06/01/2014

Hino de Lutero para a Festa de Epifania

"Adoração dos Magos" (1655-1660), Bartolomé_Esteban_Murillo (1617–1682)
O hino “Was fürchtest du, Feind Herodes, sehr” (WA 35,470s) foi composto por Martinho Lutero em 12 de dezembro de 1541 a partir de antigo hino latino de Epifania escrito no séc. V. Lutero acompanha a Igreja Antiga na interpretação da festa de 6 de janeiro: é o dia em que a estrela conduziu os magos até o presépio; em que a água foi transformada em vinho, em Caná; em que João Batista batizou a Jesus.

Célio Sedúlio, ou Cœlius Sedulius (c. 450), chamado por Lutero de christianissimus poeta (Martin Schanz, Geschichte der römischen Literatur bis zum Gesetzgebungswerk des Kaisers Justinian, IV, Pt. 2 (1920), pág, 373), escreveu o poema latino alfabetado Paean Alphabeticus de Christo, que narra a vida de Jesus, desde o nascimento até a ressurreição, em 23 estrofes “ambrosianas”. O texto das primeiras estrofes foi extraído do poema original para formar dois hino muito conhecidos de Natal “A solis ortus cardine” (sete primeiros estrofes) e de Epifania “Hostis Herodes Impie” (estrofes 8 , 9, 11 e 13), os quais também foram traduzidas por Martinho Lutero: "Christum wir sollen loben schon" e "Was fürchtst du Feind Herodes sehr”.

As estrofes de Hostis Herodes narram a história de Herodes, o Grande e dos Reis Magos, juntamente com o Batismo de Cristo e o milagre das bodas de Caná, temas do período de Epifania. A tradução de Lutero deste hino em alemão “Was fürcht'st du, Feind Herodes, sehr”, há muito caiu em desuso, mas é de valor inestimável.

O hino hostis Herodes (Inimigo Herodes)
segundo a melodia A solis ortus, etc. (Desde o nascer do Sol)
Dr. Mart. Lutero

1. Was fürcht'st du, Feind Herodes, sehr,
Daß uns gebor'n kommt Christ der Herr?
Er sucht kein sterblich Königreich,
Der zu uns bringt sein Himmelreich.

1 - Por que temes tanto, inimigo Herodes, 
O nascimento de Cristo, o SENHOR? 
Não busca reino mortal 
Aquele que traz seu reino celestial. 

2. Dem Stern die Weisen folgen nach,
Solch' Licht zum rechten Licht sie bracht';
Sie zeigen mit den Gaben drei,
Dies Kind, Gott, Mensch, und König sei.

2 – Os magos seguem a estrela, 
Essa luz os conduziu à luz verdadeira. 
Com os três presentes eles confessaram
Que esta criança é Deus, ser humano e rei.

3. Die Tauf' im Jordan an sich nahm
Das himmelische Gottes Lamm,
Dadurch, der nie kein' Sünde that,
Bon Sünden uns gewaschen hat.

3 - Recebeu o batismo no Jordão, 
O celestial Cordeiro de Deus, 
Pelo que aquele que nunca cometeu pecado algum
Nos lavou dos pecados. 

4. Ein Wunderwerk da neu geschah;
Sechs steinern' Krüge man da sah
Voll Wasser, das verlor sein Art,
Rother Wein durch sein Wort d'raus ward.

4 - Novo milagre ali aconteceu:
Seis jarras de pedra ali se encontravam, 
Cheias de água, a qual perdeu sua natureza, 
Por sua palavra ela se transformou em vinho tinto.

5. Lob, Ehr' und Dank fei dir gesagt,
Christ, gebor'n von der reinen Magd,
Mit Vater und dem heiligen Geist
Von nun an bis in Ewigkeit.

5 - Louvar, glória e graça a ti sejam dados, 
[Cristo, nascido da virgem pura, 
Com o Pai e o Santo Espírito, 
Desde agora até a eternidade.]

Tradução: Obras Selecionadas de Lutero, vol. 7, p. 555-556



Versão Cantada de Ilson Kayser
(Partitura nas Obras Selecionadas de Lutero, vol. 7, p. 555-556)

1 - Por que, Herodes, o pavor
Por ter nascido o Salvador?
Jesus não quer o reino teu,
Seu próprio reino traz do céu.

2 - A estrela os magos orientou
E à vera Luz encaminhou.
Com seus presentes provas dão
Que aqui jaz Deus e nosso irmão.

3 - De Deus Cordeiro, justo e bom,
Foi batizar-se no Jordão,
Assim o que jamais pecou
De todo o vício nos lavou.

 4 - Milagre aconteceu então:
Seis talhas de água cheias são;
Sua Palavra a transformou,
E, vinho tinto ele a tornou.

5 - Louvor e graça seja a ti,
[Nascido de Maria aqui.
Também ao Espírito e a Deus Pai
Agora e sempre graças dai.]


Hino latino “Hostis Herodes Impie” de Célio Cedúlio

1. Hostis Herodes impie,
Christum venire quid times?
Non eripit mortalia,
qui regna dat cælestia.

2. Ibant magi, quam viderant
stellam sequentes præviam,
Lumen requirunt lumine,
deum fatentur munere.

3. Lavacra puri gurgitis
cælestis agnus attigit,
Peccata quæ non detulit,
Nos abluendo sustulit.

4. Novum genus potentiæ
aquæ rubescunt hydriae,
Vinumque iussa fundere,
mutavit unda originem.

[5. Gloria tibi, Domine,
Qui apparuisti hodie,
Cum Patre et Sancto Spiritu
In sempiterna saecula. Amen.]

Nota:
O quinto verso não aparece no documento original deste hino, mas aparece em outros textos. Era comum a adição de tal doxologia aos textos latinos originais desta natureza.

Fontes:

BAROFFIO, Giácomo. A hinódia latina. In: ECO, Umberto (Org.). Idade Média: Bárbaros, cristãos e muçulmanos. Vol. 1. Alfragide, Portugal: Publicações Dom Quixote, p. 555.

LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas, vol. 7. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000. p. 555-556.

WACKERNAGEL, Philipp (Ed.). Das Deutsche Kirchenlied von der ästesten Beit bis zu Unfang des XVII. Jahrhunderts. Volume 1. Leipzig, Drud und Berlag von B. G. Leubner, 1864. p. 46-47.

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