18/10/2021

São Lucas, Evangelista (18 de outubro)

São Lucas, Evangelista (1625), por Valentin de Boulogne (1591-1632)

Isaías 35.5-8
2 Timóteo 4.5-18
Lucas 10.1-9

O Senhor nos manda orar ao Senhor da seara para enviar trabalhadores para a sua seara (Lc 10.2). Os campos estão mais parecidos com deserto, onde os chacais costumavam viver (Is 35.6–7), e o Senhor envia seus trabalhadores como cordeiros para o meio de lobos. Mas a Palavra da “Paz” de Cristo cura os enfermos e traz o próprio reino de Deus para perto daqueles que a ouvem (Is 35.5; Lc 10.3-9). São Lucas, o médico amado (Cl 4.14), foi um desses trabalhadores que o Senhor enviou para fazer a obra de um evangelista. Ele preparou diligentemente um Evangelho (a história da obra de Cristo na carne antes da sua ascensão) e os Atos dos Apóstolos (a história da continuação da obra de Cristo no meio da sua Igreja). Tanto o Evangelho de Lucas quanto os Atos dos Apóstolos são dons do nosso Senhor que “subiu acima de todos os céus” (Ef 4.8–12), escritos para Teófilo e para “todos os que amam sua vinda” (2Tm 4.5–8). A tradição sugere que Lucas foi um dos setenta e dois discípulos que Jesus enviou à sua frente, dois a dois. Lucas provou ser um companheiro fiel durante as viagens missionárias de São Paulo, através de muitas provações e cruzes, até chegar a Roma, onde também esteve ao lado do apóstolo Paulo.

ORAÇÃO DO DIA:

Todo-Poderoso Deus, nosso Pai, teu bendito Filho chamou o médico Lucas para ser um evangelista e médico da alma. Concede que o remédio curativo do Evangelho e dos Sacramentos possam afastar as doenças de nossas almas para que, com coração voluntário possamos amar e servi-lo; através de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

— Comentário traduzido e adaptado de Lectionary Summaries (Feasts, Festivals and Occasions) editado pelo Rev. Sean Daenzer e publicado por LCMS Worship. Salvo exceção, todas as citações da Bíblia Sagrada são da versão Nova Almeida Atualizada (NAA), da Sociedade Bíblica do Brasil. A Coleta é do Culto Luterano: lecionários (Editora Concórdia).

15/10/2021

Carta à Igreja em Laodiceia

 


Apocalipse 3: 14-22

A Graça de nosso Senhor Jesus T Cristo e o Amor do Pai e a Comunhão do Espírito Santo sejam com todos!

Laodiceia era uma das mais ricas cidades da Ásia. Seus cidadão não faziam cerimônia em deixar isso visível. Até por isso, eram vistos pelos de fora como insuportáveis. Mesmo as pessoas da Igreja em Laodiceia tinham essa atitude orgulhosa e presunçosa. Talvez imaginassem que a riqueza era sinal de algum favor especial de Deus.

À esta Igreja, Jesus escreve a última de suas Sete Cartas, e a inicia da seguinte forma: “Ao anjo – ao pastor – da igreja em Laodiceia escreva: Estas coisas diz o Amém – isto é, a Verdade. Aquele que é – a testemunha fiel e verdadeira – ou seja, aquele que verdadeiramente revela Deus e em quem podemos confiar, e que além disso, é também – o princípio da criação de Deus – que em outras palavras significa dizer que é a Fonte de toda a Criação!” (Apocalipse 3:14).

Após esta tríplice apresentação, Jesus vai direto ao ponto com a Igreja em Laodiceia e lhe diz: “Conheço as obras que você realiza, que você não é nem frio nem quente. Quem dera você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, e não é nem quente nem frio, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca” (Apocalipse 3: 15-16).

Como assim Jesus? “Quem dera você fosse frio ou quente”? Uma Igreja quente tudo bem, mas uma Igreja fria? Pois é, este é mais um daqueles textos que muitos leem de forma equivocada. Afinal, se dissemina aos quatro ventos que a Igreja precisa ser quente, isto é, viva e vibrante; mas não fria, pois uma Igreja fria é, na verdade uma Igreja morta. Nada disso o texto bíblico diz, e aqui nesta Carta não é este o sentido das palavras de Jesus.

Para compreendermos o que Jesus está falando à Igreja em Laodiceia nós precisamos de muito estudo. Afinal, a única maneira de entender esta palavra é conhecendo o contexto geográfico da cidade daquele tempo. Observe: Laodiceia era um centro comercial importante na Ásia Menor, tinha uma boa localização e recursos financeiros elevados. No entanto, havia um problema: não havia fontes de água boa na cidade, e por isso, ela dependia de um sistema de encanamento para que água fresca viesse de fora e chegasse até a população. Resultado? A água que chegava normalmente era morna e causava vômito. Já ao lado de Laodiceia havia a cidade de Hierápolis, que era famosa por suas águas termais que atraiam muitos visitantes por causa de suas propriedades terapêuticas e medicinais. E do outro lado estava Colossos, que era famosa por sua abundância em água potável e refrescante. Portanto, quando Jesus fala que a Igreja em Laodiceia é morna, ele está dizendo que aquela Igreja, apesar de realizar algumas obras – muito em função de sua riqueza material – é uma Igreja que não o agrada, que o faz estar a ponto de vomitar, pois é uma Igreja que, assim como as águas da cidade, não curam e nem matam a sede. Não é quente e nem fria.

Mas, por que a Igreja em Laodiceia está nesta caótica situação? A resposta está na continuidade da Carta de Jesus a ela, veja: “Você diz: ‘Sou rico, estou bem de vida e não preciso de nada.’ Mas você não sabe que é infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Apocalipse 3:17). Isto é, a Igreja em Laodiceia acreditava que tinha tudo. Afinal, mantinha um bom caixa que supria todas as necessidades e ainda a fazia realizar muitos projetos, e por causa disso, via na arrecadação e no lucro o caminho para a felicidade e bem-estar como Igreja. Porém, na verdade, Jesus a enxerga como sendo “infeliz, miserável e pobre, além de cega e nua”. Ou seja, a Igreja em Laodiceia achava que tinha tudo e, possivelmente aos olhos humanos tinha mesmo. Entretanto, aos olhos de Deus, não possuía nada, não valia nada e não era nada. Jesus já estava a ponto de vomitá-la, pois ela lhe fazia mau.

Será que alguma vez Cristo já esteve a ponto de vomitar vocês? Será que esta Igreja que aqui se reúne já fez mal a Cristo? O apóstolo Paulo não diz que o “amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” à toa. As vezes podemos transformar a Igreja de Cristo em nossas Igrejas, onde o mais importante são os nossos planos e projetos. E se em algum momento vocês pensaram ou agiram assim, arrependam-se, pois isto não é ser Igreja Cristã.

Voltando a Carta, Jesus dá um conselho que precisa ser ouvido por eles, por nós também e por todas as Igrejas:  “Aconselho que você compre de mim ouro refinado pelo fogo, para que você seja, de fato, rico. Compre vestes brancas para se vestir, a fim de que a vergonha de sua nudez não fique evidente, e colírio para ungir os olhos, a fim de que você possa ver. Eu repreendo e disciplino aqueles que amo. Portanto, seja zeloso e arrependa-se” (Apocalipse 3: 18-19).

Como assim? A Salvação e a Vida Cristã deixaram de ser por Graça e passaram a ser por obras? Nós podemos comprar algo de Jesus? Realmente, quando lemos este texto, estranhamos as expressões que nele são usados. Porém, para que não caiamos em uma compreensão equivocada deste conselho de Jesus, lembremos de um dos importantes pressupostos que precisamos ter para estudar o Livro de Apocalipse: conhecer do Antigo Testamento.

Esta forma de descrever o relacionamento da Igreja e o Senhor já foi dita no Antigo Testamento, através do profeta Isaías. E lá, de uma maneira sutil e delicada está a explicação a respeito deste “comprar algo do Senhor”. Observe: “Todos vocês que têm sede, venham às águas; e vocês que não têm dinheiro, venham, comprem e comam! Sim, venham e comprem, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que vocês gastam o dinheiro naquilo que não é pão, e o seu suor, naquilo que não satisfaz? Ouçam com atenção o que eu digo, comam o que é bom e vocês irão saborear comidas deliciosas. Deem ouvidos e venham a mim; escutem, e vocês viverão.” (Isaías 55. 1-3).

Comprar algo do Senhor significa receber os Dons Divinos que ele oferece de graça, ou seja, “sem dinheiro”, como diz o profeta Isaías. Mas como isso ocorre na prática? Simples! Recebemos estes Dons sem custo porque Alguém já pagou o preço em nosso lugar. Este Alguém é Jesus Cristo. E estes Dons são justamente os Meios da Graça: a Palavra e os Sacramentos. São estas coisas que fazem a Igreja ser Igreja, que a sustenta e a preserva. Não é a riqueza, não são as obras, não é aquilo que está em nas nossas mãos, mas sim aquilo que está nas mãos do Senhor!

Em sua Carta, Jesus ainda diz: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Apocalipse 3:20). Importante: Jesus está dizendo estas palavras para uma Igreja, para pessoas que já o conhecem, mas que o estão desagradando. Portanto, Jesus não está ensinando que ele só entra em nossa vida se abrirmos a porta para ele. Não! Aqui é como se ele estivesse dizendo: “Apesar de toda a sua rebeldia, de todas as falhas, eu estou aqui trabalhando no seu coração, insistindo com você porque quero sua salvação e vou, continuar incomodando, como alguém que está constantemente batendo à porta de sua casa”. Este é outro versículo que se não lermos dentro do seu contexto, podemos cair em séria heresia.

Por fim, Jesus conclui: “Ao vencedor, darei o direito de sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com o meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” (Apocalipse 3: 21-22). Ou seja, todo o que está alicerçado no seu Evangelho viverá para sempre ao lado do Pai, será um vencedor, e participará eternamente do Banquete Celestial que o Senhor preparou para todos os seus. Mas para que isso ocorra, a fé não pode estar em nós ou no que fazemos, mas sim unicamente no Senhor. Afinal, é só ele quem pode, como águas quentes, curar a nossa maior ferida: o pecado. E do mesmo modo, somente ele é quem pode, como água refrescante, nos conceder o alivio e o bem estar do Perdão, da Salvação e da Vida Eterna!

Rev. Helvécio J. Batista Jr.
Igreja Luterana em Naviraí/MS
15 de Outubro, 2021 AD


10/10/2021

09 de Outubro ~ Dia do S. Patriarca Abraão

 


Salmo 105: 1-6 + Hebreus 11: 8-10, 17-19 + S. Lucas 20: 37-38

ABRAÃO

 

Nascido em Ur dos caldeus por volta de 2.000 AC, Abrão – como seu nome originalmente era, recebeu um chamado do Senhor: “Saia da sua terra, e da casa de seu pai e vá para a terra que lhe mostrarei” (Gênesis 12:1). Junto deste chamado, Deus também fez a seguinte promessa a Abrão: “Farei de você uma grande nação, e o abençoarei, e engrandecerei o seu nome. Abençoarei aqueles que o abençoarem e amaldiçoarei aquele que o amaldiçoar” (Gênesis 12: 2-3a).  Além disso, o Eterno ainda legou a Abrão a maior de todas as promessas, aquela que inclui ele, sua família e toda a terra: “Abrão, em você – em sua semente – serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:3b).

 

Aos 75 anos, Abrão ouviu e guardou a Palavra do Senhor, e assim começou sua jornada. Ele parou por um tempo em Harã, mas finalmente chegou em Canaã. Com ele estava Sarai, sua mulher e também Ló, seu sobrinho.

 

A princípio, Abrão chegou a pensar que seu Ló seria seu herdeiro prometido, mas o Senhor deixou claro que nem Ló e nem seu servo Eliezer seriam seus herdeiros. Em vez disso, Deus explicou a Abrão: “Aquele que será gerado por você, esse será o seu herdeiro” (Gênesis 15:4). E para fortalece Abrão, completou o Altíssimo: “Olhe para os céus e conte as estrelas, se puder contá-las. Assim será a sua posteridade” (Gênesis 15:5). Diz as Sagradas Escrituras: “Abrão creu no Senhor, e isso lhe foi atribuído para Justiça” (Gênesis 15:6).

 

 Abrão, no entanto, é um ser humano, e como todos, possui fragilidades. E vendo o tempo passar e nada acontecer, se cansou de esperar pela promessa do Senhor e em acordo com sua mulher, decidiu cuidar do assunto à sua maneira:  Sarai deu sua serva, Agar, nos braços de Abrão, ele “teve relações com Agar, e ela ficou grávida” (Gênesis 16:3). E desta relação, que depois provocou muitas intrigas e conflitos entre Abrão e sua mulher, nasceu Ismael.

 

O Senhor, porém, deixou bem claro que Ismael não era aquele  que havia sido prometido, pois de Sarai e Abrão é que nasceria o filho. E para mais uma vez reafirmar sua promessa, ele mudou o nome de Abrão: “Esta é a minha aliança com você: você será pai de muitas nações. E o seu nome não será mais Abrão, e sim Abraão, porque eu o constituí pai de uma multidão” (Gênesis 17:5). Do mesmo modo, Deus também mudou o nome de Sarai para Sara, que significa “Princesa”.

 

Abraão, diante de todas estas Palavras, prostrou-se em terra e riu, dizendo consigo mesmo: “Pode nascer um filho a um homem de cem anos? E será que Sara, com seus noventa anos, ainda poderá dar à luz?” (Gênesis 17:17).

 

O Senhor, porém, é o Deus do impossível. E quando toda a engenhosidade humana falhou, ele visitou o velho Abraão e disse a ele: “Certamente voltarei a você daqui um ano; e Sara, a sua mulher, dará à luz um filho” (Gênesis 18:10). Ouvindo isso à porta de sua tenda, Sara também riu em seu íntimo, como antes havia feito Abraão. E por isso, o Senhor decretou que a criança se chamaria Isaac, que quer dizer “Riso”. E assim aconteceu, exatamente como o Eterno havia prometido.

 

Alguns anos depois, o Senhor veio novamente a Abraão e lhe disse algo terrível: “Abraão, pegue o seu filho, seu único filho, Isaac, a quem você ama, e vá a terra de Moriá. Ali, ofereça-o em holocausto, sobre um dos montes, que eu lhe mostrar” (Gênesis 22:2). Como assim? Depois de tudo, as promessas de Deus falharão? Como ele pede o sacrifício de Isaac se ele havia prometido que Abraão será o pai de uma multidão através de Isaac? Abraão, surpreendentemente, age de forma totalmente obediente: Ele pega Isaac bem cedo e vai para o lugar indicado por Deus. Mas, Isaac percebeu que faltava alguma coisa naquela jornada: “Meu pai! Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?” (Gênesis 22:7). Abraão, com uma firmeza incrível, o responde: “Meu filho, Deus proverá para si o cordeiro” (Gênesis 22:8).

 

Embora Abraão, em obediência ao Altíssimo, estivesse realmente preparado para sacrificar a criança, ele também confiava plenamente em seu coração que Deus ressuscitaria o menino dos mortos para cumprir suas promessas. Sem dúvida, uma Fé que é exemplo para toda a humanidade.

 

No último instante, com Isaac já amarrado e deitado no altar para ser sacrificado, algo extraordinário acontece: o Anjo do Senhor – o Filho de Deus pré encarnado, lhe diz: Abraão! Não estenda a mão sobre o menino e não faça nada a ele, pois agora sei que você teme a Deus, porque não me negou o seu filho” (Gênesis 22:12). Isaac foi poupado e um carneiro, preso pelo chifre entre os arbustos, foi oferecido em seu lugar.

 

Hoje, quase 4.000 anos depois de todas estas histórias, podemos olhar para a vida de Abraão e aprender com suas falhas; como por exemplo, em tentar resolver as coisas por conta própria, ou em achar que é possível fazer as promessas de Deus acontecerem da nossa forma. Não! Deus não pode ser domesticado!

 

Mas acima de tudo isso, podemos aprender com Abraão a respeito da importância em obedecer e crer no Eterno, mesmo quando humanamente e racionalmente falando, tudo pareça ser ou apontar para o contrário.

 

Por fim, a vida e a Fé de Abraão nos dão um consolo extraordinário: Deus age na vida dos seus, Deus acompanha os seus e, como se isso já fosse o ápice de tudo, da semente de Abraão, de sua linhagem, Deus fez nascer o seu Filho Unigênito – Jesus Cristo – que um dia, naquela mesma região, subiu um monte para ser o Cordeiro oferecido em sacrifício por todos nós; o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!

 

Amém!

Rev. Helvécio José Batista Júnior
Igreja Luterana em Naviraí/MS
09 de Outubro, 2021 AD


08/10/2021

Carta à Igreja em Filadélfia

 


Apocalipse 3: 7-13

A Graça de nosso Senhor Jesus T Cristo e o Amor do Pai e a Comunhão do Espírito Santo sejam com todos!

Filadélfia era uma cidade situada em um vale, por onde passava uma importante estrada. Ali ela foi fundada com a intenção de ser um centro para difusão da língua e costumes gregos. E desde o princípio ela foi muito bem sucedida no seu propósito.

À Igreja Cristã dessa cidade, Jesus, por meio de seu Apóstolo João, se dirige em sua Carta, referindo-se a si mesmo da seguinte forma: “Ao anjo da igreja em Filadélfia escreva: Estas coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá” (Apocalipse 3:7). Ou seja, Jesus está olhando para sua Igreja em Filadelfia e dizendo a ela: Minha Filha, você pode confiar em mim, você não precisa ter dúvidas quanto as minhas promessas, pois eu sou o único Santo e Verdadeiro, e possuo como Rei, a autoridade e a chave para abrir e fechar a entrada do Reino de Deus.

Mas, por que Jesus inicia sua Carta a esta Igreja dessa forma? Ora, a Igreja em Filadelfia era uma igreja financeiramente pobre e numericamente pequena. Entretanto, era uma Igreja leal ao Evangelho e mesmo com todas as dificuldades não negava o nome do seu Senhor!

Isto fica evidente nas palavras seguintes de Jesus a ela: “Conheço as obras que você realiza. Eis que tenho posto diante de você uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar. Sei que você tem pouca força, mas guardou a minha Palavra e não negou o meu nome” (Apocalipse 3:8).

Agora faz sentido observar Jesus se apresentando a ela como o Santo, o Verdadeiro, o Rei. Pois, pelo fato da Igreja em Filadelfia ser numericamente pequena, financeiramente pobre e fraca diante da sociedade; facilmente Satanás poderia tentá-la de diversas formas para que ela vislumbrasse ser maior, mais forte, mais visível e mais poderosa. No entanto, Jesus procura de antemão deixar claro para ela: “assim está bom”. Afinal, o principal existe na Igreja em Filadelfia: a Palavra de Deus é guardada por ela em toda a sua pureza e o Nome do Senhor não é negado, desprezado ou mesmo deixado em segundo plano. O resto é o resto, se houver mais ou menos, muito ou pouco, isto não é o mais importante. O ponto é: a Igreja em Filadelfia certamente era quase invisível aos olhos humanos, mas era grande e muito bem vista aos olhos do Senhor. E, meus irmãos, no fim das contas, é somente isso que realmente importa.

E vejam como importa! Jesus, na sequencia de sua Carta, revela que a fidelidade da Igreja em Filadelfia será honrada, e isto denota que mesmo ela sendo uma Igreja com pouca força, será uma importante porta de entrada para que pessoas de fora venham a ser alcançadas e rendidas pela Fé Salvadora. Observe: “Eis o que eu farei com alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que se declaram judeus e não são, mas mentem. Eis que farei com que venham até você, prostrem-se aos seus pés e reconheçam que eu amo você” (Apocalipse 3:9).

Se isto já não fosse tamanha benção da parte de Deus, o Senhor promete mais para a sua Igreja em Filadelfia: Você guardou a palavra da minha perseverança. Por isso, também eu o guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para pôr à prova os que habitam sobre a terra” (Apocalipse 3:10). Isto é, é claro que virão provações das mais diversas, é claro que haverá tribulação, é claro que o sofrimento e a dor também estão presentes. Mas – é o que Jesus está prometendo à Igreja em Filadelfia por ser fiel no que realmente importa – “eu guardarei você!”.

Quer uma promessa maior, mais sublime e mais importante do que essa? “Eu guardarei você!”. Meus irmãos, esta também é uma promessa que Jesus faz a esta Igreja que aqui se reúne? Pensem bem: o propósito de vocês como parte desta Igreja em meio a esta cidade é simplesmente ser grande em número, é ter lucro para desenvolver cada vez mais coisas para si mesma, é ser mais bem vista e reconhecida? Pensem, por favor, em cada evento, em cada projeto, em cada decisão e em cada desejo como Igreja e vejam se o propósito destes é realmente o “guardar da Palavra de Deus acima de tudo, vivendo ela e compartilhando sua mensagem”, e o “não negar do Nome do Senhor, que nada mais é do que estar colocando o Nome dele acima de qualquer coisa, inclusive acima do nosso nome”. Tudo o que vocês fazem, seja no âmbito espiritual, no âmbito social e no âmbito estrutural têm estes propósitos? Se a resposta é “sim”, então descansem no Senhor, pois da mesma forma que ele prometeu a Igreja em Filadelfia, ele também promete a esta Igreja “Eu guardarei você!”. Agora, se há outros propósitos se misturando com esses, ou até tomando o lugar destes, cuidado! Pois o resultado disso, ao contrário da Igreja em Filadelfia, pode ser grandioso e maravilhoso aos olhos humanos, mas terrível aos olhos do Senhor. Portanto, vale muito se manter e conservar aquilo que realmente importa, mesmo que não seja tão esplendido aos nossos olhos.

Na continuidade de sua Carta, Jesus também diz: “Venho sem demora. Conserve o que você tem, para que ninguém tome a sua coroa” (Apocalipse 3:11). Em outras palavras, não perca o que você tem, a Palavra e o Nome do Senhor, conserve-se nisso, para que assim ninguém tome seu lugar no Reino de Deus.

Por fim, conclui Jesus: “Ao vencedor – ou seja, aquele que conservar o que realmente importa até o fim, este – farei com que seja uma coluna no santuário do meu Deus – isto é, uma presença definitiva junto ao Altíssimo – e dali jamais sairá. Gravarei sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome – isto significa que o vencedor será para sempre propriedade exclusiva de Deus e da sua morada eterna. Por isso – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Apocalipse 3: 12-13).

Amém!

Rev. Helvécio J. Batista Jr.
Igreja Luterana em Naviraí/MS
07 de Outubro,, 2021 AD


01/10/2021

Carta à Igreja em Sardes

 


Apocalipse 3: 1-6

A Graça de nosso Senhor Jesus T Cristo e o Amor do Pai e a Comunhão do Espírito Santo sejam com todos!

Sardes, conhecida como a inconquistável, era uma cidade situada sobre um monte quase inacessível; e seu povo era visto como bastante arrogante e confiante em si mesmo. De fato, a grande maioria julgava-se superior e realmente acreditavam que não precisavam de ajuda exterior. Afinal, eram prósperos, fortes e capacitados a fazer tudo o que precisavam.

Nesta cidade e, em meio a este povo, estava a Igreja de Cristo. Como será que ela se portava? Será que também se julgava independente e capaz de tudo o que era necessário? Ouçamos as palavras que Jesus envia a ela por meio de seu Apóstolo João: “Ao anjo da igreja em Sardes escreva: Estas coisas diz aquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço as obras que você realiza, que você tem fama de estar vivo, mas está morto” (Apocalipse 3:1)

Por este início da Carta de Jesus já é possível perceber que há algo de muito errado ocorrendo na Igreja em Sardes. Afinal, logo após se apresentar como aquele que tem “os Sete Espíritos” – ou seja, o Espírito Santo; e também “as Sete Estrelas” – ou seja, os Ministros investidos no Santo Ministério; Jesus afirma: “conheço as suas obras, Igreja em Sardes, você tem fama de estar viva, de ser uma igreja viva; porém, é a morte que reina aí”.

O que isto quer dizer? Embora a Igreja em Sardes tivesse uma boa reputação na cidade – talvez por ser uma igreja ativa em vários projetos e que fizesse muitas coisas visíveis aos de fora – seus membros tinham pouca ou nenhuma fé verdadeira. Assim, esta Igreja necessitava e muito da ação do Espírito Santo por meio da Palavra e dos Sacramentos administrados pelo Ministro de Cristo. Até por isso, estes são citados na saudação de Jesus.

Nos dias de hoje, nós – por causa de nossa inclinação – também gostamos de ser bem-vistos, gostamos de fazer coisas que façam nossa Igreja ser notada em meio ao lugar que estamos, gostamos de aparecer, por assim dizer. E é claro que há alguns aspectos positivos nisso, como o testemunho e a evangelização. Entretanto, há inúmeros aspectos negativos e contrários a fé, e portanto, o máximo de cuidado quanto a isso, e o constante reconhecimento de que não somos nada, e desse modo, totalmente e plenamente dependentes do Senhor que age em nosso meio pela ação do seu Espírito na Palavra e nos Sacramentos é fundamental.

Voltando para a Carta á Igreja em Sardes, observem como Jesus continua: “Fique vigiando e fortaleça o restante que estava para morrer, porque verifiquei que as obras que você realiza não são íntegras na presença do meu Deus. Lembre-se, pois, do que você recebeu e ouviu; guarde-o e arrependa-se. Se você não vigiar, virei como ladrão, e você de modo nenhum saberá em que hora virei contra você” (Apocalipse 3: 2-3).

No que diz respeito a estrutura, organização e até cerimônias e envolvimento, a Igreja em Sardes tinha tudo. No entanto, Jesus exorta ela porque lhe falta o essencial. E dessa maneira, ela não passava de um bom clube de encontro de pessoas, ou de uma empresa bem organizada e administrada. Porém, nada disso é Igreja, nada disso deve ser Igreja. Por isso, a Igreja em Sardes precisa se lembrar do “que recebeu da parte de Deus, ouvir com atenção sua Palavra, guardar em sua vida e se arrepender enquanto é tempo”.

Ah, mas Jesus está sendo muito radical. A Igreja em Sardes está sendo um exemplo em tantas coisas. Por que não aproveitar tudo isso de maneira positiva? Muitos devem ter pensado isso naquela época, e talvez alguns pensem isso também nos dias de hoje em relação as suas Igrejas. Porém, nada disso é essencial para a vida da Igreja, nada disso traz perdão aos seus membros. A única coisa que pode fazer isso é a ação do Espírito Santo na Palavra e nos Sacramentos que são administrados por um verdadeiro Ministro de Cristo. Portanto, se a gente perde, ou deixa em segundo plano, ou menospreza os Meios da Graça e o Santo Ministério, então não há razão para sermos Igreja e, na verdade, sem termos isso como central, não somos Igreja de Cristo. Pois é isto que nos coloca em estado de dependência do Senhor, é isto que nos leva a uma vida de arrependimento e fé, é isto que nos concede perdão e salvação. O resto é o resto, pode ter ou não ter, pode ser mais ou ser menos, pode ser assim ou assado. O essencial não, este deve ser conforme a vontade de Cristo e sempre ter a primazia entre nós.

Mas, a Carta de Jesus à Igreja em Sardes ainda não terminou, e ela assim prossegue: “Mas você tem aí em Sardes umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestes. Elas andarão comigo, vestidas de branco, pois são dignas” (Apocalipse 3:4). Isto é, nem tudo está perdido, ainda existem algumas poucas pessoas que não perderam o essencial, não se contaminaram, e são estas que no fim das contas, ainda formam a Igreja de Cristo na cidade. São poucas, talvez irrelevantes em número e obras, mas são justamente aqueles que podem ser chamados de “ovelhas do Bom Pastor Jesus”.

Por fim, a estas poucas pessoas em Sardes e também a nós, se nos mantemos firmados no que é essencial e não nos deixamos contaminar, é que Jesus afirma: “O vencedor será assim vestido de branco, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida. Pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Apocalipse 3: 5-6). Ou seja, há uma vida eterna reservada para aquele que é “vencedor”, para aquele que permanece até o fim firmado no que é essencial, para aquele que se reconhece totalmente dependente do Senhor e por isso anseia pelos Meios da Graça.

Igreja de Cristo hoje: assim como em Sardes, é obvio que aqui as tentações para que você se contamine também são muitas. Não se deixe levar pela prosperidade, pela visibilidade, pela grandiosidade. Se for da vontade do Senhor ele nos dará a medida necessária de tudo isso. Porém, não se esqueçam: nós apenas plantamos e regamos, mas o crescimento e o resultado de tudo isso, sempre e somente vem do Senhor.

Dito isso, eu concluo: Permaneça firmada naquilo que é essencial! Talvez você não terá a notoriedade de outras Igrejas, talvez você não será famosa como acha que deveria ser, talvez você sempre será um pequenino rebanho em meio a este lugar. Mas tudo bem quanto isso, desde que o Essencial seja o centro de sua vida. Pois assim, o Espírito Santo estará agindo poderosamente na Palavra e nos Sacramentos que são administrados de forma pura e correta por um Ministro de Cristo. E é isto que dará a você uma vida de arrependimento agora e estará conduzindo você a uma vida eterna nos novos céus e nova terra!

Amém!

Rev. Helvécio J. Batista Jr.
Igreja Luterana em Naviraí/MS

1º de Outubro, 2021 AD