Ilustração de Edward Riojas (Dear Christians, One and All, Rejoice, Kloria Publishing, 2020) |
"Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela. Este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar." (Gênesis 3.15)
Foi assim que Adão e Eva compreenderam este texto. Eles se consolaram do pecado e do desespero com a esperança nesse esmagamento futuro através de Cristo e, na esperança dessa promessa, também ressurgirão no último dia para a vida eterna... Adão e Eva, estimulados por essa promessa, acolheram de todo coração a esperança da restauração e, cheios de fé, viram que Deus se preocupava com a sua salvação...
Este texto vivificou Adão e Eva e os ressuscitou da morte para a vida, que eles haviam perdido mediante o pecado, mas trata-se, antes, de uma esperança e não de uma posse... Esta vida, depois de ter sido infectada pelo pecado, não pode mais ser chamada propriamente de vida por causa do pecado e do castigo do pecado: a morte. Pois imediatamente, desde o útero da mãe, começamos a morrer.
Mediante o Batismo, porém, somos restituídos a uma vida de esperança, ou melhor, a uma esperança de vida. Pois a verdadeira vida é unicamente aquela que se vive diante de Deus. Antes de chegarmos a ela, estamos no meio da morte, morremos e apodrecemos na terra, como os outros cadáveres, como se não houvesse vida em lugar nenhum. Mas nós, que cremos em Cristo, temos a esperança de que seremos ressuscitados no último dia para a vida eterna...
Desse modo, Adão também foi ressuscitado por essa declaração do Senhor, certamente não de modo perfeito, pois ele ainda não havia recuperado a vida que perdera. Mas ele recebeu a esperança desta vida quando ouviu que a tirania de Satanás seria esmagada... Dessa maneira, Adão, Eva e todos os que creem até o último dia vivem e vencem mediante essa esperança...
Olha para Adão e Eva: estão repletos de pecado e morte e, no entanto, por ouvirem a promessa sobre a semente que haverá de esmagar a cabeça da serpente, têm a mesma esperança que nós temos, ou seja, que a morte será removida, o pecado será abolido, e a justiça, a vida e a paz serão restauradas etc. Nessa esperança, nossos primeiros pais vivem e morrem e, por causa dela, são verdadeiramente santos e justos.
Também nós vivemos na mesma esperança. E, por causa de Cristo, quando morremos, mantemos essa esperança de vida, que a Palavra coloca diante de nós, enquanto nos ordena confiar nos méritos de Cristo...
Agora encontramos Adão e Eva restaurados, certamente não para a vida que tinham perdido, mas para a esperança desta vida. Através dessa esperança, eles escaparam não das primícias da morte, mas dos dízimos da morte, ou seja, embora sua carne tenha de morrer temporalmente, eles esperam a ressurreição da carne e a vida eterna depois da morte temporal, exatamente como também nós esperamos, por causa do Filho de Deus que foi prometido, que haveria de esmagar a cabeça do diabo.
- Martinho Lutero (1483-1546), Preleções acerca de Gênesis - cap. 3 (1535-1545)
Fonte: Obras Selecionadas de Martinho Lutero, Volume 12 - Interpretação do Antigo Testamento – Textos Selecionados da Preleção sobre Gênesis. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia; Canoas: Ulbra, 2014. pp. 209; 212-213.
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