como o fundamento da Igreja, com o próprio Cristo como a pedra angular (Efésios 2.20). A confissão de Pedro, portanto, é o testemunho de todo o grupo apostólico e é fundamental na construção da Igreja de Cristo. Assim, a Igreja dá graças a Deus por São Pedro e os outros apóstolos que instruíram a Santa Igreja de Cristo em sua divina e salvadora verdade.

ORAÇÃO DO DIA:

Pai celestial, tu revelastes ao apóstolo Pedro a bendita verdade que teu Filho Jesus é o Cristo. Fortalece-nos pela proclamação desta verdade para que também nós possamos alegremente confessar que não há salvação em nenhum outro; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House, 2008. p. 1129)

Imagem: Jesus dá a chave do céu para Pedro, por Pieter Paul Rubens (1614)

13/01/2019

Meditação de Lutero sobre a Festa do Batismo de Nosso Senhor



"Aprendam a ter esta festa em alta estima. O fato de Cristo ter-se revelado aos magos por meio de uma estrela foi, sem dúvida, uma grande revelação; mas essa aqui é muito maior. Estes são os verdadeiros três reis: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, que se fazem presentes por ocasião do batismo de Cristo. Se fosse de sua vontade, essa revelação poderia ter acontecido no deserto ou no templo de Jerusalém. Mas, tinha de acontecer por ocasião do batismo, para o nosso ensino, para que tenhamos o batismo em alta conta, e, uma vez que somos batizados, nos consideremos pessoas que foram transformadas, sim, recriadas em santos.

Assim, essa revelação supera em muito aquela outra, pois a estrela apareceu somente aos magos. Agora, da presente revelação todos os cristãos têm necessidade, enquanto que naquele caso apenas alguns gentios tiraram proveito da mesma. Por isso, essa festa deveria, com toda razão ter o nome de festa do batismo de Cristo e ser chamada “o dia em que Cristo foi batizado”.
 
Por isso, vocês devem aprender e notar bem como nesse dia Deus se revelou, fazendo uma bela pregação a respeito de seu Filho: que ele tem prazer em tudo o que Filho diz e faz. Pois quem segue o Filho e vive segundo sua palavra, esse também será seu filho amado e terá o Espírito Santo, que também se manifestou por ocasião do batismo de Cristo numa forma bonita, amável e pacífica. Assim, também o Pai se fez ouvir de forma muito amável, dizendo: Aqui vocês têm, não um anjo, um profeta ou apóstolo, mas meu Filho e a mim pessoalmente. Que revelação maior poderia Deus Ter feito de si mesmo? E que melhor serviço poderíamos prestar-lhe senão dar ouvidos a seu Filho, nosso Salvador, e atendo-nos ao que este nos prega e ordena? Quem, porém, não quiser dar-lhe ouvidos e segui-lo para sua salvação, este pode muito bem dar ouvidos ao apóstolo do diabo para sua condenação eterna. Por isso, agradeçamos a Deus por esta graça e peçamos que nos conserve nesta fé e nos salve. Amém. "
 
— Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja

Fonte: Castelo Forte: Devoções Diárias 1983. 08/01. (São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1983)

O Batismo de Nosso Senhor - Primeiro Domingo após Epifania (Ano C)



Isaías 43.1-7
Romanos 6.1-11
Lucas 3.15-22

No Santo Batismo o Deus Triúno abre o céu para você

O batismo de Nosso Senhor é uma “Epifania” do único e verdadeiro Deus na carne e no sangue de Jesus Cristo. Em divina misericórdia, ele toma o seu lugar com pecadores e leva seus pecados sobre si. “Ao ser todo o povo batizado”, Jesus também se submeteu a um batismo de arrependimento para o perdão dos pecados (Lc 3.21). Ele não tinha pecados, mas levou os pecados do mundo sobre si e assim foi batizado em sua própria morte. Portanto, “quando você passar pelas águas”, ele está contigo (Is 43.2). Ele o criou para sua glória e te resgatou com seu sangue para que você pertença a ele e viva com ele em seu Reino (Is 43.1, 7). Ao ser batizado com um batismo como o dele, você também está unido a ele em sua morte e ressurreição para que “andemos em novidade de vida” (Rm 6.4). Pois todos os que são batizados em Cristo recebem a sua unção do Espírito Santo e são nomeados pelo Pai como filhos e filhas amados que lhe dão muita alegria. — Lectionary Summaries (The Lutheran Church—Missouri Synod)

ORAÇÃO DO DIA:

Pai dos céus, ao ser batizado no Rio Jordão Jesus foi proclamado teu Filho amado e ungido com o Espírito Santo. Faze com que todos os batizados em teu nome sejam fiéis ao seu chamado como teus filhos e herdeiros com ele da vida eterna; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Imagem: O Batismo de Cristo, por Antoine Coypel (c. 1690)

12/01/2019

John Hartmeister: Semeando o Grão de Mostarda

Em 1993 foi publicado na revista Igreja Luterana (nº 2, pág. 126-139) o texto integral do Rev. John Hartmeister sobre a criação do Seminário Concórdia. O texto original havia sido publicado em duas partes: a primeira parte foi publicada no Mensageiro Luterano, ano 36 (1): 2-4, jan 1951 e (2): 11-12, fev 1951. A segunda parte, que inicia com o subtítulo “Visita à nossa missão”, foi traduzida do inglês pelo Prof. Christiano J. Steyer.)

O Rev. John Hartmeister foi fundador, professor e diretor do Instituto de Bom Jesus (São Lourenço, RS), o embrião do Seminário Concórdia.

Semeando o Grão de Mostarda

Rev. John Hartmeister

De quando se resolve começar

O desejo de formar um ministério autóctone no Brasil veio conosco desde o Seminário em St. Louis. Diante de nós tínhamos o exemplo dos pais em Perry County, no Missuri. A maioria dentre nós havia visto a veneranda cabana de pau roliço em Altenburg, que se achava então num pasto e se nos apontava como o primeiro ginásio do Sínodo de Missuri. Da história eclesiástica, sob A. L. Graebner, aprendêramos pelo exemplo dos Suecos do Deleware que a Igreja sem ministério autóctone está fadada a extinguir-se.

Cabana de madeira do Concordia Seminary, em Altenburg, no condado de Perry, Missouri (EUA). Imagem: CTSFW Media resources.

Chegáramos ao Brasil com o propósito de plantar a Igreja da doutrina pura. Se é que a nossa obra se devesse coroar de êxito, necessário nos era possuir uma escola para formação de obreiros nativos da Igreja.

Rev. J. Hartmeister (sentado) e seus colegas Adolph August Vogel e Henry Stiemke em viagem de navio dos Estados Unidos ao Brasil em 1901. Foto: Acervo Casa Hartmeister.

Um periódico local (Der Bote von São Lourenço) trouxe a comunicação, datada em 26 de abril de 1903 e assinada por J. Hartmeister, que a Conferência Pastoral de São Lourenço, em sua reunião, de 20 a 22 de abril de 1903, havia considerado o assunto pertinente ao preparo de um ministério autóctone para a Igreja Luterana do Brasil. Fora deliberado iniciar a obra em Bom Jesus. Foram membros desta conferência: F. Brandt de Morro Redondo, R. Mueller de São Pedro, H. Stiemke de Santa Eulália, A. Vogel de Santa Coleta e J. Hartmeister de Bom Jesus. Também assistira à conferência o pastor W. Mahler de Porto Alegre, diretor de nossa missão no Brasil. A mesma durou de segunda a quarta-feira, 20 a 22 de abril de 1903. O pastor Mahler demorou-se ainda depois da conferência e pregou em Bom Jesus no domingo seguinte, 26 de abril de 1903, por ocasião da primeira festa missionária aí realizada. Depois do culto, apresentou à congregação em Bom Jesus a resolução da conferência e obteve o seu consentimento ao nosso projeto. Desta transação todavia não se guardaram minutas por escrito.

Rev. J. Hartmeister (esq.) sendo instalado na Igreja de Bom Jesus pelo Rev. Carl Wilhelm G. Mahler (dir.) em 22 de dezembro de 1901.

As dificuldades despontam

Por volta de 22 de julho de 1903, 1.800 tijolos haviam sido comprados ao preço de 63 mil réis (valor aproximado de 320 cruzeiros atuais), todavia ainda não arrumados. Antes de se colocarem os tijolos, deu-se um fato que ameaçou pôr termo a todo o nosso projeto. Passarei a narrá-lo segundo me veio ao conhecimento.

Numa tarde de domingo, minha esposa e eu nos achávamos sentados em nossa cozinha agradavelmente confortável, diante de uma xícara de café. Eis quando percebemos um grupo de gente nossa reunindo-se na estrada no ângulo em que ficava a nossa Igreja. Sugeri que possivelmente estariam promovendo alguma venda de cavalos. Tão pouco sabíamos dos motivos reais daquele ajuntamento. Transcorrido um bom tempo, dois membros da diretoria da comunidade penetraram em nossa cozinha com uma expressão mais de acanhamento nos semblantes. Podíamos ver que na sua mente havia qualquer cousa, contudo não nos mostrávamos ansiosos em descobrir o que seria. Oferecemos-lhes café e bolo, porém declinaram e nada disseram. Por minha vez mantive-me também em silêncio e nenhuma pergunta lhes fiz. Foi um momento embaraçoso, mais para eles que para nós, porque estávamos de consciência tranquila. Finalmente um dos homens saiu-se num rompante:

— A congregação não quer que o senhor construa.
Falei: — Construir o quê?
— Bem, isto para que o senhor tem aí os tijolos.
— Por quê? - disse eu - A congregação permitiu esta construção por ocasião da sessão quando aqui esteve o pastor Mahler.
— Mudaram de ideia; agora não o querem.

Não adiantava querer argumentar com estes homens; haviam sido mandados pelo povo na estrada junto à Igreja. Procurei falar ao grupo; porém quando estava pronto para ir ter com eles, já se haviam dispersado. Disse aos dois homens que permanecia na resolução da congregação e levaria avante a construção. A reunião na estrada não constituía reunião legítima da congregação, e eu não lhe reconheceria a demanda. Eles partiram.

Torna corpo a excitação

A excitação no seio da congregação, porém, continuava tomando vulto. O homem que eu contratara para colocar os tijolos recusou trabalhar. À noitinha no dia seguinte ouvimos muitos cavalheiros passarem montados por nosso sítio. Na outra manhã saberíamos o que vinha a ser aquilo. Praticamente o mesmo grupo que domingo à tarde se congregara na estrada na curva em que ficava a igreja reunira-se naquela noite de segunda-feira em casa de um colono. Tornaram a vir aqueles dois mesmos membros da diretoria (o terceiro membro da diretoria da congregação não simpatizava com o grupo e não tomou parte no seu empreendimento) e apresentaram uma folha contendo nomes, com a explicação de que todos aqueles homens se opunham à construção. Caso persistisse em prosseguir, teria de sair dentro de três meses. Era a minha resignação pelo que lhes dizia respeito. (Exigia uma lei tácita que a congregação permitisse ao pastor ou professor três meses de prazo para procura de outro lugar, quando o quisessem despedir; e do pregador ou professor se exigia igualmente que permitisse à congregação o mesmo prazo de graça para procura de outro homem). Compreendi que a situação se fizera perigosíssima. Todavia não permiti que me dominasse a excitação por causa disto. Disse novamente aos homens que a reunião não era legal e que a sua petição não era petição em absoluto.

Percorrendo com os olhos a sua lista de nomes, descobri que apenas a metade dos membros da congregação aproximadamente se achava naquela lista. Descobri ainda que alguns daqueles nomes eram espúrios. Ao perguntar aos homens: — Esteve este na reunião? - Disseram: — Não, mas sabemos que se opõe à construção. Podia ser que fosse verdade, todavia o fato de haverem escrito o seu nome na petição tornou nula toda aquela lista de nomes.

Fiz então uma proposta àquela comissão.

— Não desistirei deste projeto nem irei dentro de três meses. Porém isto farei: convocarei uma assembleia regular de toda a congregação, e aí vamos discutir o assunto. E o que então decidir a congregação, a isto me aterei. Isto pareceu plausível, e eles se tranquilizaram.

Enquanto Emílio Wille (agora pastor naquela mesma congregação, em 1947) se punha a caminho em busca dos membros da Conferência de São Lourenço com o fim de os convocar para uma reunião de emergência no domingo seguinte, eu em casa me estafava em descobrir a razão ou causa de toda aquela excitação na comunidade. Fui ter com o colono em cuja residência se realizara a reunião de protesto na noite de segunda-feira.

Era o cabeça da oposição. Aqui vim saber que pessoas de fora haviam prevenido a nossa gente para que não nos permitissem construção em seu terreno. Pois, se o fizessem nós poríamos a mão no seu terreno e o tomaríamos para nós. (Era a reputação em que ao tempo eram tidos os americanos do norte no Brasil). Uma ideia destas era, naturalmente, ridícula, contudo criara todos aqueles distúrbios.

Não procurei desmenti-lo ou convencê-los do contrário. Vali-me daquilo para torná-los partícipes do empreendimento. Argumentei: Se era assim como diziam, a melhor maneira então seria para eles fazerem mesmos a construção, e jamais requisitaríamos qualquer de suas propriedades. O cabeça aceitou a proposta, e eu a guardei de reserva para a reunião que fora marcada para o domingo próximo.

Foi uma semana de grande agitação para nós. Quinta, nasceu-nos o segundo filho; sábado, chegaram os irmãos da conferencia e havia que lhes dar de comer e os alojar num só quarto, porquanto minha esposa e o nenê se achavam no outro quarto. Tínhamos em nossa casa apenas dois quartos. Um dos irmãos concordou amavelmente em pregar para mim no domingo de manhã. Depois do culto, realizou-se a assembleia da congregação, não na igreja, mas no espaço entre a casa e a cozinha. Eu me achava de pé sobre a escada da casa para anunciar a finalidade daquela reunião. No momento em que mencionei “construção”, deu-se o pandemônio. Alguns gritaram: “Não se construirá!”; outros: “Há de se construir!” (Em dialeto germânico: “Et schall nicht bugt warn!”; “Et schall doch bugt warn!”). Não me foi possível intercalar uma palavra sequer. Deixei, pois, que gritassem durante algum tempo. De dois em dois agarraram-se pela lapela do casaco e berraram a sua opinião cada qual nos ouvidos do outro. Um berrava a favor da construção, outro contra. Um jovem alegou a presença de um velho na assembleia. (Era costume que só os que possuíssem terras tinham direito de voto. Os velhos que houvessem passado para os filhos as suas terras já não tinham direitos congregacionais). Aquele velho justificou a sua presença alegando que substituía o filho, que não pudera estar presente, e permitiram-lhe que ficasse.

Vitória ganha

Seguindo-se uma pausa, pedi-lhes que me ouvissem. Expliquei-lhes de novo o nosso projeto e me reportei à resolução da congregação em presença de Mahler. A seguir mencionei os distúrbios recentes e as suas razões aduzidas e, em conclusão, saí com a solução sugerida. Eu restringira tanto o custo líquido do material para a construção de uma só peça que poderiam facilmente custeá-lo. Orçava em 5 mil réis por membro.

Assumindo as despesas, a construção proposta se tornaria propriedade deles, e ninguém lha poderia tirar.

Quando se lhes pediu a sua opinião, os amigos de nosso projeto puseram-se a persuadir os outros a que votassem a favor.

Sue, Gustav, dat koent wi wol dohn; dat is jo nich vael. (“Vês, Gustavo, bem que o podemos fazer; pois não é muito”).

Novamente se havia estabelecido na congregação a paz e harmonia. Para ter certeza para o futuro, perguntei a alguns da oposição se pagariam a sua quota chegada que fosse a hora do pagamento. Cada um asseverou que pagaria se o fizessem os outros.

Todavia, quando chegou a hora do pagamento, houve um nózinho. Era de regra que cada membro pagasse de acordo com o tamanho de sua colônia. Se possuísse um lote ou meio lote pagaria uma quota parte. Se possuísse dois lotes, pagaria o dobro do montante de uma quota parte, e se possuísse três lotes, pagaria o triplo do montante. (Lote era um pedaço de terra de 220 por 2.200 metros, com a parte estreita da colônia para a estrada).

Ora, sucedeu que o homem com três lotes esteve a favor da construção. Todavia, quando chegada a hora do pagamento, resolveu pagar simplesmente uma quota parte, uma vez que não eram gastos regulares da congregação. Os outros contudo insistiram em que devia pagar três vezes o montante que pagara. Foi preciso usar de finura e tato para o levar a pagar a sua quota proporcional, mas finalmente o fez. Somente um membro do sexo feminino recusou terminantemente a pagar a sua quota. Em vista disto também alguns homens se recusaram.

Eu lhes falei: “Senhores, então vão permitir que uma mulher os retenha de fazer o que prometeram fazer? Se esta mulher não quer pagar, deixemo-la em paz; dispomos de recursos para lhe dar esta quantia. - Isto deu resultado. Todos pagaram, à exceção daquela mulher.

Um monumento

Trinta e três anos mais tarde, foi pela congregação erigido um monumento de granito naquele mesmo ponto junto à igreja em que se realizou aquela primeira reunião de protesto. O monumento mede aproximadamente 12 pés de altura. Foi inaugurado no dia 8 de março de 1936, quando em Bom Jesus se realizou uma convenção sinodal. O prof. Paul Schelp de Porto Alegre proferiu a alocução inaugural e fez a oração de inauguração.

Traz o monumento a seguinte inscrição: “Denkstein zur Gruendung dez Konkordia Seminars der Evangelisch-Lutherischen Synod von Brasilien 1903. Gott zur Ehre, der Kirche zum Heil.” (“Monumento comemorativo da Fundação do Seminário Concórdia do Sínodo Evangélico Luterano do Brasil, 1903. Para honra de Deus e para o bem da Igreja”).

O trabalho de gravação no monumento foi feito por um austríaco de nome Auer. Fora ele um católico, mas em Solidez converteu-se ao luteranismo. Fez o favor em gratidão pela paz de espírito que encontrara na Igreja Luterana por meio de nossa missão.

A construção ultimada

Voltamos para 1903. Depois que a congregação reconsentiu na obra, não nos demoramos a começar. O livro de jubileu Fuenfundzwanzig Jahre unter dem Suedlichen Kreuz apresenta à página 83 uma fotografia do quarto que construímos para os nossos rapazes. Ocupava uma extremidade de um galpão ou celeiro. Na armação do edifício estavam metidos os tijolos. Dispunha de uma janela. A porta que dava acesso ao quarto achava-se no interior do celeiro. Junto à janela havia para os rapazes uma mesa comprida onde trabalhar e estudar. Um banco fazia as vezes de cadeiras. Na parte traseira do quarto ficavam as acomodações de dormir, camas fixas com guardas, sobrepostas, como os leitos nos navios. Nas paredes havia espaço para as suas roupas de trabalho e debaixo das camas para os seus baús e arcas. Um lampião a querosene fornecia a luz. Não sabíamos ao tempo de nenhuma outra fonte de luz. O quarto não era rebocado nem provido de aquecimento algum. Dias houve na estação mais fria em que não era possível aos rapazes trabalhar e estudar aí. Vinham então à nossa cozinha, onde também tomavam conosco sempre as suas refeições.

Réplica do galpão de alojamento dos estudantes do Instituto em Bom Jesus. Acervo: Casa Hartmeister


Abre-se a escola

Na tarde do dia 27 de outubro de 1903 iniciou-se o trabalho com três rapazes: Emílio Wille, de uma congregação vizinha; Henrique Drews e Evaldo Hirschmann, de nossa primeira congregação em São Pedro, ambos ainda não confirmados, mas contando quinze anos de idade. Foram confirmados no ano seguinte em sua congregação de origem pelo seu próprio pastor. Semanas depois chegou Franz Hoffmann de Santa Coleta. O último estudante chegou a 2 de março de 1904, provindo do nordeste, onde fora assistente do pastor H. Wittrock, dirigindo uma escola em Osório. Adolfo Flor principiou a sua longa jornada em janeiro. Viajou a pé, a cavalo e de vapor.

Nosso quartinho estava agora superlotado, contudo o serviço prosseguiu a despeito das dificuldades. O retrato destes primeiros achava-se estampado no livro Fuenfundzwanzig Jahre unter dem Suedlichen Kreuz, à página 88. (Presentemente, 1947, apenas um deles, Emílio Wille, continua ativo como pastor de congregação em Bom Jesus. H. Drews não concluiu os seus estudos, Flor faleceu em Maratá há muitos anos atrás, Franz Hoffmann aposentou-se e Evaldo Hirschmann entrou também para a Igreja Triunfante).

Galpão para alojamento dos alunos e Rev. Hartmeister com os cinco alunos que iniciaram o Instituto (1903)
O trabalho no instituto

O trabalho no Instituo principiou apenas alguns dias antes da publicação do Ev. Luth. Kirchenblatt fuer Suedamerika. É evidente que as páginas deste jornal fossem frequentemente usadas para chamar a atenção de nossa gente para a causa de nossa escola. Dois artigos foram publicados pouco depois de começado o trabalho. Num terceiro descreve-se a rotina diária no Instituto. Encontramos este artigo no nº 23 do vol. I, pág. 180, 1º de outubro, 1904. O trabalho progredira então por um ano mais ou menos. Citamos em tradução:

“A viagem de nossa estação de Pelotas dura aproximadamente dia e meio. Primeiro a estrada atravessa baixas esplanadas onde há muitas rezes pastando. Nossa Colônia São Lourenço fica situada na área revestida de matas. Em alguns pontos a estrada atravessa a floresta. Esta colônia de alemães foi estabelecida há mais ou menos 40 anos. Nosso destino é a colônia chamada Bom Jesus, ainda chamada também Estrada Velha ou Pommernstrasse. Todos aqui, à exceção de um só, vieram da Pomerânia e falam o baixo alemão.
Capela em Bom Jesus, local de aulas do Instituto
 “A igreja em Bom Jesus, que também serve de escola para as crianças da congregação e de sala de aulas para o nosso Instituto, é de alvenaria, estucada por fora com cimento e na parte interna com barro e caiada. Cinco janelas em cada lado permitem a entrada de luz. A parte superior das janelas é arqueada e revestida de vidraça colorida. A igreja ocupa o ponto mais alto na vizinhança, sendo que o terreno se estende em declive em todas as direções.

“A retaguarda da igreja para as bandas do Leste fica o cemitério, a Oeste o presbitério e um pomar de pêssegos. O panorama à distância por sobre campos e matas é belo, especialmente quando uma espessa névoa cobre os vales mais baixos.

“A cerca de quarenta metros do presbitério fica o quarto dos rapazes, onde estudam e dormem. As suas refeições a tomam à mesa do pastor na cozinha. São preparadas pela esposa do pastor com a ajuda de um dos rapazes. Os outros quatro trabalham de manhã na lavoura. A principal hora de estudo vem depois da ceia. As noites são em geral frescas e muito apropriadas para estudo bem como para descansar e dormir.

“O sol nascente encontra-nos em geral à mesa do desjejum. Cada um dos 5 rapazes tem sua tarefa a realizar: mungir duas vacas, dar de comer às galinhas, carregar água de um poço 400 metros mais ou menos distante da casa, partir lenha, varrer o pátio, etc. Após o café matinal e a ceia fazem-se as devoções diárias. Às sete chegam as crianças para a escola. Durante as horas da manhã o pastor está ocupado na escola com as crianças até 11 h ou 11h30min aproximadamente.

“O tempo entre o almoço e 14h30min é empregado pelos rapazes para repassar as lições e repousar. Às 14h30min começa o trabalho com a classe. Segue-se rigidamente um plano de estudo. Segundas, quartas e sextas, principiamos nosso trabalho com uma lição de Catecismo; as terças, quintas e sábados são dedicados às Histórias Bíblicas. Desta forma o trabalho de cada dia é iniciado com religião. Todo o Catecismo Menor foi decorado, também todos os versículos na parte de Schwan e quinze hinos e seis salmos. No segundo ano começamos com o estudo da Confissão de Augsburgo, que estava contida atrás no hinário alemão.

“Três horas na semana eram reservadas para a aritmética. Os problemas e as regras eram explicadas num pequeno quadro negro e as novas lições ditadas para os seus cadernos de apontamentos. Três horas na semana também eram dedicadas ao estudo do alemão. Não dispúnhamos de nenhum outro compêndio além do Third Reader (Terceiro Livro de Leitura) da Neue Serie (Nova Série) da Concordia Publishing House. Estudamos a matéria de leitura também quanto ao conteúdo. Cada estudante lê uma oração. Sua pronúncia, acentuação e inflexão de voz são criticadas, corrigidas e melhoradas. As explicações ao conteúdo da matéria da lição são restringidas ao mínimo para que sobre tempo para a lição gramatical. O artigo lido tem de fornecer os exemplos para os elementos gramaticais. As regras gramaticais são copiadas nos cadernos de apontamentos. Cada terceira semana exige-se uma redação, às vezes sobre um tópico marcado, outras sobre algo de própria escolha. (O último trabalho de Adolf Flor consistiu na descrição de sua viagem de Cruz Alta a Bom Jesus. Foi uma longa história e em certos momentos bastante emocionante. Li-a com profundo interesse. J. Hartmeister. 1947).

“Para estudo da história universal empregamos um primoroso compendiozinho, Weltgeschichte de Kappe, para geografia, porém não dispúnhamos de compêndio, de mapas, de globo. A mesma cousa era com o estudo de botânica, zoologia e latim. Toda a matéria letiva tinha de ser ditada e assente em cadernos de apontamento. Dedicamos uma ou duas horas por semana a estas matérias. No tocante ao português, sabiam os estudantes mais que o professor. Deixamos, pois que praticassem um pouco sob a nossa supervisão.

Kleine Weltgeschichte oder Geschichten aus der Geschichte von Ernst Kappe

“Aquelas duas horas entre 14h30min e 17h passam rapidamente entre profícuo labor. Como seria diferente, se estudantes e professor pudessem devotar todo o seu tempo e esforço a este trabalho.”

O autor deste artigo no Kirchenblatt concluiu com o apelo: “Se é para a Igreja Luterana do Brasil se manter e florescer, torna-se imperioso o preparo de professores e pregadores. Onde os encontramos? Até o presente (quatro anos) o Sínodo de Missouri os tem enviado da América do Norte. Atualmente há, porém, no Sínodo grande escassez de pregadores e professores. Somente neste ano (1904) foram chamados setenta e dois professores, e apenas de vinte e sete se dispunha. É, pois, óbvio que as nossas congregações não podem ser atendidas segundo as suas necessidades. A única solução é preparar os nossos próprios rapazes em nosso próprio país para o trabalho na Igreja. O começo foi feito e foi descrito nas linhas precedentes. Será pois, do interesse de todas as congregações do nosso Distrito constituir fileira atrás do Instituto para formação de professores e pregadores em Bom Jesus”.

Visita à nossa missão

Para as congregações brasileiras bem como para nosso Instituto, 1904 foi um ano memorável. O Presidente do Departamento de Missão para a América do Sul, Rev. Louis Lochner de Chicago, visitou todo o trabalho missionário a pedido do Sínodo. O resultado desta visita foi a formação de um novo distrito sinodal, o Distrito Brasileiro. Naquela época era o décimo quinto. A fundação foi em 24 de junho de 1904 na localidade de Rincão São Pedro, na congregação do Pastor J. Harder. A nova organização foi formada por 14 pastores, 10 congregações e um professor. O Pastor Lochner presidiu a sessão. Ele havia visitado a maioria de nossas congregações de forma que possuía uma boa visão geral da situação.

Sua série de visitas iniciou no mesmo local onde o Rev. C. J. Broders começou nossa missão em 1900. Durante toda a visitação o Pastor Lochner esteve acompanhado do Rev. W. Mahler. Em São Pedro prepararam uma calorosa recepção ao visitante de sorte que, desde o início, ele teve uma boa impressão da missão brasileira. O mesmo, no entanto, não se repetiu em outros lugares, especialmente em Bom Jesus, como saberemos mais diante.

Rev. Carl Wilhelm G. Mahler,primeiro missionário do Sínodo de Missouri residente no Brasil, seu primeiro diretor missionário, primeiro presidente da IELB (1904-1910) e primeiro redator do Kirchenblatt

A visitação em Bom Jesus

Tivemos alguma dificuldade para conseguir que os Pastores Lochner e Mahler visitassem nossa paróquia. Era costume que cada congregação buscasse os visitantes na congregação vizinha. Quando chegou nossa vez, julgamos que deveríamos buscá-los na congregação do Pastor Vogel em Santa Coleta. Era viagem de um dia inteiro e não havia estrada boa que ligasse as duas localidades. Na minha congregação não pude encontrar alguém que estivesse disposto a empreender tal jornada, nem por amor nem por dinheiro. Além disso, eles nem queriam a visita deste homem da América do Norte. Nesta emergência alguém praticou um gesto de verdadeiro amor e amizade. 0 pai do estudante Wille não pertencia à nossa congregação, no entanto frequentava nossos cultos desde o início e seus filhos estudavam em nossa escola. Este declarou-se disposto a buscar os dois pastores, Lochner e Mahler, e, de fato, os trouxe até nossa porta. Chegaram tarde na noite, cansados e exaustos. Receberam cordiais boas vindas, uma boa sopa e, logo mais, uma cama macia. O Pastor Lochner proferiu o sermão na manhã seguinte. Estava programado que, na mesma tarde, ele dirigiria a visitação à congregação. Justamente nesta data a congregação iria reunir-se para a sua assembleia trimestral ordinária. (As assembleias da congregação não se realizavam na igreja. O povo achava não ser apropriado que tais assembleias acontecessem na casa de Deus, recinto muito reverenciado por eles. Discussões violentas se travavam nas assembleias e em raras ocasiões até resultavam em cabeças sangrentas. Assim é que as assembleias ordinárias eram convocadas para as residências dos membros da diretoria.) Nesta ocasião a convocação foi para a casa de nosso vizinho mais próximo. Não precisávamos estar presentes para os assuntos administrativos da congregação, de forma que ficamos aguardando na casa pastoral. Pedi que alguém enviasse um jovem para nossa casa tão logo os assuntos administrativos estivessem concluídos. Excepcionalmente desta vez os assuntos administrativos tomaram bastante tempo, mas finalmente um rapaz veio avisar-nos que eles estavam prontos.

Encontramos a congregação muito bem representada numa grande sala da casa de um agricultor. Apresentei o visitante da América do Norte. O Pastor Mahler era bem conhecido e não precisava ser apresentado. O Pastor Lochner iniciou sua visitação entregando as saudações dos irmãos da América do Norte e a seguir falou em detalhes a respeito de nosso trabalho no Brasil. Finalmente fez as costumeiras perguntas a respeito do trabalho do pastor na congregação. “Divide ele corretamente lei e evangelho?” Nenhuma resposta. “Instrui ele diligentemente as crianças na doutrina cristã?” Nenhuma resposta. Isto, no entanto, não poderia continuar assim, pois o visitante precisaria ter respostas para suas perguntas. Tornou-se mais prático. Dirigiu sua pergunta a respeito de instruir crianças a um homem idoso sentado perto dele. Desta vez ele obteve resposta: “Ik hev keen kinner mehr in de schaul” (“Não tenho mais crianças na escola”). Então ele fez a mesma pergunta a uma pessoa mais jovem. Este respondeu: “Ik hev noch keen kinner in de schaul” (“Eu ainda não tenho crianças na escola”). Os recursos do visitante, porém, ainda não estavam esgotados.

Perguntou se eles haviam estado na igreja num culto de Confirmação e se os confirmandos conseguiam responder. “Sim, sim,” isto haviam escutado.

Após este exame nada intensivo mas muito exaustivo, o visitante sentou-se e não fez mais perguntas. Ele estava liquidado. Seguiu-se um silêncio constrangedor. Finalmente sugeri aos membros da congregação que agradecessem as saudações que o visitante trouxe dos irmãos dos Estados Unidos e que ele também fosse, ao retornar, o portador de nossas saudações a eles. Eles, no entanto, acharam melhor não fazê-lo. Estavam desconfiados de que algo poderia estar atrás de tudo isso. Quando expliquei que se tratava apenas de um gesto de cortesia, assim como também respondemos a saudação de uma pessoa de cor que nos cumprimenta na rua, eles assim mesmo continuaram desconfiados. “Wi willt mit der Synode nix to dohn hebbn” (“Nós não queremos nenhum envolvimento com o Sínodo”). Isto foi demais para nosso visitante. Agora a sua paciência estava esgotada. Colocou as mãos na cabeça e disse: “Nun, wenn Ihr nicht grüssen wollt, dann lasst es bleiben. Adje!” (“Se vocês não querem nem ao menos enviar saudações, então deixem. Tchau!”). Dito isto, ele saiu e nós o seguimos. Este foi o primeiro contato que ele teve com o povo e com o qual nós precisávamos lidar durante os sete dias da semana. Por um bom espaço de tempo ele não conseguiu recuperar sua tranquilidade. Foi preciso que o Pastor Mahler empregasse toda a sua capacidade de persuasão junto ao nosso ilustre visitante para neutralizar o impacto que ele havia sofrido.

“Veja,” assim ouvi o Pastor Mahler falar quando estavam sozinhos, “este povo deseja que lhes anunciemos a Palavra de Deus. Esta manhã eles ouviram atentamente o que você lhes anunciou no sermão. O fato de eles nada quererem com o Sínodo é porque não compreendem do que se trata.”

O povo não entendeu os motivos da visita do Pastor Lochner, por isto lhe deram tal recepção. Mais tarde ouvi uma observação que um membro da congregação fez antes de um culto: “Duesse (Hartmeister) het ju den Strick um den Hals legt, un duesse (Lochner) kuemmt nu un tuet em to” (“Este sujeito (Hartmeister) colocou a corda ao redor de seu pescoço e este outro (Lochner) vem agora para apertá-lo mais ainda”.) Com esta disposição de ânimo dificilmente conseguiriam dar um cordial bem-vindo ao visitante da América do Norte.

A visita ao instituto

O Pastor Lochner também visitou e examinou meu trabalho com os cinco rapazes. Pareceu-me ter ficado com impressão favorável. Também certificou-se das dificuldades com as quais estávamos lutando. Suas palavras de apoio foram: “Hartmeister, Ihnen soll geholfen werden” (Hartmeister, você vai receber auxílio"). Este apoio deu-nos grande ânimo. Quando Lochner e Mahler partiram, estávamos cheios de novas esperanças para nosso Instituto.

A organização do Sínodo

Em junho daquele ano, 1904, o Distrito Brasileiro do Sínodo foi organizado em Rincão São Pedro. A terceira parte da tarde do segundo dia foi quase inteiramente dedicada para discutir assuntos relativos ao Instituto. Um completo relatório foi entregue ao Sínodo sobre as atividades desenvolvidas até então. As dificuldades sob as quais estávamos expostos foram levadas ao conhecimento dos irmãos. Declarei que eu não seria capaz de levar o trabalho avante, no futuro, caso não recebesse auxílio, especialmente financeiro. Providenciar alimentação e parte da vestimenta para cinco rapazes e para uma família de quatro pessoas, com um salário de $400 por ano, não era possível. Cozinhar, lavar e remendar a roupa, estava além das forças físicas da esposa do Pastor que, além disso, precisava cuidar de dois filhos pequenos. Dos $400 nada sobrava para pagar uma auxiliar. Os irmãos ali reunidos estavam dispostos a auxiliar-nos financeiramente, mas cada qual, a duras penas, tinha apenas o suficiente para sua própria família. Todos, igualmente, apenas recebiam $400.


Rev. Louis Lochner, da comissão missionária do Sínodo de Missouri, EUA, que presidiu a solene fundação da IELB em
24/06/1904 em Rincão de São Pedro, por proposta do Rev. John Hartmeister.

O Sínodo deu atenção a nosso pedido e o Pastor Lochner endossou nosso trabalho afetuosamente. O Sínodo aprovou a resolução da Conferência de São Lourenço fixando o Instituto em Bom Jesus. O Sínodo assumiu o Instituto como um projeto seu. Muitas resoluções foram aprovadas pelo Sínodo para nos auxiliar. Todas as congregações receberam esclarecimentos sobre o trabalho do Instituto e foram solicitadas a enviar donativos. Como resultado destes pedidos uma congregação enviou dez mil réis, cerca de 2,50 dólares. Uma outra enviou meio mil réis, cerca de 65 cents. Os representantes das congregações, presentes na Convenção, levantaram ofertas num total de 40$500, mais ao menos dez dólares, para o Instituto. Uma outra resolução pedia que as pastores Vogel e Schulz, de São Lourenço, auxiliassem no Instituto. No entanto esta resolução mostrou- se inteiramente inexequível. Também foi resolvido que a Conferência Noroeste desse início a um trabalho igual. Isto nunca aconteceu. Apenas com resoluções não se constrói nem se mantém faculdades e seminários.

Todas as boas resoluções do Sínodo em Rincão São Pedro não aliviaram nossa situação. Lochner nunca cumpriu a promessa que me havia feito, “Hartmeister, Ihnen soll geholfen werden” (“Hartmeister, você vai receber auxílio”). Foi assim que continuamos levando o trabalho avante tão bem quanto possível, com os meios que tínhamos a disposição. Os rapazes trabalharam arduamente e sofreram conosco. Se não podíamos comprar manteiga para o pão, comíamos banha. Era mais barata. Quando não podíamos pagar ajuda, fazíamos o trabalho nós mesmos. E a maior parte do trabalho braçal recaía sobre minha esposa. Os rapazes ajudavam tão bem quanto possível, mas a maior parte das tarefas somente ela podia fazer.

O fim do começo

Em setembro de 1904 nossa pequena filha faleceu de coqueluche. Isto foi um grande choque para minha esposa e desde aquele acontecimento suas forças, a olhos vistos, começaram a minguar. Ela, porém, deu todas as suas forças pela causa do Instituto até o início de 1905. Então desfaleceu completamente e senti que meu dever era o de dar a ela toda a atenção e cuidado.

Lápide de Rachel Ruth Esther, filha do casal Hartmeister, no Cemitério de Bom Jesus

Enviei os rapazes para casa quando estavam no início de seu segundo ano de estudo, dizendo-lhes que os chamaria de volta tão logo pudéssemos continuar o trabalho. As coisas, porém, foram de mal a pior em nossa família. Não vislumbrei outra solução a não ser voltar aos Estados Unidos, pelo menos por algum tempo, até que minha esposa recuperasse sua saúde. Em maio de 1905 o Pastor Emil Schulz, de São Pedro, tornou-se meu sucessor. De acordo com a resolução do Sínodo ele deveria assumir o trabalho que eu estava fazendo. Ele, porém não o fez. Evidentemente, percebeu que era preciso mais do que os recursos de um homem com um salário de $400 para levar avante o trabalho de nosso Instituto. Foi assim que o Instituto chegou ao fim, pelo menos durante algum tempo.

A segunda Convenção do Sínodo em 1905

A seguinte Convenção do Sínodo teve lugar em Jaguari de 28 de abril a 2 de maio de 1905. Ainda estávamos em Bom Jesus, mas julgamos ser impossível participar deste evento. Além disto, estávamos decididos a voltar aos Estados Unidos. O Sínodo censurou o fechamento do Instituto, mas nada fez para que o trabalho pudesse prosseguir. Assim como as coisas estavam, não podíamos continuar. Diziam que o Instituto era uma “batata quente” e resolveram transferi-lo para Porto Alegre. Consideraram, porém, muito alto o custo da transferência para que fosse realizada imediatamente. Durante dois anos o Instituto permaneceu morto.

Reconhecimento de nosso trabalho

O trabalho que fizemos com os cinco rapazes foi reconhecido. Todos os cinco foram solicitados a prestar auxílio em escolas. O Kirchenblatt de 1 de agosto de 1906, p. 117, escreve a respeito do Instituto: “Aquele começo, embora tenha sido pequeno, já trouxe ricos frutos. Os alunos mais velhos do Instituto em Bom Jesus têm atuação excelente nas escolas onde fomos obrigados a colocá-los premidos pelas circunstâncias” ... (“bewaehren sich vorzueglich in den Schulaemtern, die wir ihnen notgedrungen uebertragen mussten”). Também o Der Lutheraner de St. Louis daquela época escreve a respeito de nosso Instituto: “Parece ser absolutamente necessário continuar com o Instituto de Bom Jesus e sustentá-lo devidamente a fim de que rapazes de lá possam receber formação para atuarem na igreja”.

Dois dos nossos estudantes em Springfield

Embora tenhamos sido forçados a deixar o trabalho no Instituto que tanto amávamos e que dirigimos até não podermos mais continuar, não abandonamos a causa. Dois de nossos rapazes nos enviaram apelos para que os auxiliássemos a virem aos Estados Unidos, a fim de que pudessem concluir seus estudos em alguma de nossas instituições sinodais. Após muitos esforços conseguimos que Flor e Wille ingressassem em nosso Seminário de Springfield, em 1907. Formaram-se após três anos, em 1910. Ambos tornaram-se fiéis e eficientes obreiros em sua terra natal. Foram os primeiros frutos de nossos humildes esforços no Instituto de Bom Jesus.

Seminário Concórdia em Springfield (Illinois, EUA)
A continuação

Uma nova etapa da História do Instituto começou quando abriu suas portas em Porto Alegre. Mas mesmo ali, desde o início, o trabalho foi cercado de muitas dificuldades. Em 1 de fevereiro de 1907, o Kirchenblatt anunciou a abertura do Instituto em Porto Alegre para quarta-feira, 10 de abril. Foi alugado um prédio conveniente, chamado um segundo pastor para a congregação de Porto Alegre e uma senhora foi contratada para a cozinha. O Pastor Mahler passou a dirigira instituição assistido pelo Pastor Wegehaupt. Tudo estava pronto para cumprir-se a resolução do Sínodo de Jaguari em 1905 a respeito da transferência do Instituto de Bom Jesus para Porto Alegre. No entanto, em 15 de abril de 1907 o Kirchenblatt trouxe uma nota anunciando que a abertura do Instituto fora adiada porque não haviam chegado alunos. Finalmente, em 1 de maio de 1907, o trabalho começou com quatro rapazes, dois de São Lourenço.

Seminário Concórdia em Porto Alegre (1909)
Já então foram tomadas providências para um melhor apoio financeiro. Cada estudante devia pagar 25 mil réis mensais para a pensão. O Kirchenblatt publicou um veemente pedido por auxílio, escrito pelo Pastor Wegehaupt que naquela data era o administrador da escola. A conferência pastoral de 6 abril instituiu um fundo especial para estudantes necessitados. Começaram a vir contribuições de muitos lugares, como demonstram os recibos publicados pelo Kirchenblatt.

O Instituto em Bom Jesus também conseguiu, indiretamente, que a causa da educação ficasse favoravelmente conhecida em toda a colônia de São Lourenço. Isto é provado pelo fato de oito dos primeiros estudantes em Porto Alegre terem vindo de São Lourenço.

Após o Instituto haver sido transferido para Porto Alegre o seu sustento e o dos estudantes vinha com mais naturalidade, embora ainda não de modo suficiente. Em 1908 foi anunciado um déficit na caixa dos estudantes no valor de 390 mil réis embora 2610 mil réis houvessem sido contribuídos por pessoas e congregações. O Sínodo da América do Norte também prometeu pagar o aluguel do alojamento dos rapazes e para dois professores no valor de 200 mil réis por mês.

O Pastor Wegehaupt foi então escolhido como professor e diretor do Instituto. No Sínodo em Sítio (Vila Progresso), de 13 a 18 de janeiro de 1908, o nome foi mudado de Instituto para Seminário Concórdia. Com o honroso nome “Concórdia” o nosso, antes humilde “Instituto”, juntou-se à honrosa linha dos muitos "Concórdia" do Sínodo. Com um nome diferente, num local diferente e com o apoio decisivo do Sínodo, o anterior “Instituto para Treinamento de Professores e Pastores” cresceu e floresceu. O grão de mostarda tornou-se uma árvore. A Deus seja toda a honra e glória.

John Hartmeister

11/01/2019

11 de janeiro - John Hartmeister, fundador do Seminário Concórdia


O pastor John Hartmeister viveu apenas cinco anos no Brasil, mas deixou um profundo legado no sínodo luterano que ajudou a formar aqui. Nasceu nos EUA (Drake, Missouri) no dia 11 de janeiro de 1877, sendo o terceiro de 5 filhos dos imigrantes alemães Friedrich Wilhelm e Adelheid Geshe Knief. Foi um dos pastores que chegou ao país em setembro de 1901, juntamente com os colegas Adolph August Vogel e Henry Theodore Stiemke, para atender congregações no sul do Brasil. No dia 22 de dezembro de 1901, foi instalado como pastor nas congregações de Bom Jesus, município de São Lourenço do Sul (RS).

Teve um papel decisivo na criação do primeiro seminário luterano da América do Sul. Numa conferência pastoral realizada em Bom Jesus nos dias 20 a 22 de abril de 1903  foi tomada a decisão de fundar uma escola em Bom Jesus para treinar jovens brasileiros para se tornarem professores e pastores. Após o culto do dia 26 de abril de 1903, o pastor Hartmeister convocou uma reunião da congregação que aprovou a criação do instituto. As aulas iniciaram em 27 de outubro de 1903 com apenas 3 alunos, mas em alguns meses, passou para cinco. Além de atender sua paróquia, Hartmeister era diretor, professor e conselheiro daquele primeiro grupo de alunos. Hoje, o dia 27 de outubro é lembrado na IELB como o “Dia do Seminário”.

Em 18 de setembro de 1904, a primeira filha do casal Hartmeister, chamada Rachel, faleceu vítima de uma epidemia de coqueluche, com apenas dois anos de idade. Theodora Magdalena Adelheid Hartmeister (1879–1942), esposa do pastor, sofreu muito com a morte da primogênita. Em 1905 o pastor Hartmeister decidiu voltar aos EUA com sua esposa e a segunda filha Eugenia Susanna, que aqui nascera em outubro de 1903. Deus ainda lhe acrescentou os filhos Rachel Ruth Esther (1905–1990), Nathan (1907–1988), Ruben (1910–2007), Joel Timothy  (1915–1990) e  Felix (1917–2010).

Além de servir sua paróquia em Bom Jesus, o pastor Hartmeister, também foi conselheiro do Distrito Sul da IELB de 1904 a 1905. Nos EUA continuou servindo como pastor em congregações luteranas nos estados de  Illinois, Iowa e Colorado. Morreu no dia 7 de julho de 1965, em Denver, Colorado (EUA).

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso e eterno Deus, damos graças pelo teu servo John Hartmeister, a quem chamaste para pregar o Evangelho no Brasil. Levanta aqui e em todas as nações evangelistas e mensageiros de teu reino, para que a tua Igreja possa proclamar as riquezas insondáveis de nosso Salvador Jesus Cristo, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um Deus, agora e sempre. Amém.

10/01/2019

10 de janeiro - Os Pais Capadócios: Basílio de Cesareia, Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo


 
Os Pais Capadócios, por Juliet Venter (2015)
Basílio e os dois Gregórios, conhecidos como “Pais Capadócios” ou “Três Capadócios”, foram líderes da ortodoxia cristã na Ásia Menor (atual Turquia) no final do século IV. Basílio e Gregório de Nissa eram irmãos, que eram amigos de Gregório de Nazianzo. Todos os três influenciaram na formatação da teologia ratificada pelo Concílio de Constantinopla (381 d.C.), conforme expressa no Credo Niceno. A defesa das doutrinas do Espírito Santo e da Santíssima Trindade, bem como suas contribuições para a liturgia da Igreja do Oriente, os colocam entre os mais influentes mestres e teólogos cristãos do tempo em que viveram.

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso Deus, tu revelaste à tua Igreja a tua natureza eternal de gloriosa majestade e perfeito amor como um Deus numa Trindade de Pessoas. Que a tua Igreja, com bispos como Basílio de Cesareia, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa, receba a graça de continuar firme na confissão da verdadeira fé e constante em nossa adoração a ti, Pai, Filho e Espírito Santo, que vive e reina, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House, 2008. p. 1105)

08/01/2019

Justificação pela fé


"Certamente, Deus dá obras de forma diferente para cada pessoa, assim como uma estrela é diferente da outra. Contudo, todas estão sob o perdão dos pecados. Assim como o céu (isto é, a justificação) está debaixo da graça, tanto mais estão as estrelas. Assim como as estrelas não fazem o céu, mas apenas o adornam, assim também as obras não tornam digno do paraíso, mas apenas adornam a fé justificadora. Este é o único raciocínio que soluciona tudo: "Eu creio em Jesus Cristo, que padeceu por nós sob Pilatos". Tudo é dele, nada é nosso. Após isso, quando pela graça somos filhos de Deus, diferimos em nossos dons, assim como há estrelas que são diferentes no céu."

- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (Conversas à Mesa, nº 4331, 1539)

07/01/2019

Os magos, ao verem a estrela, transbordaram de alegria




A estrela veio parar acima de onde estava o menino. Por isso os magos, ao verem a estrela, transbordaram de alegria. Recebamos também nós essa imensa alegria em nossos corações. É a alegria que os anjos anunciam aos pastores. Adoremos com os magos, demos glória com os pastores, dancemos com os anjos. Porque hoje nasceu um Salvador, que é o Messias, Senhor. O Senhor é Deus: Ele nos ilumina, porém não na condição divina, para atemorizar nossa fragilidade, mas na condição de escravo, para gratificar com a liberdade aos que gemiam debaixo da escravidão. Quem é tão insensível, quem tão ingrato, que não se alegre, não se exulte e não se deleite com tais notícias? Esta é uma festa comum a toda a criação. Que se concedam ao mundo dons celestiais, o arcanjo é enviado a Zacarias e a Maria, forma-se um coro de anjos que cantam: Glória a Deus no céu, e na terra paz aos homens que Deus ama.

As estrelas despencam do céu, alguns magos abandonam sua pátria, a terra o recebe em uma gruta. Que todos ofertem algo, que nenhum homem se mostre ingrato. Festejemos a salvação do mundo, celebremos o dia natalício da natureza humana. Hoje ficou cancelada a dívida de Adão. Já não se dirá mais: És pó e ao pó retornarás, mas: “unido ao que vem do céu, serás admitido no céu”. Não será mais dito: Terás filhos com dor, pois é bem-aventurada aquela que deu à luz ao Emanuel e os peitos que o amamentaram. Justamente por isso um menino nos nasceu, um filho nos foi dado: ele leva aos ombros o principado.

Junte-se você também aos que, desde o céu, receberam alegres ao Senhor. Pensa nos pastores manando sabedoria, nos pontífices adornados com o dom de profecia, nas mulheres transbordando de júbilo: assim quando Maria é convidada a alegrar-se por Gabriel, assim quando Isabel sente João saltar de alegria em seu ventre. Ana que falava da boa notícia, Simeão que o tomava nos braços, ambos adoravam no menino ao imenso Deus e, longe de desprezar o que viam, exaltam a majestade de sua divindade. Pois a força divina se tornava visível através do corpo humano como a luz atravessa o cristal, refulgindo ante aqueles que tinham purificados os olhos do seu coração. Com os quais oxalá também nós nos encontremos, contemplando face a face a glória do Senhor como em um espelho, para que também nós transformemo-nos em sua imagem com resplendor crescente, pela graça e a benignidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem seja dada a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.

- Basílio de Cesareia (330-379 d.C.), no Sermão sobre a geração de Cristo (PG 31 , 1.471-1.475)

Fonte: Lecionário Patrístico Dominical (Trad. e compilação: Fernando José Bondan). Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

06/01/2019

Cantata de Bach para a Festa da Epifania - BWV 123


Johann Sebastian Bach compôs a cantata Liebster Immanuel, Herzog der Frommen (Mui querido Emanuel, príncipe dos crentes), BWV 123, em seu segundo ano em Leipzig para a Festa da Epifania de 6 de janeiro de 1725. As leituras para a festividade no Ano Litúrgico Tradicional eram de Isaías 60.1–6 e do Evangelho de Mateus 2.1–12. Bach baseou sua cantata num hino de seis estrofes de Ahasverus Fritsch, de mesmo título, composto em 1679.

O texto de poeta desconhecido não faz referência específica às leituras de Epifania, mas menciona o termo Jesusname (Nome de Jesus), lembrando a festividade litúrgica celebrada em 1º de janeiro nas Igrejas Luteranas. Também faz referência à Epifania com "Heil und Licht" (salvação e luz) e alude ao Natal com "Jesus, der ins Fleisch gekommen" (Jesus, aquele que se fez carne).

No vídeo abaixo, a cantata é interpretada pelo coro alemão Tölzer Knabenchor (dirigido por Gerhard Schmidt-Gaden) e pelo conjunto austríaco de música barroca Concentus musicus Wien (dirigido por Nikolaus Harnoncourt).




 

BWV 123 - Liebster Immanuel, Herzog der Frommen
Tradução: Henrique Garcia

1. Coro

Liebster Immanuel, Herzog der Frommen,
Du, meiner Seele Heil, komm, komm nur bald!
Du hast mir, höchster Schatz, mein Herz genommen,
So ganz vor Liebe brennt und nach dir wallt.
Nichts kann auf Erden
Mir liebers werden,
Als wenn ich meinen Jesum stets behalt.

Príncipe dos crentes, salvação da minh'alma,
Não te demores, vem logo, ó bem-querido Emanuel!
Conquistaste-me o coração, sumo tesouro,
Que se inflama de amor a ansiar por ti.
Nada neste mundo me seria mais caro
Do que conservar, perpetuamente, ao meu Jesus.

2. Recitativo


Die Himmelssüßigkeit, der Auserwählten Lust
Erfüllt auf Erden schon mein Herz und Brust,
Wenn ich den Jesusnamen nenne
Und sein verborgnes Manna kenne:
Gleichwie der Tau ein dürres Land erquickt,
So ist mein HerzAuch bei Gefahr und Schmerz
In Freudigkeit durch Jesu Kraft entzückt.

Os deleites celestiais, o gozo dos eleitos
Enchem-me já sobre a terra o peito e o coração.
Se invoco a Jesus, e do maná secreto lhe provo,
Da mesma forma que o orvalho refresca a terra árida,
Assim meu coração, no perigo como na dor,
É reconfortado graças ao poder da sua graça.

3. Ária


Auch die harte Kreuzesreise
Und der Tränen bittre Speise
Schreckt mich nicht.
Wenn die Ungewitter toben,
Sendet Jesus mir von oben
Heil und Licht.

Nem o duro caminho da cruz,
Nem o amargo fruto das lágrimas me meterão espanto.
Quando as tempestades romperem,
Jesus fará salvação e luz descerem até mim.

4. Recitativo


Kein Höllenfeind kann mich verschlingen,
Das schreiende Gewissen schweigt.
Was sollte mich der Feinde Zahl umringen?
Der Tod hat selbsten keine Macht,
Mir aber ist der Sieg schon zugedacht,
Weil sich mein Helfer mir, mein Jesus, zeigt.

Nenhum inimigo infernal poderá devorar-me;
Minha consciência, dantes atormentada, agora jaz contente.
Para que me assediaria a multidão dos inimigos?
A morte mesma falece de poder sobre mim;
A vitória já me é infalível:
Porquanto Jesus, meu Auxiliador, me assiste.

5. Ária


Laß, o Welt, mich aus Verachtung
In betrübter Einsamkeit!
Jesus, der ins Fleisch gekommen
Und mein Opfer angenommen,
Bleibet bei mir allezeit.

Deixa-me, ó mundo, de desprezo
Viver em compungida solidão!
Jesus, aquele que se fez carne
E aceitou-me a oferenda,
Permenecerá sempre à minha volta.

6. Coral


Drum fahrt nur immer hin, ihr Eitelkeiten,
Du, Jesu, du bist mein, und ich bin dein;
Ich will mich von der Welt zu dir bereiten;
Du sollst in meinem Herz und Munde sein.
Mein ganzes Leben
Sei dir ergeben,
Bis man mich einsten legt ins Grab hinein.

Longe de mim eu vos arrojo, ó vaidades.
Tu, Jesus, és meu e eu sou teu.
Quero, arredando-me do mundo,
Concentrar-me em ti.
Em minha boca e em meu coração tu estarás.
Minha vida inteira seja, pois,
A ti consagrada,
Até o dia em que me depositem na sepultura.

A Epifania de Nosso Senhor


 
 
A primeira importante, útil e necessária lição que aprendemos desta história é que os magos, ao procurarem a Cristo, o Rei que acabara de nascer, não o encontraram em Jerusalém como tinham imaginado. Para encontrá-lo, tiveram que consultar e ouvir o que o profeta Miqueias tinha a dizer. Munidos apenas da palavra, e deixando de lado seus próprios pensamentos, voluntariamente, partem da santa capital Jerusalém e rumam a Belém, cidadezinha insignificante, e não se escandalizam nisso. Então, quando tinham deixado Jerusalém, Deus os consola, fazendo reaparecer a estrela, que foi adiante deles até Belém, até a porta da casa onde estava o menino. Eles bem que precisavam desse consolo, pois tudo o que encontram ali é pobreza e mendicância. Aquele não era o lar de José e Maria. O menino está deitado numa manjedoura. Ali existe, quando muito um copo de água. Tudo isso não combina com um rei!
Mas aí essa gente piedosa não se deixa enganar. Ficam firmes naquilo que tinham ouvido do profeta Miqueias e visto na estrela. Por isso, apesar da aparência pobre e miserável, ajoelham-se diante do menino, adoram-no, abrem seus tesouros e lhe dão presentes.

A segunda coisa que deveríamos aprender dessa história é como devemos nos portar diante de nosso amado Senhor Jesus Cristo, a saber: que removamos todo escândalo e, juntamente com os magos, confessemos a Cristo, o Senhor, ao mundo, que o busquemos de coração e o adoremos como nosso Salvador. Além disso, porque nesse mundo seu reino se apresenta tão pobre e miserável, devemos ajudar voluntariamente com o nosso dinheiro, bens e tudo que temos, para que o mesmo seja promovido e cresça, pois esse reino sofre toda sorte de resistência e opressão do diabo e do mundo. Pois podemos muito bem imitar o exemplo dos magos, abrindo hoje nossos tesouros para Cristo e dando-lhe presentes. O motivo para tanto está em Mateus 25.40: “O que fizestes a um desses meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.

- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja
 
Fonte: Castelo Forte: Devoções Diárias 1983 (São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1983)