Despedidas normalmente não são agradáveis, e muitas vezes nos entristecem e nos fazem chorar. Mudanças repentinas, perdas, distâncias. Quando alguém amado se vai, o coração automaticamente associa a partida com a ausência e o fim. E isso machuca.
Agora pensem comigo: os discípulos passaram três anos com Jesus. Viram os milagres, ouviram as palavras de vida eterna, foram chamados de amigos. Depois, viram seu Senhor ser preso, açoitado, crucificado. Sentiram o luto mais profundo. Mas então, ele ressuscitou. Voltou! E, por quarenta dias, lhes apareceu vivo. Eles o viram, o tocaram, comeram com ele. A esperança havia renascido. Mas, agora ele sobe. Ele é elevado diante dos olhos deles. E uma nuvem o encobre.
Não seria esse mais um momento de perda? Não seria a Ascensão o fim de sua presença entre nós? Observe com atenção o que acontece no relato da Ascensão: Jesus não simplesmente “vai embora”. Ele é elevado à vista deles, e uma nuvem o encobre. E aqui há algo precioso: essa nuvem não é um véu de ausência, mas um sinal da presença. Não é o fechamento de uma porta, mas a abertura de uma realidade maior.
Como assim? Ora, lembrem-se: no Antigo Testamento, a nuvem sempre foi sinal da presença do Senhor. Era assim no deserto, quando uma coluna de nuvem guiava Israel. Era assim no Templo, quando a nuvem enchia a Casa do Senhor. A nuvem significava: Ele está aqui. Invisível, sim. Mas presente. Realmente presente.
Portanto, quando Jesus é envolto pela nuvem, ele não está indo embora, no sentido de estar deixando ou se distanciando dos seus. Ele está sendo ocultado aos nossos olhos, mas não ao nosso coração. Pois agora, ele está presente de uma nova maneira, mais profunda e mais acessível.
E onde ele está? A resposta é clara: Ele está onde prometeu estar. Está em sua Palavra, viva e eficaz. Está na Absolvição, que nos lava dos pecados. Está no Santo Batismo, onde nos une a sua morte e ressurreição. E está de um forma sublime e singular na Santa Ceia, onde o seu verdadeiro corpo e o seu verdadeiro sangue nos são dados para perdão, vida e salvação.
É isso que os olhos não podem ver, mas a fé crê com certeza: o Senhor ascendido enche todas as coisas, e está conosco nos Meios da Graça. A Ascensão, portanto, não é a partida do Senhor. É o seu modo glorificado de estar presente em todos os lugares onde a sua Igreja se reúne em seu nome.
Notem o que Lucas diz: “Eles voltaram para Jerusalém com grande alegria.” Estranho, não? Se Jesus tivesse partido, se a Ascensão fosse uma despedida definitiva ou um distanciamento, não seria momento de tristeza? Mas eles se alegram. Por quê? Porque agora entendem: Jesus reina no céu, mas age na terra. Ele está à direita do Pai, mas caminha conosco. Ele está oculto numa nuvem, mas presente no altar. E é por isso que, inclusive, o Evangelho termina lembrando que os discípulos, após a Ascensão, “estavam sempre no templo, louvando a Deus”.
A Ascensão de Cristo, portanto, é uma boa notícia. Não é o fim da comunhão com ele. Cristo subiu ao céu não para estar longe, mas para trazer o céu até nós. Agora, cada vez que ouvimos a sua Palavra, cada vez que o seu nome é invocado, cada vez que nos reunimos em torno de seu Sacramento – cada vez que estamos em seu templo – o céu se aproxima.
Por isso, olhar para o céu e elevar os corações, é simplesmente fixar os olhos na Palavra e nos Sacramentos, e buscar de coração estar junto daquele que mesmo ascendido ao céu, está presente entre nós através dos Meios da Graça.
E, sim, um dia o veremos de novo, com os olhos da carne. E naquele dia, a fé dará lugar à visão, a esperança se tornará alegria eterna, e a comunhão que hoje é sacramental será plena e gloriosa. Mas até lá, não chore a ausência dele. Viva a sua presença. Porque mesmo oculto, ele está aqui. Mesmo invisível, ele reina. E mesmo sem o vermos com nossos olhos físicos, nós o recebemos e somos recebidos por ele: em cada Palavra pregada, em cada perdão anunciado, em cada Pão e Vinho consagrados.
Então, alegrem-se! A nuvem não é escuridão, é glória. A ascensão não é partida, é presença. O céu não está longe, está aqui. E o Senhor, o nosso Senhor, está verdadeiramente conosco.
Amém.
Rev.
Helvécio J. Batista Jr.
A Ascensão de nosso Senhor, 2025 AD
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