15/11/2014

Homilia: Vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora

Compartilho o estudo homilético e sermão pregado pelo amigo Rev. Elissandro Silva, na Igreja Luterana Santíssima Trindade de Curitiba/PR, no último dia 09 de novembro de 2014.


Vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora
Sl 70, Amós 5.18-24; I Ts 4.13-18; Mt 25.1-13

CONTEXTO LITÚRGICO:

Jesus, O Senhor da Igreja, concedeu a sua Santa Igreja a oportunidade chegar ao final de mais um ano eclesiástico. O atual domingo, 27º próprio, é e pode ser intitulado como o "Antepenúltimo Domingo do Ano Eclesiástico".
Nestes três domingos finais ocorrem uma mudança de temática ganhando um tom escatológico. No final do ano eclesiástico nada mais adequado do que falar ou nos preparar par este momento. Segundo Dr Arthur Just, o dia de Todos os Santos é a ponto de transição entre o ano da Igreja, período pós-pentecostes, e o tom escatológico dos últimos domingos do ano da Igreja.[1]


ESTUDOS DOS PRÓPRIOS DO DIA:
 
Leituras:

Salmo 70: O Salmo 70.1 é conhecido por todo aquele que já em algum momento cantou ou recitou as belas palavras da ordem das Matinas ou das Vésperas. Em todos os tempos é adequado clamar pelo socorro de Deus, mas fica ainda mais adequado quando se reflete na consumação dos tempos. Dentro desta linha, suplica por auxílio, o quinto verso fecha com chave de ouro o Salmo e pode ser o trilho que conduz os pensamentos e mentes enquanto se reflete sobre o fim dos tempos: “Eu sou pobre e necessitado; ó Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. SENHOR, não te detenhas!” Este pedido de socorro é bem expresso nas linhas finais de Apocalipse: “Ora, vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.20).

Amós 5.18-24: A pregação de Amós ocorreu diante de uma nação próspera. Devido as “questões políticas e econômicas” que ocorriam no de redor Samaria, capital do Reino do Norte, estava rica e próspera, no entanto o fruto disto não era partilhado com o povo, muito pelo contrário, ficava restrito nas mãos de poucos.
A ampla prosperidade lhes deu segurança e confiança que tudo estava indo muito bem. Prestavam cultos ao Deus verdadeiro, mas não se afastavam de Deuses falsos, da idolatria. Havia grande injustiça, corrupção no juízo. A religião estava amplamente divorciada da conduta, no culto as coisas iam bem, exteriormente seguiam as regras.  Com este ar de segurança desejavam o Dia do Senhor, como se fosse um dia de maravilhas que Deus os faria.
Diante deste quadro, Amós prega que o Dia do Senhor, especialmente no contexto que eles viviam, será de julgamento. O dia do Senhor é tanto Lei, como Evangelho, tudo vai depender se está a “direita” ou a “esquerda”.[2]
O versículo 8b fala sobre o dia do Senhor como dia de trevas: “Ai de vós que desejais o Dia do SENHOR! Para que desejais vós o Dia do SENHOR? É dia de trevas e não de luz.” Dia de trevas e não de luz.
Outro ponto que pode ser destacado é sobre a questão das trevas. Podemos comparar as trevas como descrita pelo profeta Amós e as trevas da Sexta-feira Santa. A escuridão que Amós saliente é o julgamento. As trevas da Sexta-Feira apontam o próprio Deus que se fez carne, fonte de toda vida, morrendo para dar a vida eterna.

I Tessalonicenses 4.13-18: O Apóstolo Paulo fala sobre os cristãos que morreram no Senhor, pois, eles precederam os que estiverem vivos, sendo os primeiros a experimentarem a ressurreição no dia do SENHOR. É interessante observar que o Apóstolo Paulo define a morte do cristão como um dormir. E nos deixa uma mensagem importante, pois, sinaliza quais devem ser as palavras diante da morte: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.

Mateus 25.1-13: Não é a primeira vez que Cristo fala em dois grupos dentro de seus seguidores. Na parábola do trigo e do joio encontra-se essa dualidade. No relato da história do fariseu e o publicano estes dois grupos são bem representados nestes dois personagens. Na parábola das dez virgens também pode-se observar estes dois grupos, as sábias e as néscias.
Os elementos envolvidos na parábola nos parece ser bem claro: o noivo é Cristo; o encontro com o noivo trata-se do retorno de Cristo; as virgens são os cristãos. Já as lâmpadas e o óleo foram interpretados de diferentes formas, creio que mais relevante do que destacar o que é significa cada elemento é destacar a questão do estar preparado para o encontro com Cristo.
É interessante observar a questão das virgens: todas, teoricamente eram cristãs, no sentido que estavam esperando pelo noivo. Todas tinham em algum momento suas lâmpadas acesas. Todas em algum momento tinham óleo. A questão qual a diferença entre os dois grupos.
Três pontos podem ser destacados[3]:
  1. Preparação divina para a eternidade: o óleo (Palavra, Batismo, Santa Ceia) e as lâmpadas (boas obras acompanhavam).
  2. Fraqueza humana no curso de vida (dormindo) – mesmo tendo o Espírito Santo – a Palavra – Santo Batismo, não deixa de pecar, prova disto que mesmo as virgens prudentes estavam dormindo.
  3. Conduta cristã em cada hora de decisão: lâmpadas acesas – preparadas para todos os momentos

Introito: O introito do próprio 27 tem como base o salmo 84.1,9-12 e a antífona é Salmo 84.3 [4]. O introito fala do tabernáculo de Deus e neste tempo de reflexão escatológica refletir sobre o tabernáculo eterno do Senhor é muito prudente.  

Coleta do Dia[5]: A coleta traz temas relevantes: 1) suplica pela volta de Cristo; 2) reunião dos cristãos com Cristo; 3) festa do casamento, a festa do Cordeiro.

Gradual: O gradual para estes três últimos domingos do ano eclesiástico, série A, tem como base Apocalipse 7.14b e Salmo 84.5[6]. Dois pontos podem ser destacados: 1) lavar-se no sangue do Santíssimo Cordeiro de Deus e o 2) e bem aventurado que tem sua força em Deus.

Verso: O verso enfatiza o décimo terceiro capítulo de Mateus 25: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora”.

Prefácio Próprio: Dos prefácios que estão à disposição no livro de liturgia, destaco o comum 1 e comum 3, pois destacam a vida eterna de forma explicita. Comum 1: “pela sua gloriosa ressurreição abriu para nós o caminho da vida sem fim”. Comum 3: “Ressuscitado dos mortos, Ele nos livrou da morte eterna e nos deu vida sem fim”. Vida eterna, dia do Senhor e tons escatológicos cantam numa mesma nota.

ENCAMINHAMENTO HOMILÉTICO:

A vinda de Cristo pode assumir duas perspectivas:
  • Lei: A vinda de Cristo para os não cristãos será um acontecimento funesto. A exemplo do que disse o profeta Amós em sua pregação ao Reino do Norte, onde afirma que o Dia do Senhor será envolto de trevas.
  • Evangelho: já para os cristãos a vinda de Cristo, tanto para os vivos, como para os mortos é grande expectativa, o grande consolo.
  • Tema: Vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora


ESTRUTURA DO SERMÃO:
  • Introdução: final do ano da Igreja / vinda de Cristo
  • Lei: a vinda de Cristo será, para os não fiéis, um dia de grandes terrores – falar sobre o contexto de Amós.
  • Evangelho: O Evangelho vem do Salmo 70, que afirma que Deus, em Cristo, é um auxílio e proteção. Situação dos que morreram em Cristo.
  • Vida Prática: divisão em dois grupos: com Cristo e os sem Cristo. Aos que estão com Cristo fica a lembrete para sempre estarem agarrados com Cristo, a parábola das dez virgens.
  • Conclusão: usar como conclusão a última estrofe do hino 220 do Hinário Luterano.


SERMÃO
Vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora

     Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão com o Espírito Santo seja com todos vós. Amém.

     Dos textos lidos destaco: “Vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora”. Que Deus Espírito Santo guarde estas palavras em vossos corações e mentes para a vida eterna. Amém.

     Oremos: “Gracioso Deus, tu és a fonte de toda graça e misericórdia, suplicamos que fortaleças a nossa fé em Jesus Cristo a fim de que vigiando aguardemos o glorioso retorno de nosso Senhor Jesus Cristo. Pelo mesmo Cristo, nós oramos.”


     Meus caros irmãos, irmãs, prezados ouvintes, caminhamos a passos largos em direção a mais um final do ano da Igreja.  Daqui a três finais de semana estaremos acendendo a primeira vela de Advento, início de um novo ano da Igreja e também preparação para o Santo tempo de Natal.
     Nestes três últimos domingos, dia 09, 16 e 23 de novembro, somos convidados a desviar os nossos olhos do passado, do hoje e olharmos para o futuro, para o dia do Senhor, para o retorno de Cristo.
     O retorno de Cristo é a nossa esperança, pois, será o dia que Ele nos levará para junto de si. Viveremos na presença de Deus Pai. Viveremos com todos aqueles que nos precederam. Não haverá nem morte e nem pranto, pois, Deus secará de nossos olhos toda lágrima. A dor e o sofrimento cessarão, tudo será como no jardim do Éden.
     Será que a vinda de Cristo vai ser um dia maravilhoso? Com toda certeza será. No entanto, também será um dia tenebroso. Como pode ser um dia maravilho e tenebroso? Será um dia de muita alegria para aqueles que confiaram em Jesus e na sua obra. Mas para aqueles que desprezaram a salvação, será o pior dia de suas vidas.
     Vários profetas do Antigo Testamento descrevem este dia com a expressão “Dia do Senhor”, dia em que Deus julgará a todos. Gostaria de chamar atenção para a pregação do Profeta Amós.
     Amós foi enviado da parte de Deus a fim de chamar o povo de Deus ao arrependimento e que eles deixassem os seus caminhos maus e voltassem para os caminhos do SENHOR. Diante os olhos de Deus a situação estava critica.
     Na perspectiva do povo, tudo estava muito bem. O reino prosperava a ponto de torna-se um importante centro comercial. No entanto, a riqueza acumulada não era compartilhada entre todos, ficava nas mãos de poucos. As acusações que foram feitas eram pesadas: juízes eram subornados; os pobres oprimidos, explorados e escravizados. Essa conversa não nos parece familiar?
     No quesito religioso as coisas pareciam bem. Eles não negligenciavam o culto a Deus, pois faziam os sacrifícios que lhes era ordenado. No entanto, não tinham nenhum problema em fazê-lo também para outros deuses. Existia uma miscelânea de deuses e cultos. Essa conversa não nos parece familiar?  Confio em Deus, mas para garantir levarei meu filho na benzedeira. Confio em Deus, mas vou checar meu horóscopo. Como diríamos atualmente: todos os caminhos levam a Deus
     Todas essas condições deram aos líderes da nação uma segurança tão grande, que eles clamavam pelo dia do Senhor. Amós responde: “Ai de vós que desejais o Dia do SENHOR! Para que desejais vós o Dia do SENHOR? É dia de trevas e não de luz. Como se um homem fugisse de diante do leão, e se encontrasse com ele o urso; ou como se, entrando em casa, encostando a mão à parede, fosse mordido de uma cobra.”
     A impressão que temos, ao lermos o livro de Amós, é que Ele estava narrando os tempos de hoje. E o que ele falou é tão válido para hoje como foi no passado. O dia do Senhor será terrível para os que estão fora da graça de Cristo.
     No entanto, O Dia do Senhor para os que estão em Cristo será totalmente diferente. Diante da expectativa deste dia, ouçamos o conselho que o salmista nos deu através do salmo do dia: “Folguem e em ti se rejubilem todos os que te buscam; e os que amam a tua salvação digam sempre: Deus seja magnificado!” Deus seja magnificado porque Ele é o nosso amparo e nossa proteção.
     Deus, em Cristo, é nosso amparo e proteção em todas as situações, seja na vida ou na morte. O texto de Amós fala que o dia do Senhor vai ser trevas para aquele povo que estava longe de Deus. Mas gostaria de destacar as trevas de outro dia, as trevas da Sexta-Feira Santa, que trouxeram vida, pois o Senhor da vida estava dando a sua vida em favor de muitos.
     Tudo começa em Cristo, tudo existe por causa de Cristo. Ele é o teu Salvador, Ele morreu para te dar vida e salvação. As trevas que caíram sobre o mundo na sexta-feira santa foi para que a luz da Páscoa, a luz da vida eterna ficasse mais brilhante.
     A epístola que acabamos de ouvir, 1 Tessalonicenses 4.13-18, fala sobre a situação dos que morrem confiando em Cristo como Salvador. Os Tessalonicenses estavam preocupados com os que morreram antes da volta de Cristo. O que aconteceria com eles? Será que eles perderiam os grandes eventos da Parúsia?  Estudiosos da Bíblia tentam explicar a dúvida dos Tessalonicenses, mas o mais importante que a pergunta, neste caso, é a resposta.
     O Apóstolo Paulo responde que não há problema algum com crentes que morreram antes da Parúsia: “Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor.
     Dada a resposta, Paulo afirma: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras”. O Apóstolo Paulo quis dizer calma, tudo está sobre o controle de Deus, que virá tanto para vivos como para os mortos. O importante é estar unido com Cristo aguardando o seu glorioso retorno.
     Enquanto esperamos este glorioso dia, sigamos o conselho que o próprio Jesus nos deixou acerca da vigilância. O Evangelho fala de dez virgens, cada uma com sua lâmpada, estavam à espera do noivo. O noivo é Jesus. As noivas são os cristãos. E lâmpada? E o óleo? Gosto da interpretação de que o óleo é tudo aquilo que nos prepara para o encontro com Cristo: Palavra, Batismo, Santa Ceia.
     Um destaque interessante a ser feito é que as dez dormiram, retratando a fraqueza humana no curso de vida – mesmo tendo o Espírito Santo – a Palavra – Santo Batismo, não se deixa de pecar, prova disto que mesmo as virgens prudentes estavam dormindo.
     Os dois grupos representam cristãos ou as pessoas que se dizem cristãs. As virgens néscias também eram cristas, pelo menos foram. Elas estavam esperando o noivo e as suas lâmpadas tinha óleo. Mas por não vigiar deixaram de lado tudo aquilo que as preparava para ir ao encontro do noivo. Quantas pessoas que por não vigiar deixaram de serem cristãs. Lembrem das pessoas que se confirmaram contigo, todas elas ainda vão a igreja?
     O outro grupo de virgens, as sábias, são um bom exemplo a seguir, pois firmadas na Palavra, nos sacramentos, elas vigiaram, ficaram atentas a tudo aquilo que Deus fez e faz e fará.

     Meus caros irmãos, irmãs, neste tempo que refletimos sobre o final do ano da igreja e sobre o final dos tempos, temos o conselho de Jesus: Vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora.

     De pé cantemos a última estrofe do hino 220:

Quando afinal, em resplendor e glória,
Jesus abrir as portas da mansão,
eu quero estar de joelhos entre os santos,
na mais humilde e vera adoração —
E eu cantarei eternamente ali:
Grandioso és tu, grandioso és tu!
E eu cantarei eternamente ali:
Grandioso és tu, grandioso és tu!


     E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus até o glorioso dia do seu retorno.

Rev. Elissandro Ribeiro da Silva
Pastor na Congregação Evangélica Luterana Paz - Ponta Grossa/PR

________________
[1] Just, Arthur. Heaven on Earth – The Gifts of Christ in the Divine Service. Saint Louis: Concordia Publishing House, 2008, p. 143.
[2] Referência a separação relatada em Mateus 25.31-34. O contexto foi retirado do comentário da Lutheran Study Bible, Lasor e Manual Bíblico.
[3] Material que carece de fonte, somente constava no arquivo o nome Lange.
[4] Antífona (3):  O pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si, onde acolha os seus filhotes; eu, os teus altares, SENHOR dos Exércitos, Rei meu e Deus meu!
Salmo (1,9-12): Quão amáveis são os teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos! Olha, ó Deus, escudo nosso, e contempla o rosto do teu ungido. Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade. Porque o SENHOR Deus é sol e escudo; o SENHOR dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente. Ó SENHOR dos Exércitos, feliz o homem que em ti confia.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora é, e para sempre será de eternidade a eternidade. AmémAntífona (3):  O pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si, onde acolha os seus filhotes; eu, os teus altares, SENHOR dos Exércitos, Rei meu e Deus meu!

[5] Texto da Coleta: Senhor Deus, Pai Celestial, envia teu Filho para levar para a casa a sua noiva, a igreja, a fim de que, com toda a companhia dos redimidos, possamos finalmente entrar sua festa eterna de casamento; através do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre.
[6] Texto do gradual: P: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro. C: Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados.

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