05/02/2020

Jacó (Israel) - 5 de fevereiro


“E sonhou: Eis que estava posta na terra uma escada cujo topo atingia o céu, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E eis que o Senhor estava perto dele e lhe disse:
— Eu sou o Senhor, Deus de Abraão, seu pai, e Deus de Isaque. A terra em que agora você está deitado, eu a darei a você e à sua descendência. A sua descendência será como o pó da terra.”
(Gn. 28.12-14a)



Comentário de Martinho Lutero:

"Jacó se encontra em tristeza e angústia de coração. Ele está nas trevas, por assim dizer, expulso de sua casa e sua pátria, abandonado e solitário, sem saber onde pode se esconder em segurança. Além disso, o diabo chegou - o diabo, que costuma atormentar corações aflitos de milhares de maneiras estranhas.... Pois Satanás “anda em derredor, como leão que ruge” (1 Pe 5.8) e procura onde ele pode mais facilmente saltar por cima da cerca e com que estratagemas ele pode tombar a carroça que está virando. Ele sobe onde a cerca é mais baixa; e se a carroça não está firme, ele a tomba completamente. Desta forma, a tentação é aumentada e acumulada aos que são afligidos e provados, de modo que isto os lança de cabeça no desespero, na blasfêmia ou impaciência.
Estas são as obras do diabo; essas são suas armadilhas habituais e constantes. Portanto, além da cruz física e do exílio, Jacó foi atacado  pelos dardos inflamados do diabo (Ef 6.16). Talvez Jacó estivesse pensando em como havia roubado a primogenitura e enganado seu pai. Pois desta forma o diabo costuma fazer um grande e enorme pecado a partir de uma excelente obra. O fato de Deus falar com Jacó  é um sinal dessa provação muito dolorosa. Pois Ele não costuma proferir suas conversas e palavras em vão. Ele não fala, a menos que uma razão importante e necessária o leve a falar. Ele também não costuma se dirigir ou consolar aqueles que riem dele, que se orgulham e se enfurecem contra ele nos prazeres ou na sabedoria da carne, que vivem presunçosamente, sem temor e reverência a Deus. “A sabedoria não se encontra na terra daqueles que vivem prazerosamente”, diz Jó (cf. 28.13). Ela é encontrada sob a cruz daqueles que são oprimidos e estão em conflito com as provações espirituais. Aí existe tanto razão quanto espaço para consolação. Aí Deus está presente e consola os aflitos “para que os justos não estendam as mãos para fazer o mal”, como diz o Sl 125.3. E “Ele falará de paz aos seus servos” (cf. Sl 122.8). Pois, se Ele ficar ausente por muito tempo, ninguém poderá suportar e perseverar nas provações e desgraças. Isso é um extraordinário consolo para a grande e triste perturbação de Jacó, e parece que foi isso, e não o cansaço físico, que levou Jacó a dormir. Pois o diabo veio  a aterrorizá-lo em seu coração enquanto ele estava em fuga e no exílio.[…]

Este é o sonho de Jacó: uma escada foi colocada na terra - uma escada que toca o céu com seu topo. Nela, os anjos estão subindo e descendo. E o próprio Senhor está reclinado no topo da escada e está falando aquela promessa a este terceiro patriarca. […] Como é mencionada essa escada no primeiro capítulo do Evangelho de João, devemos examinar esse texto. Pois ali o próprio Senhor parece interpretar esta imagem. Quando Filipe leva Natanael a Cristo, ele diz: “Eis um verdadeiro israelita!” (Jo 1.47.) Aqui, como diz Agostinho, ele nos lembra aquela escada de Jacó, que também é chamado de Israel. É isso que Cristo diz (Jo 1.50): “Por eu te dizer que te vi debaixo da figueira, crês? Maiores coisas do que estas verás”. E acrescenta (v. 51): “Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”. Devemos crer e nos contentar com esta explicação de nosso Salvador. Ele tem um entendimento melhor do que todos os outros intérpretes, muito embora todos concordem adequadamente neste ponto, que esse sonho significava aquele imenso, inexprimível e maravilhoso mistério da encarnação de Cristo, que deveria descender do patriarca Jacó, como Deus diz: “a tua descendência, etc.” [Gn 28.14]. Portanto, Ele revelou ao próprio Jacó que ele seria o pai de Cristo e que o Filho do Homem nasceria de sua descendência. Deus não falou isso em vão. De fato, Ele pintou esta figura da escada para confortar e consolar Jacó na fé e nas bênçãos futuras, como acima (Gn 22.18). Ele deu a mesma promessa a Abraão e Isaque para que eles pudessem ensiná-la e transmiti-la a seus descendentes como certas e infalíveis, e esperassem um Salvador de sua própria carne. Dessa maneira, Deus fortalece Jacó, que, como o tronco infrutífero de uma árvore, é miserável e afligido em uma terra estrangeira. E por meio dessa nova imagem, Ele transfere para ele todas as bênçãos, para garantir que ele é esse patriarca de quem virá o Descendente prometido a Adão."

- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (Preleção sobre Gênesis, LW 5)

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