29/11/2018

Batismo: dilúvio de graça


Na capela do Seminário Teológico Concórdia de Fort Wayne (EUA) existem dois ícones na entrada da igreja, próximo à pia batismal. Um ícone retrata Noé, a quem Deus salvou do Dilúvio, e o outro ilustra o Batismo de Jesus por João Batista. É muito significativo que esses dois eventos sejam retratados e recordados ali onde a graça salvadora do sacramento do Santo Batismo é administrada aos filhos de Deus.

Esta correspondência das águas salvadoras do Dilúvio com as águas salvadoras do Santo Batismo nos é permitida pelo apóstolo São Pedro, que escreveu em sua Primeira Epístola: "Deus aguardava com paciência nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucas pessoas, apenas oito, foram salvas através da água. O batismo, que corresponde a isso, agora também salva vocês" (1 Pe 3.20-21).

Lutero também faz essa mesma conexão da salvação concedida ao crente Noé e sua família no Dilúvio com a salvação eterna concedida aos crentes no Santo Batismo. O bem-aventurado reformador diz ao comentar o episódio do Dilúvio (Gn 6-9) em suas Preleções acerca de Gênesis (OS 12,251-347), que essa conexão entre Dilúvio e Batismo "é verdadeiramente uma alegoria teológica, isto é, está em conformidade com a fé e é repleta de consolo". Lutero diz que no "batismo do dilúvio, Noé e seus filhos são salvos, mas o resto do mundo, que permaneceu fora da arca, pereceu... O dilúvio é verdadeiramente morte e ira de Deus, mas os fiéis são salvos do meio do Dilúvio... Essa esperança não é em vão, pois ele têm Cristo, que receberá seus espíritos e, no último dia, também despertará para a vida eterna os corpos dos que creem". Por isso, os que creem não deve temer a morte, pois "a morte não o destruirá, mas será um impulso e uma ajuda para a vida". Para o crente o Batismo é "um dilúvio de graça".

No seu Manual do Batismo (Taufbüchlein), revisado em 1526, Lutero também expõe sua teologia do Batismo na chamada Oração do Dilúvio (Sintflutgebet), que reza assim:
"Onipotente eterno Deus, que de acordo com teu reto juízo condenaste o mundo incrédulo pelo dilúvio e, por tua grande misericórdia, conservaste o crente Noé e mais sete pessoas de sua família; que afogaste o endurecido Faraó com todos os seus, no mar Vermelho; que conduziste o teu povo Israel através do mesmo em terra seca, prefigurando, com isso, este banho do teu santo Batismo; e que, pelo Batismo de teu querido Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, consagraste e instituíste o Jordão e todas as águas como um dilúvio bem-aventurado e uma rica lavagem dos pecados: pedimos por essa mesma [lavagem] tua profunda misericórdia, que queiras olhar graciosamente para este N. e abençoá-lo com fé verdadeira no Espírito; para que, por meio deste dilúvio salvador, tudo o que lhe é inato desde Adão e que ele mesmo a isto acrescentou seja afogado nele e desapareça; que seja separado dentre o número dos descrentes, conservado seco e seguro na santa arca da cristandade, sirva sempre a teu nome, ardendo em Espírito e alegre em esperança; para que, junto com todos os crentes, ele se torne digno de alcançar vida eterna, de acordo com a tua promessa; por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém." (OSel 7, 218-219).

Ilustração: Jonathan Mayer

Esta Grande Oração do Dilúvio foi traduzida para o inglês por Thomas Cranmer nos Livros de Oração do Rei Eduardo VI (1549 e 1552) e também é utilizada na tradição anglicana. Ainda hoje faz parte do rito batismal de muitas Igrejas Luteranas, mesmo que de uma forma adaptada. Em 2006 a Oração do Dilúvio foi incluída no novo Livro de Culto da da Igreja Luterana - Sínodo Missouri (Lutheran Service Book: Altar Book. St Louis: Concordia Publishing House, 2006. pág. 268-269). Esta é a versão que está no Livro de Batismo da IECLB (São Leopoldo: Oikos, 2008. p. 74):

"Bendito sejas, Senhor, Deus do universo, Criador de céu e terra, pela dádiva da água, com a qual vens sustentando a tua criação. Já na origem do universo, teu Espírito pairava sobre as águas para que viessem a gerar vida. Nas águas do Dilúvio, um mundo corrompido foi por ti, então, destruído. Nas águas do mar Vermelho, afogaste um opressor, conduzindo pelas mesmas teu povo, a pé enxuto, livre da escravidão. Nas águas do Jordão, pelo batismo de teu Filho, o Verbo encarnado, consagraste todas as águas para nossa salvação. Envia agora o teu Espírito e, através do banho regenerador desta água, concede nova vida a N. e N., para que, morrendo e ressuscitando em Cristo, te sirvam no povo da nova e eterna aliança. Por ele, teu Filho, Jesus Cristo, no Espírito Santo, sejam dadas a ti, Pai todo-poderoso, toda honra e toda glória, agora e para sempre. Amém."
Ilustração: Janet Wittenback

Na Oração do Dilúvio Lutero traz os mesmos ensinamentos acerca do sacramento do Santo Batismo expostos no seu Catecismo Menor (Cm) e Catecismo Maior (CM). Assim como o mundo incrédulo do tempo de Noé foram afogados no Dilúvio e o Faraó e os seus foram afogados no Mar Vermelho, também "o velho homem em nós... deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos" (Cm IV,12). Lutero lembra que esse afogamento acontece "por contrição e arrependimento diários", ou seja, sempre que confessamos os nossos pecados. Confessar os pecados é voltar às águas do Santo Batismo. Lutero ensina que "o arrependimento outra coisa não é que um retorno ao batismo e aproximação dele, repetindo-se e praticando-se o que anteriormente se começou, havendo-o, porém abandonado" (CM IV,79)

Assim como Noé e sua família e o povo de Israel que saiu do Egito foram salvos das águas, assim também "a força, a obra, o proveito, o fruto e o fim do batismo é salvar" (CM,IV,24). E ser salvo é ser "liberto do pecado, da morte, do diabo, chegar ao reino de Cristo e com ele viver eternamente" (CM IV,25). O Batismo é "uma medicina que traga a morte e mantém a todos os homens em vida" (CM IV, 44).

Assim como a salvação da família de Noé e do Povo de Israel foram obras de Deus, assim também "o batismo não é obra nossa, mas de Deus" (CM IV,35). É "um tesouro que Deus nos dá e do qual se apossa a fé" (CM IV, 37). Lutero roga a Deus que o crente batizado "seja separado dentre o número dos descrentes, conservado seco e seguro na santa arca da cristandade", sirva a Deus, "ardendo em Espírito e alegre em esperança", ou seja, "que viva em justiça e pureza diante de Deus eternamente" (Cm IV,12), "de modo que com o passar do tempo nos tornemos cada vez mais brandos, pacientes e mansos, e liquidemos mais e mais a avareza, o ódio, a inveja, a soberba" CM IV, 67). Esta é a vida para a qual fomos chamados através do batismo.

Voltando aos ícones de Noé e do Batismo de Cristo e à pia batismal da Capela do Seminário em Fort Wayne, que estão logo na entrada da nave da igreja, podemos aprender mais alguma coisa. A posição da pia batismal na entrada é uma poderosa testemunha de que o Sacramento do Santo Batismo é a entrada para a vida cristã, o novo nascimento (Rm 6.4), lembrando simbolicamente que entramos na vida da igreja, na vida do corpo de Cristo, quando nascemos de novo do alto através das águas batismais.

Algumas igrejas luteranas mantêm água na pia batismal e incentivam os membros a molharem os dedos na água e fazer o sinal da cruz como uma lembrança perpétua do batismo que "nos arranca das fraudes do diabo, nos torna propriedades de Deus, subjuga e tira o pecado, e depois fortalece diariamente o novo homem, e sempre opera e permanece, até que desta miséria passemos à glória eterna" (CM IV,83).

Lutero também tinha sua maneira de lembrar do seu batismo que também serve de conselho a nós. Quando em dúvida ou desespero, consolava-se, dizendo a si mesmo: “baptizatus sum” (sou batizado). Alguns dizem que ele escreveu isso na sua mesa. Na verdade, o dito completo de Lutero era: "Ecce, ego baptizatus sum, et credo in Christum crucifixum". Algumas pessoas são lembradas do seu batismo quando olham para o quadrinho da certidão de batismo na parede de casa, de modo que se recordam também de seu aniversário de nascimento espiritual. Certa vez um estimado professor disse que a água com a qual lavamos o rosto pela manhã é propícia para lembrar do batismo, quando também podemos confessar os pecados, e então iniciar um novo dia renovados com a absolvição de Cristo. Podemos ainda fazer a Oração do Dilúvio de Lutero como uma ação de graças pelo nosso batismo.

Assim como em seu Catecismo Menor Lutero passa do Sacramento do Santo Batismo ao Ofício das Chaves e então ao Sacramento do Altar, também fazemos esse percurso todos os domingos. Iniciamos o culto lembrando que fomos batizados "em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo", afogamos nossos pecados na Confissão de Pecados, recebemos o consolo da Santa Absolvição, no Sacramento do Altar nos é concedido fortalecimento da fé em Deus e ardente caridade para com o próximo para sermos enviados para o culto diário através do nosso amor e serviço a Deus e ao próximo.

Com vistas à vivência diária da fé cristã, no final do Catecismo Maior Lutero nos convida a considerar "cada qual o batismo como sua vestimenta cotidiana, em que sempre se deve andar, para que todo o tempo se encontre na fé e em seus frutos, a fim de subjugar o velho homem e crescer o novo. Pois, se queremos ser cristãos, cumpre que exercitemos a obra pela qual nos tornamos cristãos" (CM IV,84-85). O Santo Batismo é fundamental para viver aqui e na eternidade!

26/11/2018

O Santo Batismo




Livro do santo profeta Ezequiel 36. 22-28



          Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!



          As Sagradas Escrituras estão repletas de promessas, profecias e tipificações de Cristo e da Graça de Deus em nosso favor. Visto que o Santo Batismo desempenha um papel tão importante, outorgando a obra redentora de Cristo a nós, a Bíblia prenuncia e profetiza o “lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tito 3.5) que Deus nos concede por meio do seu Filho.



          O dilúvio, registrado em Gênesis 6-9 mostra Deus arrasando os pecadores que haviam corrompido a criação divina. Porém, quando o Apóstolo Pedro fala desse evento em sua primeira Epístola, ele enfatiza a Bênção da Salvação que Deus provê para Noé e sua família porque a água os levantou e pela água eles foram salvos. A partir disso, o Apóstolo escreve: “Da mesma forma, o Batismo agora salva vocês” (1ª Pedro 3.21).



          A saída do povo de Israel do Egito, registrada em Êxodo 12-15 mostra o SENHOR concedendo a libertação ao povo através da água. Afinal, para seguirem a caminho da Terra Prometida, o povo de Israel precisou antes passar pela água. O Apóstolo Paulo em sua Epístola aos Colossenses, ensina que somos “sepultados juntamente com Cristo no Batismo, no qual também somos ressuscitados por meio da Fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Colossenses 2.12). O Santo batismo engole a morte, tão seguramente como o mar engoliu o exército de Faraó; e também concede uma nova vida, assim como aquele mesmo mar concedeu uma nova história para o povo de Israel.



          A profecia de Ezequiel, conforme registrada em seu livro, no capítulo 36, mostra o SENHOR profetizando a respeito desta nova vida e também do seu Espírito Santo que seriam aspergidos sobre o povo através de água pura. A partir disso, o povo será purificado e eles serão povo de Deus! Jesus Cristo, em meio ao diálogo com Nicodemos disse a ele: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (São João 3.5). Além disso, quando o Apóstolo Pedro estava pregando em Jerusalém, por ocasião do Pentecostes, ele afirma: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos seus pecados, e vocês receberão o Dom do Espírito Santo. Porque a promessa é para vocês e para os seus filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para todos aqueles que o Senhor, nosso Deus, chamar” (Atos 2.38-39).

          Por estes e tantos outros exemplos das Sagradas Escrituras, podemos tranquilamente afirma que o Santo Batismo é muito mais do que uma cerimônia ou rito que representa o que Deus fez por nós em Cristo; ser batizado é muito mais do que simplesmente obedecer a uma ordem de Deus. O bem-aventurado Dr. Martinho Lutero escreveu: “O Batismo não é apenas água simples, mas é a água compreendida no mandamento divino e ligada à Palavra de Deus” (Cm IV 2).



          Desde seus capítulos iniciais, as Sagradas Escrituras apontam para o tema principal na grande história divina da Salvação: A vinda de seu único Filho, Cristo Jesus, para viver, morrer e ressuscitar em nosso favor. Porém, a Palavra de Deus também prenuncia o Santo Batismo como parte integral da história de Deus para outorgar a cada um de nós aquilo que Cristo fez por nós.



          Com Cristo, você tem tudo o que precisa. Mediante a água unida à a Palavra de Deus no Santo Batismo, Deus produz vida nova. Ele afasta você para longe da ira e do castigo divino e o liberta da escravidão do pecado que levaria você para a condenação eterna. No Santo Batismo, você também é tornado herdeiro de Deus, “segundo a esperança da vida eterna” (Tito 3.7). Ou seja, através deste lavar regenerado e renovador do Espírito Santo, nosso Pai Celestial recebe você na Terra Prometida – no Paraíso Eterno – que foi conquistado para você por meio da obra redentora de Jesus Cristo. Por causa disso, o Santo Batismo é de fato sepultamento e ressurreição, como escreve o Apóstolo Paulo. Pois neste Sacramento você, graciosamente, e unicamente por ação de Deus, passa da morte para a vida, e Vida Eterna!



          Amém!





Rev. Helvécio José Batista Júnior
Ministro do SENHOR nas Igrejas Luteranas Bom Pastor e Cristo Rei em Cariacica/ES

No último Domingo do Ano Eclesiástico, 2018 AD

22/11/2018

Dia de ação de graças


O Evangelho segundo São Mateus 6. 25-34

          Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!

          Não se preocupem com a sua vida!” (S. Mateus 6.25). “Não se preocupem, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou com que nos vestiremos?” (S. Mateus 6.31). “Não se preocupem com o dia de amanhã” (S. Mateus 6.34).

          Estas palavras registradas no Evangelho para o dia de hoje não parecem soar como verdadeiras para nós. Afinal, quando olhamos para a nossa vida e para o mundo que vivemos, percebemos que o que mais nos acompanha é o estresse, as pressões, e as preocupações.

          Desde crianças já somos pressionados a dizer o que seremos quando crescermos, a ter a melhor nota da escola e logo decidir que faculdade iremos cursar. Na adolescência não é diferente, os preconceitos, o bullying e a moda do momento nos fazem ter dores de cabeça insuportáveis. Quando chegamos na fase adulta, tudo isso dobra, pois agora eu me estresso e me preocupo com o trabalho, com as contas no fim do mês, com meu cônjuge, com meus, com os problemas de vizinhança e ainda a violência e a insegurança. Ao chegarmos na terceira idade, nem nos iludimos achando que agora vamos poder descansar, pois as enfermidades se multiplicam, a força e o ânimo diminuem e o prazer e a alegria para aproveitar uma possível aposentadoria se tornam cada vez mais distantes de nós.

          Esta é a nossa situação, esta é a nossa vida. Alguns mais, outros menos, mas todos estão rodeados das mais diversas formas de estresse, pressões e preocupações. Dito isso, perguntamos: Como assim Jesus? Como não se preocupar? Como não ficar desesperado pelo dia de amanhã?

          O estresse, as pressões do dia-a-dia e as preocupações que nos cercam podem nos levar, e infelizmente levam muitos, a optar por caminhos desastrosos. Como assim? No fim de um dia agitado, barulhento e problemático, nós só queremos relaxar um pouco, esquecer de todas essas coisas por um tempo, sair fora desse mundo nem que seja por alguns minutos. E é aí que algumas pessoas podem ser agarradas pelos vícios, principalmente a bebida e as drogas – pois elas vão dar essa sensação de alívio, relaxamento e descanso. Ou seja, elas nos oferecem exatamente aquilo que estamos buscando.
          Por essas e outras, Jesus nos diz, conforme o Evangelho para o dia de hoje: “Não se preocupem com a sua vida”, não porque agora você pode viver totalmente relaxado que as coisas irão cair do céu de bandeja para você, não é isso. Jesus diz “não se preocupem com a sua vida” porque vocês não estão sozinhos nessa vida, “o Pai de vocês, que está no Céu” (S. Mateus 6.26b) não deixa vocês largados e abandonados. E ele sabe que você precisa descansar, ele sabe que vocês precisam fechar os olhos, relaxar e esquecer um pouco todos estes problemas; mas, ao invés de vocês buscarem essas coisas em lugares traiçoeiros e equivocados, ele diz para vocês confiarem nele, repousarem nele. Pois ele é alguém que sustenta, ajuda e permanece junto até mesmo “das aves dos céus, que não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros” (S. Mateus 6.26a). “Será que vocês não valem mais do que as aves?” (S. Mateus 6.27).

          Jesus não está dizendo que confiando nele todos os nossos dias serão como um mar de rosas, ele não está querendo criar em nós uma falsa ilusão de uma vida sem problemas, sem pressões e sem percalços. O que Jesus está procurando ensinar para nós através destas palavras é o seguinte: a) Nós não precisamos ficar estressados sozinhos e acharmos que temos que resolver todos os problemas do mundo, o nosso Pai que está no céu está junto de nós, sofrendo com a gente todas esses problemas e preocupações. b) Nós também não precisamos achar que, por não conseguirmos superar as expectativas e vencermos as pressões do dia-a-dia precisamos nos desesperar de nós mesmos, largarmos tudo e irmos na direção dos vícios ou até mesmo de um suicídio; o nosso Pai que está no céu se olha até mesmo pelas roupas que vamos vestir (S. Mateus 6.30).

          Essas palavras de Jesus dizem para nós que “que o nosso Pai, que está no céu, sabe de todas as coisas que precisamos” (S. Mateus 6.33), ele não está distante das nossas necessidades; pelo contrário, ele nos auxilia até mesmo nos mínimos detalhes de nossa vida que muitas vezes passam despercebidos aos nossos olhos. Por exemplo, algo que eu sempre costumo dizer aos alunos na Catequese: Se você está calçando uma sandália, por mais simples que seja, dê graças a Deus por isso. Pois essa sandália nos seus pés só foi possível porque você ou alguém teve algum dinheiro para comprar, e se havia dinheiro é porque havia um emprego para se trabalhar, e se você ou a pessoa que te presenteou pode trabalhar é porque alguém lhe deu uma oportunidade e Deus lhe deu saúde para poder aproveitar esta oportunidade. Resumindo, até essa simples sandália é um presente que o nosso Pai que está no céu deu a você. Por isso, agradeça a ele, ele se preocupou até mesmo com os seus pés.
          Acima de tudo isso que até aqui foi dito, precisamos admitir que a nossa vida poderia ser infinitamente pior. Imagina se o nosso Pai não tivesse enviado seu Filho Jesus Cristo para morrer por nós e perdoar o nosso pecado, nossa vida literalmente já seria um inferno, pois não haveria perspectiva, não haveria esperança e com toda a certeza não haveria amor. Desse modo, o simples fato de podermos confiar no perdão de Deus já é motivo de agradecimento, o simples fato de podermos nos planejar para realizarmos algo ou fazermos uma viagem, por exemplo, já é motivo de agradecimento; o simples fato de podermos vivenciar esse corre-corre louco do mundo já é motivo de agradecimento, pois ainda não morremos, estamos vivos, acordamos de manhã. Acredito que seja por isso que o Apóstolo Paulo, ao escrever aos Tessalonicenses disse: “Em tudo deem graças a Deus”. Pois, de fato, em todas as coisas, mesmo naquelas mais difíceis, complicadas e cansativas nós ainda conseguimos enxergar as mãos de Deus trabalhando e podemos reconhecer a sua presença junto de nós, carregando por nós aquelas cargas que por nós mesmos jamais conseguiríamos carregar.

          É nesse sentido que Jesus está dizendo: “não se preocupem com o dia de amanhã”. Jesus não está querendo que a gente viva uma vida adoidado, sem responsabilidades e totalmente relaxada, isso são os vícios e o mundo que oferecem para nós. Jesus, pelo contrário, está dizendo graciosamente para nós que “não precisamos nos preocupar com o dia de amanhã” porque o Pai é o Senhor do ontem, do hoje e também do amanhã; não estaremos por nós mesmos tendo que “matar um leão por dia” como diz um certo ditado, o Senhor sempre está conosco, ele luta por nós, ele segura a nossa mão e diz pra nós: “Siga em frente, não se preocupe, você não está sozinho”, “eu estou com você todos os dias, sempre” (S. Mateus 28.28).

          O que resta para nós? Apenas agradecer! Agradecer porque, realmente, o Senhor é bom e a sua misericórdia dura para sempre!

          Feliz ação de graças para vocês!
          Amém!

Rev. Helvécio José Batista Júnior
Ministro do SENHOR nas Igrejas Luteranas "Bom Pastor" e "Cristo Rei"
Cariacica/ES

20/11/2018

Promessas de Deus


Com certeza Deus faz promessas ao seu povo. Mas ao mesmo tempo ele também os prova e exercita na fé, ensina que eles deveriam viver mais pela Palavra do que pelo pão, como Moisés testifica em Deuteronômio 8.3-4: “Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor viverá o homem”.

É preciso ter o cuidado de não abrir mão do fato de que Deus faz promessas e protela as coisas prometidas, e que Ele nos prova com escassez de coisas para nos instruir na fé na promessa e para que essa fé seja fortalecida e possamos aprender a crer em Deus não apenas em tempos de prosperidade, quando as coisas estão aí, mas também na adversidade, quando faltam as coisas...

Conhecer e compreender Deus quando faz uma promessa é o principal tópico de toda a Sagrada Escritura. Ele ajuda e traz apoio mesmo com a realização efetiva de sua promessa e quando ela é cumprida. Mas, antes disso, ele disciplina a fé na promessa por meio da carência das coisas de que necessitamos. Ele faz isso para aprendermos a confiar nele e não tentá-lo. Os judeus o tentaram. Quando Deus não os supriu imediatamente com tudo de acordo com seu gosto e prescrição, eles rapidamente correram atrás de deuses estranhos. "Não esperaram o seu conselho" (Sl 106: 13). Eles não esperaram.

Tantas exortações são colocadas contra essa impaciência nos profetas e nos salmos. Assim Habacuque 2.3 afirma: “Porque a visão é ainda para o tempo determinado, mas se apressa para o fim, e não enganará; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará”. No Salmo 27.14 lemos: “Espera no Senhor, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no Senhor”. Mas os judeus não observaram isso. Nem desejavam aprender. Portanto, eles escolheram outras formas de adoração e procuraram por deuses como Astarote e Baal, para ajudá-los ali e agora, sem fé em uma promessa, para que pudessem sentir a ajuda e segurá-la com as mãos. Assim dizem orgulhosa e obstinadamente a Jeremias: “Faremos tudo o que desejamos fazer...” (44.17); isto é, "Não vamos ouvir a sua Palavra..." É como se eles estivessem dizendo: "Queremos ter um deus que nos ouça de imediato e nos dê o que queremos, não um deus que protela a ajuda".

- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja, nas Preleções acerca do Gênesis, cap. 49 (1544).

19/11/2018

19 de novembro - Isabel da Hungria


Isabel nasceu em 1207, em Pressburgo (Hungria), filha do rei André II e Gertrudes. Aos 14 anos de idade, Isabel se tornou esposa de Ludovico da Turíngia (Alemanha), através de um casamento político arranjado. Ela tinha um espírito de generosidade e caridade cristã e o lar que ela estabeleceu para o marido e os três filhos no Castelo de Wartburg em Eisenach era conhecido pela hospitalidade e amor familiar. Isabel supervisionava o cuidado dos doentes e necessitados e chegou a dar sua cama para um leproso certa vez. Isabel ficou viúva aos 20 anos, deixou provisões para seus filhos e levou uma vida austera como freira da Ordem de São Francisco. Sua abnegação a levou a uma saúde debilitada e à morte precoce em 1231, aos 24 anos. Lembrada por seu jeito altruísta, Isabel é comemorada pelos inúmeros hospitais em todo o mundo que têm o seu nome.

ORAÇÃO DO DIA:


Todo-poderoso Rei, cuja herança não é deste mundo, incute em nós a humildade e a benevolente caridade de Isabel da Hungria. Ela rejeitou sua adornada coroa ao contemplar aquela de espinhos que seu Salvador usou por amor dela e nosso, para que nós também possamos viver uma vida de sacrifício, agradável a teus olhos e digna do nome de teu Filho, Jesus Cristo, que com o Espírito Santo reina contigo para sempre no reino eterno.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (Concordia Publishing House,2008. p. 929)

17/11/2018

Não existe nenhum outro nome

 

E não há salvação em nenhum outro, porque debaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. (Atos 4.12 NAA)

"Sempre que alguém diz encontrar a Palavra de Deus fora das Escrituras e do ensino das verdades escriturísticas através da igreja, Cristo é deste modo privado de sua honra como aquele em cujo nome exclusivamente a salvação é encontrada. Onde isso acontece, a igreja deixa de ser a igreja de Deus"

Hermann Sasse
(Lutero e os ensinamentos da Reforma, 1937)

The Lonely Way: Selected Essays and Letters, Volume 1 (St. Louis: Concordia Publishing House, 2002. p. 330).

09/11/2018

Staupitz, o confessor de Lutero


É um costume antigo da Igreja Cristã recordar homens e mulheres de fé no dia de sua morte terrena, o aniversário de seu “nascimento celestial” (dies natalis). Johann von Staupitz morreu em 28 de dezembro de 1524, mas sua lembrança foi movida do período de Natal para o mês de novembro, antecedendo os aniversários dos reformadores Martin Chemnitz (9/11) e Lutero (10/11).

Staupitz notabilizou-se por encorajar Lutero. Quando Martinho lhe disse que seus pecados eram grandes demais, Staupitz respondeu: “Cristo é o perdão de todos os pecados. Ele é um salvador real. Deus enviou o seu próprio Filho e o entregou por todos nós”.

Martinho Lutero descreveu Staupitz como seu “pai em Deus” e certa vez disse: “Se não fosse pelo Dr. Staupitz eu teria afundado no inferno”. Isso porque quando Lutero se perguntava “Quem pode amar um Deus irado que julga e condena?” e nada lhe trazia paz, apesar de todas as suas intercessões, o principal auxílio e conforto em meio a essas angústias e provações (anfechtungen, em alemão) veio de Johann von Staupitz, que recomendou Lutero a olhar para as chagas de Cristo, pois ali está o amor de Deus.

Staupitz também recomendou que Lutero se tornasse um pregador, a fim de que, confortando a outros, ele próprio seria confortado; estimulou Lutero a obter um doutorado em teologia e assumir a cadeira do ensino da Bíblia na Universidade de Wittenberg. Diante de tamanha responsabilidade, Lutero sentiu-se incapaz e alegou que tanto trabalho acabaria matando-o, ao que Staupitz teria respondido: “Não se preocupe com isso, Deus também tem bastante trabalho no céu para homens inteligentes”.

O “versículo lema” de Staupitz era o Salmo “Sou teu, salva-me” (Sl 119.94), um texto que ele compartilhava com Lutero quando o jovem monge estava aflito pela graça de Deus.

Epitáfio de Chemmnitz

Si Martinus non fuisset, Martinus vix stetisset”.
“Se o Martinho (Chemmnitz) não tivesse vindo, Martinho (Lutero) não teria permanecido”
Era assim que os teólogos romanos descreviam Martin Chemnitz.

A vida e obra do "Segundo Martinho" foram de fundamental importância na concórdia entre os seguidores de Lutero.

Na foto vemos o epitáfio de Chemmnitz, construído logo após sua morte, no lado direito do altar da igreja St. Martini em Braunschweig, na Alemanha, onde Chemnitz atuou como Superintendente das congregações, pastores e outros obreiros da igreja.



O epitáfio traz as seguintes inscrições em latim, abaixo do retrato de Chemnitz:

"O que vivi na carne, vivi na fé do Filho de Deus, o qual me amou e entregou a si mesmo por mim. Gál. II

Martin Chemnitz, doutor em teologia sacra e superintendente desta igreja, nasceu em Marca [de Brandenburgo], na cidade de Treuenbrietzen, em 1522 Anno Christi, no dia 9 de novembro, 47 minutos depois do meio-dia. Ele morreu em Braunschweig em 1586 Anno Christi, em 8 de abril, à meia-noite."

03/11/2018

O escândalo da Graça Divina que abençoa o ímpio

"Jó e seus amigos" (1869), Ilya Repin  (1844–1930)
"Os ímpios se gabam de seu cetro e domínio, e eles têm razão para assim fazê-lo, pois Deus enche suas barrigas com coisas boas. Ele lhes dá os reinos e as riquezas do mundo... Ele também dá bênçãos corporais aos santos, mas lentamente e em meio a muitas tribulações, para que sua fé possa ser exercitada e aprendam a conhecer as dádivas de Deus e usá-las de acordo com sua vontade.
Por isso, permaneçamos nessa assembléia que tem a Palavra, ainda que seja desprezada e deplorável. Os ímpios, orgulhosos e gananciosos, crescem e estão aumentando de forma notável neste mundo. Eles continuam crescendo de modo que continuarão tendo sucesso. Os justos até começam a murmurar e a sentir desgosto, dizendo nas palavras do Sl 73.13: 'Inutilmente conservei puro o coração e lavei as mãos na inocência'. Mas o Salmo responde: 'Tu certamente os pões em lugares escorregadios' (v. 18). No fim, resulta perplexidade. Essas coisas fazem parte da nossa doutrina a fim de que não sejamos afrontados pelos escândalos que são habituais e sempre presentes no mundo."

- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (LW 6:306)

02/11/2018

Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor!



Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!



          O Apóstolo João, em Apocalipse 14.13 relata: “Então ouvi uma voz do céu dizendo: Escreva: ‘Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor’. Sim – diz o Espírito Santo – para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham”.



          Normalmente, quando estamos diante da morte ou conversamos sobre o morrer, tratamos deste tema como algo triste, que traz sofrimento e que, às vezes, nos leva até mesmo ao desespero. Temos medo da morte, não gostamos de conversar sobre isso, e achamos que ela é a palavra final em nossas vidas. Quem nunca ouviu a frase: “tudo termina com a morte”.



          Ao contrário de nossas palavras e de nossos pensamentos, a Palavra de Deus fala sobre o morrer de uma maneira diferenciada. Ela não nega que exista dor e sofrimento, ela não esconde que essa nossa vida aqui neste mundo termina com a morte. No entanto, as Sagradas Escrituras não colocam a morte como sendo a detentora da palavra final em nossas vidas. Ela nos mostra que existe algo a mais, que existe vida, mesmo após fecharmos os olhos para este mundo.



          O bem-aventurado Dr. Martinho Lutero certa vez escreveu: “Cristo nada mais é do que pura vida, e os seus santos também. Por isso, quanto mais profunda e intensamente você gravar essa imagem e a encarar, tanto mais diminuirá a imagem da morte. Ela desaparecerá por si mesma, sem luta e sem briga. Assim o seu coração encontrará paz e você poderá morrer tranquilamente com Cristo e em Cristo” (AE 42.104). Afinal, “bem-aventurados são os mortos que, desde agora, morrem no Senhor” (Apocalipse 14.13a).



          O Dia de Todos os Santos existe para deixar essa mensagem de consolo para todos nós: “Em Cristo, até mesmo a morte é tornada Vida, e Vida Eterna” porque o nosso Senhor já venceu por nós e em nosso lugar o pecado, o diabo e a própria morte. Portanto, “todo aquele que nele confia, ainda que morra, viverá” (S. João 3.16). 

          Como eu posso ter certeza disso, se eu ainda não morri e não sei o que ocorre após a morte? O Apóstolo João, em Apocalipse 7.9 lhe responde: “Eu vi, e eis grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestes brancas, com ramos de palmeira nas mãos. E clamavam com voz forte, dizendo: Ao nosso Deus, que está sentado no Trono, e ao Cordeiro, pertencem a salvação”.



          Quem são e de onde vieram estes que estão vestidos de branco?” (Apocalipse 7.13) Será que meus avós, meu marido, minha esposa, meus filhos, meus amigos, meus irmãos e tantas outras pessoas que não estão mais aqui comigo fazem parte desta multidão?



          O Apóstolo João continua, em Apocalipse 7.14-17: “Estes são os que vêm da grande tribulação (deste mundo), que lavaram as suas vestes e as alvejaram no Sangue do Cordeiro (foram lavados, regenerados e purificados em Cristo). Por isso, estão diante do Trono de Deus e o adoram de dia e de noite no seu Santuário (no Céu). E aquele que está sentado no Trono estenderá sobre eles o seu Tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem qualquer outro calor forte, pois o Cordeiro que está no meio do Trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima”.



          Viver neste mundo com Cristo, é estar caminhando rumo a Vida Eterna que ele conquistou para nós! Morrer com Cristo é passar a desfrutar plenamente desta Vida Eterna! Por isso, todo aquele que confia em Jesus Cristo, que recebeu pela Graça de Deus a Fé Salvadora, faz parte de uma “comunhão bendita e divinal” – a comunhão de Todos os Santos! Assim como aquela pessoa querida que já partiu, confiando em Cristo, você também faz parte desta comunhão por causa de Cristo, e por isso, esta Palavra também é para você: “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor” (Apocalipse 14.13).



          Abençoada noite de todos os santos!

          Amém!

Rev. Helvécio José Batista Júnior
Ministro do SENHOR nas Igrejas Luteranas "Bom Pastor" e "Cristo Rei" em Cariacica/ES
No dia dos fiéis defuntos, 2018 AD

2 de novembro - Dia de Finados


Cor litúrgica: Branca

LEITURAS:

† Isaías 35.3-10
† Salmo 34.1-9 (antífona v. 1)
† 2 Pedro 3.8-14, 18
† João 5.24-29


Também conhecido como Dia dos Fiéis Defuntos, esta comemoração está de mãos dadas com a lembrança de ontem: Dia de Todos os Santos. Na igreja primitiva, festas de apóstolos e evangelistas foram prontamente celebradas. Mais tarde os mártires e todos os outros santos foram comemorados em 1º de novembro (Dia de Todos os Santos) e os mortos no purgatório em 2 de novembro (Dia de Finados).

Visto que a ideia do purgatório foi erradicada na Igreja Luterana, nossos antepassados também viram proveito neste dia, reservado para lembrar aqueles que partiram na fé em Cristo e aguardam a ressurreição da carne (cf. Credo Apostólico).

Damos graças a Deus por todos nossos entes queridos e todos aqueles que partiram e que de várias maneiras e em muitas circunstâncias, foram instrumentos de Deus na transmissão e fortalecimento de nossa fé. Por isso, são “bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham” (Apocalipse 13.14).

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso Deus, contigo estão todos os que adormeceram confiando em ti e nas tuas promessas em Cristo, pois agora descansam aliviados da carga do pecado. Agradecemos-te pela tua presença amorosa na vida de todos aqueles que perseveraram na fé até o fim e pedimos que permitas que os nossos caminhos e os daqueles que já partiram se encontrem na mansão que preparaste para os que confiam em teu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.

01/11/2018

Os Luteranos e o Dia de Todos os Santos

Adoração do Cordeiro - Jan van Eyck

A Festa de Todos os Santos tem possível origem no início do século VII, mais provavelmente quando o antigo Panteão em Roma foi dedicado como uma igreja cristã intitulada “Santa Maria e Todos os Santos”.

Uma nota introdutória do Artigo XXI da Confissão de Augsburgo afirma: “A Igreja Primitiva desenvolveu um apreço por aqueles que confessaram e, por vezes, morreram por sua fé. No entanto, a corrupção profunda desenvolveu-se dentro da Igreja com relação à honra dada aos santos, resultando no que só pode ser descrito como adoração idólatra. Aqueles que vieram antes de nós na fé devem ser honrados, lembrados, e imitados de acordo com nossos diversos postos e chamados na vida. Isso é claro. No entanto, é claramente contrário às Escrituras ensinar que os santos estão aí para serem buscados e invocados para ajudar. Simplesmente não há mandamento, não há exemplo e nenhuma promessa na Bíblia indicando que devemos orar aos nossos irmãos e irmãs que partiram em Cristo”.

Portanto, o Dia de Todos os Santos não é um remanescente medieval romano que luteranos esqueceram de erradicar, mas é um dia santo no qual lembramos que estamos rodeados por uma “tão grande nuvem de testemunhas” (Hb 12.1), os fiéis em Cristo aqui na terra e acima no céu, encorajando e ajudando-nos a perseverar na fé cristã.

- Rev. Wilhelm Torgerson, em Concordia Pulpit Resources, Volume 22, Part 4, Series B.

Quem são os santos na Igreja Luterana?


QUEM SÃO OS SANTOS?

A Igreja Luterana é restrita no número de santos? De acordo com alguns padrões, até parece ser. Há outras denominações cristãs que têm ao menos um santo (ou mais) para cada dia do ano. A lista luterana, representada pelos santos incluídos na tabela de “Dias Festivos” e a lista de “Comemorações” no Lutheran Service Book, não é tão extensa [esta lista também está nas páginas XIV-XVI do Hinário Luterano da IELB]. Os “Dias Festivos” apresentam-nos cerca de duas dezenas de nomes e as "Comemorações” acrescentam uma centena a mais de nomes. Essas pessoas são os únicos verdadeiros santos na história da Igreja Cristã?

COM CERTEZA NÃO!

O Dia de Todos os Santos e o mês de novembro que se inicia nos convidam a celebrar os santos das épocas passadas, a participar em fé com os do tempo presente e alegrar-se com a antecipação das gerações de santos ainda por nascer, que manterão e passarão adiante a fé até o fim dos tempos na terra.

Com toda a certeza não é uma “lista restrita”!

- Rev. Gregory J. Wismar (Saints: More Than a ‘Short List’. The Lutheran Witness, vol. 127, nº 11, nov. 2008.)

1º de novembro - Todos os Santos



Cor litúrgica: Branca

† Apocalipse 7.(2-8) 9-17
† Salmo 149 (antífona v. 4)
† 1 João 3.1-3
† Mateus 5.1-12


Esta festa é a mais inclusiva das datas comemorativas, abrangendo toda a extensão dessa grande nuvem de testemunhas com as quais estamos cercados (Hebreus 12.1).  Ela retém diante dos olhos da fé esta grande multidão que ninguém pode enumerar: todos os santos de Deus em Cristo, de todas as nações, tribos, povos e línguas, que “vêm da grande tribulação, que lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7.9, 14).

Desta forma coloca diante de nós toda a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade da graciosa salvação do nosso gracioso Senhor (Efésios 3.17-19). Esta festividade tem em comum com a Páscoa uma celebração da ressurreição, uma vez que todos os que morreram com Cristo Jesus também foram ressuscitados com Ele (Romanos 6.3-8).

Tem em comum com o Pentecostes uma celebração da reunião de toda a Igreja católica - no céu e na terra, em todos os tempos e lugares - no único Corpo de Cristo, na unidade do Espírito no vínculo da paz. Assim como todos nós fomos chamados numa só esperança da nossa vocação, “há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Efésios 4.4-6).

E a Festa de Todos os Santos também tem em comum com os últimos domingos do Ano Igreja, um foco escatológico na vida eterna e uma confissão de que “os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Romanos 8.18).
Em todas essas ênfases, o propósito desta festa é fixar nossos olhos em Jesus, Autor e Consumador da nossa fé, para que não enfraqueçamos ou desfaleçamos em nossos ânimos (Hebreus 12.2-3).

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-poderoso e eterno Deus, tu uniste teu povo fiel de todos os tempos e lugares numa santa comunhão, o corpo místico de teu Filho Jesus Cristo. Concede-nos seguir teus bem-aventurados santos em toda virtude e vida piedosa, para que juntamente com eles possamos alcançar as indescritíveis alegrias que tu tens preparado para aqueles que te amam; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.

Fonte: Treasury of Daily Prayer (St. Louis: Concordia Publishing House, 2008. p. 870, 871)