31/05/2023

A SAGRADA LITURGIA ~ Invocação

 


INVOCAÇÃO

A Sagrada Liturgia do Culto Divino começa com uma lembrança que, ao mesmo tempo, também é uma confissão de Fé: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

O que nos lembra essas palavras, quando elas foram ditas para nós pela primeira vez? O texto bíblico indicado no Hinário Luterano nos ajuda: “São Mateus 28.19” – A instituição do Santo Batismo. Ou seja, o Culto Cristão se inicia com a lembrança do Santo Batismo, a lembrança de que não somos pessoas quaisquer, mas filhos e herdeiros de Deus por causa do Santo Batismo.

O ato de fazer o sinal da cruz neste momento, por causa de seu significado, é oportuno, pois no Santo Batismo somos marcados, através das mãos de um Ministro, com a santa cruz de nosso Senhor, o que reflete que somos propriedade desse Deus, guardados por ele (Ezequiel 9: 1-6). Além disso, a Fonte Batismal em local visível e de destaque se torna importante. Por isso, recomenda-se que ela fique ou na entrada do templo – lembrando que somos trazidos ao Corpo de Cristo através do Santo Batismo; ou no centro do templo e diante do Altar – lembrando a centralidade do Santo Batismo em nossas vidas e também que é através da Aliança que Deus fez conosco através deste Sacramento que podemos nos aproximar do seu Altar; ou ainda, não havendo condições para as possibilidades anteriores, num local bem visível junto ao Altar. Tudo isso nos ajudará a lembrar, quando dizemos as palavras iniciais do Culto Divino, o Santo Batismo instituído pelo nosso Senhor e Salvador Jesus.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” não é somente uma lembrança, como disse no início, é também uma confissão de Fé. Mas, o que estamos confessando com essas palavras? Novamente, o Hinário Luterano nos ajuda: entre colchetes há um segundo texto indicado – “São Mateus 18.20” – Jesus ensinando os seus discípulos que ser reunidos em seu Nome é sinal de sua presença real entre os seus. Ou seja, quando dizemos as palavras iniciais da Sagrada Liturgia, confessamos para nós mesmo e para todos ao nosso redor que o mais importante e o principal no Culto Divino é a presença do Senhor!

Aqui novamente, cabe ressaltar o sinal da cruz e a fonte batismal: o sinal da cruz testemunha para eu mesmo e para o próximo que o que marca minha vida não é algo que eu faça e sim aquele que se entregou e me salvou na cruz; a fonte batismal também é um testemunho – se ela está colocada em qualquer lugar ou até de escanteio, escondida, isto pode refletir um descaso com Cristo e sua Instituição. Por outro lado, a centralidade e a visualização da fonte batismal nos ajuda a perceber que, de fato, assim como Cristo nos reconciliou efetivamente através do Santo Batismo, hoje ele continua real e verdadeiramente presente entre nós quando somos reunidos em seu Nome. Tudo isto auxilia a confissão de Fé da Igreja.

Sabemos, agora, o que lembramos e confessamos com as palavras “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Mas, ainda há uma pergunta a ser feita: O título desta parte na Sagrada Liturgia é “Invocação”. O que estamos invocando? O próprio Deus? Mas ele é como um espírito das fábulas que precisa ser invocado para aparecer? Seria isso? Há um texto bíblico que nos auxilia nesta questão: “Gênesis 4.26” – invocar o Nome do Senhor! A nota na Bíblia de Estudos da Reforma sugere que esta expressão pode significar o início do Culto Litúrgico entre os seres humanos. Além disso, vários textos no Antigo e no Novo Testamento relacionam o “invocar o Nome do Senhor” com o Culto e o que ele de fato é – o Serviço de Deus em favor do ser humano (Romanos 10: 13-17). Deste modo, cabe dizer que não estamos invocando a Deus no início do Culto, mas sim o Nome do Senhor, e é nesse nome que somos reunidos.

 

Rev. Helvécio José Batista Júnior
Ministro do Senhor na Igreja Luterana Santíssima Trindade
Naviraí/MS, 2023 AD


06/05/2023

O BOM PASTOR

 


O Evangelho de nosso Senhor segundo S. João 10: 11-16

         Nosso Salvador Jesus Cristo, ao afirmar: “Eu sou o Bom Pastor” (S. João10:11a), revela, dentre outras coisas, ser o cumprimento daquilo que foi dito pelo Senhor, por intermédio do St. Profeta Ezequiel: “Eis que eu mesmo procurarei as minhas ovelhas e as buscarei” (Ezequiel 34:11). Portanto, Jesus, o Cristo, é o prometido Pastor de Israel, é o Pastor do Povo de Deus.

        Mas, que diferença faz saber disso? Ora, faz toda a diferença. Afinal, Jesus Cristo, ao afirmar  ser  “o Bom Pastor”,  diz  também  algo  extremamente significativo: “O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas” (S. João 10:11b).

        Isso é belo e grandioso, você pode estar pensando. Porém, como ter certeza de que eu sou uma das ovelhas desse Bom Pastor? Esta é, sem sombra de dúvida, uma boa pergunta. E uma coerente resposta para ela encontra-se na Profecia registrada por Ezequiel.

        Ali, o Senhor declara: “Assim buscarei as minhas ovelhas. Eu as livrarei de todos os lugares por onde foram espalhadas no dia de nuvens e densas trevas”  (Ezequiel 34:12). Isto significa que o primeiro aspecto de uma ovelha que pertence ao Bom Pastor é o fato de que ela não se tornou parte do seu Rebanho por uma capacidade própria, na verdade, ela foi buscada e liberta, pois por is só estava perdida e condenada.

        Ao continuar, o Senhor diz o que fará ao resgatar suas ovelhas: “Vou apascentá-las nos montes de Israel, junto às correntes de água” (Ezequiel 34:13). Ou seja, o segundo aspecto de uma ovelha que pertence ao Bom Pastor é ser apascentada junto às correntes de água. Ora, como o Senhor nos apascenta, isto é, nos guarda e nos torna seus junto da água? Como? Por meio do Santo Batismo! E este apascentar por meio do Santo Batismo deixa muito claro que ele, como afirmou Jesus Cristo, “não é um mercenário, mas é alguém que se importa com as suas ovelhas” (S. João 10: 12-13).

        Após isso, proclama o Senhor: “Deixarei que pastem em bons pastos, e nos altos montes de Israel será a sua pastagem” (Ezequiel 34:14). Em outras palavras, o Senhor que é o Bom Pastor, após buscar suas ovelhas e as apascentar junto à corrente de águas, lhes dá a melhor pastagem para elas se alimentarem com o melhor de todos os alimentos. Assim, o terceiro aspecto de uma ovelha que pertence ao Bom Pastor é que ela, após ser resgatada por ele e ser batizada, passa a desfrutar de bons pastos – os pastos que a conduzem a viver o arrependimento e o perdão, bem como também é para ela o solo fértil da Palavra de Deus. Mas, não só isso. No devido tempo, a ovelha que pertence ao Bom Pastor recebe também o melhor dos alimentos: O verdadeiro Corpo e o verdadeiro Sangue de Cristo, o Bom Pastor! E nesta Santa Ceia, nesta Eucaristia, como refletimos no Culto passado, nós passamos a conhecer este Senhor e Salvador plenamente, porque é ali que ele, de uma forma extraordinária, se revela aos seus. E isto expressa aquilo que ele mesmo diz no Evangelho para hoje: “Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem” (S. João 10:14).

        Você é uma ovelha do Bom Pastor Jesus? Isto é, você foi resgatado por ele, foi batizado por ele, vive o arrependimento e o perdão, ouve sua Palavra e está sendo alimentado por ele? Se a resposta para estas perguntas é “sim!”, então você pode descansar. Afinal, ele mesmo prometeu: “Eu apascentarei as minhas ovelhas e as farei repousar, diz o Senhor Deus” (Ezequiel 34:15).

        Este repouso verdadeiro ocorre somente em um lugar, o lugar onde você é apascentado pelo Bom Pastor junto as águas, é firmado nos bons pastos do arrependimento e do perdão, e da Palavra, e é alimentado por ele com a melhor de todos os alimentos. Este lugar é aquele que Jesus denomina de “seu aprisco, seu Rebanho” (S. João 10:16), isto é, sua Igreja!

        Prezados irmãos, concluo esta Homilia, afirmando a vocês: Não há nada melhor na face da terra do que estar no aprisco do Bom Pastor Jesus, pertencer ao seu Rebanho, ser parte da sua Igreja. Pois dessa forma, vocês podem ter a mesma certeza e confiança do Salmista Davi, que compreendeu: “Se o Senhor é o meu Pastor, aquilo que eu não tenho, eu não preciso” (Salmo 23:1). E por quê? Porque o essencial para a vida, o Bom Pastor concede: “Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome” (Salmo 23: 2-3). É por isso que Davi e todos que fazem parte Rebanho deste Bom Pastor, podem orar: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo” (Salmo 23:4).

        Meus queridos, não abandonemos este aprisco, não nos dispersemos para fora deste Rebanho, não nos afastemos da bênção que é ser parte da Igreja de Cristo. Afinal, é aqui, no Corpo do Bom Pastor Jesus que nós ouvimos sua Voz graciosamente nos dizer: "Eu te batizo", "Eu te perdoo", “Em verdade, em verdade eu te digo”, "Isto é o meu Corpo". E ouvindo essa Voz – que vem a nós na Palavra e nos Sacramentos – podemos ter a esperança concreta de que “a Bondade e a Misericórdia dele nos perseguirão todos os dias de nossa vida, e para todo o sempre – isto é, por toda a eternidade – habitaremos na Casa do Senhor!” (Salmo 23:6).

        Amém!


Rev. Helvécio J. Batista Jr.
Ministro do Senhor na Igreja Luterana "Santíssima Trindade"
Naviraí/MS