24/08/2014

Homilia para o Décimo Primeiro Domingo após Pentecostes (Próprio 16 – Mateus 16.13-20)

 “Ordenação (Cristo entrega as Chaves para São Pedro)” (c. 1636-40), Nicolas Poussin (1594–1665) 
Quem? O quê?

Alguma vez você já tentou se inserir numa história? No texto do Evangelho desta manhã, Jesus faz uma pergunta muito vigorosa aos discípulos: "Quem diz o povo ser o Filho do Homem?". Os discípulos apresentam uma variedade de respostas que ouviram do povo. Alguns dizem que é João Batista. Alguns dizem que é Elias. Alguns dizem que é Jeremias. Alguns dizem que é um dos profetas. Sim, estas são as coisas que alguns dizem. O próprio Herodes Antipas acreditava que Jesus era João Batista que havia ressuscitado dos mortos. Conforme foi mostrado, este é o relato do povo.

Em seguida, Jesus volta a questão para os discípulos. Ele a torna totalmente pessoal. "Mas vós, quem dizeis que eu sou?" É aqui, bem aqui que eu gostaria de me inserir na história. Qual personagem? Simão, é claro! Olha o quão rapidamente ele responde à pergunta do Senhor: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Uau, isso é que é um bocado de confissão salvífica. Nenhum dos profetas, não é Jeremias, não é Elias, não é João Batista, mas é aquele a quem todos estes anunciaram – o Cristo. O Cristo, o Ungido de Deus, que veio para "pregar boas-novas aos quebrantados, a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados; a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os que choram e a pôr sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória" (Is 61.1-3). Aqui, diante dos discípulos está o Cristo, que é também o próprio Filho de Deus! Que tremenda declaração sai da boca de um homem.

Jesus responde à confissão de Simão com outra bendita dose de realidade. "Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus" (Mt 16.17). Certamente esta confissão não teve origem no íntimo de Simão. Simão não improvisou nada; não é um rumor carnal, mas é o que o próprio Deus revela. Sim, se alguém pudesse se inserir nessa história, Simão parece ser um grande candidato.

No entanto, se você assumir o papel de Simão, você deve assumir tudo dele. No versículo 17 nós ouvimos Simão fazer esta firme confissão que não vem de sua carne e sangue, mas de Deus. No entanto, no versículo 22 Pedro é rápido em cogitar-se nas coisas dos homens, e não nas coisas de Deus (23). Pedro fez a confissão de quem Jesus é – o Cristo. Agora, trata-se daquilo que o Cristo é. O Cristo é o único que necessita "seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia. Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá". A confissão de Simão transforma-se rapidamente em repreensão de Pedro. Ele vai bem sobre quem o Cristo é, mas tem dificuldades sobre o que o Cristo é.

Assim sendo, é este realmente o personagem que você gostaria de assumir o papel? Poderia muito bem ser este, pois ele representa muito bem a você! Admitir que o Cristo necessita sofrer e morrer requer que se admita que há uma razão para este sofrimento e morte. A lei de Deus mostra a você clara e poderosamente que a razão é você. A Palavra de Deus mostra que a penalidade é severa. Você certamente pecou e está destituído da glória de Deus [Rm 3.23]. Você está morto em seus delitos [Ef 2.1]. Você não viveu esta semana de acordo com a boa e graciosa vontade de Deus. Você não se deleitou plenamente nos dons que Deus oferece. Você buscou suas próprias soluções equivocadas para aquilo que aflige a sua alma. A verdade que deve tratar a sua situação se resume a isto: o Filho do Homem necessita sofrer e morrer. Este é o Cristo!

O Cristo veio para que as coisas de Deus sejam cumpridas. Pedro pode não ter cogitado das coisas de Deus, mas Jesus, o Cristo, sim. As coisas de Deus definem o Cristo. Lembre-se de como Jesus andou com os dois discípulos após sua ressurreição. Eles estavam discutindo as coisas que tinham acontecido em Jerusalém. Jesus lhes perguntou sobre sua conversa. Eles responderam, dizendo: "És tu só peregrino em Jerusalém e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias?" (Lc 24.18). Jesus pergunta: "Que coisas?" Eles continuam descrevendo a prisão, morte e ressurreição de Jesus.

Jesus responde a eles, como se dissesse: "Vocês ouvem as palavras que saem de suas bocas? Vocês não reconhecem que as coisas que vocês mencionam descrevem o que o Cristo veio fazer? Vocês não reconhecem que as coisas que vocês descrevem soam familiar, pois é estas coisas que eu disse que o Cristo deveria fazer?". "E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras" (Lc 24.27).

Então, quem é Jesus? Ele é o Cristo, o Filho de Deus. O que isso significa? Significa cruz e crucificação. Significa ressurreição e redenção. Significa as coisas de Deus dadas a você para que você tenha vida e a tenha em abundância (Jo 10.10).

À confissão de Simão, Jesus afirma: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (18). Jesus não vai edificar sua igreja em qualquer coisa, mas vai edificá-la aqui. Ele vai edificá-la "sobre esta pedra" que é Pedro. Ele vai edificá-la sobre discípulos a quem Jesus dá a instrução para "que a ninguém dissessem ser ele é o Cristo" (20). Pedro confessa, os discípulos confessam, e é sobre esta pedra, é sobre eles, que o Senhor vai edificar a sua igreja. Como diz Paulo, ela é edificada "sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito" (Ef 2.20-21).

Então, como você se inseriria nessa história? Bem, não há realmente nenhuma necessidade de se preocupar com isso. O próprio Deus inseriu você nessa história, que é ao mesmo tempo a história dele e a nossa história. Ele fez de você o principal personagem, aquele que é o beneficiário das coisas de Deus pela ação do Cristo crucificado. Ele trouxe você para dentro do corpo do seu próprio Filho, a igreja, a qual tem como fundamento Pedro, todos os apóstolos, os profetas, e Cristo como pedra angular.

Desta forma, quem nós dizemos que Jesus é? Ele é o Cristo, o crucificado, o Salvador, o autor e consumador, a fundação do edifício no qual agora habitamos. Isso é o que Deus nos concede; isso é o que Deus revela.

Rev. Kyle Castens, pastor na Immanuel Lutheran Church (Festus/Crystal City, Missouri, USA). Traduzido de Concordia Journal (Summer 2011, v. 37, n.º 3, p; 231-233)

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