19/11/2014

Isabel da Hungria, Lutero e Catarina e a Caridade Cristã

Santa Isabel da Hungria
 Nossos irmãos do Sínodo Missouri são ricamente agraciados com um livro devocional chamado Treasury of Daily Prayer (Tesouro de Oração Diário). O nome diz tudo. São preciosas meditações e orações para todos os dias, organizadas de acordo com o calendário litúrgico e que auxiliam os cristãos a orar sem cessar. Nas palavras do Prof. John T. Pless (Concordia Theological Seminary, Fort Wayn, EUA), este é um livro que leva a sério a compreensão de Lutero do Catecismo como um texto para ser rezado, sendo um testemunho literário da vitalidade espiritual do luteranismo confessional e ortodoxo. O Rev. Dr. R. Reed Lessing (Concordia Seminary, St. Louis, EUA) recomenda o Treasury para aquele que “deseja ser como o salmista, que medita na palavra de Deus de dia e de noite (Sl 1.2) de modo de que sua vida seja marcada pelo fruto duradouro do Espírito (Sl 1.3)”.

Muitas das publicações que postamos aqui têm sua fonte no Treasury, especialmente aquelas relativas à comemoração dos santos da igreja, que fazem parte da grande nuvem de testemunhas que nos rodeia (Hb 12.1). Desta forma e no espírito da Confessio Augustana, nos lembramos em nossas devoções diárias destes santos “para fortalecer a nossa fé ao vermos como receberam graça e foram ajudados pela fé; e, além disso, a fim de que tomemos exemplo de suas boas obras, cada qual de acordo com sua vocação” (CA XIV).

Para hoje, dia de Santa Isabel, o Treasury oferece uma bela oração, pedindo a Deus: “Poderoso Rei, cuja herança não é deste mundo, incute em nós a humildade e a benevolente caridade de Isabel da Hungria” (p. 929). Isabel é uma luz brilhante para o povo de Deus, apontando o caminho para acolhermos cada pessoa como sendo o próprio Cristo, e cada necessidade e sofrimento como sendo do próprio Cristo.

O Treasury ainda traz um trecho do comentário do Dr. Lutero sobre Gênesis 18.5: “… o próprio Deus está em nossa casa, está sendo alimentado em nossa casa, está deitado e descansando, todas as vezes que algum irmão piedoso no exílio por causa do Evangelho vem à nós e é recebido com hospitalidade por nós. Isso é chamado de amor fraternal ou caridade cristã. […] Se alguém crê sinceramente que está recebendo o próprio Senhor quando recebe um irmão pobre, não haveria necessidade de tais exortações ansiosas, zelosas e solícitas para fazer obras de amor. Nosso cofre, despensa e compaixão seriam abertos de uma vez em benefício dos irmãos. Não haveria nenhuma má vontade e juntamente com o piedoso Abraão correríamos ao encontro das pessoas miseráveis, as convidaríamos para entrar em nossas casas, apoderaríamos desta honra e distinção antes dos outros e diríamos: ‘Ó Senhor Jesus, vinde a mim. Desfruta meu pão, vinho, prata e ouro. Como isto está sendo bem investido por mim quando invisto em Ti!’ ” (pág. 928)

O que Lutero escreve aqui captura muito bem o espírito de Santa Isabel e também o que ele e sua esposa Catarina viveram. Eles sempre tiveram hóspedes à mesa: pastores que buscavam asilo, estudantes universitários, simpatizantes, amigos e afins. Coincidentemente, Santa Isabel e a família de Lutero ocuparam, em épocas distintas, a mesa casa, como célebres moradores do Castelo de Wartburgo. Ali Lutero recebia seus hóspedes assim como na Regra de São Bento, em que um monge quando recebia um estranho à porta, devia prostrar-se na frente do hóspede, pois Cristo é recebido na pessoa dele: "Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes" (Mt 25.35). As pessoas e discussões à mesa de Lutero eram tantas que os convidados tomaram notas do que finalmente veio a se tornar a volumosa coletânea de "Conversas à Mesa" (Tischreden, em alemão). Lutero tinha pouco senso de dinheiro e era desapegado. Lamentavelmente, após a sua morte, Catarina não tinha muito para viver.

Neste dia nos lembramos de Santa Isabel, e também de Martinho Lutero e sua esposa Catarina, como cristãos fiéis que acolheram em hospitalidade os peregrinos e damos graça a Deus que nos acolheu por intermédio de Nosso Senhor Jesus Cristo e nos tornou herdeiros de seu reino celestial.

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