15/10/2021

Carta à Igreja em Laodiceia

 


Apocalipse 3: 14-22

A Graça de nosso Senhor Jesus T Cristo e o Amor do Pai e a Comunhão do Espírito Santo sejam com todos!

Laodiceia era uma das mais ricas cidades da Ásia. Seus cidadão não faziam cerimônia em deixar isso visível. Até por isso, eram vistos pelos de fora como insuportáveis. Mesmo as pessoas da Igreja em Laodiceia tinham essa atitude orgulhosa e presunçosa. Talvez imaginassem que a riqueza era sinal de algum favor especial de Deus.

À esta Igreja, Jesus escreve a última de suas Sete Cartas, e a inicia da seguinte forma: “Ao anjo – ao pastor – da igreja em Laodiceia escreva: Estas coisas diz o Amém – isto é, a Verdade. Aquele que é – a testemunha fiel e verdadeira – ou seja, aquele que verdadeiramente revela Deus e em quem podemos confiar, e que além disso, é também – o princípio da criação de Deus – que em outras palavras significa dizer que é a Fonte de toda a Criação!” (Apocalipse 3:14).

Após esta tríplice apresentação, Jesus vai direto ao ponto com a Igreja em Laodiceia e lhe diz: “Conheço as obras que você realiza, que você não é nem frio nem quente. Quem dera você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, e não é nem quente nem frio, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca” (Apocalipse 3: 15-16).

Como assim Jesus? “Quem dera você fosse frio ou quente”? Uma Igreja quente tudo bem, mas uma Igreja fria? Pois é, este é mais um daqueles textos que muitos leem de forma equivocada. Afinal, se dissemina aos quatro ventos que a Igreja precisa ser quente, isto é, viva e vibrante; mas não fria, pois uma Igreja fria é, na verdade uma Igreja morta. Nada disso o texto bíblico diz, e aqui nesta Carta não é este o sentido das palavras de Jesus.

Para compreendermos o que Jesus está falando à Igreja em Laodiceia nós precisamos de muito estudo. Afinal, a única maneira de entender esta palavra é conhecendo o contexto geográfico da cidade daquele tempo. Observe: Laodiceia era um centro comercial importante na Ásia Menor, tinha uma boa localização e recursos financeiros elevados. No entanto, havia um problema: não havia fontes de água boa na cidade, e por isso, ela dependia de um sistema de encanamento para que água fresca viesse de fora e chegasse até a população. Resultado? A água que chegava normalmente era morna e causava vômito. Já ao lado de Laodiceia havia a cidade de Hierápolis, que era famosa por suas águas termais que atraiam muitos visitantes por causa de suas propriedades terapêuticas e medicinais. E do outro lado estava Colossos, que era famosa por sua abundância em água potável e refrescante. Portanto, quando Jesus fala que a Igreja em Laodiceia é morna, ele está dizendo que aquela Igreja, apesar de realizar algumas obras – muito em função de sua riqueza material – é uma Igreja que não o agrada, que o faz estar a ponto de vomitar, pois é uma Igreja que, assim como as águas da cidade, não curam e nem matam a sede. Não é quente e nem fria.

Mas, por que a Igreja em Laodiceia está nesta caótica situação? A resposta está na continuidade da Carta de Jesus a ela, veja: “Você diz: ‘Sou rico, estou bem de vida e não preciso de nada.’ Mas você não sabe que é infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Apocalipse 3:17). Isto é, a Igreja em Laodiceia acreditava que tinha tudo. Afinal, mantinha um bom caixa que supria todas as necessidades e ainda a fazia realizar muitos projetos, e por causa disso, via na arrecadação e no lucro o caminho para a felicidade e bem-estar como Igreja. Porém, na verdade, Jesus a enxerga como sendo “infeliz, miserável e pobre, além de cega e nua”. Ou seja, a Igreja em Laodiceia achava que tinha tudo e, possivelmente aos olhos humanos tinha mesmo. Entretanto, aos olhos de Deus, não possuía nada, não valia nada e não era nada. Jesus já estava a ponto de vomitá-la, pois ela lhe fazia mau.

Será que alguma vez Cristo já esteve a ponto de vomitar vocês? Será que esta Igreja que aqui se reúne já fez mal a Cristo? O apóstolo Paulo não diz que o “amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” à toa. As vezes podemos transformar a Igreja de Cristo em nossas Igrejas, onde o mais importante são os nossos planos e projetos. E se em algum momento vocês pensaram ou agiram assim, arrependam-se, pois isto não é ser Igreja Cristã.

Voltando a Carta, Jesus dá um conselho que precisa ser ouvido por eles, por nós também e por todas as Igrejas:  “Aconselho que você compre de mim ouro refinado pelo fogo, para que você seja, de fato, rico. Compre vestes brancas para se vestir, a fim de que a vergonha de sua nudez não fique evidente, e colírio para ungir os olhos, a fim de que você possa ver. Eu repreendo e disciplino aqueles que amo. Portanto, seja zeloso e arrependa-se” (Apocalipse 3: 18-19).

Como assim? A Salvação e a Vida Cristã deixaram de ser por Graça e passaram a ser por obras? Nós podemos comprar algo de Jesus? Realmente, quando lemos este texto, estranhamos as expressões que nele são usados. Porém, para que não caiamos em uma compreensão equivocada deste conselho de Jesus, lembremos de um dos importantes pressupostos que precisamos ter para estudar o Livro de Apocalipse: conhecer do Antigo Testamento.

Esta forma de descrever o relacionamento da Igreja e o Senhor já foi dita no Antigo Testamento, através do profeta Isaías. E lá, de uma maneira sutil e delicada está a explicação a respeito deste “comprar algo do Senhor”. Observe: “Todos vocês que têm sede, venham às águas; e vocês que não têm dinheiro, venham, comprem e comam! Sim, venham e comprem, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que vocês gastam o dinheiro naquilo que não é pão, e o seu suor, naquilo que não satisfaz? Ouçam com atenção o que eu digo, comam o que é bom e vocês irão saborear comidas deliciosas. Deem ouvidos e venham a mim; escutem, e vocês viverão.” (Isaías 55. 1-3).

Comprar algo do Senhor significa receber os Dons Divinos que ele oferece de graça, ou seja, “sem dinheiro”, como diz o profeta Isaías. Mas como isso ocorre na prática? Simples! Recebemos estes Dons sem custo porque Alguém já pagou o preço em nosso lugar. Este Alguém é Jesus Cristo. E estes Dons são justamente os Meios da Graça: a Palavra e os Sacramentos. São estas coisas que fazem a Igreja ser Igreja, que a sustenta e a preserva. Não é a riqueza, não são as obras, não é aquilo que está em nas nossas mãos, mas sim aquilo que está nas mãos do Senhor!

Em sua Carta, Jesus ainda diz: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Apocalipse 3:20). Importante: Jesus está dizendo estas palavras para uma Igreja, para pessoas que já o conhecem, mas que o estão desagradando. Portanto, Jesus não está ensinando que ele só entra em nossa vida se abrirmos a porta para ele. Não! Aqui é como se ele estivesse dizendo: “Apesar de toda a sua rebeldia, de todas as falhas, eu estou aqui trabalhando no seu coração, insistindo com você porque quero sua salvação e vou, continuar incomodando, como alguém que está constantemente batendo à porta de sua casa”. Este é outro versículo que se não lermos dentro do seu contexto, podemos cair em séria heresia.

Por fim, Jesus conclui: “Ao vencedor, darei o direito de sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com o meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” (Apocalipse 3: 21-22). Ou seja, todo o que está alicerçado no seu Evangelho viverá para sempre ao lado do Pai, será um vencedor, e participará eternamente do Banquete Celestial que o Senhor preparou para todos os seus. Mas para que isso ocorra, a fé não pode estar em nós ou no que fazemos, mas sim unicamente no Senhor. Afinal, é só ele quem pode, como águas quentes, curar a nossa maior ferida: o pecado. E do mesmo modo, somente ele é quem pode, como água refrescante, nos conceder o alivio e o bem estar do Perdão, da Salvação e da Vida Eterna!

Rev. Helvécio J. Batista Jr.
Igreja Luterana em Naviraí/MS
15 de Outubro, 2021 AD


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