07/04/2017

A Pequena Paixão de Dürer: Cristo coroado com espinhos

No dia 06 de abril a Igreja Luterana rende graças a Deus pela vida dos artistas Lucas Cranach e Albrecht Dürer, que assim como tantos outros artistas do passado e do presente, nos abençoam com suas obras, apresentando-nos a fé de tantas formas maravilhosas.

Visto que esta comemoração se dá em meio à peregrinação quaresmal da igreja cristã, vamos aproveitar para contemplar uma das xilogravuras que compõem a Pequena Paixão de Albrecht Dürer.

A temática da Paixão era muito popular na Alemanha dos séculos XV e XVI. A iconografia da Paixão havia atingido seu pleno desenvolvimento já na Idade Média, mas Dürer, ao representar as Paixões, acrescentava algo à iconografia tradicional ou aumentava o número de histórias representadas.

O ciclo da Pequena Paixão, que Dürer iniciou após sua segunda viagem à Itália (1505-1507), teve sua primeira edição publicada em 1511. É uma narrativa muito detalhada do martírio e da morte expiatória de Cristo, que começa com a cena d’A Queda, incluindo outras narrativas do Antigo Testamento ligadas ao sacrifício expiatório do Salvador.

A xilogravura intitulada “Cristo coroado com espinhos” é a folha 18 da Pequena Paixão. Vamos meditar nesta gravura a partir deste trecho do livro Bearing the Cross, de autoria de de Carolyn S. Brinkley:

https://www.britishmuseum.org/research/collection_online/collection_object_details.aspx?assetId=78558001&objectId=1334778&partId=1
Cristo coroado com espinhos, de Albrecht Dürer (British Museum, Londres)


“Após o flagelo, continua o aviltamento de Cristo. No pátio do Praetorium, os soldados romanos fazem cruel zombaria de sua realeza. Eles vestem Jesus como um rei, com manto e coroa, se dedicam à tortura física e emocional de falsa reverência. Jesus, com o rosto fatigado e o corpo ferido, senta-se em dignidade sombria num pseudo-trono. Sua mão aceita de bom grado o cetro de cana enquanto seus olhos, tristemente e amorosamente, fitam aquele que ajoelhado tira o chapéu numa falsa adoração. O rosto do escarnecedor é repulsivo. Ele cospe em Cristo, insultando, “Salve, Rei dos Judeus!” (Mateus 27.29b). A coroa de espinhos trançada está cravada na cabeça de Cristo enquanto outro soldado inflige golpes duros com um bordão. Pilatos está ao fundo, conversando com um espectador. Embora seu rosto esteja virado, o bordão em sua mão o implica claramente como um participante nos procedimentos malignos.

O retrato que Dürer faz dessa narrativa move o coração do espectador para a tristeza, o desgosto e a lamentação, reconhecendo que todos somos participantes na rejeição de Adão por Deus. “Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.” (Isaías 53.3)...

Sob a autoridade de Pilatos, os soldados romanos se deleitam em zombar de um homem que diz ser rei de um povo que eles desprezam. No entanto, é aqui que vemos o Servo Sofredor entrar em sua realeza. Embora pervertidos, todos os elementos reais estão presentes: manto, coroa, cetro e deferência. Ao invés de reinar em pompa e poder, este Rei se assenta em fraqueza e submissão. Seu manto não é revestido de cetim, mas está impregnado com o sangue necessário para pagar pelos nossos pecados. Sua coroa não é cravejada de joias, mas é adornada com espinhos, repousando sobre uma cabeça destinada a suportar a nossa punição. Seu cetro não é de ouro ou prata, mas é uma cana verde destinada a romper nossa escravidão. Sua deferência não é majestosa e régia, mas humilhante e degradante; ainda assim, o cuspe do escarnecedor não pode impedi-lo de nos honrar como filhos e filhas perdoados.

Aqui vemos o terrível custo do pecado. Aqui vemos o amor do nosso gracioso Salvador por nós. Ele carrega o pecado da humanidade para libertar-nos dos tormentos da nossa dor física e emocional. Aqui vemos o amor do Pai por nós ao oferecer seu Filho à morte por nossa vida. “Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados.” (1 Pedro 2.24)” (Carolyn S. Brinkley. Bearing the Cross: Devotions on Albrecht Dürer’s Small Passion. St. Louis: Concordia Publishing House, 2012. p. 90-92)

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