C. F. W. Walther (Vitral na St. Paul Lutheran Church - Marigny, New Orleans, EUA) |
“Se alguém ensina, dedique-se ao ensino. Se alguém exorta, dedique-se à exortação. Se alguém contribui, contribua com liberalidade. Se alguém preside, seja cuidadoso. Se alguém exerce misericórdia, pratique com alegria.” Isso tudo não é uma descrição do trabalho geral dos cristãos, mas é uma pequena lista de orientações para o ofício público da pregação. Os cinco pontos a seguir pertencem a esta obra: O primeiro e mais importante é ensinar. O segundo é exortar. O terceiro é a esmola, ou assistência aos pobres. O quarto é presidir, ou administrar a escola e a ordem. E, por fim, o quinto é o exercício da misericórdia ou cuidado dos pobres, doentes e moribundos.
Veja quão grande, quão ampla, quão abrangente é a tarefa de um pregador! Ele deve ensinar àqueles que lhe foram confiados, tudo o que eles devem saber para sua salvação. Ele deve admoestá-los sobre o que devem fazer. Se não o fizeram, ele deve repreendê-los. Quando passarem por necessidades terrenas, ele deve ajudá-los em suas necessidades. Ele deve ter a preocupação de que toda a congregação e cada pessoa sejam mantidas na santa ordem e disciplina. Quando houver necessidade de consolo e ajuda, ele deve ser o Bom Samaritano da congregação, pronto para agir com misericórdia. Desta forma, a grande tarefa de seu ofício é cuidar para que nenhuma pessoa em toda a sua congregação seja abandonada e sofra necessidades por falta de assistência, seja exteriormente ou interiormente, em questões corporais ou espirituais. Ele vela para que todos que pertencem à santa irmandade de Cristo sejam bem cuidados. Ele receberá tanto o todo quanto uma única pessoa, tanto a criança quanto o idoso, o sem instrução e o letrado, o fraco e o forte, o caído e aquele que está de pé, aqueles que estão alegres em Deus e os profundamente perturbados, o pobre e o rico, o doente e o que está bem, o afortunado e o desafortunado, o marginalizado e o perseguido, o moribundo e o que está vivo — na verdade, até os mortos, para que, como Cristo, sejam levados ao descanso na sepultura. Tudo isso deve ser a preocupação de seu coração. E essa será sua preocupação em momentos oportunos ou não, em dias bons ou maus, em tempos de ricas bênçãos terrenas assim como em épocas de fome e pestilência, na guerra e na paz, em público e em particular.
Que tarefa é essa! Quem é capaz disso? Quem tem sabedoria, fé, amor, paciência, zelo, fidelidade e força suficientes para isso? Um antigo pai da Igreja disse corretamente que o ofício de pregação é um fardo além do que os ombros dos anjos podem suportar. Chega a parecer quase impossível que um pregador possa ser salvo. Porque, no ajuste de contas que um dia lhe será exigido, ser-lhe-á impossível subsistir. Um pregador negligente, que busca para si uma vida agradável e fácil, e fica satisfeito se apenas mantiver sua congregação feliz, condena a si mesmo como um servo inútil e vergonhoso. Mas até mesmo o pregador que se sacrifica totalmente permanece infinitamente culpado. Diariamente ele deve clamar do fundo de sua alma: “Senhor, não entres em juízo com o teu servo, pois nenhum vivente é justo diante de ti” [Sl 143.2].
Até mesmo os santos apóstolos vivenciaram essa situação. Inicialmente eles próprios administravam as esmolas e ofertas. Mas mesmo sob cuidadosa administração deles, as viúvas em Jerusalém estavam sendo esquecidas na distribuição diária, como Lucas relata no sexto capítulo de Atos dos Apóstolos. Então, o que os apóstolos fizeram? Eles estabeleceram um ofício especial para a distribuição de esmolas e elegeram sete homens da congregação de Jerusalém que eram cheios do Espírito Santo e de sabedoria. Os apóstolos puderam, então, com menos dificuldades, atender ao principal ofício e obra, o ofício da palavra e da oração. Da mesma forma, ainda no tempo dos apóstolos, foram estabelecidos os ofícios de supervisor ou ancião, e o de professor de crianças e catecúmenos que se preparavam para o Batismo, e o ofício de cuidar dos doentes e dos mortos. Todos esses ofícios nada mais eram do que ofícios auxiliares e ramos do único ofício público da pregação ou da igreja.
Mas como na Igreja a Palavra deve reger e governar sobre tudo, esse também é o caso do ofício da pregação. Ele é o ofício da Palavra e não pode estar separado desta Palavra. O ofício tem o alto e sério dever de garantir que cada ramo e ofício auxiliar na congregação sejam administrados de acordo com a Palavra de Deus. Um dia será exigida uma prestação de contas das mãos do pregador por toda a congregação e pelo sangue de cada alma da mesma. Que pesada prestação de contas o pregador terá de fazer um dia! Que responsabilidade terrível ele tem, uma tarefa elevada que excede em muito todas as suas habilidades e dons.
No entanto, meus queridos amigos, nós pregadores temos um consolo, e é este: que Deus não busca em nós dons que ele não nos tenha dado, nem exige de nós obras e resultados que ele não opera por meio de nós. Ele apenas exige de nós fidelidade naquilo que nos concedeu. E ele continua sendo para nós um pai de família gracioso, misericordioso e paciente, em quem há muito perdão.
Finalmente, com isto em mente, queridos irmãos e irmãs, qual é agora o vosso dever? - A régua de medição do santo ofício da pregação foi colocada em vossas mãos, meus amigos. Evitem e fujam dos falsos pastores que não querem pastoreá-los nos campos verdejantes da pura Palavra de Deus, mas se aproximam de vocês com o joio maligno da falsa doutrina e querem dominá-los com palavra humana e devorar vossas almas como lobos vorazes. Mas quanto aos verdadeiros pastores, mesmo que eles sejam homens pobres, frágeis e vulneráveis, sejam misericordiosos para com eles, assim como vosso Pai que está nos céus é misericordioso, orem por eles e, por fim, não esqueçam ao que a Palavra de Deus vos chama: “Considerem vossos mestres e os sigam,” (na medida em que vos apresentam a Palavra de Deus), “porque velam por vossas almas como quem deve prestar contas; para que eles façam isso com alegria e não com tristeza, porque isso não vos faria bem.”
- C.F.W. Walther (1811-1887), pastor e teólogo, no Sermão sobre o Ofício Público da Pregação (Romanos 12.7-16), para o Segundo Domingo após Epifania (Publicado no Lutherische Brosamen, 1876)
Fonte: From Our Master's Table: by C.F.W. Walther [Trad. Joel R. Baseley]. Dearborn: Mark V Publications, 2008. p. 39-40.
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