13/02/2020

Priscila, Áquila e Apolo (13 de fevereiro)

 
Comentário de João Crisóstomo (c. 347-407), pastor e teólogo em Constantinopla:

— Saudai Priscila e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, (Rm 16.3)

Lucas também atesta a virtude de Piscila e Áquila, ora ao dizer: Paulo “ficou em casa deles”, pois “tinham a profissão de fabricantes de tendas” (At 18,3), ora ao contar que aquela mulher acolheu Apolo e lhe ensinou o caminho do Senhor. São coisas muito grandes, mas muito maior é o que Paulo declara. O que narra ele? Em primeiro lugar denomina-os colaboradores, assinalando que foram participantes de incríveis trabalhos e perigos; em seguida, enuncia:

— que para salvar minha vida expuseram sua cabeça. (Rm 16.4a)

Viste os mártires consumados? É provável que sob Nero inúmeros fossem os perigos, quando também ordenara que todos os judeus fossem expulsos de Roma.

— Não somente eu lhes devo gratidão, mas também todas as Igrejas da gentilidade. (Rm 16.4b)

Aqui sugere a hospitalidade e auxílio pecuniário, admirando-os porque ofereceram o sangue e partilharam todas as suas posses. Viste as generosas mulheres, às quais a fraqueza do sexo não foi impedimento ao curso da virtude? E com justeza, pois: “Não há homem, nem mulher, em Cristo Jesus” (Gl 3,28). E o que disse da primeira:“Porque ela ajudou a muitos, a mim inclusive”, desta refere: “Não somente eu lhes devo gratidão, mas também todas as Igrejas da gentilidade”. Para não parecer assim se expressar por adulação, apresenta muito mais outros testemunhos além do prestado por essas mulheres.

— Saudai também a Igreja que se reúne em sua casa. (Rm 16.5a)

Eram tão honestos e ilustres que faziam de sua casa uma Igreja, seja porque ali todos se tornavam fiéis, seja porque a abriam a todos os peregrinos. Não é costume dar simplesmente o nome de Igreja a uma casa, a não ser que nela estejam radicados grande piedade e temor de Deus. Por isso, dizia também aos coríntios: “Saudai Áquila e Priscila, com a Igreja que se reúne na casa deles” (1Cor 16,19)... É possível mesmo aos que são casados serem admiráveis e generosos. Eis que estes, unidos em matrimônio, eram tão ilustres, embora seu ofício não fosse esplêndido, porque eram fabricantes de tendas, ou artífices de tendas. No entanto, a virtude tudo encobria, e fazia-os mais brilhantes do que o sol. O ofício ou o casamento não os prejudicava, mas possuíam o amor exigido por Cristo, que disse: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Manifestaram o sinal do discípulo, pois aceitaram a cruz, e seguiram a Cristo."

- São João Crisóstomo (Trigésima Homilia sobre a Carta aos Romanos)

Fonte: Patrística - São João Crisóstomo: Comentário às Cartas de São Paulo - Vol. 27/1 (São Paulo: Paulus, 2014)

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