Esmirna era uma das mais belas cidades da Ásia naquele tempo. Erguida numa encosta sobre o mar, com esplêndidos edifícios, formava uma imagem magnifica que lhe deu a alcunha de “coroa da terra”.
A Igreja Cristã em Esmirna havia sido fundada pelo Apóstolo Paulo e, apesar de estar em um local de beleza e bem-estar, vivia sob constante perseguição.
A esta Igreja, portanto, é endereçada a segunda das Sete Cartas de Jesus Cristo, por meio do Apóstolo João. E assim, como ocorreu na Carta anterior, aqui também Jesus diz ao seu Apóstolo para que escreva ao Pastor da Igreja em Esmirna para que ele, como o seu Servo e Enviado naquele local, possa transmitir a sua mensagem para aquele povo.
E o que Jesus tem a dizer para a Igreja em Esmirna? “Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver.” (Apocalipse 2:8).
Em primeiro lugar, Jesus se apresenta como aquele que é “o Alfa e o Ômega”, ou seja, aquele que é Eterno. Além disso, ele é aquele que “morreu”, mas que venceu a morte, e por isso, “foi ressuscitado”.
Será que os cristãos em Esmirna não sabiam isso sobre Jesus? Não conheciam estas características? É claro que sabiam e conheciam. Porém, Jesus faz questão de ressaltá-las logo no início da sua Carta, pois elas precisavam ser lembradas por aquele povo, elas precisavam estar muito vivas em suas mentes e em seus corações. Afinal, estas características de Jesus são determinantes para a vida da Igreja em Esmirna.
Observe como Jesus continua: “Conheço a tribulação pela qual você está passando, a sua pobreza — embora você seja rico — e a blasfêmia dos que se declaram judeus e não são, sendo, isto sim, sinagoga de Satanás” (Apocalipse 2:9).
Perceberam? A Igreja em Esmirna era uma Igreja que estava vivendo em “tribulação”, ou seja, havia perseguição contra ela. Além disso, era uma Igreja “pobre financeiramente” – mas, ao mesmo tempo era “rica aos olhos de Deus”, por causa da fé verdadeira que existia ali. Por fim, era uma Igreja que sofria com a “blasfêmia”, isto é, com as mentiras inventadas contra ela, o que fazia com que seus membros constantemente enfrentassem interrogatórios diante das autoridades.
Sem dúvida alguma, a Igreja em Esmirna era uma Igreja que vivia em angústia dia e noite. E justamente por conhecer isso, Jesus diz algo a mais para ela: “Não tenha medo das coisas que você vai sofrer. Eis que o diabo está para lançar alguns de vocês na prisão, para que vocês sejam postos à prova, e passem por uma tribulação de dez dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida” (Apocalipse 2:10).
Será que é esta Palavra que esperaríamos ouvir de Jesus caso estivéssemos vivendo uma situação semelhante a estes irmãos de Esmirna? Obviamente que não! Afinal, esperaríamos ouvir que tudo isso acabaria, que ele estaria intervindo imediatamente e, que assim, nossa Igreja triunfaria.
Pois bem, não foi isso que Jesus Cristo disse. Pelo contrário, ao invés de falar sobre um fim imediato do sofrimento, sobre uma intervenção milagrosa ou algum tipo de triunfalismo sobre os inimigos; ele disse à Igreja em Esmirna que ela precisava se manter firme e fiel até o fim, porque no fim da história havia uma coroa de vida, dada por ele próprio, aquele que é Eterno e que venceu a morte.
Porém, até que este momento chegue, os irmãos em Esmirna estariam sendo “postos à prova”. Satanás continuaria tentando-os de todas as formas para abandonarem o Deus verdadeiro, para se deixarem levar por aquilo que fosse mais fácil ou mais próspero. E tudo isso estaria acontecendo sob a permissão de Deus, pois nada ocorre sem a sua permissão. Mas, por que Deus permitiria algo assim? Para que aquela fé que estava sendo abalada se tornasse a cada dia mais inabalável.
Esta Carta, assim como todas as outras registradas no Livro de Apocalipse, também é dirigida a nós nos dias de hoje, assim como é para todas as Igrejas Cristãs em todos os tempos e lugares. Afinal, a Igreja de Cristo sempre sofreu, continua sofrendo e sempre sofrerá tribulações, dificuldades e blasfêmias. Esta não é uma particularidade da Igreja em Esmirna. Na verdade, essa cruz que a Igreja de Cristo tem de carregar em toda a sua história é uma das suas marcas, é uma das coisas que faz dela Igreja Cristã. Pois, se pararmos para pensar, esta marca nos faz continuamente reconhecer que não somos super-heróis, não somos autossuficientes ou capazes de alguma coisa. Pelo contrário, somos totalmente dependentes de Deus e necessitamos dele para tudo em nossa vida. E as tribulações, dificuldades e blasfêmias contra nós fazem com que nós não nos esqueçamos disso. E aqui está o cerne do ser Cristão, do ser Igreja de Cristo.
Ao concluir sua Carta, Jesus procura mostrar o valor desta “coroa de vida” que ele dará para todo aquele que permanecer “fiel até a morte”. Observe:
“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de modo nenhum sofrerá o dano da segunda morte” (Apocalipse 2:11). Em outras palavras, mesmo que os sofrimentos do tempo presente sejam muitos e sejam também insuportáveis, mantenha-se firme naquele que já venceu todos os sofrimentos, inclusive a morte; seja fiel aquele que é Eterno, que é o Autor da Vida e que pode dar a Eternidade. Afinal, aquele que permanecer assim até o fim será chamado de “vencedor” e não sofrerá a “condenação eterna”. Pelo contrário, desfrutará eternamente dos Novos Céus e Nova Terra que Deus tem preparado para aqueles que são seus.
Querida Igreja de Cristo aqui neste lugar, não caia na ilusão de que os sofrimentos, as angústias e as dificuldades desaparecerão com o passar dos dias ou dos anos, ou ainda pela capacidade de alguns de vocês que são os seus membros. Não! Enquanto vivermos esta era, as tribulações serão nossas companheiras do dia a dia. Porém, como Jesus promete a Esmirna e a todos em qualquer lugar: aquele que permanecer firmado nele e fiel unicamente a ele, receberá uma coroa, muito mais bela que a cidade de Esmirna, muito mais gloriosa que a coroa de qualquer rei que já existiu na face da terra; esta coroa recebida do próprio Cristo será a “Coroa da Vida”, e não de uma vida qualquer, mas sim da “Vida Eterna”, uma Vida onde ai sim, não “haverá mais lágrima, nem pranto, nem choro e nem dor”.
Amém!
Rev. Helvécio J.
Batista Jr.
Igreja Luterana em Naviraí/MS
24 de Agosto, 2021 AD
T
Nenhum comentário:
Postar um comentário