24/06/2015

São João Batista, mensageiro do Verbo encarnado

“São João Batista apontando para Cristo” (1655), Bartolome Esteban Murillo (1617-1682)

No plano teológico de seu evangelho, o evangelista João introduz João Batista: “o abismo que chama outro abismo” no discurso dos mistérios divinos (Sl 42.7). Ouvimos o evangelista contando a história do precursor, o homem cuja dádiva foi conhecer “o Verbo no princípio” (Jo 1.1), ensinando-nos acerca daquele que foi comissionado para vir à frente do Verbo encarnado. Houve, diz o evangelista, não simplesmente um mensageiro de Deus, mas “houve um homem”. Ele diz assim para distinguir o homem, que participa apenas da humanidade Daquele que anunciava, do Homem que, uniu divindade e humanidade em sua pessoa. A intenção do evangelista é diferenciar a voz fugaz e o Verbo eternamente imutável. Sugere que um é a estrela da manhã que aparece na aurora do Reino dos céus, enquanto o Outro é o Sol da Justiça que lhe sucede (Ml 3.20). Distingue a testemunha Daquele que ele testemunhou, o mensageiro Daquele que o enviou, a lâmpada vacilante da luz esplêndida que enche o universo (cf. Jo 5.35), a luz que dissipa as trevas da morte e do pecado de toda a raça humano.
Desta forma, o precursor do Senhor era um homem, não um deus. Visto que o Senhor a quem precedida era ao mesmo tempo homem e Deus, o precursor foi um homem destinado a ser exaltado pela graça de Deus, ao passo que Aquele a quem ele precedia era Deus por natureza, que, com Seu desejo de nos salvar e redimir, humilhou-se, para assumir a nossa natureza humana.
Um homem foi enviado”. Por quem? Pelo Verbo divino, do qual ele foi o precursor. A sua missão era ir adiante do Senhor. Levantando a sua voz, este homem clama: “voz do que clama no deserto!” (Mt 3.3). O arauto prepara o caminho para a vinda do Senhor. “Seu nome era João” (Jo 1.6) e lhe foi concedida a graça de ser o precursor do Rei dos reis, de apontar para o mundo o Verbo encarnado, de batizá-lo com o batismo no qual o Espírito manifestaria sua filiação divina, de ser testemunha da Luz eterna através de seu ensino e martírio.

-- Escoto de Erigena (810- 877), teólogo irlandês, em sua Homilia sobre o Prólogo do Evangelho de S. João (Homilia in prologum Sancti Evangelii secundum Joannem, 13: SC 151, 275-7)

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