20/06/2016

O amor de Jacó por Raquel prefigura o de Cristo pela Igreja

“Jacó e Raquel”, Steve Karro (1960 - )
Jacó se levantou, viu os rebanhos sedentos, mas não tinha força suficiente para levantar a pedra que fechava o poço e dar-lhes de beber. Enquanto estava ali, Raquel traz as ovelhas; assim que a viu, Jacó revolve a pedra para dar de beber aos animais... A visão da beleza de Raquel o fez, de alguma forma, mais forte: ele pôde levantar a pedra enorme do poço e deu de beber ao rebanho (Gn 29.10). Na face da Raquel, a figura da Igreja brilhava como pedra preciosa; e apenas Jacó, seu esposo, atentou para sua face...
Estremeceu... quando viu a esposa misteriosa mais bela do que suas companheiras. Todos os animais puderam beber água de poço graças a Raquel, graças a sua beleza, seu amor e seu charme. Não pense, meu filho, que havia em Jacó paixão carnal, porque até mesmo ao beijar Raquel, chorou em grande aflição. Se ele tivesse experimentado a paixão dos sentidos, ele não iria derramar lágrimas, porque a paixão, pela seu ardor, gera alegria. Mas as lágrimas resultam de sofrimento e dor, e onde há lágrimas, não há paixão carnal. Assim não é nenhuma paixão que arde em Jacó, mas o sofrimento dos mistérios do Filho de Deus atormentado...
Ele viu em Raquel com quem se casou, o símbolo da Igreja. Por isso, era necessário que a beijando, chorasse e sofresse (v. 11), o que prefigura seu casamento o sofrimento do Filho ... Mas quanto mais sublime ainda é a estrada do Filho que a de seus arautos! Quanto mais bonito é o casamento do Noivo real que o de seus embaixadores ! Jacó chorou ao Raquel se casar com ele; nosso Senhor cobriu a igreja com seu sangue, salvando-a. As lágrimas são o símbolo do sangue, porque não é sem dor que jorram dos olhos. As lágrimas de Jacó são apenas a figura do grande sofrimento do Filho, pelo qual a Igreja dos gentios foi salva.
Vinde, contemplai nosso Mestre: ele veio de seu Pai ao mundo, ele se esvaziou para assumir sua jornada em humildade (Fp 2.7) ... Ele viu as nações como quaisquer rebanhos sedentos e a fonte da vida fechada pelo pecado, como se fosse uma pedra. Ele viu a Igreja semelhante a Raquel: então ele correu em direção a ela, jogou o pesado pecado como uma rocha. Ele abriu à sua esposa o batistério para se banhar; ele extraiu, deu de beber para as nações da terra como sendo seus rebanhos. Com sua onipotência, ele levantou o peso do pecado; para o mundo inteiro, ele descobriu a fonte de água fresca ...
Sim, pela Igreja, nosso Senhor fez um grande esforço. Por amor, o Filho de Deus vendeu seus sofrimentos, para poder, com o preço de suas feridas, se casar com a igreja abandonada. Ele sofreu na cruz por ela, que adorava ídolos. Ele se entregou por ela, para que fosse totalmente sem mácula (Ef 5.25-27). Ele consentiu em levar o rebanho inteiro de homens às pastagens com o cajado da cruz; ele não se recusou a sofrer. Raças, nações, tribos, povos e multidões, ele aceitou conduzí-los todos, para em contrapartida ter com ele a Igreja, sua única Esposa (Ct 6.9).

-- Jacó de Serugh (451-521), poeta teológico siríaco, em sua Homilia sobre Nosso Senhor e Jacó, sobre a Igreja e Raquel.

Fonte: Isabelle de la Source, Lire la Bible avec les Pères, vol. I, La Genèse, éd. Médiaspaul, Paris, 1988, p. 98.

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