29/08/2018

A morte de João Batista (João Crisóstomo)

Herodíades com a cabeça de São João Batista, por Paul Delaroche (1797–1856)
"Dá-me agora mesmo num prato a cabeça de João Batista." (Mt 14.8). E Deus permitiu que tal acontecesse, não lançou um raio do alto dos céus para devorar aquele rosto insolente; não ordenou à terra que se abrisse e engolisse os convivas daquele horroroso banquete.

Deus dava assim a mais bela coroa ao justo e deixava uma consolação magnífica aos que, no futuro, viessem a ser vítimas de injustiças semelhantes.

Escutemos a Ele, todos nós que, apesar da nossa vida honesta, temos de suportar os malvados: […] o maior dos filhos nascidos de mulher (cf. Lc 7.28) foi levado à morte a pedido de uma jovem impudica, de uma mulher perdida; e o foi por ter defendido a lei divina. Que estas considerações nos façam suportar corajosamente os nossos próprios sofrimentos. […]

Mas repara no tom moderado do evangelista, que procura até circunstâncias atenuantes para este crime. A propósito de Herodes, nota que agiu "por causa do juramento e dos convidados" e que "ficou consternado" (Mt 14.9); e a propósito da jovem, observa que tinha sido "instigada pela mãe" (Mt 14.8). […]

Aprendamos, também nós, a não odiar os malvados, a não criticar as faltas do próximo, ocultando-as tão discretamente quanto possível, a acolher a caridade na nossa alma.

Porque, acerca desta mulher impudica e sanguinária, o evangelista falou com toda a moderação possível; […] tu, porém, não hesitas em tratar o teu próximo com malvadez. […] Não é assim que se comportam os santos; pelo contrário, eles choram pelos pecadores, em vez de os amaldiçoarem.

Façamos como eles; choremos por Herodíades e pelos que a imitam. Porque vemos hoje muitos banquetes do gênero do de Herodes, nos quais não se condena à morte o precursor, mas se destroem os membros de Cristo.

- São João Crisóstomo (c. 347-407), pastor e teólogo em Constantinopla (Homilias sobre São Mateus, n.º 48)

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